Evento que em setembro comemora 30 anos foi espaço de resistência à ditadura e promoção do cinema independente; deixou de ser realizado apenas duas vezesPor Sílvio Crespo
15/07/2003
A Jornada Internacional de Cinema da Bahia, tradicional espaço de promoção do cinema latino-americano independente, precisa de cerca de R$ 700 mil para que sua 30ª edição seja realizada em setembro próximo. O evento surgiu ?modestamente? sob a ditadura militar, em 1972, como projeto ligado à Universidade Federal da Bahia, conta o organizador, Guido Araújo. Desde então, sempre foi financiado com dinheiro público – federal, estadual e municipal. Apenas em 1985 e 1998 conseguiu patrocínio: primeiro do banco Econômico e depois da Petrobras. De acordo com Araújo, o evento só deixou de ser realizado duas vezes: em 1989, devido à ?crise econômica em que o Brasil mergulhou?, e 1990, prejudicado pela política do governo Collor.
Mobilização
Agora, a dois meses da sua edição de aniversário, a Jornada ainda não conseguiu financiamento público nem patrocínio. Para evitar que a comemoração passe em branco, a cineasta Regina Machado, uma das fundadoras da ABD (Associação Brasileira de Documentaristas), e a jornalista Maria do Rosário Caetano estão circulando um abaixo-assinado que já reúne vários nomes conhecidos, como o professor da USP Jean-Claude Bernardet, os cineastas Walter Salles, Tizuka Yamasaki, Sylvio Back, Mariza Leão e Orlando Bomfim, a atriz Ingra Liberato, os jornalistas Amir Labaki, Luiz Zanin Oricchio e Pedro Butcher e a produtora Assunção Hernandes (presidente do Congresso Brasileiro de Cinema), de um total de 127 assinaturas.
O abaixo-assinado já foi entregue à Petrobras, solicitando patrocínio, e a alguns parlamentares, mas ainda está recebendo novas adesões. Para assina-lo, é preciso apenas enviar um e-mail para jornada@ufba.br, incluindo nome completo, profissão e RG. A Petrobras ainda não respondeu se vai ou não patrocinar o evento.
Resistência
Se a primeira edição da Jornada teve um alcance restrito ao estado baiano, já no ano seguinte o espectro foi se ampliando, até se consolidar em 1985 como um evento internacional. De acordo com Guido Araújo, a partir de 1973 a principal sede do evento passou a ser o Instituto Goethe de Salvador, que, por pertencer ao governo alemão, permitia aos organizadores driblar a censura dos militares. Chegaram a ser exibidos vários filmes proibidos, inclusive alguns produzidos em Cuba.
A Jornada então se tornou um importante pólo de resistência política à ditadura e promoção do cinema independente. Foi onde nasceu a Associação Brasileira de documentaristas, que este ano completa seu 30º aniversário e conta com cerda de 600 membros associados.
Perspectivas
No terceiro milênio, a Jornada ?pretende ser um fórum para a reflexão sobre o papel estratégico da comunicação na construção da democracia e da cidadania e sobre a necessidade inalienável de termos a nossa própria imagem, para nos identificar como nação?, diz Guido Araújo. Atualmente, o evento não deixa de ser um importante espaço de estímulo à diversidade cultural, frente à crescente ocupação das nossas salas por filmes norte-americanos.
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