Seminário em BH põe em pauta a política da grande indústria fonográfica e o crescimento da produção independente; para secretário de MG, ?gravadoras agem contra elas mesmas?Por Sílvio Crespo
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06/11/2003

O seminário Música & Movimento, realizado às quartas-feiras em Belo Horizonte desde 22 de outubro, vem trazendo à tona as questões mais polêmicas do mercado da música. Na semana passada (dia 29), o debate tirou lágrimas do consultor André Midani, um dos mais influentes profissionais do mercado musical do Brasil. O ex-presidente da Phillips e da Warner Brasil/Europa lembrou que, ao ser promovido diretor da Warner na Europa, recebeu carta do pop-star argentino Fito Paez: ?André, não deixe o negócio matar a música?. Paez se referia ao caráter estritamente mercadológico da atuação das grandes gravadoras, que trabalham a música como produto descartável. NO seminário, Midani acrescentou: ?O negócio da indústria nasceu por que existia a música… e o negócio matou a música?.

Por outro lado, Midani, hoje consultor do iMusica, sistema de vendas de canções pela internet, mostrou-se otimista com a multiplicação das gravadoras independentes. ?A configuração do mercado de música hoje se parece com a dos anos 40: jovens idealistas que se dedicam com amor a seu negócio?. E concluiu: ?o futuro será feito de companhias pequenas que se dedicam aos seus artistas?.

E os independes estão mesmo, como se sabe, ocupando seu espaço no mercado. Ivan Giannini, gerente de ação cultural do Sesc-SP (Serviço Social do Comércio de São Paulo), contou que 80% da programação promovida pela entidade são de artistas independentes. Em 2002, o Sesc-SP realizou mais de 3 mil espetáculos de música, para um público de 1,7 milhão de pessoas. Luiz Carlos Prestes Filho, que estuda a cadeia produtiva da economia da música, também considera a importância dos independentes: ?o setor que mais tem micro-empresas no Brasil é a música?. ?Hoje imaginamos que existem [no país] mais ou menos 400 selos independentes?, completou Fernando Yasbek, da Associação Brasileira de MúsicaIndependente (ABMI).

?Não existe disco invendável?
?De maio para cá exportamos 20 mil discos para a Europa e vamos começar a atuar em outros mercados?, disse Silvio Pellacani Júnior, que há um ano e meio fundou a Tratore, única distribuidora do país voltada para o mercado independente. ?Para mim, não existe disco invendável, mas disco que não chega ao seu nicho de consumidor?.

Mas os dados do mercado musical independente não são nada precisos. Para Pellacani, essa produção “hoje representa 60% da produção [total] das fábricas de CD?. Já a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), que reúne cerca de 20 gravadoras, entre as maiores do país, acredita que suas afiliadas detêm 90% do mercado, sobrando apenas 10% para os independentes. A discrepância das informações vem da escassez de pesquisas e da dificuldade de obtenção de dados devido à grande informalidade no mercado musical. Além disso, não há uma definição clara do conceito de ?independente?, nesse contexto.

Majors em crise
Na grande indústria fonográfica não existe a mesma perspectiva otimista de crescimento. Dados divulgados recentemente pela ABPD mostram que as gravadoras grandes e médias tiveram seu faturamento reduzido em 13% no Brasil, se contabilizados em dólares. Em reais, houve um crescimento de 3,6% (leia: Mercado fonográfico brasileiro encolhe 13% em 2002).

No seminário Música & Movimento, o secretário de Cultura de Minas Gerais, Luiz Roberto Nascimento Silva, deu sua explicação: ?as [grandes] gravadoras estão agindo contra elas mesmas. Nos anos 60, foi criada uma lei que permitia a elas reinvestirem 70% dos impostos de importação de matrizes estrangeiras em artistas nacionais. Isso ajudou a lançar grandes nomes no passado. Mas ao invés de continuar investindo em novos talentos, as gravadoras pegaram esse montante para pagar a renovação dos contratos milionários. A concentração em poucos nomes facilitou a pirataria?.

Serviço
Seminário Música & Movimento
De 22 de outubro a 19 de novembro de 2003 (sempre às quartas-feiras)
Auditório da Telemig Celular – Rua Levindo Lopes, 258, Funcionários
Belo Horizonte, Minas Gerais
Inscrições e informações: www.telemigcelular.com.br/cultura
Entrada franca


Leia também:
Mercado fonográfico brasileiro encolhe 13% em 2002

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