Gravadora independente Kuarup completa 25 anos de atividade e continua em crescimento, apesar do contexto de crise entre as grandes gravadorasEm um momento em que as grandes gravadoras procuram formas de contornar as dificuldades de expansão do mercado fonográfico, devido principalmente à crescente pirataria no setor, uma gravadora independente orgulha-se de continuar crescendo ao completar 25 anos no mercado. De acordo com matéria publicada em 24 de maio no jornal O Estado de São Paulo, a independente Kuarup administra atualmente um catálogo de 150 títulos, e já conseguiu um disco de ouro (250 mil cópias vendidas) e um Grammy (pelo disco Semente Caipira, do mineiro Xavantinho).
Segundo o jornal, o ex-jornalista Mário de Aratanha, um dos criadores do selo, inspirou-se no sucesso de Marcus Pereira, que ?nos anos 70 explorou uma faixa de público que as grandes gravadoras tinham deixado de lado?. Equipe mínima
De acordo com o jornal, a intenção de Aratanha e da artista plástica francesa Janine Houard, a outra fundadora da Kuarup, não era criar um selo, mas apenas produzir discos-brides para empresas como a Coca-cola e a Servenco, que acreditavam na sua importância cultural. Os discos-brindes começaram a ser vendidos ainda na década de 70 e, em 1985, veio o primeiro grande sucesso da gravadora, o disco Cantorias, com Elomar, Geraldo Carneiro, Xangai e Vital Farias, cuja vendagem ultrapassou todas as expectativas. “Nessa época, montamos shows que percorriam todo o País, sem patrocínio. Ninguém ficou rico, mas todo mundo ganhou para viver bem”, conta Janine. “O segredo era uma equipe mínima, que fazia de tudo e um contato constante com o público. No início vendíamos só pelo correio. Hoje, a internet (www.kuarup.com.br) responde a 10% ou 15% de nossas vendas”, afirma Aratanha na matéria do jornal.
Grammy
Uma certa dose de intuição contribuiu para o sucesso da gravadora, segundo o jornal. No entusiasmo para a indicação para o Grammy Latino, no ano passado, pensou-se em uma viagem a Miami para a festa de entrega, que ocorreria no fatídico dia 11 de setembro. “Feitas as contas, vimos que a repercussão seria pequena para o investimento e usamos dinheiro no disco seguinte, Pena Branca canta Xavantinho, que acaba de sair”, ensina Janine. O resto é história. Com o atentado às Torres Gêmeas de Nova York, a festa foi adiada e transferida para Los Angeles, onde o CD brasileiro levou o prêmio. Janine não atribui esse desfecho à sorte. “Foi intuição. Em vez de gastar muito para ter uma foto de Pena Branca como astro internacional, investimos no Brasil?, comenta Aratanha.
De primeira necessidade
?Já o disco de ouro, ´Ao Vivo em Tatuí`, com Pena Branca & Xavantinho e Renato Teixeira foi resultado de muito trabalho, assim como a adesão de outros selos e artistas a seu sistema de distribuição?, afirma o jornal. Segundo Aratanha, “atualmente, muitos músicos nos oferecem seus CDs. Recebemos mais do que conseguimos ouvir, alguns absolutamente fora de nossa proposta, mas outros excelentes, como o mineiro Vander Lee, ótimo sambista que ninguém conhecia”, diz Aratanha. “Não nos prendemos a um estilo ou gênero, mas nossos discos atingem um público que considera música um gênero de primeira necessidade?.
Dica
Segundo ?O Estado de São Paulo?, essa ampliação do leque de estilos vem da origem da Kuarup. Eles começaram com música clássica, especialmente Villa-Lobos, e choro, por pura paixão, mas deram a dica às grandes gravadoras e a outros independentes de que havia consumidores ávidos por essa música. Com a série Cantorias, já no terceiro volume, além dos solos de seus protagonistas, descobriu-se que a canções também têm público. “Agora, partimos para a música caipira, hoje afogada pelo sertanejo americanizado. Nada contra, mas os caipiras brasileiros precisam chegar a seu mercado, tal como sambistas se divulgam sem prejuízo do pagode”, teoriza Aratanha. “Esse é nosso novo foco, sem deixar de lado o erudito, o choro e outros estilos. Nossa história tem sido esta, facilitar o encontro do público com artistas que estão fora do mercado convencional?.
Aratanha e Janine enxergam duas crises no mercado fonográfico: a econômica, que fez sumir o dinheiro da classe média (maior consumidora de sua música) e a da indústria fonográfica, que fechou as pequenas lojas de disco, cujo proprietário era conhecedor e visava ao lucro e à divulgação da boa música. “A pirataria também atrapalha, mas atinge mais esse pequeno comerciante do que a nós”, diz Aratanha. “Mesmo assim, conseguimos manter um ritmo de 15 a 20 lançamentos por ano e estamos diversificando nosso catálogo”.