Pontos de Cultura falam da importância do diálogo amplo e estruturado como forma de manter a vitalidade e o constante desenvolvimento de suas atividades.
A complexa tarefa de desenvolver uma ferramenta de diálogo eficaz na integração dos 650 Pontos de Cultura disseminados por todos os cantos do Brasil é o desfio central que permeia todo o Programa Cultura Viva e sua face mais visível, a TEIA, responsável por materializar anualmente este diálogo que garante o processo contínuo de construção para o qual o encontro anual serve de dimensionador, regulador e norteador.
O desafio inicial de oferecer ferramentas que permitissem aos Pontos a realização de suas atividades, além de facilitar o diálogo com suas comunidades, está sendo superado com o apoio dado pelo MinC sob a perspectiva do desenvolvimento de trabalhos e pesquisas em campos diversos como a capacitação em novas tecnologias, difusão e ensino de técnicas em audiovisual, ensino de artes (Música, Teatro, Dança, etc.) e o resgate e a preservação da memória e da identidade. Ação que fortalece o sentimento de pertencimento e cidadania dos envolvidos e acena-lhes com possibilidades concretas de desenvolvimento sócio-econômico.
A amplitude da iniciativa, bem como sua característica pioneira, pedem um constante processo de avaliação, dos quais já se conclui que ainda são muitas as ações a serem maturadas e os processos a serem criados. O mosaico diverso das manifestações e atividades pinçadas pelos Pontos de Cultura espelha a complexidade da própria Cultura brasileira. Se enxergarmos suas dimensões, acabamos por nos deparar com uma imensa colcha formada por coloridos, distintos e valiosos retalhos. E é justamente no momento de costurar cada um deles, que a integração e o diálogo entre os Pontos de Cultura surge como uma tarefa altamente significativa para o desenvolvimento desta política.
“O conceito de Ponto de Cultura já abarca, em si, a questão da integração. Esta preocupação está presente, por exemplo, na criação dos Pontões de Cultura, entidades que contam com esta missão potencialmente aglutinadora”, explica Lílian Pacheco, coordenadora do Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, na Bahia. “O diálogo entre os Pontos é importante para que as articulações das entidades com a sociedade e os poderes público e privado realizem-se não apenas em âmbito local, mas também em seu aspecto regional e nacional”, completa.
“Articulamos e trocamos experiências com várias entidades da região Sul. Também temos contato constante com outros Pontos que realizam atividades relacionadas ao nosso eixo de trabalho em outros estados. Esta troca, quando acontece de maneira estruturada, traz novos ares e fortalece todo o trabalho”, explica Evelise Moraes, coordenadora do Ponto de Cultura Memória e Identidade, em Santa Catarina.
Costura diversa
Assim como Lílian Pacheco e Evelise Moraes, os responsáveis pelos sete Pontos de Cultura em todas as regiões do País ouvidos pela reportagem de 100canais – Fábrica do Futuro, em Minas Gerais; Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, na Bahia; Casa do Zezinho e Mocambos, em São Paulo; Mukando Kandongo, no Mato Grosso do Sul; Ponto de Cultura Memória e Identidade, em Santa Catarina e o Ponto de Cultura Inter Arte Ação, no Acre – fazem uníssono sobre a importância do diálogo amplo e estruturado como forma de manter a vitalidade e o constante desenvolvimento de suas atividades.
O uníssono se repete, porém, na observação de que ainda há muitos passos a serem dados até que esta comunicação seja efetiva. No compasso do próprio projeto, que soma constantes esforços exatamente na construção desta rede, visões dos que vivenciam o dia-a-dia das atividades oferecem valiosas indicações de caminhos.
Para César Piva, da Fábrica do Futuro (MG), as novas tecnologias protagonizam capítulos fundamentais desta construção. “Estamos trabalhando na criação de uma ferramenta estratégica que permita a integração entre os Pontos. As novas tecnologias da comunicação, como a Internet, são destaque neste âmbito além de permitirem a difusão e apreciação de trabalhos realizados nas mais distantes áreas do Brasil”, explicita. A Fábrica do Futuro, coordenada por Piva, fomenta atividades culturais da região da cidade de Cataguases utilizando como base a linguagem áudio-visual, além de realizar a articulação destes projetos junto à sociedade, com destaque para a atuação de jovens, dentre outros processos.
Corina Macedo, da Casa do Zezinho (SP), aponta outra possibilidade. “Temos, anualmente o encontro da Teia, no qual culminam os esforços de integração dos Pontos de Cultura, um momento sempre especial para debates, reflexões e convergência. Esta experiência me leva a crer que debates presenciais e principalmente mostras regionais de trabalhos ao longo de todo ano tendem a tornar ainda mais fluido o processo”, explica. “Recentemente estive no Encontro dos Pontos de Cultura da Região Norte. Essas práticas são importantes para o conhecimento das atividades realizadas nos outros Pontos e permitem o diálogo para a superação de dificuldades comuns”, concorda Lenine Alencar, responsável pelo Ponto de Cultura Inter Arte Ação e Presidente da FETAC (Federação de Teatro do Acre).
Estratégias e ferramentas tecnológicas, uma agenda que permita o encontro constante de determinados grupos de Pontos (norteados, por exemplo, por eixos de trabalho comuns ou pela proximidade física) bem como atividades que favoreçam a troca de experiências, os debates e a apresentação de produções artísticas e culturais apresentam-se como principais setas neste processo de articulação segundo os que lidam diariamente com a burocracia e as dificuldades de gestão dos Pontos. Eis uma inédita aventura rumo ao objetivo de organizar o caótico caldeirão cultural brasileiro, permitindo-lhe permanecer vívido, pulsante e original.
Deca Pinto