No Fórum Social Mundial, o músico falou sobre a numeração de CDs, a venda de discos em bancas de jornal e disse que ganha quatro vezes mais do que se estivesse em gravadorasPor Sílvio Crespo
29/01/2003

No seminário Diversidade Cultural, realizado durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, o músico Lobão falou sobre a numeração de CDs, a música independente e deu sua opinião sobre o que ainda falta para que se tenha um ?cenário propício à diversidade? cultural.

Tabu
?Numerar [discos] sempre foi um tabu; já houve até ameaça de morte?, afirmou o músico Lobão, que disse participar da luta pela numeração desde 1987. ?Falar da numeração é ser ejetado da mídia e ir para a unanimidade total?, continuou.

Lobão disse que já não tinha muita esperança que a numeração se tornasse lei em 2002. Segundo ele, a deputada federal Tânia Soares (PC do B ? SE) perguntou se ele tinha alguma proposta para apresentar à Câmara, e ele respondeu: ?tenta a numeração de CDs?. Um ano depois, o compositor disse ter ficado surpreso quando a deputada ligou para ele avisando que a lei tinha passado por unanimidade.

O músico falou também sobre a idéia de vender CDs em banca. ?Uma vez eu vi uma promoção: compre uma revista e ganhe um CD, por R$ 9,90?. Então, Lobão descobriu que a revista, sendo uma produção editorial, não tem os mesmos impostos que a indústria fonográfica, o que baixava os preços do produto. Vendendo em bancas, o compositor disse ter conseguido ganhar ?quatro vezes mais do que nas gravadoras?, mesmo numerando os CDs. ?Aí eu virei empresário, fundei a [gravadora independente] Universo Paralelo?.

Exclusão radiofônica
?O jabá é um dinheiro ectoplasmático, estratosférico, linfático?, brincou o músico, e consiste em uma ?exclusão radiofônica?. Lobão criticou também a lei que dá isenção de 70% do ICMS às grandes gravadoras sob o ?pretexto?, segundo ele, de que elas devem incentivar os novos artistas. ?Aí eles incentivam o artista que não dá problema. Mas o artista tem que dar problema, senão não é um artista?, afirmou.

Depois da conquista da numeração, Lobão disse faltar mais três medidas para que seja valorizada a diversidade cultural. A criminalização do jabá, a ?verdadeira legalização das rádios comunitárias? e a isenção de ICMS para as gravadoras independentes. Mesmo considerando que a produção cultural alternativa tem grandes dificuldades no mercado, Lobão diz já ter o que comemorar: ?55% dos discos vendidos no Brasil são produzidos pelas gravadoras independentes?.


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