Uma forma de explicar como se configura o mercado cultural está na ciência Geográfica e no seu objeto de estudo – o espaço. De acordo com Milton Santos(1985, p. 6), “os elementos do espaço seriam os seguintes: os homens, as firmas, as instituições, o chamado meio ecológico e as infraestruturas”. Esses elementos não existem nem atuam isoladamente: há relações tanto de um elemento com os outros como com o lugar no qual está inserido.

Tal dinâmica entre os elementos espaciais se constitui em estruturas que formam sistemas em que o comando é dado “pelo modo de produção dominante nas suas manifestações à escala do espaço em questão” (ibid., p. 14) e que se adaptam ao meio local. Dessa forma, a transformação desses sistemas – que leva às transformações espaciais – depende tanto de fatores externos a eles como também de modificações do valor e do significado que os elementos que os constituem assumem no decorrer dos momentos históricos que os engendram. Ou seja, o espaço está constantemente sendo produzido e modificado em um movimento dialético, e o que determina e condiciona esse movimento são a estrutura e os sistemas que o compõem.

Assim sendo, pode-se dizer que

A estrutura espacial é algo assim: uma combinação localizada de uma estrutura demográfica específica, de uma estrutura de produção específica, de uma estrutura de renda específica, de uma estrutura de consumo específica, de uma estrutura de classes específica e de um arranjo específico de técnicas produtivas e organizativas utilizadas por aquelas estruturas e que definem as relações entre os processos presentes (p. 17).

Dessa forma, estudar os fenômenos espaciais ligados à economia de bens e serviços culturais é

reconhecer o valor social dos objetos [produtos culturais], mediante um enfoque geográfico. A significação geográfica e o valor geográfico dos objetos vêm do papel que, pelo fato de estarem em contigüidade, formando uma extensão contínua, e sistematicamente interligados, eles desempenham no processo social (ibid., p. 77).

Com base nisso, podemos inferir que o funcionamento sistêmico do mercado cultural, na forma de espiral cultural apresentado por Leonardo Brant, dialoga diretamente com a dialética do espaço, pois ele deixa claro que o encadeamento das atividades que garantem a constituição do respectivo processo produtivo depende da existência de relações espaciais entre seus agentes.


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Produtora Executiva, Cantora e pesquisadora da área cultural.

1Comentário

  • Octávio, 6 de julho de 2010 @ 23:23 Reply

    texto muito bom… mas faltam as referencias.

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