Cada ser humano é dotado de inteligência, cognição e criatividade, e é capaz de construir suas próprias narrativas a partir daquilo que observa e aprende. Quanto mais consideramos e celebramos sua autonomia, mais nos surpreendemos com a sua capacidade de transformar a si próprio e o seu entorno.

Foto: Sylvia Fredriksson Acreditando nisso, o Museu Reina Sofia em Madrid criou o serviço de Mediação Cultural, que consiste em uma série de atividades que contribuem para potencializar a visita ao museu, como um espaço dedicado a interpretação do acervo, com ambientes para leitura e fruição de material complementar, como vídeos, áudios, veículos de imprensa, livros, material histórico e de referência.

Mas o que transforma esse serviço em algo fora do comum e muito avançado para a experiência museística é a figura do mediador cultural. Além de conduzir visitas guiadas com temas transversais que auxiliam a qualificar e ampliar a leitura das obras expostas, ele é responsável por receber indivíduos e grupos em espaços estratégicos dentro do museu para conversar a respeito de uma obra, do acervo como um todo ou simplesmente para reagir de maneira provocativa e nada didática às questões apresentadas pelo visitante.

Dotado de um amplo conhecimento do acervo e das questões que o cercam, o mediador cultural está para auxiliar o público a fruir e interpretar as obras de acordo com o arsenal de conhecimento e imaginação próprio, sem ter de recorrer a narrativas pré-determinadas pela instituição.

A metodologia utilizada consiste em perguntar, compreender e dialogar com interlocutor, buscando enriquecer ao máximo o seu ponto de vista sobre a exposição. Nunca parte de narrativas prontas, de aulas preparadas e discursos prontos. Cada conversa parte de um lugar diferente e segue seu próprio caminho, conduzido pelo próprio visitante, nunca pelo mediador.

Mas a parte mais surpreendente da mediação cultural é o seu lado invisível. Munido de um tablet, o mediador é capaz de buscar informações para complementar e enriquecer a narrativa criada pelo visitante, e também o utiliza para inserir informações qualificadas sobre percepção dos visitantes sobre a sua experiência.

Somado a todo o trabalho de coleta de informações da equipe de atendimento ao público, o museu se municia de uma radiografia profunda de sua relação com os visitantes. Uma análise cuidadosa desses dados conferem ao equipamento cultural a capacidade de dinamizar e ampliar seu público, tornando-o mais atrativo, impactante e sustentável.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

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