Com apoio da Associação Kinoforum, comunidades paulistanas à margem dos círculos de produção audiovisual nacional produzem vídeos para o Festival Internacional de CurtasPor Sílvio Crespo

A Associação Cultural Kinoforum, em mais uma iniciativa para estimular a produção audiovisual independente, inicia a partir do dia 08 de março as Oficinas Kinoforum de Realização e Produção Audiovisual. As oficinas, dirigidas a jovens de 17 a 25 anos, objetivam promover um projeto itinerante, em parceria com diferentes comunidades da cidade de São Paulo, que engloba a exibição de curtas-metragens e a realização de oficinas de captação, edição e finalização de vídeos digitais. Abrindo a temporada 2002 na Cidade Tiradentes, bairro localizado na zona leste da capital, o projeto, coordenado pelo cineasta Christian Saaghard, conta com o apoio de empresas como Petrobrás, Apple e JVC, além de Centros e Associações Culturais.

Festival de curtas
O projeto teve sua versão piloto no ano de 2001, em que 16 curtas-metragens digitais foram produzidos por jovens em oficinas realizadas na Freguesia do Ó, Centro Cultural Monte Azul, Espaço Cohab Raposo Tavares e Centro Cultural São Paulo. Entre estes curtas, que segundo a Associação Kinoforum atingiram ?surpreendentes resultados?, oito serão exibidos na ocasião da inauguração das oficinas, no dia 08 de março. Este ano, todos os quatro curtas produzidos serão exibidos nas comunidades participantes do projeto, em seções abertas ao público em geral, e no 13º Festival Internacional de Curtas de São Paulo, que ocorrerá entre 22 e 31 de agosto próximo.

Serão oito oficinas com 20 participantes cada, direcionadas para discussões teóricas abordando os gêneros ficcional, documental e experimental. Serão também ministradas uma introdução à decupagem e à linguagem cinematográfica e uma iniciação aos aspectos práticos da utilização da câmera de vídeo digital, ao lado de exercícios práticos com as câmeras e uma introdução aos recursos da edição digital.

Parcerias
A viabilização do projeto dá-se por meio de parcerias com empresas, casas de cultura, centros comunitários e outros tipos de entidades culturais. Além da Petrobrás, principal patrocinadora, que investe também no Festival de Curtas, as Oficinas recebem apoio de duas outras empresas: a Apple, através do projeto Olhar Digital, cuja proposta é identificar, em parceria com educadores, novas possibilidades pedagógicas, com a utilização de ferramentas de fácil aplicabilidade para a produção de conteúdo dinâmico (imagem e texto) em formato digital; e a JVC, que fornece as filmadoras digitais, reafirmando a política da empresa de investir em novos talentos do audiovisual brasileiro.

A primeira oficina da temporada 2002 será realizada em parceria com o MOCUTI (Movimento Cultural Cidade Tiradentes) que organiza eventos junto à população e entidade locais desde 1991. A Associação Kinoforum abre inscrições para que centros e associações culturais interessados possam receber o projeto.

Cinema independente
As oficinas são parte de um projeto maior da Associação Kinoforum de estimular a produção e difusão do cinema independente no Brasil e América Latina e investir em atividades que auxiliam o desenvolvimento da linguagem e da produção audiovisual. A Associação realiza o Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo e o festival de documentários É Tudo Verdade, e produz publicações como o Guia Brasileiro de Festivais de Cinema e Vídeo.

Limitações do mercado
O mercado cinematográfico nacional, em grande parte oriundo da tutela estatal, abrange um círculo bastante limitado de produções, tornando-se recorrente a presença de alguns nomes consagrados, como é o caso de Luis Carlos Barreto. As limitações impostas por este círculo fechado refletem-se na grande dificuldade de inserção no mercado daqueles que possuem menos recursos financeiros e acesso limitado ao arcabouço institucional do Estado.

No lugar dos velhos nomes
Esse conjunto de iniciativas da Associação Kinoforum abre possibilidades justamente para os grupos excluídos do sistema consolidado de produção audiovisual. No caso das Oficinas, particularmente, as oportunidades criadas beneficiam diretamente os artistas potenciais que menos teriam possibilidades de se projetar no cenário nacional. Recebendo os meios intelectuais e materiais de produção audiovisual, jovens potencialmente excluídos podem constituir um grupo capaz de abalar a cultura de valorização dos mesmos velhos nomes que sempre fizeram cinema no Brasil.

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