Construção de auditório no parque, prevista em projeto de Oscar Niemeyer de 1954, foi vetada por unanimidade pelo Ministério Público; debate será na segundaPor Sílvio Crespo
27/06/2003

O secretário do Verde e Meio Ambiente da cidade de São Paulo, Adriano Diogo, discutirá nesta segunda, dia 30, a polêmica sobre a construção do Auditório de Música no Parque do Ibirapuera. O evento será realizado na Casa da Rodésia (rua Rodésia, 398, Vila Madalena, São Paulo) e terá a participação do vereador Nabil Bonduki (PT), professor licenciado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. O arquiteto Oscar Niemeyer, autor do projeto do Parque Ibirapuera, de 1954, será representado pelos arquitetos Hélio Penteado e Hélio Pasta, colaboradores no projeto do auditório.


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O arquiteto Oscar Niemeyer, 92 anos, autor do projeto do Parque Ibirapuera e do auditório, manifestou-se favoravelmente à construção, por meio de artigo publicado na Folha de São Paulo, que Cultura e Mercado reproduz abaixo.

?O auditório do Ibirapuera?
Oscar Niemeyer

?Há muito tempo tentamos influir no ensino da arquitetura. Para nós, não basta que o arquiteto saia da faculdade como um ótimo profissional, mas sim como um homem consciente deste mundo injusto que o espera, e do qual vai ter que participar. Para isso, propomos que palestras paralelas sobre filosofia, história e literatura sejam incluídas no currículo, garantindo ao arquiteto uma posição mais ampla e inteligente sobre os problemas inevitáveis que ocorrerão. Certos de que a vida é mais importante do que a arquitetura.

É com a maior tranquilidade que vamos enfrentando as dificuldades que a profissão oferece, prontos a discutir os obstáculos que surgem, desde que não interfiram nos princípios que adotamos em arquitetura.Afinal, ela nos ocupa, debruçados na prancheta, a vida inteira, emocionados, quando vemos surgir na folha branca de papel um palácio, uma catedral, um desenho de mulher. Mas, quando um novo obstáculo aparece e foge dos assuntos da arquitetura propriamente dita, e, perverso e insidioso, interfere em nossos trabalho, aí, como acontece agora com relação ao auditório que projetamos para o parque Ibirapuera, somos obrigados a reagir e, a contragosto, intervir nesse clima que detestamos.

Não foi surpresa. Já estamos acostumados a isso. Mas tentar impedir a construção desse auditório projetado há 50 anos é demais.Será que o parque Ibirapuera, o centro de artes mais importante da América Latina, merece tanto desprezo? Será que o Estado de São Paulo, o mais rico deste país, não tem condições de o construir e vai deixar aquela cúpula que desenhei solta, como coisa inútil e secundária, sem o auditório que com ela compõe a entrada do parque? Será que a inveja, a ignorância ou coisa pior explicam o que está ocorrendo? Será que o problema apresentado da redução ínfima da área permeável, que a modificação dos caminhos internos do parque vai mais que compensar, justifica tamanha celeuma, obrigando-me a participar nesse ambiente de tanta mediocridade?

Infelizmente é o que está acontecendo, apesar do apoio que a prefeita Marta Suplicy vem dando à construção do auditório e da decisão da firma TIM de financiar essa obra tão importante para a cidade de São Paulo.O que fazer? Talvez mostrar estes dois desenhos que elaborei. Um com a praça inacabada, a marquise incompleta, a cúpula de lado, sem o auditório que a deveria completar. O outro com o auditório construído, e a arquitetura a se destacar, pela pureza e unidade desejadas.

O povo de São Paulo, como qualquer outro, saberá compreender o que ocorre e se manifestar.”

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