Seminário “Democracia Audiovisual” propôs uma discussão mais ampla e menos setorial em torno da questão do audiovisual no Brasil, pensando em uma agenda política de interesse para toda a sociedade
O seminário “Democracia Audiovisual” foi realizado no último dia 07 no MIS, em São Paulo, em uma iniciativa da Brant Associados e realização do Instituto Pensarte e do Instituto Diversidade Cultural. No mesmo dia, foi lançado o livro homônimo de André Martinez, que deu origem ao evento.
Democracia Audiovisual
Foi o próprio André que abriu a programação, na mesa “Democracia Audiovisual”. Ele apresentou alguns dos principais pontos de seu livro, que apresenta uma proposta de articulação regional para o desenvolvimento do setor, através de um estudo inédito chamado PROAV. Martinez destacou que a prioridade é ter uma metodologia de articulação da sociedade civil e questionou o papel ausente do Estado na construção de políticas culturais: “O que aconteceu com o Estado para deixar o desenvolvimento cultural nas mãos do marketing das empresas?”
Assunção Hernandes e Beto Rodrigues, dois dos principais articuladores do Congresso Brasileiro de Cinema (CBC), também participaram da mesa, que contou ainda com a mediação de Fábio Cesnik, advogado da Cesnik, Quintino e Salinas. Assunção falou sobre sua experiência como ex-presidente do CBC e disse que gostaria de ser como Steve Solot, o vice-presidente da Motion Picture Association – Latin America, para poder defender o cinema brasileiro como ele faz com o americano. “Ele não é meu inimigo, só não quero que ele ocupe todo meu espaço”.
Beto Rodrigues contou sua experiência na criação da Fundacine-RS e citou exemplos que refletem a crise do Estado no Brasil. Demonstrou que a maioria dos filmes produzidos anualmente nos EUA são fracassos de bilheteria e que não há no mundo nenhuma cinematografia totalmente auto-sustentável, para em seguida indagar porque então governos como o francês e o indiano continuam investindo no audiovisual e o Brasil não.
Diversidade Cultural
Leonardo Brant abriu a segunda mesa, “Diversidade Cultural: o audiovisual na ordem internacional”, que teve mediação da consultora do PNUD Priscila Beltrame. Ele apresentou os resultados da Convenção da UNESCO pela proteção e promoção da diversidade das expressões culturais, e deixou claro que “existe hoje a percepção de que os EUA estão isolados em seu projeto de domínio cultural”. Assim como Martinez, falou sobre a importância da sociedade civil se articular para que os documentos da Convenção, após serem oficializados, possam ter influência na legislação internacional.
Lia Diskin, da Palas Athena, analisou como o conceito de “tradições culturais” pode criar fortes resistências à Diversidade Cultural e fez uma reflexão sobre os tumultos recentes em Paris como exemplo da falta de preparação da sociedade para perceber as diferenças culturais. A mesa também teve como debatedor Luciano Cury, diretor da Academia de Filmes, que falou sobre como a produção audiovisual da televisão brasileira não contempla nossa diversidade cultural e manifestou sua preocupação em ver como os pensamentos da UNESCO em relação a essa questão poderão se transformar em políticas culturais nacionais e regionais.
Democratização da Comunicação
O último (e mais polêmico) tema debatido foi “Democratização da Comunicação: controvérsias, impasses e desafios”. Gustavo Gindre, coordenador do INDECS, falou sobre as questões da regulação do setor de comunicações no Brasil e suas contradições, demonstrando o tamanho do desafio que o país tem pela frente nesse aspecto e algumas experiências internacionais de sucesso. A articulação da sociedade civil foi também citada por ele como sendo necessária para criar condições de negociação com o governo. Ele criticou veementemente o monopólio da Rede Globo e disse que o Governo Lula perdeu uma chance histórica de mudar o panorama das comunicações no Brasil.
Audálio Dantas, vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, falou sobre o projeto “Ciranda da Comunicação”, nascido no Fórum Social de Porto Alegre em 2001, e a experiência da Rádio Comunitária da favela de Heliópolis, que de maneira local e independente, consegue ter uma grande penetração e influência naquela comunidade.
O jornalista da Folha Sérgio Dávila falou sobre sua atuação profissional dentro de um panorama de convergência de mídias que se destaca atualmente para as comunicações. Comentou algumas de suas experiências na cobertura da Guerra do Iraque, citou a importância dos blogs como meio democrático de propagar a comunicação e disse que a nova geração de jornalistas corre o perigo da auto-censura, que pode resultar em um jornalismo menos independente.
A mesa foi mediada por Newton Cannito, diretor do IETV e vice-presidente da ARTV. A importância dos produtores de conteúdo audiovisual foi bastante destacada por ele, que lembrou que a expansão do conteúdo precisa ir além do cinema e que faltam ações afirmativas junto aos produtores, que representam um movimento concreto que pode contribuir para a democratização da comunicação.
André Fonseca