Os dados são da revista Cannes Film Market: o 67º Festival de Cinema de Cannes registrou aproximadamente 12 mil participantes no Marché du Film. O crescimento se deve basicamente à presença dos representantes da China no Festival. Em relação ao ano passado, a participação dos chineses na Croisette aumentou em 40% e hoje já é o 5º maior país em termos de participação no mercado.
O crescimento da China não se deve unicamente ao número de filmes disponíveis no mercado. O resultado é fruto de um investimento que começou há cinco anos e que foi desenvolvido em várias frentes, visando sempre a distribuição e a exibição internacional. Agora, a grande barreira a ser quebrada é a do intercâmbio cultural através de coproduções.
Para o diretor-executivo do Marché du Film, Jerôme Paillard, a China este ano mostrou uma saudável disposição para a realizaçãoo de coproduções internacionais. Os chineses prevêem que em cinco anos barreiras como censura e cotas específicas serão derrubadas, abrindo novas oportunidades que já devem ser pensadas agora. Parodiando o filme clássico do italiano Marco Bellocchio, a China, cada vez mais, é vizinha.
Nas telas, o sucesso chinês pode ser constatado em filmes como o thriller de suspense The Great Hypnotist, que faturou 35 milhões de dólares só na China. A produtora Wanda Media Co. fez um acordo com a Fortissimo Films para a distribuição do filme, bem comercializado em Cannes. Outro filme que obteve ótima negociaçãoo em Cannes foi o vencedor do Urso de Ouro em Berlim Black Coal, Thin Ice, o filme foi comercializado para o Japão, Bélgica e países nórdicos.
Em termos de estratégia bem executada para atrair a atenção do mercado deve se destacar a presença da Argentina. Com filmes nas principais mostras, além da presença do cineasta Pablo Trapero como Presidente do Júri do Un Certain Regard, los hermanos deram uma aula de ocupação e atração de investimentos. Relatos Salvajes, de Damián Szifrón, fez barulho na Competitiva com um tarantiano compêndio de episódios na linha que sugere o título; o histórico Jauja foi exibido no Un Certain Regard; Refugiado, de Diego Lerman, na Quinzena dos Realizadores; e, finalmente, El Ardor, de Pablo Fendrik, com Gael García Bernal, este também membro do júri da competitiva, teve a pompa e circunstância das sessões de gala.
Mas nem tudo são flores na selva do mercado. Para Avi Lerner, CEO da Millenium Films, em entrevista para a revista Cannes Wrap, cada vez mais a oferta é muito superior à demanda, o que exige dos compradores um critério bastante apurado. O aumento da demanda se deve basicamente aos avanços tecnológicos que democratizaram a produção de filmes mundo afora.
Todos querem fazer um filme? Os critérios tendem a ser mais difusos, o que aumenta o poder de barganha em relação aos filmes independentes. A receita do que vai pela cabeça dos compradores hoje está na frase de Stuart Ford, CEO, da IM Global, um primor de simplicidade: “Precisamos cortar custos e aumentar a qualidade. Nosso foco é cada vez menor em nomes estelares e grandes orçamentos e mais se existem ou não benefícios palpáveis”.
Como exemplos o CEO cita Insidious (Sobrenatural, no Brasil), que custou 1,5 milhões de dólares e faturou 43 e The Butler (O Mordomo da Casa Branca), que faturou o dobro do valor de produção.
Para além dos mecanismos de compra e venda, quem deu uma bela lição no Marché du Film foi a Film London, que está investindo três milhões de dólares em iniciativas educacionais e formas inovadoras de exibição. O objetivo é estimular museus, arquivos e bibliotecas da capital a preservarem seus acervos audiovisuais. “Queremos mostrar às novas audiências como o ambiente estimulado de produção cinematográfica contribui para o enriquecimento cultural da capital nos últimos 10 anos”, afirma Adrian Wooton, chefe executivo da Film London à revsta Screen.
Ou seja, tão importante quanto estimular a produção, é preciso lembrar a importância dos seus resultados. Assim se forma público e se aquece o mercado. Fica a lição.