O sociólogo José Carlos Durand, da Fundação Getúlio Vargas, vê o comercialismo entre as principais ?ameaças? à produção cultural de qualidade e sugere caminhos contra este problemaPor Sílvio Crespo

No seminário Cultura e Investimento Social Privado, realizado dia 31 de outubro em São Paulo, o sociólogo José Carlos Durand, do Centro de Estudos da Cultura e do Consumo da Fundação Getúlio Vargas (CECC-FGV), participou da conferência O Público e o Privado nas Políticas Culturais. Durand identificou alguns fatos positivos e outros não tão benéficos para a cultura que têm ocorrido no Brasil. Além disso, apontou a necessidade de outras iniciativas para o setor cultural.

Comercialismo
Durand iniciou sua exposição identificando o principal problema estrutural que ?ameaça? a produção cultural nacional: o comercialismo, que ?pode levar nossa cultura à mediocridade?. Para evitar este problema, disse o conferencista, ?todos aceitam que o Estado deve financiar o trabalho dos artistas, mas isso não é suficiente. O Estado deve garantir também o acesso dos cidadãos?.Durand distingue dois aspectos que devem ser levados em conta quando se pretende ampliar o público que usufrui a cultura: o acesso econômico e o acesso simbólico. O primeiro, segundo o sociólogo, pode ser conseguido ?do dia para a noite?, com a implementação de políticas de redução dos preços de espetáculos, museus e produtos culturais. Já o acesso simbólico, que corresponde à formação cultural do indivíduo, exige um trabalho de longo prazo, pode ser ampliado por meio de investimentos em educação, na formação do professor.

Pontos positivos e críticas
O sociólogo apontou como iniciativas e fatos positivos a hibridação da cultura, que vem ocorrendo no Brasil, as iniciativas que utilizam ?a arte com finalidade não-artística?, como os projetos culturais contra a violência urbana, e a latino-americanidade, que deve ser valorizada com uma política cultural externa de difusão da cultura da América Latina.

Os eventos de discussão sobre arte e cultura foram alvo de crítica de José Carlos Durand, por não resultarem em benefícios sociais concretos. ?Eu venho aqui, falo meia hora, depois vou a outro seminário, falo mais 15 minutos e isso não tem trazido conseqüências?, afirmou o sociólogo. Para ele, é necessária a criação de um fórum permanente para institucionalizar o debate sobre a cultura.

Durand foi bem incisivo com os críticos de arte: ?são um zero à esquerda?. ?Eles usam a obra de arte como um pretexto para se exibirem e se promoverem?, explicou o sociólogo. Para ele, é essencial que seja incluído, nas atribuições da administração pública cultural, o julgamento de mérito dos projetos. Com isso, o trabalho dos críticos, se for repensado, pode ter utilidade para a avaliação de projetos.

Necessidades
Para finalizar sua exposição, Durand identificou a necessidade de algumas ações para estimular a cultural no Brasil. ?É preciso fazer circularem os corpos de dança e de música, é preciso investir mais em educação, já que ela afeta cinco vezes mais o consumo cultural do que [o faz] a economia e é preciso fomentar o amadorismo cultural?.

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