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Se tudo se torna capitalista, obrigatoriamente a contradição se instala


“Por isso mesmo, o Brasil foi, ainda é, um moinho de gastar gentes. Construímo-nos queimando milhões de índios. Depois, queimamos milhões de negros. Atualmente, estamos queimando, desgastando milhões de mestiços brasileiros, na produção não do que eles consomem, mas do que dá lucro às classes empresariais.” (Darcy Ribeiro).

Talvez nesta frase, que utilizo como titulo que é de autoria de um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros, Milton Santos, esteja a grande questão que envolve o Itaú Cultural e não só a fala do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, mas o mal-estar geral no mundo das artes brasileiras, com a descoberta desta instituição como a maior das captadoras de recursos da Lei Rouanet.

O Instituto Itaú Cultural é um braço institucional do conglomerado Itausa, que controla um gigantesco centro de gestão interconectado com suas outras empresas, entre elas estão Itaú/Itautec-Philco, além de, depois da fusão com o Unibanco, figurar a lista dos maiores grupos econômico/financeiros do planeta.

Usei esta frase de Milton Santos que está no documentário “Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global visto do lado de cá” (de Silvio Tendler) que está disponível no youtube, onde ele, entre tantas outras brilhantes observações, faz a que definiu como Globalitarismo financeiro.

Nestes últimos tempos o mercado cultural vem estimulando a ganância capitalista, instigando a inserção de um exército de novos comandados pelo fundamentalismo neoliberal que afinam com as correntes mais conservadoras e, com isso, os executivos cada vez mais se tornam peças determinantes em que o artista, o cidadão, e a cultura cada vez mais são jogados no balaio da multiculturalidade e ali, consequentemente é pinçado e otimizado o que interessa ao comando neoliberal.

É bem interessante a observação de algumas fórmulas que se instalaram no meio cultural, sobretudo nessa saga universalista que tem a arte como pano de fundo para a expansão do capital globalizado das classes dominantes.

A nossa querida colega, Maria Alice Gouveia, fez uma observação em comentário aqui nesta tribuna que, embora verdadeira, não deixa de ser uma tragédia para a arte, para o artista e para a cultura brasileira, bem como para pequenos produtores que se iludem com a idolatria do eldorado do mercado cultural.

“Qual arte, hoje em dia, não é arte comercializada, estruturada e definida como arte? Marcel Duchamp mostrou exatamente isso: por que um mictório de repente passa a valer muito, em termos artísticos e, muito também em termos econômicos? Porque levou uma assinatura de um artista consagrado. É isso que, juntamente com a aprovação de curadores, diretores de museus, críticos, e donos de galeria vão dar valor tanto artístico como comercial a uma obra de arte. Essa história de artista desconhecido, incompreendido, pouco valorizado é coisa do século XIX. Atualmente, artista é aquele que o sistema de arte diz que é artista. Você pode ter uma produção fantástica. Se ela não for legitimada pelo campo das artes, ela não será reconhecida ou publicamente veiculada como tal”. (Maria Alice Gouveia).

Tal declaração recebe também em comentário aqui no CeM, imediatamente o apoio incondicional de Rosa Maria Peres que diz:

“Maria Alice Gouveia está certíssima. Já faz algum tempo que na arte o que vale é o texto e a divulgação”. E conclui com um com um dos mandamentos neoliberais: “Nenhum burocrata ou capitalista vai perder tempo lendo 15 páginas com termos rebuscados que não expõem o assunto de forma direta, clara e que não sugerem receitas práticas”.

“É preciso que se diga a esses jovens que o dodecafonismo, em música, corresponde ao abstracionismo em pintura; o hermetismo, em literatura; ao existencialismo em filosofia, ao charlatanismo em ciência”. (Camargo Guarnieri)

Estas pequenas observações demandam um olhar mais amplo sobre o peso de uma instituição financeira imantada pelo sobrenome cultural como é o caso Itaú e seu instituto, e a necessidade do Estado ser mais presente e principalmente mais forte nas estratégias que proponham novos paradigmas no universo da cultura e da arte brasileira.

Com o status adquirido pelo próprio sistema, uma instituição como a do Banco Itaú através de sua instituição cultural, pode, por exemplo, definir diretrizes, postular o comando de um pensamento, ditar normas etc.etc.

“Passa a ser instrumento do mais forte com o neodarwinismo social a que nós estamos assistindo agora. O processo atual de globalização agrava essa problemática. Essa globalização não vai durar. Primeiro, ela não é a única possível, segundo, não vai durar como está, porque como está é monstruosa, perversa. Não vai durar, porque não tem finalidade. Para que nós estamos globalizando, para aumentar a competitividade? Para que serve isso? O mercado global, o que é isso? Quem já viu esse mercado global? É o cachorro correndo atrás do rabo. E há o que, quem trabalha com a técnica chama de disfunção da técnica. Todo o processo tecnológico produz suas disfunções e convida a um novo avanço, tanto na tecnologia como na organização. Então, no caso atual, está havendo todos os dias avanços na tecnologia. Na organização o que está havendo é o avanço do comando unificado porque se diminui o número de empresas e se fortalece o papel de organismos centrais, de finanças” (Milton Santos).

Portanto, neste momento não cabe mais viver dessa dualidade, pois se observa, neste momento, o esmagamento pela supremacia do capital sobre-humano que tenta buscar sustentabilidade, vida e liberdade aonde se aplaude textos que caminham no sentido do privilegiado, sentenciando os explorados que, por sua vez, são pressionados pela globalização econômica. Porque o que existe de fato não é a globalização das idéias que poderia trazer uma outra teoria, não, a globalização é financeira, seca e crua. A escala social proposta nesse novo tratado de Oslo “cultural” é a certidão do duplo narciso, dos neocolonialistas e do neocolonizados, conferindo aos primeiros o poder de determinar os valores pelos quais julgam a inferioridade do outro. É nessa perspectiva que se deve salientar que jamais uma instituição privada, uma ONG, seja lá que nome tenha, possa ter qualquer paridade de peso na vida nacional como, por exemplo, a Funarte, que fará o Ministério da Cultura! Representações efetivamente erguidas e sustentadas pela sociedade brasileira, sobretudo no campo das ideias. Por isso elas têm que ser ampliadas, fortalecidas e prestigiadas pelo governo artistas e sociedade.

Todas essas questões são hoje pautas urgentes que demandam dos artistas e produtores comprometidos com o Brasil, um olhar independente, buscando dentro de um novo humanismo a certificação de que a arte e a cultura de um povo têm papel determinante em todos os campos políticos da vida nacional.

Jamais, no mínimo espaço que as instituições privadas de cultura nos oferecem será determinado o desenvolvimento sustentável da cultura e da arte brasileiras. O povo sim, este, com a sua massa crítica é quem trará o resultado concreto do desenvolvimento humano, em seus próprios espaços, nas ruas, a céu aberto.

“Popular porque, cada vez menos as coletividades são chamadas a ter a palavra. Não é possível! Porque a forma como a tecnologia é utilizada por grupos cada vez menos numeroso para buscar unicamente lucro ou mais valia, não tem finalidade. Qual a finalidade, de que uma grande empresa bancária quebre a outra? Hoje nós estamos no reino da “nonsense” total e global. As massas estão, de alguma maneira, contidas pela informação, elas também estão contidas pela produção abstrata das universidades. Não é que a gente não vá ver o povo, só que o pensamento não parte daí porque a nossa maneira de começar a pensar é inadequada. Acho que tudo depende de como começar a pensar. Mas voltando à questão, o fato é também que as classes médias no mundo inteiro começam a descobrir que não mandam nada. Isso pode ser importante.” (Milton Santos).

Carlos Henrique Machado Freitas

Bandolinista, compositor e pesquisador.

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  • Caro Carlos Henrique,

    Seu artigo é brilhante. Ele nos faz refletir sobre o papel do Estado e das intituções culturais de direito privado quanto à arte e à cultura. Além disso, nos fornece lições de um dos maiores intelectuais brasileiros de nosso tempo.Minton Santos é visionário.Sua leitura da globalização e dos seus limites ainda nos é muito atual. Parabéns pelo artigo. Precisamos de articulistas com a qualidade que este texto apresenta.

    Abraços fraternos.

  • Olá Carlos Henrique,
    gostaria de entrar em contato com voce para falar sobre o seu livro de partituras, choro brasileiro. por favor me escreva, pois os livros poderão ser doados. Att, Eval. Livraria DaConde.

  • Carlos Henrique,
    Desculpe contrapor teu texto bacana com meu desalento e minha discordância, mas vejo persistir em teus argumentos o anacronismo, para mim, superado, da velha divisão do mundo em dominantes e dominados, esquerda e direita.
    Não dá mais para sustentar esse viés ideológico ultrapassado - para mim (e está mais do que claro que a nenhum projeto de esquerda chegou ao poder sem se corromper ou reproduzir os ensinamentos neoliberais ou, pior, praticar toda sorte de atrocidade e autoritatismo, tao ferozes e destrutivos quando o colonialismo e o capitalismo).
    Os Estudos Culturais, ainda que de inspiração marxista, como epistemologia já constaram a inexorabilidade da dimensão econômica da cultura. A Escola de Frankfurt já foi. É passado. A atualidade nos aponta que nada mais contemporâneo que o trânsito incessamente e o aproveitamento e uso como recurso de idéias, imagens, símbolos. Somos um dos maiores celeiros de repertórios identitários e imagéticos do mundo, e temos que aprender a tirar proveito dessa riqueza, para, sim, promovermos a justiça social com paz e prosperidade para todos.

  • Olá Sergio Sobreira
    Não há o que desculpar, ao contrário, fico feliz quando as pessoas objetivam o debate. Aliás, como não sou um erudito, e nada contra eles, nutro inclusive uma profunda admiração por aqueles que dedicam o tempo a uma análise do tempo real, focados numa historiografia distante dos clichês, autônoma sobretudo, não necessariamente individualista. Por isso prezo tanto o diálogo, o debatem já que o nosso pensamento está mais focado na carga genética aonde os sobrenomes Silva, Santos e etc, são raros. E aí sim, a nossa visão não pode ser retórica de vermos desigualdades tão gritantes na sua e na minha rua, na sua e na minha cidade.
    Essa disfunção sim é fruto da retórica tradicional do pensamento unilateral, na qual o tecido institucional, sobretudo na cultura, se pautou. E isso nada tem de estruturalizante ou realista. Se assim fosse, não estaríamos vivendo agora uma crise na cultura maior do que a crise financeira mundial, porque, além da crise financeira, estamos, por obra de uma ainda não detectada por nós, ruptura dessa sociedade que ascende e a outra dominante que sucumbe diante so sau antigo poder implacável de ocupar os espaços nas grandes mídias.
    É lógico, Sergio, que tem mesmo uma aflita necessidade de pragmatismo, e sonho verdadeiramente com os resultados que você crê, o que nos parece ser antagônica é a forma de se chegar a esse ideal. A sua forma, pelo que observo, mesmo citando uma receita de café com leite, permanece na crença de que descolocar o leito com gotinhas de café, seria a solução mais elevada.
    Há em tudo isso uma coisa, e repito, pela condição de ser um músico prático, ou seja, sem origem na escola teórica, que me incomoda a erudição universalista. Quando não conseguimos resolver coisas mínimas na convivência entre pessoas de um mesmo país. Sim, porque olhando de fora para dentro do Brasil, todos somos povo, até mesmo para os não creem nisso. E, justamente por não crerem nisso, compram a ideia, embora disfarçada, de colonizador.
    As nossas imagens cotidianas são tão francamente expostas que, aí sim, retórica é a busca por uma tecitura antitérmica que sustenta modelos que privilegiam sempre os ditos “cultos” em detrimento dos ditos “não cultos”.
    Sonho com o pragmatismo, desses até broncos, pés de boi, nem tanto visceral, mas concreto e realista, sobretudo equilibrado na primeira e mais importante das necessárias observações, a democracia de ideias e vozes.
    Um grande abraço e obrigado.

  • Carlos Henrique,

    O texto mais abaixo fiz como comentário de um post de Monclar, mas acho que se encaixa perfeitamente como contraponto ao seu ideario acima.
    Um contraponto que gostaria de fazer à essa sanha de considerar um sacrilégio cultural o Itaú, instituição demoníaca afinal, ser um dos “maiores captadores” da Lei Rouanet. Olha só como as palavras fazem diferença.
    Você poderia com alguma boa vontade dizer que o Itáu, esse conglomerado da monstruosidade capitalista, que até fabrica computadores e televisores é um dos maiores utilizadores da “renúncia fiscal” em prol da arte. Mas as tecnicalidades jurídica e fiscais aqui não importam pois a arte deles é burguesa né ? Ah tinha esquecido. Desculpe, então não vale.
    E olha só como os números também fazem diferença. Alguém falou pro presidente, (adivinhem quem ? e por que ?) e ele repetiu um dado numérico errado. O Lula disse que o Itaú cultural não põe um centavo do seu próprio bolso no seu Instituto Itaú Cultural. Primeiro se há renuncia fiscal, principio da Lei de Incentivo em vigor, então o Estado expressamente, abdicou da arrecadação para deixar que os agentes da sociedade, as empresas no caso participem das decisões e direcionem os recursos que seriam tributados, para atividades artísticas.
    Em segundo lugar o que o Lula disse foi uma mentira proposital (plantada adivinhem por quem e por que ?).
    Por que será que os assessores do presidente não disseram pra ele que metade das verbas que mantém o Itaú cultural são recursos próprios. Ah mas é arte burguesa !! Esqueci !! Então não faz a menor diferença né ? Já deu pra ver que quando não erra de propósito no número o governo gosta de colocar os números no palanque sem a devida interpretação. Aliás, o Itaú com certeza está entre os 3% de proponentes malvados que captam 50% dos recursos. Mas o Juca esqueceu de falar qual é o numero de artistas remunerados, e a quantidade de empregos e projetos que são suportados pelas atividades do Itaú Cultural e pelos outros perversos que completam os 3% propagados. Será que um real pago pelo Itaú Cultural compra menos pão e leite do que se fosse pago pela Funarte? Por que um dinheiro é melhor que o outro. O dinheiro da Funarte é dinheiro de imposto também não é mesmo. Só que quem decide lá é “bonzinho”. Será ? É sim, pode confiar. Quem decide lá é um integrante do Estado, representante “legítimo” do povo, quem sabe não é “do partido” ou um então um aliado não é mesmo ? Merece portanto toda a nossa consideração. Eita nóis.
    Mas olha que o governo tá sabendo bater na malvada da Lei Rouanet e agora apresenta como vitória a adesão de meia dúzia de mega empresas, entre elas o Itaú que concordam sem problemas em usar a Lei Rouanet com 20% de contrapartida mínima.
    Que maravilha. Só que ainda não nos foi dito se o montante de recursos total aplicado vai permanecer o mesmo.
    Também não nos foi apresentado nenhuma evidência de que os recursos totais para a cultura vão crescer. Será que outras empresa que usam o Mecenato tem a mesma disposição dessas que pressionadas pelo governo aderiram à essa proposta ?
    O artista anti-burgues tá comemorando, sem perceber que enquanto pro Itaú e outros pouca diferença vai fazer. Agora o banco vai pagar o imposto e deixar de ser execrado publicamente pelo nosso popular presidente Lula, e pela massa manobrada pelo populismo. Que beleza, isso é que é marketing e administração de imagem. Empresa sabe mesmo fazer isso. E banco sabe ganhar dinheiro viu ? Agora artista é uma tristeza. Pra ganhar dinheiro é difícil e se for dinheiro de burguês então. Esse eles nem querem tocar. Parede que queima a mão.
    Esses ainda não perceberam que vão perder os recursos para o tesouro nacional. Enquanto o Ministério dos Esportes e a turma “super unida” do cinema (que o Juca não ousa atacar) vai comemorar a enxurrada de dinheiro que vai entrar nos seus projetos via renúncia fiscal. A mesma renúncia fiscal combatida pelo nosso Robin Hood às avessas de plantão no ministério da Cultura.
    A captação do Mecenato em 2008 em meio à tanta insegurança já caiu 50%. Mas e o orçamento do Minc, já foi aumentado para contrabalançando isso ? Ah mas é a crise econômica né mesmo ? Esqueci. Acho que isso não tem nada a ver com o nosso Ministro que persegue os malvados que usam a Lei Roaunet destruindo a sua imagem em público.

    Vamos ao texto mais elegante e sem ironias agora.
    Em meio a tantos caminhos para discutir o seu texto, gostaria de fazer algumas considerações quanto à dicotomia entre cultura popular e cultura das elites e alguns desdobramentos que esta dicotomia me fez refletir. Se quisermos, será possível enxergar essa divisão em diversas épocas da humanidade, em todos as plagas ,nascida, transformada e evoluída nos caminhos históricos percorridos por cada povo. Transferido de geração a geração e de povo a povo na infinita espiral e no caldeirão da manifestação da alma humana universal. Ponto de vista poético, muito distante das questões cotidianas do pão de cada dia que cada artista pede que lhe seja dado pelo seu valor e conquista. E todos querem seu pão. O que me parece improfícuo nesse debate todo é o espírito de seita, justificado e alimentado constantemente pelos ressentimentos históricos e pela verborragia, essa sim muitas vezes populista e aproveitadora, que deita e rola sobre o cenário desolador das desigualdades brasileiras, reais e tangíveis e por isso mesmo tão fáceis de serem traduzidas em propostas embasadas no discurso Robin Hood, já que sinalizam um caminho desejável para tantos. Tão importante quanto valorizar a cultura popular (acho que pra ser valorizada tem que ser com dinheiro né ? senão não vale dirão), é reconstruir a indústria cultural (foi dito aqui nos comentários). Mas pra que a indústria ? Esta que se alimenta do novo, do velho, do popular e do erudito, do terreiro e das galerias e salões da realeza, mas que não dá espaço para tantos e todos (fazer o que né ?). Tão veemente odiada pelos excluídos que buscam no Estado e o elegeram como instância interventora redentora esquecendo-se que no Estado também não haverá lugar para todos (também vi aqui alguém reclamando que foi julgado em editais pela sua vírgula, e os produtores culturais que o digam exaustos, cansados que estão de apresentar projetos às instâncias julgadoras do MinC e dá-lhe Caetano) Esta plenitude cultural integradora, utópica, sonhadora, (aliás acho que é o sonho de todos, senão não estaríamos aqui trançando idéias não é mesmo ?) depende infelizmente, não só da caneta do Ministro da Cultura, mas prescinde de uma evolução do país em diversos aspectos, especialmente no que tange ao nível educacional e de transformação de aspectos sociais, econômicos e culturais de uma forma muito ampla. Enquanto as baterias da artilharia dos que se arvoram defensores dos pobres e oprimidos continuarem ressentidas, desconfiadas e a desprezar as ações “marketeiras”, das empresas, das ONGs, dos institutos empresariais e de tantos, ao menos daqueles sinceros (em cada canto do mundo há anjos e demônios e também dentro de cada um), destes que buscam a construção de um pais diferente, esforçando-se com os recursos ao seu alcance. Enquanto não conseguirmos aparar estas arestas e continuarmos a acreditar que o Estado e só o Estado deve fazer tudo. Enquanto acreditarmos que o Estado é a única instância para nos representar na sociedade. Enquanto não formos capazes de perceber que nós devemos colocar a nossa vontade em todas as instâncias. Empresas, ONGs, associações, Institutos, Associações, Legislaturas. E que estas serão aquilo que nós quisermos que elas sejam. Enquanto não formos capazes de encontrar a unidade na diversidade, a concórdia colaborativa e continuarmos a nos enxergar como inimigos em lados opostos da cultura. Enquanto tudo isso for parte do cenário, vamos nos demorar a evoluir como nação e perpetuar os rancores, reproduzindo e alimentando no presente as mazelas do passado. Estas mesmas que queremos todos possam ser superadas.

  • "Agora o banco vai pagar o imposto e deixar de ser execrado publicamente pelo nosso popular presidente Lula, e pela massa manobrada pelo populismo." (Kluk Neto).

    "Enquanto não formos capazes de encontrar a unidade na diversidade, a concórdia colaborativa e continuarmos a nos enxergar como inimigos em lados opostos da cultura. Enquanto tudo isso for parte do cenário, vamos nos demorar a evoluir como nação e perpetuar os rancores, reproduzindo e alimentando no presente as mazelas do passado. Estas mesmas que queremos todos possam ser superadas." (Kluk Neto).

    Oi Kluk
    Colhi estes dois trechos acima para tentar te dizer que tive certa dificuldade em entender o seu extenso discurso.

    Num primeiro momento, você recorre ao chavão eleitorialista tão característico dos partidos e da mídia de oposição à Lula,(o operário nordestino analfa) com a mesma ideia de que todos nós que apoiamos a política de Lula, e o próprio, como represantante legítimo do povo, somos massa de manobra. Aliás, nós, Obama, a torcida do Mengão e do Corínthians achamos o Lula "O CARA". Ah, já ia esquecendo, o Bresser Pereira (PSDB) também acha. Já o FHC... Bom, como você sabe, ele não acha nada, pois quem achava por ele era o ACM, o bom coronel das malvadezas edificadoras.

    Mais abaixo você propõe uma construção colaborativa, que eu acho extremamente saudável. No entanto, ela não cnsegue soar sincera quanto aos não rancores, já que você, no mesmo espaço, constrói as antagonias, mas deixa quieto. Como diz o Zé do Prego, Deus tá vendo!

    Acho que na sua preocupação, que aliás lhe é peculiar, em trazer números, aportes, produtividade arrecadatória sem tentar compreender a arte como elemento que carece de observação um pouco mais sutil (de olhos fechados), você não percebeu que não tive a intenção, como não fiz uma análise de ataque ao Itaú Cultural.

    Este texto, pelo menos esta foi a minha intenção, não estabelece norma que não seja a crítica ao desequilíbrio, que poderia ser, neste caso, os chiliques do auto-proclamado gênio, Gerald Thomas, sobre uma instituição como a que você comanda, por exemplo.

    Talvez você não tenha observado que carrega uma bandeira que lhe impede às vezes de enxergar o horizonte das minhas observações. Grandes demais, essas bandeiras tremuladas no furacão das arquibancadas políticas, antes mesmo de começar a partida, já se opõem a qualquer coisa que não seja o espelho. E talvez seja esta a grande questão do narciso burguês e, por ser ele a principal massa de recursos, eu disse, recursos, como público "álvaro" (vítima do consumismo psicológico), como disse o nosso querido Adoniran dentro daquela erudita simplicidade. Aí é que está o pulo do gato de Lula, como disse Bresser Pereira hoje em artigo na Folha e que Nassif destaca em seu blog:
    sss://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/09/21/as-faces-do-nacionalismo/#more-33759

    O fato em questão, que você toma como as dores do Itaú, carece de uma contrapartida mais ostensiva, digo, mais cirúrgica sobre os aspectos de toda a trajetória da cultura brasileira. O capital, ou melhor, o capitalista e seu tecido ciliar se excedem, em alguns casos, na visão ocidental, na crença apressada de um único ciclo da humanidade, o pós-modernismo. O belicismo desta forma de construção, de expansão, tenta a qualquer custo fatalizar sem a mínima preocupação de relativizar as questões do homem e suas relações dentro do seu meio.

    Por isso, as vezes somos acometidos por uma sensação de fracasso humano ou a de que o homem deu errado e, portanto não vale a pena, como sentencia o nosso colega Sergio Sobreira, em comentário aqui mesmo nesta coluna.

    " Não dá mais para sustentar esse viés ideológico ultrapassado - para mim (e está mais do que claro que a nenhum projeto de esquerda chegou ao poder sem se corromper ou reproduzir os ensinamentos neoliberais ou, pior, praticar toda sorte de atrocidade e autoritatismo, tao ferozes e destrutivos quando o colonialismo e o capitalismo)."

    Mesmo sabendo que este suicídio coletivo (psicológico) está ancorado apenas em tapar o nariz, sem que isso nos coloque diante da realidade da vida, não posso aplaudir as sentenças generalizantes de forma tão passiva.

    Lembre-se Kluk, jamais na nossa história, e se você achar algo diferente, por favor me apresente, o povo brasileiro quis dar conselhos à elite "econômica ou culta". Quem tem essa saga escotista são os nossos bons mecenas. Somos bons purís, ararís, mamelucos, pardos, negros, brancos de olhos azuis ou não, vítimas do preconceito lucrativo, do preconceito em escada industrial. A mesma escala industrial que hoje quer se instaurar em definitivo dentro dos modelos da economia criativa. A única porta de saída que ainda nos resta para a reconstrução (the day after) da quebradeira da indústria culturalesca do entretenimento.

    Mas olha só Kluk, "tamo junto". Os ajustes se darão assim mesmo nas observações que são colaborativas, como as suas, as minhas e as de todos que querem um ambiente pleno e saudável para a economia da arte.

    Um grande abraço.

  • Caro Carlos,
    Veja só que, fui simpatizante do PT muitos anos e votei no Lula nas duas últimas eleições. Portanto como tantos outros brasileiros me inclui voluntariamente na massa de eleitores da “esperança”.
    Como filho da classe média brasileira quero dizer que ao contrário de muitos outros com a minha mesma condição econômica e social nunca tive o “medo” comentado pelo presidente, quando ele disse a célebre frase em que a esperança tinha vencido.
    Não tome as minhas posições recheadas de análises técnicas, econômicas e fiscais, como sinônimo de incapacidade ou obtusidade para observação da cultura de uma forma mais sutil como você afirmou acima.
    Entretanto, além de poder sim perceber as sutilezas que você demanda na análise, tenho sim os meus olhos bem abertos para as questões práticas e não posso deixar de registrar que se trata aqui claramente de um embate ideológico entre uma visão que insiste em atribuir todas as mazelas sociais, econômicas, a condição de exclusão e desvalorização de grande parte da classe artística à existência de um simples mecanismo de renúncia fiscal que é a Lei Roaunet. Alguém falou que este era o problema principal. Esses mesmos e mais outros não tinham soluções para os problemas e pegaram isso como bandeira e programa de governo e não fazem outra coisa que campanha e discurso para dizer ao fim que estão fazendo alguma coisa. Erram o diagnóstico, erram o alvo, e o artista assiste e aplaude e não consegue enxergar e ouvir mais nada além do que lhe é colocado sob a visão e os ouvidos insistentemente.
    Por trás dessa visão ressentida que arrebata uma legião de artistas, está a mágoa do oprimido e deserdado dos atuais anais e de toda a nossa história de exclusão.
    Mas a questão é que de fato não vejo no movimento do Ministéiro da Cultura atualmente nenhuma forma de enfrentamento real desta situação.
    Vejo apenas que o Ministro da Cultura se aproveita de factóides reais ( de mal uso da Lei) e faz força para criar outros irreais, como foi o discurso do Lula para desconstruir um mecanismo que se não é perfeito tem muito méritos que não são considerados.Usando dados errados sobre o Itaú Cultural.
    Por outro lado, alerto para o fato de o MinC ser muito bom em bater na Lei. Arrebanha uma amostra de meia dúzia de grandes empresas pressionadas politicamente e sofrendo grande desgaste pela campanha anti Lei Rouanet e negocia contrapartida de 20% para o Mecenato. Para estas não vai fazer a mínima diferença pagar o imposto ou investir na cultura. Mas para muitas outras esses 20% terão sim impactos. E o pior é que quanto mais dinheiro do próprio bolso as empresas tiverem que colocar, mais o perfil dos projetos incentivados tende a ser exatamente aquele que é indesejável por ser mais comercial ou propiciar mais retorno de imagem e blá, blá, blá.
    Então, prezando o aspecto numerológico da discussão me arrisco a dizer que os efeitos de tal movimento terão os seguintes efeitos.
    1-)A tendência é que quando as grandes empresas tiverem que colocar mais dinheiro sem renúncia fiscal nos projetos culturais, a busca por projetos com retorno de imagem e marketing será maior(para a arte e o artista fora que não tem esse perfil a vida vai ficar pior, mas os ideólogos de plantão achando que fizeram um bem vão comemorar sem saber será ? que na casa de alguém vai faltar pão)
    2-)Apenas “algumas” grandes empresas irão manter o mesmo nivel de investimento. Talvez aquelas, muitas delas hoje até criticadas, que esse tempo de vida da Rouanet ou antes mesmos já desenvolveram uma cultura consistente e genuína de valorização e investimento na cultura. Entretanto, em muitos casos a questão orçamentária é que tenderá a falar mais alto. (de novo para o artista que precisa de patrocínio a vida vai ficar pior)
    3-)O povo do cinema e do audiovisual vai nadar de braçada, pois são unidos e essa classe não tem arroubos ideológicos auto-destrutivos então os 4% que antes eram da Rouanet vão ficar sobrando de bandeja para os filmes e produções audiovisuais enquanto o teatro, a dança, as artes plásticas e afins verão a a sua grana diminuir consideravelmente e a vida ficar ainda mais dura.
    4-)O governo conseguirá incrivelmente comemorar, de forma demagógica que conseguiu um avanço em fazer com que as empresas invistam mais recursos próprios na cultura. Isso não será uma realidade, pois as empresas só irão investir mais dinheiro próprio “se quiserem” e mudar o percentual da lei não força ninguém a investir. A equação de decisão orçamentária é mais complexa e como significará para elas mais custo real, vai novamente envolver o marketing, o retorno e etc. (tudo aquilo que alguns artistas tanto criticam será novamente acirrado, então o tiro sai pela culatra)
    5-)Se realmente essas reformas forem feitas do jeito que se desenham, nos restará depois da terra devasta cobrar o que foi prometido no discurso (embora esteja claríssimo que a reforma pretendida não cria instrumento nenhum para isso)
    Será que é com o essa mudança que a descentralização regional e a melhor distribuição para os artistas excluídos vai acontecer ?
    Não creio. A grande surpresa será constatar que a vida que era dura com o mercado, vai continuar quem sabe igual ou pior com o Estado, já que a concorrência dos produtores e artistas para abocanhar as verbas estatais vai também se exacerbada se essa fonte de recursos for aumentada.
    6-)Por fim veremos, que mesmo com a balança dos recursos pesando para que o Estado seja o grande decisor, ainda assim continuarão a existir excluídos do processo. Portanto se irá perceber que a grande “prostituta” alvejada não era a única causa das mazelas do cenário cultural excludente e que seria necessário muito mais do que mudar um percentual aqui e ali para mudar a situação. Esse muito mais é justamente o que o Ministério da Cultura não está fazendo nesse momento enquanto só sabe fazer campanha contra a Lei Rouanet atual.
    É com esse cenário em mente que faço aqui a defesa do que há de positivo Não é pela incapacidade de compreender a cultura com mais sutilezas para alem dos números como talvez você queira se convencer.
    Infelizmente em última instância toda a ideologia e toda maquinação numérica vão impactar o feijão com o arroz de alguma artista. Mesmo que o presidente não saiba que antes de comprar o feijão e o arroz o artista teve que fazer um show ou um workshop no Itaú Cultural. Então, o governo tem que parar de fazer discurso demagógico e se o Lula acha que tem livro de arte pesado que ninguem lê e que não deve ser incentivado, que então o governo direcione a CNIC e o seu Ministro para deixar de aprovar projeto desse tipo “indesejável”. Que ele saiba que a legislação atual já tem diretrizes claras e instrumentos e poderes que permitem às instãncias de análise e aprovação privilegiar a democratização e o tipo de projeto que quiserem. (Lembrem-se que quem aprovou o Cirque du Soleil sem exigir contrapartidas democratizantes foi o proprio MinC que depois perseguiu os proponentes escondendo a sua própria responsabilidade no processo)
    Par mim, trata-se disso então. Análise técnica e crítica de cenários, versus discurso ideológico, demagógico e vazio de capacidade administrativa real.
    Com o arcabouço jurídico atual dá pra fazer muita coisa com vontade e competência admistrativa.
    Mas é mais fácil jogar a culpa nos outros, levantar uma bandeira fácil para o apelo popular.
    O cara ao invés de administrar a pasta não para de fazer campanha. É isso.

  • Vamos tentar entender uma coisa, Kluk.

    O (Itaú Cultural) como uma instituição e (Uma Média com Pão e Manteiga), outra instituição.

    Uma, refere-se a um conjunto de ações que visam, sob a ótica da mesma, produzir um determinado ponto de vista. Neste caso, entra a construção de uma identidade afinada com as lógicas doutrinárias do mercado de capitais. No caso, o Banco Itaú.

    A outra, é uma síntese que elabora uma dimenção de caráter real, mesmo que ela esteja em (semi-off) poder simbólico que, sobretudo é constituido, ao longo da nossa história, como algo que produz humanamente as questões práticas, e é dessas questões que vem a prática do mundo vivido em que o termo que o nosso grande Sivuca gostava de usar:"o cabra, pra tocar a nossa música, tem que ter encarado muita (Média com Pão e Manteiga)". E isso é tão sagrado que Noel fez um apelo que simboliza esta questão prática em torno deste tema em um de seus clássicos sambas.

    Os números em arte, Kluk, tanto podem revelar verdades cquanto construir e ampliar mentiras, e sustentar essa mentira com força de mentiras institucionais, o que é um perigo. E, por esta razão, fiz questão de frisar as falas de Maria Alice Gouveia e Rosa Maria Peres.

    Mas vamos ao pricipal: você fala o seguinte: "Será que um real pago pelo Itaú Cultural compra menos pão e leite do que se fosse pago pela Funarte? Por que um dinheiro é melhor que o outro? O dinheiro da Funarte é dinheiro de imposto também não é mesmo. Só que quem decide lá é “bonzinho”. Será ? É sim, pode confiar. Quem decide lá é um integrante do Estado, representante “legítimo” do povo, quem sabe não é “do partido” ou um então um aliado não é mesmo ? Merece portanto toda a nossa consideração".

    Esta aí Kluk o grande perigo que eu alertei no texto.

    A FUNARTE é uma instituição robusta, fundamental, na prática. Com uma longa jornada de contribuições à Nação. Sua história, é das coisas mais preciosas deste país e, nem que eu ficasse aqui semanas, meses ou anos enumerando toda história de conquistas de uma das instituições mais representativas (Média com Pão e Manteiga), eu conseguiria, pois ela que é uma das mais respeitadas instituições deste país. Jamais poderá ser comparada a uma "entidade" que ainda está engatinhando como o Itaú Cultural e, em muitos casos, esta entidade está mais estática do que em movimento se comparada ao gigantismo representativo da nossa FUNDAÇÃO NACIONAL DA ARTE.
    Além, é logico, de jamais nos esquecermos de que o Itaú Cultural é propriedade ((privada)) e a FUNARTE é uma Instituição pública, nossa.

    E é essa paridade que você quer construir aqui, além, é claro, do próprio plano de mídia do Itaú, que se revela um gigantesco perigo para o país.

    A Fundação Itaú, Kluk, não tem absolutamente história nenhuma fora das quatro linhas determinadas pelas leis de incentivo e por seu portifolio fabricado pela grande mídia e, no entanto, quer ter voz como uma FUNARTE. Não tem e jamais terá!

    A FUNARTE é sim fruto de uma ideologia das maiores personalidades da cultura deste país. Portanto, ideologia é alimento para a construção efetiva, prática de um país, não é retórica não. Retórica é combater a ideologia sem explicar tim tim por tim tim o que há de errado nelas.

  • Retória é combater ideologia sem explicar tim tim por tim tim o que há de errado nelas.(Carlos Henrique Machado)

    A discussão fica difícil quando a ideologia do interlocutor parte de uma posição radical de desqualificação de uma iniciativa de uma empresa ou de outra e assume que uma outra instituição que é do Estado encarna em si o arquétipo de toda a virtude possível e desejável. Creio que é uma visão um pouco limitante.

    Essa visão que promove o espírito sectário, a contraposição entre Estado e Mercado, pobres e ricos, classe a versus classe b e c, opressores e oprimidos, direita e esquerda deve evoluir para um ambiente de convivência e encaminhamento das questões de forma mais complexa e menos maniqueísta. O maniqueísmo em todos os sentidos é um cadáver do século XX que insiste em continuar a dar susto nesse início de seculo XXI, mas que precisa evoluir para algo melhor.

    As demandas de todos os lados contrapostos e que pleiteiam legitimamente seus direitos e seus anseios devem ser considerados, ouvidas e no processo de pactuação social ter seus interesses atendidos. Isso é saudável e desejável.

    A questão é que discordamos em diversos pontos de vista quanto à maneira de equacionar essas diversas demandas.
    De outra feita não consigo mesmo entender por que uma instituição como vc se diz, "nova" levada a cabo por um ente "privado", pode ser enxergada e reduzida à simples posição de capacho do marketing e dos interesses particulares da instituição, como se não houvesse nada mais dentro daquelas salas do que seres que não tem nenhuma percepção do que é o espírito público, do que é a arte. Ali não há cidadãos ? Somente robôs teleguiados pelos interesses espúrios capitalistas ? Faça-me o favor. Mas se você assim o acredita, fazer o que não é ?

    Enxergar as empresas e o mercado como inimigos enxecráveis, egoístas e defensores do seus interesses mesquinhos é uma visão reducionista. Não sou ingênuo a ponto de não reconhecer que interesses existem e toda as ações de uma instituiçaõ ligada à um ente privado sofre tais influencias e que estas a permeiam. Mas daí a concluir que tudo reduz-se apenas à isso, é uma coisa com a qual não concordo com toda a minha sinceridade Carlos. Também é preciso avaliar que o Estado é uma entidade que é tomada de assalto todos os dias por interesses particulares de grupos de todos os matizes. Então não há neutralidade nunca em todos as instituições. Só há pureza absluta na utopia que emerge de algumas cabeças, cheias de ideologias, as vezes um tanto quanto ultrapassadas.

    Teremos que conviver por enquanto, quem sabe por quanto tempo com o execrável mercado, as empresas, a lógica capitalista do lucro e blá, blá, blá. E ao mesmo tempo teremos que direcionar e construir o Estado que queremos. Como seres que reconhecem no Estado uma instância tomada de interesses privados e incapaz de endereçar muitas questões, vamos fundar ongs e instituições da sociedade civil que são o 3 setor, nem empresa e nem governo. Veja que existem mais do que apenas dois lados na história nao é ? Ainda como indivíduos, seja no governo, dentro de uma empresa, ou no palco, teremos que nos reconhecer como membros de uma sociedade que precisa ser capaz de dar voz a todos e tratar das questões de forma menos simplista. (mocinhos versus bandidos).

    Por mais que se diga, critique e se pisoteie, tenho reiterado aqui e outros também o tem feito, que o arcabouço jurídico da Lei Rouanet atual contém elementos capazes de promover o equilíbrio entre as forças contrapostas no cenário. A questão que critico sempre é que a má gestão dessa legislação é que é responsável pelas distorções. A má gestão começa dentro do governo e passa sim por produtores mal intencionados e artistas corruptos e tal. Mas como em todas as esferas há também o uso responsável dos mecanismos da Lei. Há muita gente séria e honesta se utilizando desse mecanismo de incentivo fiscal e trabalhando para ganhar o seu pão de cada dia.São pessoas que trabalham dentro dos institutos empresariais,em produtoras independentes e em toda uma cadeia de serviços ligada à produção cultural. Desde os advogados que o nosso Ministro desqualifica como (despachantes de projetos), até o iluminador e o gerente de projeto que são o lado administrativo que prepara o terreno para a arte acontecer e encontrar o seu público. Essas figuras são mal vistas, elas interagem com a lógica capitalista, elas "se mancumunam" na visão dos ideólogos estatizantes. Mas é esse perfil de gente que seja na funarte, numa empresa pequena de produção cultural ou dentro de um instituto empresarial é que ajudam a fazer tudo aconter.

    Pra concluir. Quanto ao mérito de quem é melhor e mais bonito. Se o instituto empresarial privado versus o órgão governamental gestor de cultura. Creio que é saudável que o pais e a arte possam contar sempre com ambos e creio que o valor de ambos deve ser reconhecido, sem preconceitos.
    Se amanhã forem criados cinquenta institutos culturais privados ligados à empresas, novinhos em folha sem nenhuma história de contribuiçao pretérita e sem medalhas honorárias que você destaca no peito da nossa velha Funarte, na minha opinião tanto melhor. Tenho visto alguns desses nascerem e lá tem uma moçada cheia de energia querendo fazer coisas interessantes. Essas coisas não são pior nem melhor que a arte que vc defende. Não me apego tanto ao passado glorioso exaltado por você. Quero ver o futuro acontecer pelas mãos jovens, dinâmicas e inexperiêntes de quem quer fazer o futuro, mesmo que seja trabalhando numa empresa, ou num instituto empresarial, numa ong ou numa produtora que use as leis de incentivo.

    E repito. Com a legislação atual se o governos se preocupasse em administrar bem os mecanismos existentes, poderia fazer sim política plública decente direcionando essa energia toda para bons projetos e equalizando as demandas hoje insatisfeitas. É só perguntar pro Juca Ferreira por que ele aprovou a primeira edição do Circo du Soleil sem exigir nenhuma contrapartida democratizante se o texto da Lei atual preconiza o acesso e a democratização e se a CniC pode recomendar e dialogar ajustes nos projetos com os produtores ?
    Depois do escândalo o proprio Ministro ficou criticando os produtores e os patrocinadores. E ainda vejo o Exmo nos discursos falando que quem não tem criitério para selecionar os projetos são as empresas. Hora faça-me o favor. A contradição começou dentro do governo. Dá sim pra fazer a lição de casa só administrando bem. Mas o nosso atual ministro parece ser apenas bom de discurso e campanha. Pois assim dá a impressão que a culpa não é dele não é mesmo ? Uma grande cortina de fumaça na minha opinião. Um palanque enorme. Um triste palanque.

    Carlos, será que com esse exemplo dá pra perceber que o Estado não é neutro e também faz um monte de besteiras. O Governo atual já fez muita burrada e quer culpar os outros e a maldita Lei Rouanet que ele não sabe adminsitrar bem. Colocar todas as fichas apenas no governo não é saudável. Enfim, vamos conversando e trocando mais ideias. Um abraço

    Kluk.

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