Em entrevista ao Cultura e Mercado, ex-diretor do Itaú Cultural reflete acerca de políticas culturais. ?Não acho que as instituições devam adotar os artistas, eles têm que ser os articuladores de si mesmos?Por Deborah Rocha

Política cultural
Ricardo Ribenboim, ex-diretor superintendente do Instituto Itaú Cultural, participou da segunda edição do Papo Cultural, entrevista com agentes do setor cultural produzida pelo Cultura e Mercado. O artista plástico inicia sua fala com uma crítica à política cultural em geral. Segundo ele, observa-se uma dificuldade, ?para não dizer inexistência?, de constituição da mesma. A ação não é desenvolvida nem pelo governo, tanto municipal, estadual e federal, nem pelas instituições privadas. Para o administrador, cabe, portanto, a cada instituição que difira deste quadro de passividade – ou de ignorância – definir sua própria política cultural.

Itaú Cultural
Ribenboim discorre sobre a missão do Itaú Cultural – a divulgação e preservação da cultura e das artes brasileiras ? e sobre o trabalho feito nos anos anteriores à sua entrada na instituição. A ação sobre essa missão, há 15 anos atrás, foi a de recuperar informações para um outro tipo de ambiente, que era um banco de dados informatizado.

Revisão
No momento em que Ribenbiom assumiu o cargo da presidência estava havendo uma mudança de plataforma tecnológica, com a entrada da internet. Foi necessário, portanto, realizar uma nova formatação da instituição, um processo de transformação do conteúdo do instituto. Foi feita uma revisão da missão, que não se restringia apenas à questão do resgate, mas que tratava também da formação, fomento e difusão da cultura e mais precisamente das artes brasileiras, confluindo para ações educacionais. Além disso, teve-se que se repensar o meio de transmissão das informações tratadas pela instituição e, ao mesmo tempo, elaborar, de uma maneira menos egoísta, como disponibilizar para a sociedade todas as informações geridas no Itáu Cultural, com o objetivo da melhoria da qualidade cultural do cidadão brasileiro.

Mapeamento
Neste sentido, o primeiro passo dado foi o mapeamento dos eixos temáticos e das suas diversas necessidades. Em seguida o Itaú Cultural procurou trabalhar com base em um tripé: formação, fomento e difusão, sem buscar definir um padrão, mas responder pelas necessidades que cada área de expressão solicitava. Para Ribenboim, o próximo passo da instituição não seria nenhuma atitude paternalista. ?Não acho que as instituições devam adotar os artistas, eles têm que ser os articuladores de si mesmos. O nosso trabalho foi o de articulação. A idéia é que, uma vez que dissemos que o mapeamento é uma das cartografias possíveis, nós incentivamos uma possível porta para que outras também se criem?, conceitua o administrador.

Leis de Incentivo
?Sem a lei, talvez o Itaú Cultural não tivesse esse tamanho?, comenta Ribenboim a respeito das Leis de Incentivo à Cultura. Segundo ele, existe uma consciência para a execução da ação cultural dentro do grupo Itaú Cultural, mas houve, por outro lado, a contribuição da lei. ?A idéia de que isso faz parte da própria cultura da instituição é um caso muito particular do grupo Itaú. Se me fizesse essa pergunta no geral, se acabar a lei, grande parte dos contribuintes para a lei podem acabar? Não tenho dúvida?, pontua Ribenboim.

A questão dos 100%
A respeito da questão dos 100%, (o patrocinador investe x reais em um projeto e, no final do ano, tem 100% desse dinheiro abatido no IR), o administrador diz que sua interpretação é que 100% não contribui para a formação da cultura de mecenato. Porém, pensa que a ação é válida desde que esteja contribuindo para o circuito cultural. ?Nesta fase, em que vivemos hoje de carência de recursos, se este parâmetro de 100% irá contribuir para o quadro de cultura e se esse exercício é importante, que seja pelo dinheiro e por outros caminhos que discutam a cultura do mecenato, mas não criando uma situação onde você não consegue levantar recursos?, argumenta.

Cultura do mecenato
O administrador fala também que o investimento para se incentivar a cultura do mecenato poderia ser de 1 para 1 (para cada valor aportado como incentivo, o mesmo seria doado pela iniciativa privada). Segundo ele, esta proporção precisa ser repensada. ?O que eu vejo é que o retorno de 1 para 1, em vez de ser imediato, pode ser por meio do compromisso da diferença que você dá de 70 para 30, e que essa porcentagem se divida igualmente entre a contrapartida que a instituição vai ter da dedução de 100% (ou até de 70%), mas numa devolutiva de um projeto que é comum na política cultural pública?, finaliza Ribenboim.

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