Capacidade do Fórum de levar adiante questões discutidas está em jogo. Instituto Pensarte foi único representante da América do Sul
Cultura e desenvolvimento, cultura e religião, cultura e solução de conflitos. Foram esses alguns dos temas propostos para discussão ao longo do II Fórum Mundial da Cultura, que se desenrolou de 04 a 07 de dezembro, na Jordânia, às margens do Mar Morto. O local de realização do encontro, no qual cristianismo, judaísmo e islamismo compartilham suas raízes, não poderia ser mais emblemático da defesa da diversidade, em um momento no qual urge que discurso e prática se reencontrem. Relativamente prejudicado pelos recentes ataques terroristas na capital do país e tendo sido postergado por duas vezes, o número de participantes mostrou-se inevitavelmente inferior ao que um evento do porte mereceria. Foi com enorme orgulho, mas com ainda maior responsabilidade, que o Instituto Pensarte se viu assim como único representante da América do Sul no evento.
A riqueza das discussões teve como diapasão os conflitos no Oriente Médio, a necessidade premente de encontrar uma língua comum entre irmãos separados ao longo dos séculos e a imagem distorcida que a mídia e o entretenimento divulgam da cultura islâmica. A apresentacão de casos de inclusão social promovidos por agentes culturais comunitários e a participação de representantes de distintos países árabes envolveu o Fórum com uma variada gama de cores, parcialmente desvanecida diante da falta de concretude dos próximos passos a serem seguidos. O Fórum também foi beneficiado pela inclusão de uma sessão voltada à economia da cultura (que, porém, apenas roçou a relação entre cultura e desenvolvimento sócio-econômico) e devido à presença de representantes de países em contextos tão distintos quanto China e Letônia, enredados porém nos mesmos problemas de busca de identidade nacional e política cultural que contemple o tradicional e o moderno.
Diante do anúncio de que o próximo evento ocorrerá já em 2006, é inevitável pensar em como o modelo do Fórum Mundial da Cultura, inaugurado em São Paulo no ano passado e replicado agora na Jordânia, poderia ser aprimorado em sua terceira edição. As sugestões abarcam duas vertentes. A primeira delas discute o papel desempenhado pelo próprio Fórum, que parece já ter vencido uma primeira etapa de institucionalização de um espaço de debates e troca de experiências. O passo seguinte seria analisar como poderia contribuir mais efetivamente para aglutinar e destilar as experiências e discussões que têm ocorrido em diferentes países, regiões, instâncias e organizações que também vêm
rediscutindo como devolver à cultura seu papel central nas políticas não só culturais, mas sociais, educacionais, econômicas, além de relacionadas ao turismo, desenvolvimento e comércio exterior. Um exemplo simples seria submeter uma análise sintetizada das propostas geradas no Fórum às redes de Diversidade Cultural e dos Ministros da Cultura.
A segunda vertente propõe imprimir ao encontro a mesma diversidade que ele defende. A maioria maciça dos participantes provém da área cultural e não seria exagero dizer que há uma homogeneidade desconcertante de pontos de vista. Seria o momento de alardear já nas sessões propostas que a cultura é transversal, atraindo para os debates economistas, representantes de empresas que atuam no setor cultural, membros de bancos de desenvolvimento, jornalistas de diversos canais e vertentes, alem dos já presentes governantes, agentes da sociedade civil e de instituições multilaterais. O sucesso do Fórum Mundial da Cultura será cada vez mais evidenciado não pelos debates gerados durante quatro dias, mas pela sua capacidade de internalizar a diversidade que tanto defendemos e de garantir que ela seja levada adiante apos a realização do evento.
Ana Carla Fonseca Reis, da Jordânia