O brasileiro está lendo mais, como aponta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida em 2007 pelo Instituto Pró-Livro, mas o Brasil está longe de ser um país de leitores. Essa é uma das constatações do maior estudo já realizado no país sobre o hábito de leitura dos brasileiros, que abrangeu um universo de 172 milhões de brasileiros (92% da população). Os resultados mais relevantes e a análise de especialistas sobre os indicadores mais expressivos estão no livro “Retratos da Leitura no Brasil”, organizado por Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura, com lançamento pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Instituto Pró-Livro.

A primeira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil foi realizada em 2000. Passados sete anos, o instituto decidiu voltar a campo para investigar o impacto de ações e políticas públicas para ampliar o acesso ao livro a milhões de estudantes do Ensino Médio, o aumento do número de alunos dos ensinos Médio e Superior e o esforço em zerar as cidades brasileiras sem bibliotecas.

Os números sinalizam que essas políticas redundaram num aumento dos leitores, embora o Brasil ainda não reconheça “a questão do livro e da leitura como algo realmente importante e estratégico para seu presente e, sobretudo, para construir um outro tipo de futuro”, como aponta no prefácio Jorge Yunes, presidente do Instituto Pró-Livro.

Ao organizar o livro, Galeno Amorim procurou ressaltar “constatações, revelações e inquietações” espelhados na pesquisa. Na sua opinião, o País precisa refletir sobre os dados levantados para “reconhecer deficiências, apontar caminhos e, por fim, estabelecer um grande pacto nacional em favor da leitura, com responsabilidades para cada uma das partes: Estado – nos âmbitos nacional, estadual e municipal –, setor privado e sociedade organizada”.

Dividido em 11 capítulos, o livro traz artigos de escritores, pesquisadores e pessoas comprometidas com o avanço da leitura no País, como o escritor Moacyr Scliar que escreveu sobre o valor simbólico da ato de ler. “Em se tratando de leitores jovens, é melhor apresentar a leitura como um convite amável, não como tarefa, como uma obrigação que, ao fim e ao cabo, solapam o próprio simbolismo da leitura, transformada num trabalho árido quando não penoso”. E completa: “A casa da leitura tem muitas portas, e a porta do prazer é das mais largas e acolhedoras”.

Em seu artigo Uma nova agenda para as políticas públicas do livro e leitores, o secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura, dos ministérios da Cultura e da Educação, José Castilho Marques Neto, comemora as conquistas do País. “Em minha opinião e na de muitos que encontro pelo Brasil afora, dos especialistas aos batalhadores diuturnos pela leitura, vivemos um período excepcional, promissor e decisivo”. Ele destaca, ainda, que as bibliotecas deveriam ter um papel equivalente ao da escola na manutenção e formação de leitores fora da idade escolar, uma vez que boa parte da população não pode comprar livros.

O papel da escola na formação de leitores é tema do capítulo assinado por Jeanete Beauchamp, diretora de Políticas de Formação, Materiais Didáticos e Tecnologias para a Educação Básica do Ministério da Educação, e por André Lázaro, secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC. “A pesquisa evidencia que é a escola que faz o Brasil ler”, afirmam com base num importante dado: dos 4,7 livros lidos por habitante/ano, 3,4, incluindo os didáticos, são indicados pela escola. “O Brasil está estudando e é a partir da escola que os brasileiros entram em contato com o processo de leitura e, por meio dela, acessam os livros, independentemente de sua classe social”. Eles apontam também que depois da mãe, os professores são os maiores incentivadores.

O livro traz ainda artigos de Felipe Lindoso, jornalista e autor de O Brasil pode ser um país de leitores?, sobre a cadeia produtiva do livro e da leitura. Já Maria Antonieta Antunes Cunha, doutora em Letras e professora da Universidade Federal de Minas Gerais e PUC-MG, aborda o acesso à leitura no Brasil. Coube a Lucília Helena do Carmo Garcez, mestre em Teoria da Literatura pela UnB, escrever sobre Esse Brasil que não lê. Jefferson Assumção, coordenador-geral de Livro e Leitura do Ministério da Cultura, aborda a Leitura cultural, crítica ou utilitária; Zoara Failla, socióloga, coordenadora para o Ensino Médio de São Paulo e integrante da equipe técnica da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil discorre sobre Os jovens, a leitura e a inclusão; Jorge Werthein, diretor da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), fala sobre Leitura e Cidadania.

A pesquisa

Encomendada pelo Instituto Pró-Livro, com apoio das entidades do livro (CBL, Snel e Abrelivros), a pesquisa revela a percepção da leitura no imaginário coletivo, o perfil do leitor e do não-leitor de livros, as preferências e motivações dos leitores, e os canais e formas de acesso ao livro. Foi aplicada no final de 2007 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope Inteligência), sob coordenação do Observatório do Livro e da Leitura, com 5 mil pessoas entrevistadas em 311 municípios de todas as regiões do país.

Segundo o estudo, o brasileiro está lendo mais. 95 milhões de pessoas (55% da população) declararam ter lido ao menos um livro nos três últimos meses. Se forem incluídos os entrevistados que revelaram ter lido ao menos um livro no ano que passou, o total sobe para 100 milhões de leitores. A média de leitura do país é de 4,7 livros por habitante/ano. Dessa média, 3,4 livros por habitante/ano foram indicados pela escola, freqüentada por 60 milhões de pessoas de todas as idades. E 1,3 livros per capita foram lidos fora da escola.

Por outro lado, 77 milhões de brasileiros não leram livro algum nos últimos três meses e formam o conjunto dos não-leitores do Brasil. Nesse universo estão incluídas as pessoas que não sabem ler e escrever, boa parte dos mais pobres e dos que têm baixa escolaridade.

“Os dados apresentados pela pesquisa traçam o mais completo perfil do leitor brasileiro, o que faz dela uma ferramenta de fundamental importância para nortear a formulação de políticas públicas visando a formação de leitores e a democratização do livro. Além disso, é uma referência para todos os segmentos do mercado editorial e publicá-la é imprescindível”, afirma Hubert Alquéres, presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

Retratos da Leitura

Org. Galeno Amorim
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo / Instituto Pró-Livro
191 páginas
R$ 20,00
Lançamento – 14/08, às 13h30, no estande da Imprensa Oficial


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