Para Saron, do Itaú Cultural, foi criado um novo espaço de mobilização; Ney Piacentini, da Cooperativa de Teatro, vê ?apenas o início? de um diálogo; produtora diz que ?falta método?Por Sílvio Crespo
21/07/2003
O seminário “Cultura para Todos”, em que o Ministério discute com a sociedade um novo modelo de financiamento à cultura, celebra, de certo modo, uma característica da nova gestão cultural do Governo Federal: a abertura ao diálogo com a sociedade. Agora, o debate sobe mais um degrau: no que vai dar todas essas reuniões, audiências públicas e seminários? Qual seria a melhor forma de se estabelecer esse diálogo? Como compilar as inúmeras e muitas vezes divergentes demandas do setor cultural?
O método do MinC
São várias as formas de participar do Cultura para Todos. A principal delas é a apresentação de propostas nos seminários realizados em capitais de todas as regiões do país (confira as datas na Agenda). No de São Paulo, cada proponente teve cinco minutos para anunciar suas sugestões. Além disso, foi distribuída uma ficha de cadastro em que cada um dos presentes poderia opinar sobre os principais entraves do atual modelo de financiamento e dar sugestões de novos mecanismos.
Para quem não pôde comparecer, é possível enviar propostas pelo e-mail metodos@aip.com.br, até terça (dia 22), especificando que é do estado de São Paulo. Após o dia 23, o mesmo e-mail passará a receber as demandas da região Sul. Outra possibilidade é enviar as propostas pelo site do Ministério da Cultura (www.cultura.gov.br ).
A série de seminário Cultura para Todos já ouviu secretários estaduais e municipais de cultura, além dos próprios funcionáios do MinC. Agora, as autoridades estão recebendo as demandas de artistas, produtores e gestores de entidades culturais, por meio dos seminários que estão sendo realizados em todas as regiões do país. O governo ouvirá ainda as empresas públicas e privadas que patrocinam projetos culturais, para, a partir de setembro, sistematizar as demandas e elaborar um projeto de lei.
Apreensivos
Para Ney Piacentini, vice-presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, entidade que reúne 430 grupos teatrais (cerca de 2500 pessoas), o seminário ?é uma forma interessante de abrir diálogo, mas de forma alguma suficiente?. ?Trata-se apenas de um início?, acrescenta. Ele explica que precisou se ater a pontos específicos, mas que a contribuição da Cooperativa ?a respeito de políticas públicas para a área de teatro é muito maior?. Se não for mantido o canal de comunicação com a sociedade, segundo ele, o MinC pode chegar a conclusões por demais ?generalizadas? que não correspondem às demandas reais.
A presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, Assunção Hernandes, preferiu falar não em nome da entidade que representa, mas em seu nome, como produtora cultural. Ela afirma que o seminário ?é interessante para conhecer algumas pessoas, algumas entidades, alguns projetos, algumas opiniões, para ficar mais por dentro do setor [cultural]?. Mas para ela ?falta um método? para o governo trabalhar as demandas da sociedade. Assunção também está apreensiva: ?precisamos esperar o resultado para ver como é que eles filtrarão [as propostas]?. ?Não sei como se pode trabalhar de forma tão pulverizada?, comenta.
Otimistas
?Eu acho excelente a iniciativa?, diz o consultor da Fundação Vitae e do Gife (Grupo de Institutos,Fundações e Empresas), Márcio de Almeida Prado. ?Eu acho que é isso que tem que ser feito, mas tem que ser feito rápido, senão vai levar o problema para o ano que vem?. Se o seminário dará ou não resultado, ?eu acho que no final do mês a gente vai ter uma idéia?, afirma.
O superintendente de atividades culturais do Itaú Cultural, Eduardo Saron, também aprova a iniciativa do MinC: ?só o fato de fazer o seminário é fundamental para mobilizar as pessoas?. ?Criou-se um espaço para mobilização, abriu-se um diálogo e as pessoas puderam colocar efetivamente na pauta do dia a discussão do financiamento à cultura?, diz. O método, Saron espera, ?vai ser apresentado no decorrer das coisas?. ?Vamos ver se no final dessas discussões ele [o Ministério da Cultura] vem a público […] e diz como é que vai fazer essa compilação [das propostas] e como é que vão mostrar esse produto sistematizado?. Saron é otimista: ?eles [a equipe do Ministério] não vão deixar nada de fora, até porque a sociedade está mobilizada?.
Conheça as propostas apresentadas em São Paulo
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