Leia os comentários que pretendem inter-relacionar a pauta e a estratégia política dos meios de comunicação e provocar o debate com o melhor e o pior que o jornalismo permite.
O Sacrifício
Parece que o Estado de S.Paulo precisa ler o francês Liberation para saber o que se passa no Ministério da Cultura. O Estadão repercutiu a entrevista do ministro que estava em turnê pela Europa, quando Gil afirmou que ser ministro é um sacrifício. “O sacrifício (de ser ministro) não é apenas financeiro. Toca também no meu desejo de expressão e de comunicação, além da demanda do meu público. Mas estou me saindo melhor que eu mesmo pensava. Eu tinha medo de não conseguir acordar cedo”.
“Já cantei bastante”
O portal de notícias da Globo, o G1, disse que Gil não deixou de ser ministro durante a estréia de Banda Larga em São Paulo: “A empolgação de Gil nas palavras levou a algumas pessoas da platéia a gritar ‘canta!’, irritando mas não chegando a tirar o bom humor do ministro-cantor… ‘Já cantei bastante [nesta noite], mas agora estou falando’”. O mote do giro mundial do cantor é a permissão para fotografar, gravar e filmar, além do estímulo a modificar o conteúdo da apresentação. E foi mais próximo do final que a platéia abandonou as cadeiras (o show foi 100% mesa) para se aproximar do palco, deixando a apresentação mais interessante. Antes, parte do público já havia tentado o mesmo movimento, mas havia sido contida pelos seguranças. Sendo a idéia da turnê promover a liberdade do uso das novas tecnologias, essa proibição à moda antiga não deixava de ser irônica.
“Agora estou falando”
Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo de sábado pegou ainda mais pesado com a sua modalidade entrevista pinque-pongue non sense, sem sentido, começo meio ou fim: “FOLHA – O que o senhor pensa do “Cansei”? Gilberto Gil – Penso que as pessoas cansadas dizem que estão cansadas. Talvez eles precisem descansar. FOLHA – O “Cansei” diz ser um movimento apartidário… Gil – Como é apartidário se são contra o presidente? FOLHA – Eles se dizem contrários à situação que o país vive. Gil – Que situação que o país vive? Eles estão se queixando de quê, de quem? FOLHA – Corrupção, por exemplo. Gil – Mas e daí? Eu estava na Europa, não acompanhei direito, você acompanhou melhor que eu. Você sabe do que eles estão se queixando. FOLHA – Uma das principais queixas é a corrupção. Gil – Sim, mas e daí? Estão cansados de corrupção? E o que eles vão fazer? FOLHA – A Christiane Torloni criticou o Ministério da Cultura, disse que sofreu um “apagão”. Gil – Ela criticou o ministério, criticou o ministro. Se as críticas são pertinentes, fundadas em fatos, em desempenho real… Mas não houve apagão, acho que é falta de informação. O ministério está funcionando. Era bom que se informassem direito.”
Alguém confirma?
E o Valor Econômico do dia 17, em reportagem sobre aliança entre o prefeito carioca César Maia (DEM) e o governador do Rio Sérgio Cabral (DEM), comentou sobre a possibilidade de Lula não concordar com a aliança, pois existem “rumores em torno do desejo do presidente” de lançar no ano que vem Gilberto Gil prefeito do Rio. Até rima. Mas alguém aperta o verde e confirma? O Estadão também fala sobre rumores de que Gil pretenda deixar o ministério e talvez dedicar-se à disputa pela prefeitura do Rio: “Seus assessores mais próximos crêem que, se ele deixar o MinC, vai ser para tirar o time de campo também da política”.
Parabéns ao National Kid
O Estado de S. Paulo desta segunda-feira comemorou os 50 anos de consumo do “pop tecnológico japonês”. Desde o seriado National Kid – super-herói inventado pela empresa National para popularizar o rádio com transístor, uma invenção japonesa – até o novíssimo game Blue Dragon, passando por ícones tecnófilos (com o carro de Speed Racer ou inúmeros robôs gigantes), super-estrelas do videogame (Mario Bros., Pokémon) e gadgets para todos os gostos (do Walkman ao Tamagochi), “o fascínio do Japão pela tecnologia criou uma nova cultura: ágil e sensível, exagerada e delicada, emotiva e violenta”.
Mas é tudo por dinheiro!
Mas reportagem pondera: Apesar de carregada de significado, a produção cultural de massa japonesa tem um propósito claro: fazer dinheiro. Mangás viram animes, que viram games, que viram brinquedos, que rendem histórias paralelas, que vendem CDs de música e DVDs e viram até parques temáticos. “É tudo por dinheiro, mas nem por isso deixa de ser uma excelente diversão”, diz o jornal.
Falha nossa
Ficou de fora de nossa pauta do 100canais, e para o nossa surpresa quem estava lá para cobrir foi O Estado de S.Paulo. Com o bordão Legislação, “Audiovisual dá partida para mudar legislação” apontou o que ninguém queria ver: “Tanto cineastas, produtores e exibidores quanto o governo concordam que lei não funciona mais para setor”. O Estadão abriu a reportagem afirmando que, “em apenas 10 anos, a lei brasileira de direito autoral tornou-se insuficiente, inapropriada e caduca para arbitrar as questões do audiovisual”. O que não ficou claro é para onde a família Mesquita pretende levar o debate. Não estávamos lá para ouvir.
Igualdade Colorida
Marco Aurélio de Mello afirmou na Folha de São Paulo de domingo que “A igualdade é colorida”, em artigo sobre os “18 milhões de cidadãos considerados de segunda categoria”. O ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral trouxe à tona debate sobre a criminalização da homofobia. Aguarda ainda apreciação pelo Senado o projeto de lei nº 5.003/2001, que enquadra a homofobia como crime, já aprovado na Câmara dos Deputados, onde tramita também projeto que proíbe os planos de saúde de limitar a inscrição de dependentes no caso de parcerias homossexuais.
Universal de MP3
E o Jornal do Commercio informou que a Universal Music, maior gravadora do mundo, vai testar a venda de músicas de artistas como Amy Winehouse, 50 Cent e Black Eyed Peas, sem tecnologia de proteção contra cópias. A companhia informou em comunicado que vai permitir a venda de milhares de seus álbuns e faixas no formato MP3 sem proteção contra cópias, software conhecido como administração de direitos autorais. O teste da Universal marca uma retirada da empresa da prática comum da indústria. As grandes gravadoras insistem que a tecnologia DRM serve para coibir o que eles chamam de pirataria.
Pingüim na janela
‘‘Imagine você comprar uma casa e ter um cômodo no qual não pudesse entrar e você não soubesse o que acontece lá dentro’’, compara o consultor Lucas Filho sobre a ‘‘caixa-preta’’ do formato OOXML da Microsoft, entrevista ao Diário do Nordeste. De olho nessa questão, a comunidade de software livre está organizando um movimento mundial contra o OOXML. O site www.noooxml.org/petition-pt pede para que os usuários votem ‘‘não’’ na consulta ISO DIS 29500 para padronização do OOXML. A página lista oito razões contra o intento da empresa de Bill Gates, dentre elas está a de que já existe um formato aberto padrão ISO 26300, o ODF.
Telefônica Digital
A coluna Outro Canal da Folha de São Paulo do dia 20 disse que a Telefônica fechou acordo com as Organizações Globo e distribuirá por sua operadora de TV paga via satélite o sinal aberto da TV Globo e os canais da Globosat (Telecine, SporTV, GNT, Globo News, Multishow). O objetivo do acordo é impulsionar a recém-lançada Telefônica TV Digital, que poderá competir com os mesmos conteúdos da Net e da Sky, que têm participação acionária da Globo. Depois da Sky, a Telefônica é a primeira operadora via satélite a ter TV Globo.
Carlos Gustavo Yoda
* Bom deixar claro – Não se pretende neste espaço, em momento algum, criar nenhum tipo de pseudo-observador de imprensa à moda de Alberto Dines, nem a pretensão de este autor ter se auto-intitulado o ombudsman do jornalismo cultural. Longe disso. O objetivo do Caderno 2.0 é inter-relacionar a pauta e a estratégia política dos meios de comunicação. Provocar o debate com o melhor e o pior que o jornalismo permite, sem sequer medi-los, apenas expondo-os. Dos comentários fofoqueiros sensacionalistas, às novas iniciativas e propostas tecnológicas. E assumiremos todas as nossas contradições. Saiba mais em s://culturaemercado.com.br/setor.php?setor=4&pid=3244