Com a repercussão do editorial CULTURA NOTA FRIA e artigo de Lala Deheinzelin sobre o tema, surgiram mais manifestações de apoio ao MCB. Acompanhe as opiniões de Helena Sampaio, Claudia Cavalcanti e Jose Alberto Nemer
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coordenadora
O editorial CULTURA NOTA-FRIA levanta questões legais sobre cultura, mercado e administração, colocando em foco o caso Museu da Casa Brasileira. Mais do que comentar pontualmente o artigo, gostaria, antes de mais nada, de manifestar meu apoio incondicional à diretora Adélia Borges, repudiando toda e qualquer interpretação capciosa em relação à sua gestão e/ou à sua pessoa.
A sabedoria popular diz que “em casa que não tem pão, todos brigam e ninguém tem razão”. É o princípio da discórdia que floresce na miséria. O abismo existente hoje entre o Estado e a sociedade no Brasil acaba gerando monstros capazes de devorar indiscriminadamente quem estiver pelo caminho. É mais uma bala perdida, desta vez na administração cultural. Este tormento pelo qual passa a atual gestão do MCB é típico do preço que se paga pelos atos de heroísmo num ambiente de indigência e de abandono. É o heroísmo de querer tirar os órgãos públicos da letargia e da inoperância em que vivem com uma naturalidade cínica.
No Brasil, os problemas da cultura não são diferentes dos da educação, da saúde, da segurança. O Estado tem uma cegueira conveniente ou um olhar míope em relação a eles. Um exemplo, que está hoje nos jornais, é a redução da idade de responsabilidade criminal para fazer face à violência generalizada. As iniciativas governamentais não chegam nas questões nucleares, como o sistema judiciário e o aparelho policial (sem falar dos contextos mais amplos).
Um postulado junguiano reconhece que “não se pode mudar aquilo que não se aceita.” O que esperar de um Estado que perdeu o exercício da autocrítica?
Diante da incapacidade de se tocar no cerne das coisas, não vivenciamos os problemas da democracia (para tentar resolvê-los), mas somos vítimas enganadas de algumas de suas doenças. Na democratite brasileira, o Estado finge que delega mas, na verdade, abandona. Mantém de plantão as leis, entretanto, como um efeito âncora, impedindo, muitas vezes levianamente, que o barco daqueles que improvisam a sobrevivência com criatividade, siga o seu curso.
Talvez seja esta a saga maior deste país “em desenvolvimento”: não nos dão pão, mas pune-se quem inventa a brioche, ou seja, a entropia globalizada nos pegou de calças curtas.
Jose Alberto Nemer,
Artista plástico, doutor em Artes Plásticas pela Universidade de Paris. Ex-diretor de Cultura de Belo Horizonte e do Museu de Arte da Pampulha. É o gestor científico do Laboratório Piracema de Design.