Depois de tantas mudanças na história do rádio, existe algo de novo? Ele ainda é útil para o artista? Como tocar sua música no rádio? A grande pergunta, no final das contas, é: rádio ainda importa nos dias de hoje?

Christen Greene, do selo independente Onto Entertainment, de Seattle (EUA), acha que sim. E que não. “Não importa no sentido de que rádio, em seu formato tradicional, não deveria fazer parte do plano de um artista independente. As estações comerciais não são mais líderes de mercado hoje em dia. São simples seguidoras”, analisa.

Segundo ela, o foco dos artistas independentes deve incluir toda cadeia de distribuição da sua música: YouTube, Soundcloud, Twitter, Facebook, shows ao vivo, turnês e mailing lists. Rádio hoje em dia é só parte dessa cadeia, nada mais. “Rádio ainda importa, se apoiar a nova música local e se for formadora de opinião. Nesse caso, o artista independente deve focar seus esforços nas estações de rádio locais, seja no formato tradicional ou online”, explica.

“Se seu objetivo é ter reconhecimento no mainstream, as rádios ainda têm uma posição importante de relacionamento com a indústria”, analisa a advogada Jo-Ná A. Williams, fundadora da J.A. Williams Artist Empowerment Firm, de Nova York. “Se você está mais interessado no caminho independente, a internet com seus serviços de streaming e apresentações ao vivo ainda são o melhor caminho para ser conhecido.”

Como tocar sua música no rádio? – No Brasil, temos um bom exemplo desse caminho independente citado por Jo-Ná: artistas que tocam sua música em sua própria rádio. O coletivo Metanol FM, encabeçado pelo produtor Akin, dissemina suas produções de música eletrônica – conhecidas como future beats – em uma rádio online própria há cinco anos. Desde então, ganhou o público e passou a levar essas novas sonoridades para rua através de apresentações gratuitas em São Paulo.

Mas se você não tem condições de criar sua própria rádio e ao mesmo tempo quer apresentar seu som para um público maior, uma solução é contratar empresas especializadas em introduzir novos artistas no mercado através do rádio. O mercado norte-americano é uma das maiores referências desse serviço, já que conta com mais de 15 mil estações de rádio, sendo cerca de cinco mil em AM, seis mil comerciais em FM e quatro mil educacionais sem fins lucrativos em FM.

Uma das empresas mais conceituadas em fazer essa ponte entre artistas novos e rádios nos EUA é a Planetary Group, que fica em Los Angeles e mantém contato com cerca de 250 rádios por semana. Adam Lewis, um dos fundadores, conta como é o trabalho no mercado norte-americano: “É essencial fazer promoção em rádio antes de tocar aqui. Se o resultado for positivo, então faz sentido organizar uma turnê, porque o público já vai conhecer o seu trabalho e as estações de rádio vão querer se envolver em seu show. A rádio também vai te dizer onde tocar, pois funciona como indicador dos lugares onde você deve fechar shows”.

Ainda segundo Adam, essas promoções duram em média quatro semanas para um single, seis semanas para um EP e oito para um disco inteiro. A média de investimento é US$ 300 por semana, fora o custo da postagem do material.

Regras básicas – Independente se o destino da música é uma rádio comercial ou alternativa, a estratégia é basicamente a mesma. Segundo Evan Kepner em seu texto “Radio Airplay: A beginner’s guide”, deve-se pesquisar a programação da rádio em questão e descobrir qual apresentador ou programador foca em música nova e no estilo em que o seu som se encaixa. Além disso, é importante buscar artistas com os quais você se identifica nos diferentes programas.

Com o alvo definido, envie um email para o contato direto do apresentador ou programador com links para seu website e números de acesso a Facebook, YouTube, Soundcloud e também shows. “Esses números de mídias sociais e streaming são importantes, mas não bastam. Vendas e turnês são tão importantes quanto”, analisa Sat Bisla, um dos representantes da A&R Worldwide, que também promove artistas novos através do rádio nos EUA. “E, para artistas novos, o que importa mesmo é a reação que sua música causa”, diz.

Depois do email enviado, você pode ou não receber uma resposta da rádio. Em caso positivo, irão pedir que você envie um material mais completo, ou seja, o disco e um release. John Richards, apresentador do “The Morning Show” em Seattle, explica o que deve constar nesse release: a lista de músicas gravadas; de três a cinco faixas que merecem destaque; declarações publicadas sobre o seu trabalho; e referências musicais de outras bandas. Evite descrições prolongadas, vá direto ao ponto e deixe a música falar por si.

CD, mp3 ou wav – A maioria das rádios nos EUA recebe arquivos em mp3, mas há riscos da música se perder, seja por falta de espaço no servidor, possíveis vírus ou ainda limitações de leitura do arquivo pelo hardware. Outra regra básica é ter informações da música e do artista no arquivo ou CD, com ISRC (International Standard Recording Code), compositor, artista, nome do faixa, nome doa artista.

“Hoje em dia é possível fazer uma promoção completamente digital, usando arquivos em wav”, diz Adam Lewis. “Mas, pela minha experiência, é mais provável que você consiga mais execução nas rádios com CDs aqui nos EUA. Se o estilo for world music, EDM, rap ou metal, a quantidade deve ser no mínimo 100. Se for indie rock, pode chegar a 300 cópias”, conta. Importante é que o nome da faixa e do artista já esteja no arquivo de wav ou CD.

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*Com informações dos sites The DIY Musician e 94/7 FM


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Jornalista, responsável pelo conteúdo nas mídias sociais do Brasil Music Exchange, um projeto da BMA - Brasil Música e Artes em parceria com a Apex- Brasil.

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