RELATO - MinC e BNB firmam protocolo de intenções pela cultura do nordeste - Cultura e Mercado

RELATO – MinC e BNB firmam protocolo de intenções pela cultura do nordeste

Um relato sobre o protocolo de intenções para o fortalecimento da cultura nordestina no desenvolvimento sócio-econômico brasileiro formalizado no Alto Sertão Paraibano entre o Ministério da Cultura e o Banco do Nordeste que inaugurou seu terceiro centro cultural.Caro Edu,

Cá estou. Relógio marca uma e vinte e três da manhã escura. Não sei que horas acordará. Mas, quando acordar, espero que aceite esta carta. Os olhos não escondem o cansaço e a loucura da madrugada. Pés descalços. Olhos vermelhos. Cabeça distante. Fecho o olho. Concentro…

O jatinho da presidência do BNB (Banco do Nordeste do Brasil) deixa para trás o tempo ruim de Recife e segue rumo ao sol da Paraíba. Com três goles do uísque sinto-me confortável em pisar nas nuvens. E a paisagem solar quase cega também a injustiça, depois de vendar aquela justa. Graça minha encontrar no asfalto do hangar destelhado de Sousa (473Km de João Pessoa – PB) a Dona Rosa. Mal escorrego do primeiro degrau e Dona Rosa me interpela: Dá uma ajuda, meu filho? Desculpa, sou só convidado. Foi a única coisa que pensei, além de como segurar o resto da grana da viagem para agüentar até o fim da semana. Nada que três tragos resolvam. Dona Rosa me olha. Peço desculpas. Não peça, Filho. Então me conte a sua história. Hoje Dona Rosa mora na travessa da saída esquerda da pista de pouso do município de Sousa. Hoje ela mora lá. Amanhã, talvez. Dona Rosa é cigana. Fiquei entretido. Foi a primeira vez que conheci uma cigana que não pediu para ler a minha mão. Conversa interrompida. Vamos. Vamos? Vamos.

Sigo com Pedro Lapa (diretor de Gestão do Desenvolvimento do BNB) para o local da inauguração do Centro Cultural do Banco do Nordeste. O Vale dos Dinossauros, pelo que é conhecido da cidade, está efervescendo. Segundo o prefeito Salomão Gadelha (PMDB), o dia 25 de junho é o mais importante para a história de Sousa dos últimos 20 anos. Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar, arrisca o prefeito, silenciado pelos aplausos. Vence a resistência do povo do interior, comemora o representante dos artistas, César Cavalcante. Para ele, “o Ministério da Cultura passou a ser uma ferramenta para sacudir o país”. E justifica a afirmativa: A capital paraibana João Pessoa e a capital forrozeana Campina Grande brigaram, brigaram, brigaram, mas não conseguiram o Centro Cultural, que é o terceiro do banco público. O primeiro foi implantado em Fortaleza e o outro em Cariri.

“Gil tem um exército fantástico para contar a nossa história (aquela que não está no papel) de outro jeito”. Se contar o povo que passou perfume para ver, tinha umas três mil cento e cinqüenta pessoas. Cerca de 5% de Sousenses. Cinco por cento é o mínimo estimado da movimentação financeira da cultura no PIB nacional. É também na velocidade da casa dos cinco que a economia da cultura cresce no mundo. E é pelos cinco que o Lula quer que o país se desenvolva neste ano. Pois saiba o Lula que o presidente do Banco do Nordeste, Roberto Smith, disse, que o paraibano Celso Furtado havia dito, que desenvolvimento sem cultura é mito. Segundo o senso comum (s://pt.wikipedia.org/wiki/Celso_Furtado), Celso Furtado faz parte dos pensadores brasileiros que consideram o subdesenvolvimento como uma forma de organização social no interior do sistema capitalista contrário à idéia de que seja uma etapa para o desenvolvimento, como podem sugerir os termos país “emergente” e “em desenvolvimento”.

Para explicar que “o Ministério da Cultura e o Banco do Nordeste formalizaram um protocolo de intenções para o fortalecimento da cultura nordestina no desenvolvimento sócio-econômico brasileiro”, Smith lembra a forma de colonização do Nordeste. Com a crescente imigração para o sul, que barateou a escravidão com a cultura das dívidas infinitas do pequeno agricultor, o Nordeste não sofreu com tanto impacto a imigração. Preservaram-se, em geral, a miscigenação entre portugueses, índios e africanos. Maria Célia Silveira (63 anos) interrompe. Maldita mania de fugir das áreas reservadas à imprensa! Você é repórter? Sou. Aqui tem problema de verba para hospital e no campo. Anota aí. Anotado.

Gilberto Gil me lembra a olhar para o céu. É junho. São João Batista, meu pai Xangô, ainda ronca de ressaca dos festejos. O matrimônio está atrasado mas sai. Perdão, meu Santo Antônio. Mas veja como o céu está lindo… Gil, cansado e rouco, chora. E dá-lhe Celso Furtado: “Qualquer tipo de desenvolvimento precisa enxergar a dimensão da cultura como fundamental para qualquer desenvolvimento”, explica o ministro, “para aqueles que fazem da cultura a pulsação de seu coração”. Para Gil, o importante do dia em que estivemos em Sousa não é a entrega do prédio de concreto mais amplo do que o Paço Municipal. “O importante é alimentar parcerias que reconheçam as especificidades da cultura e as respeitem”, como o faz, ainda segundo Gil, o BNB. O Banco acaba de pré-lançar o seu edital público de fomento de 2008. Pré-lançar significa colocar o seu edital em discussão de forma democrática. É só acessar e comentar antes que o edital seja publicado (s://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/eventos/programa_bnb_cultura_2008/gerados/apresentacao.asp).

Depois do falatório geral, do empurra-empurra assedioso da imprensa e de entrevistar as autoridades presentes, só Skol para deixar as idéias redondas. Chico César canta. Canta. Recanta. Até ser interrompido pela polícia local. Uma caminhonete encosta e dois homens carregam o caixão e as velas. O garçom manda as últimas duas. É hora de encerrar. O bar vai fechar de luto. Além dessa história, dizem os boatos que circulam na Wikipedia que encontraram petróleo por aqui (s://pt.wikipedia.org/wiki/Sousa_(Para%C3%ADba)). Mas a sua exploração ainda não começou. Sobre esta carta, acho que foi Garcia Márquez quem falou que o jornalismo é a arte de contar histórias. A minha eu estou contando. E é livre. Copie. Recorte. E cole. O resto eu conto depois… Só não sei dizer se a mulher morreu antes da festa, esperando o governo interceder, ou se foi durante, por bobagem: dizem que foi felicidade.

Abreijos,

Carlos Gustavo Yoda

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Leia também a resposta à carta do Yoda, na forma do Fórum desta semana

Carlos Gustavo Yoda (sic)

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