“Privatização da Cultura” avalia a redução dos investimentos governamentais diretos e o crescimento dos incentivos fiscais, fundações privadas, marketing cultural e institutos de empresas O crescente papel das grandes empresas e seus interesses privados no mundo das artes: na produção, circulação e nas instituições culturais no mundo, submetendo-a aos seus interesses, sob a ótica do marketing, do investimento em ativos ou da diplomacia de negócios. Este é o delicado e pouco explorado tema do livro da autora taiwanesa Chin-tao Wu, Privatização da Cultura, a partir de sua pesquisa na Universidade de Londres sobre as mudanças ocorridas nos sistemas de apoio às artes nos Estados Unidos e Reino Unidos no final do século XX. O livro foi lançado no Brasil ontem, em uma co-edição do SESC com a Boitempo Editorial e com palestra da autora no SESC Vila Mariana.
A obra analisa os efeitos das políticas para o setor dos governos de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, que estabeleceram marcos como a redução dos investimentos governamentais diretos e do controle público, e o crescimento dos incentivos fiscais, fundações privadas, do marketing cultural e dos institutos de empresas atuando no setor. A cultura deixa de ser uma área de enriquecimento do espírito, para se tornar mais um setor que tem que “se sustentar”, como “negócios privados”, mas que seguem, ainda que de forma às vezes dissimulada, subsidiados pelo poder público.
A partir desta mudança na postura dos governos e sociedades em relação à influência do mundo dos negócios na arte, Chin-tao explora o peso das empresas e seus dirigentes nos conselhos curadores, inclusive de instituições públicas como a Tate Gallery, e as crescentes coleções privadas, em poder das próprias empresas. E como os próprios museus se tornam cada dia mais orientados e parecidos com empresas. Como no caso, estudado no livro, das “franquias” do museu Guggenheim, que hoje já possui até uma filial dentro de um cassino em Las Vegas. E quais são os efeitos disso na produção artística. Afinal, porque as grandes empresas colocam dinheiro em uma arte que aparentemente as contesta?
Um debate essencial para a discussão de cultura no Brasil das leis de incentivo que promovem o controle privado com recursos públicos, após a falência da polêmica Brasilconnects, da imensa coleção privada de Edemar Cid Ferreira, e dos projetos imobiliários de um Museu de Artes de São Paulo em crise. O livro traz ainda um texto inédito sobre financiamento público à cultura, escrito por Danilo Santos de Miranda, Diretor do Departamento Regional do SESC no Estado de São Paulo.
Fonte: Agência Carta Maior
Serviço
“Privatização da cultura – a intervenção corporativa nas artes desde os anos 80”
Chin Tao Wu
Tradução: Paulo Cezar Castanheira
Apresentação: Danilo Santos de Miranda
408 páginas
Co-edição: Sesc e Boitempo Editorial
Preço: R$ 56,00