O conceito de inovação que trabalhamos é o conceito de inovação de valor, citado no livro A Estratégia do Oceano Azul. A inovação de valor é diferente do simples experimentalismo, pois é uma inovação criada em diálogo concreto com as demandas do público. Ela inova ao criar novos processos (desenhos alternativos de criação) e novos conteúdos. Os conteúdos inovadores são criados a partir de novas combinações que partem da mistura de linguagens, temas e formatos de produtos diferentes. Ao fazer isso, ela gera uma alquimia inovadora que cria novos conteúdos e descobre novos públicos.

Foto: Nina Matthews A pergunta chave para entender um seriado inovador, por exemplo, é:

“O que ele tem de igual com outros seriados? E o que ele tem de diferente?”.

Toda obra tem que ter algo de igual e algo de diferente. O igual geralmente é um diálogo com os gêneros estabelecidos, inclusive subgêneros pouco valorizados no mercado brasileiro, como sci fi e terror. O diferente é, por exemplo, o que é específico do Brasil, o que a série traz de novidade em relação a todas as outras séries internacionais do mesmo gênero. A inovação pode ser também uma proposta de direção, um universo nunca visto (“Cidade de Deus”, por exemplo), um elenco completamente novo (novamente  “Cidade de Deus” é um ótimo exemplo).

A Inovação de valor, portanto, é totalmente diversa do simples experimentalismo das supostas vanguardas estéticas. O experimentalismo em geral começou a se afastar do público a ponto de Valery ter dito, já há décadas, que “tudo muda, menos a vanguarda”. Ninguém é mais criativo que Deus e nada muda mais do que as pessoas. A verdadeira inovação parte dos seres humanos reais de nosso tempo (o público) e não de ideias fixas sobre o que seria uma arte inovadora.

A inovação de valor é o contrário disso, pois é a inovação criada em diálogo concreto com demandas imaginárias do público.

A inovação de valor também inova em processos. O processo de criação do autor ainda é muito solitário e isolado. A inovação de valor pode criar processos onde o autor tem mais diálogo com as demandas reais do mundo.

Ele, por exemplo, deve aceitar encomendas e, mesmo assim, manter a autoria. É esse o desafio. Se não aceitar dialogar com as encomendas, o autor pode se tornar um autor isolado. Por outro lado, se não conseguir ser autor e trazer algo novo a partir da encomenda, ele deixa de ser inovador e isso também não interessa. O público não gosta de quem quer ser vender a ele. O público gosta de quem sabe dialogar e seduzi-lo. Sem inovação o seriado vira uma commoditie, algo que não surpreende e não seduz. O desafio, portanto, é ser autor a partir de uma encomenda.

Isso é importante pois a inovação é ser criativo em diálogo real com o público. Todo grande artista é uma antena social. Mas ele pode afinar essa antena no diálogo com o canal, com o setor comercial que diz demandas concretas, com a diretoria de programação que conhece a audiência, com o setor de responsabilidade social, etc.

É a partir das encomendas que são criadas equipes customizadas por projeto, descobrindo talentos, trazendo novos agentes (escritores, dramaturgos, sociólogos, consultores), gerando a química que faz a inovação.

A inovação também parte de pesquisa. A pesquisa pode ser de demandas imaginárias ainda inexploradas (pesquisa antecipatória que determina o que ainda não existe na grade), de temas históricos e sociais e pesquisa de linguagem e formatos.

*Continua na próxima semana
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Cineasta e escritor. Foi Secretario do Audiovisual do Ministério da Cultura. É presidente da Associacão Brasileira de Roteiristas.

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