“De onde vêm as boas ideias?”. O título do livro do teórico Steven Johnson – sobre o qual já falamos aqui – foi também o ponto de partida desta reportagem. A criatividade, que sempre foi um elemento-chave para o fazer artístico, encontra-se no centro das discussões mais avançadas atualmente sobre a economia e as políticas públicas promovidas ao redor do mundo.

Mas será que existe alguma maneira de ativá-la e desenvolvê-la? Pensando nisso, fomos atrás de pessoas cujo trabalho consiste em aplicar pensamentos criativos no desenvolvimento de soluções para a sociedade.

“Costumo dizer que é preciso conciliar o lado direito e o lado esquerdo do cérebro: o prático com o lúdico, o concreto com o abstrato, o linear com o não linear. Nessa tensão a criatividade encontra terreno fértil, e a tendência é que se retroalimente, como um feixe de luz que atravessa um prisma e se transforma em múltiplas outras luzes”, descreve Lourenço Bustani, sócio-fundador da Mandalah.

Bem posicionada dentro desse contexto, a empresa se auto denomina uma “consultoria de inovação consciente”. Na prática, ela auxilia organizações a criarem estratégias, produtos e serviços inovadores. “[A criatividade nasce] De soma. Bagagem de vida, visão global, formações multidisciplinares, um descontentamento saudável com os paradigmas existentes, curiosidade. Criar é nada mais nada menos que encontrar um produto entre tudo isso”, defende Bustani.

Para Denílson Shikako, idealizador da Fábrica de Criatividade, o pensamento criativo origina-se da vontade de resolver um problema, de causar impacto, de transformar. O próprio projeto, localizado no Capão Redondo, em São Paulo,  foi criado para ser um espaço de fomento a produção de ideias e democratização das artes.

Além de promover cursos e eventos culturais, atua como consultoria de inovação e criatividade para empresas como BASF, Itaú e Rede Globo. Uma das sugestões que Shikako dá para desenvolver a criatividade é se apaixonar. Ele cita Walt Disney: “Uma pessoa dotada de paixão vale mais que 40 meramente interessadas”.

Ambiente – Segundo artigo do professor de psicologia cognitiva na Universidade Texas A&M, Steven Smith, para a revista Entrepeuneur, a criatividade nasce de ideias remotas, que parecem desconectadas mas, na verdade, estão relacionadas.

Iniciativas como o TED e o Festival de Ideias baseiam-se na máxima de que uma ideia boa pode se tornar uma ideia ainda melhor quando compartilhada. O professor Augusto de Franco já participou do primeiro e é um dos idealizadores do segundo. Nome conhecido nos debate sobre comportamento de redes no Brasil, ele afirma que a criatividade é um característica humana e, portanto, todas as pessoas são criativas.

“O problema é se o ambiente social em que elas vivem e convivem estimula ou não o exercício e o desenvolvimento dessa capacidade”, afirma. “Na verdade, num processo em que uma ideia se combina com outras ideias a partir da interação, não há ideia boa e ideia ruim. Toda ideia é boa na medida em que pode atuar como catalisador melhorando outras ideias. Ninguém tira uma ideia do nada. Todas as ideias nascem por modificações de ideias já existentes”.

Contudo, ele acredita que a as organizações sociais, empresariais e governamentais não pensam dentro dessa dinâmica, o que pode sufocar um novo pensamento. “Essa configuração do ambiente que pode favorecer (estimular) ou dificultar (desestimular) a criação depende da topologia da rede social”, explica. E conclui: “O hardware de qualquer uma das sete bilhões de pessoas que vivem neste planeta vem sendo desenvolvido há 3,9 bilhões de anos. E ele é basicamente igual em qualquer ser humano. A questão é saber como as potencialidades que todos nós – os humanos – temos podem ser ativadas. Isso depende, fundamentalmente, do ambiente, quer dizer, da configuração da rede social em que estamos”.

Falando em ambiente, em texto para o site do Cemec, a economista Ana Carla Fonseca Reis descreve três elementos que caracterizam as tão faladas hoje cidades criativas. Inovações seriam aplicação da criatividade para a resolução de problemas ou à antecipação de oportunidades. Um segundo conceito importante são as Conexões, que podem ser históricas, geográficas, de governança ou de diversidades. E, por fim, a Cultura, no sentido mais amplo da palavra.

Para mostrar como a criatividade, num ambiente adequado, pode trazer uma nova vida às cidades e à economia dos mais diversos países no mundo, Ana Carla apresenta no início de setembro, em São Paulo, o curso Economia Criativa e Cidades Criativas. Para saber mais, clique aqui.


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Jornalista, foi repórter do Cultura e Mercado de 2011 a 2013. Atualmente é assessor de comunicação da SPCine.

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