“É tudo um jogo de faz-de-conta”, diz Yacoff Sarkovas, pois as empresas, ao invés de investirem, são comissionadas; “o mercado está a anos-luz de sustentabilidade”Por Silvio Crespo
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30/10/2003

O consultor Yacoff Sarkovas, pioneiro na atividade de patrocínio cultural no Brasil, disse não dar importância ao aumento da participação de empresas privadas no patrocínio de obras audiovisuais (leia matéria: Setor privado utiliza mais incentivo a cinema). ?Isso não significa absolutamente nada, a não ser que as empresas estejam descobrindo que podem ganhar 125% sobre o valor investido?. O artigo 1º da Lei do Audiovisual permite às pessoas jurídicas que patrocinam filmes abaterem do Imposto de Renda 100% do valor investido. Além disso, o valor do patrocínio pode ser considerado ?despesa operacional?, e por isso não entra na base de cálculo do IR ? o que diminui o valor do Imposto devido.

Por isso, na visão de Yacoff, o investimento por meio de incentivo fiscal é ?um jogo de faz-de-conta?. ?A Lei do Audiovisual é uma lei feita por um pequeno grupo de cineastas que transfere recurso público para o setor privado; nesse sistema, não há nenhum investimento em cinema?, diz. ?Ao contrário, as empresas são comissionadas?.

?Quando não existir a Lei do Audiovisual, nenhuma dessas empresas continuará patrocinando cinema, simplesmente porque seria um investimento a fundo perdido. Como investir em um produto fadado a ter prejuízo??. As leis de incentivo, portanto, analisa Yacoff, não estariam resolvendo as ?questões estruturais? do mercado de cinema, que estaria a ?anos-luz? de se tornar auto-sustentável.

Por outro lado, Yacoff defende a idéia de que o setor privado teria suas razões para investir seu próprio dinheiro em cultura. ?As empresas investem R$ 4 bilhões por ano na área social sem abatimento fiscal. Por que fazer com que o dinheiro público passeie pelo caixa da empresa antes de chegar à cultura??

Cultura para Todos
Para o consultor, a questão da Lei do audiovisual, apesar de polêmica, acabou saindo do debate nacional. ?Tudo isso que o Ministério da Cultura fez, todos esses seminários ?Cultura para Todos?, não vai mudar nada essa questão. O Lula e o Gil lançaram aquele programa do audiovisual (que vinculou a Ancine ao MinC) e não se falou nada sobre a Lei do Audiovisual?.

E não é necessariamente por má-fé que as autoridades e a sociedade sustentam esse sistema, de acordo com Yacoff. ?Algumas pessoas fizeram esse sistema, mas muitas o aceitaram por ignorância. São muitos jovens que não sabem que podem existir outras formas de financiamento. Há uma incompreensão na sociedade de que financiamento público não precisa passar por leis de incentivo. E há uma incapacidade da imprensa de explicar isso?.


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