Movimento quer adesões e televisões desligadas. E você vai ficar passivamente assistindo ao lixo cultural televisivo?Por Sandra Ximenez

O Jornal da Mostra publicou nesta quarta-feira, dia 6, uma matéria sobre a criação, na Itália, de um sindicato para mobilizações contra a TV. Uma das razões para suas reivindicações é baseada na análise de que um programa de TV só existe condicionado ao potencial de venda de seu espaço publicitário e não do interesse legítimo de trabalhar com a pluralidade.

Essa inversão de valores parece ser o cerne da questão e a força do movimento. Um veículo de comunicação de massa teria a qualidade de representar o gosto, o modo de vida, de grandes parcelas das populações. E esse deveria ser o ponto que geraria toda sua concepção e criação. O que acontece hoje é que o que move a existência de um programa é uma previsão de anunciantes. E isso, fatalmente, empobrece a comunicação real entre programa e telespectador.

Como escreveu Eugênio Bucci em seu artigo ?A publicidade arrogante?, publicada recentemente no Jornal do Brasil, onde fala especificamente sobre o jornalismo, ?A crença difundida de que a publicidade é quem sustenta a mídia só serve para enfraquecer a imprensa e o direito à informação. (…) É a atenção do público, comprada a peso de ouro, quem sustenta o discurso jornalístico. É o olhar e a atenção do público que de fato pagam a conta, embora isso não apareça nos livros de contabilidade?.

Traçando um paralelo, podemos compreender que também é a televisão quem perde, como veículo, não percebendo que a maior integridade de suas criações funcionariam plenamente para seus objetivos comerciais. Justamente por proporcionarem ao público um real espelho social, um local menos passivo e mais reflexivo.

Acompanhe abaixo a íntegra da matéria do Jornal da Mostra.

Jornal da Mostra nº47

Leon Cakoff, para o Jornal da Mostra

Ganha força na Itália um movimento de espectadores de televisão que faz campanhas e greves contra a televisão ligada. O movimento é encampado até por um sindicato, o ‘Syndacato dei Telespettatori’ que abre as suas páginas na webcom o seguinte slogan: “Digamos a verdade, esta televisão nos dá nojo!!! Vamos reconquistar o nosso espaço.”

A próxima greve nacional está apontada para este sábado 9/3/02 visando um boicote contra o Festival de San Remo que em décadas passadas serviu para revelar grandes músicos do cancioneiro popular italiano. O Sindicato dos Telespectadores vai promover uma excursão que irá de Milão a San Remo, pedindo também a adesão de músicos para a manifestação em frente ao Teatro Ariston.

“Se todos os intelectuais, políticos e artistas começam a repetir que A TELEVISÃO FAZ MAL como a poluição ou o buraco de ozônio”, pergunta o sindicato, “porque então não temos o direito a uma lei que estabeleça uma jornada de televisões desligadas? Porque não criar ao mesmo tempo uma mobilização nacional para que todos criem e inventem um modo novo de empregar melhor o seu próprio tempo livre da televisão??

O site do sindicato é muito criativo e divertido. Para acessar a arte de uma de suas páginas a favor da greve nacional contra a televisão, a sugestão vem com outra frase de efeito: “Comece você desligando a televisão”.

A plataforma do movimento parte de algumas premissas incontestáveis em qualquer parte do mundo:

– O valor cultural da maior parte dos programas na TV é decididamente escasso quando não inexistente.

– É difícil encontrar na TV um personagem de sincero interesse.

– A existência de um programa de TV depende só do potencial de venda do seu espaço publicitário e não do interesse de satisfazer na pluralidade o gosto que ninguém de nós representa. A campanha espera conseguir cada vez mais adesões lembrando aos telespectadores que uma televisão desligada irá significar mais tempo livre para todos e que se deve lembrar sempre quantas coisas deixamos de fazer na vida quando vemos passivamente a TV.


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