Vivemos a Era do Paradoxo. A Era atual apresenta-se como um misto entre ideal e a crueldade do cotidiano com as limitações impostas pelo ambiente às pessoas, às cidades, e, por que não dizer, aos países.
Por um lado, fala-se muito sobre globalização e as benesses proporcionadas por esse sistema moderno e imposto por uma realidade que não admite voltas, não admite retorno. Já num outro extremo, a realidade constitui-se de um contingente de pessoas que não consegue se adequar a essa nova realidade e às exigências impostas pela mesma. Em função disso, pode-se constatar que coexistem a evolução tecnológica e a evolução biológica, realizando feitos fantásticos, e, simultaneamente, à margem desta realidade magnífica, há pessoas mal tratadas e mal cuidadas enquanto seres humanos.
este contexto, começa-se a pensar no tão propagado “pensamento global e ação local”, mas, na realidade o que é isso? Como pode ser aplicado na prática? Como fazer desta máxima uma realidade das empresas e das pessoas, no sentido de garantir às mesmas sua inserção neste contexto conturbado, novo e desafiador de maneira vitoriosa? Como adaptar aquela pequena empresa situada no interior de Minas a essa nova realidade e garantir, ao mesmo tempo, a manutenção de suas características únicas, identificadoras, diferenciadoras? Esse parece ser o grande desafio.
Dentro deste novo enfoque, pergunta-se: O que deverão fazer as cidades, pequenas e médias, situadas no interior deste imenso Brasil para se adequarem a essa nova realidade, e, assim, garantir emprego, renda, e, conseqüentemente, melhoria da qualidade de vida para seus habitantes?
Como resposta a estas questões, utilizaremos, a título de exemplo, a aplicação prática à cidade de Sete Lagoas, que se situa a 64 km da Capital Mineira, e, embora esteja tão próxima, mantém vida própria. É uma cidade economicamente independente. Deve-se sempre se lembrar de que esse conceito pode ser aplicado às empresas, independente de seu porte e também às pessoas, para seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Embora mantenha essa independência em relação à Capital, muitas ações podem ser realizadas tendo em vista tornar Sete Lagoas uma cidade atraente a mais pessoas além de seus moradores e conhecedores da região. Mas como fazer isso?
O primeiro passo seria fazer uma análise estratégica da localidade, a fim de verificar pontos fortes da região, os quais poderiam atrair pessoas e negócios. Imediatamente, detecta-se a existência de três fatores presentes em Sete Lagoas que, se bem explorados, podem funcionar como sustentáculo de um desenvolvimento econômico, motivado pela busca da qualidade de vida.
O primeiro fator são as belezas e características naturais, materializadas nas serras, nos parques ecológicos, o design urbano, que comunica limpeza, modernidade, com suas ruas amplas, com suas lagoas iluminadas. O segundo são as atrações culturais, representadas pelos seus produtores culturais e artistas da região. Embora incipiente, existe um grande número de artistas em Sete Lagoas, buscando um “fazer cultural” mais dinâmico e aglutinador do diverso, do novo. O terceiro fator são seus moradores, que são constituídos de pessoas que se preocupam com a qualidade de vida, que se preocupam com sua inserção neste mundo dinâmico, moderno, exigente, pessoas essas que, muitas vezes, têm que deixar a cidade em busca de novos espaços e oportunidades.
É aí, neste contexto que entra o mix “Marketing e Turismo” atrelados para garantir atratividade e manutenção do local, possibilitando qualidade de vida para seus moradores, sustentada na geração de emprego e renda. É a busca de manutenção das pessoas no Município, atuando, de maneira ativa, e, consequentemente, orgulhosos de pertencer à mesma comunidade, que, a partir deste momento, deixa de ser só um município a mais. Passa a ser uma região, conectada com os valores universais, globais.
O gerenciamento de ações precisas de Marketing possibilita a construção de uma imagem midiática específica, que possibilite a diferenciação da região (beleza natural, pessoas e cultura) e a “venda” desta imagem ao todo exterior. Neste sentido, as convergências entre Cultura e Comunicação são cada vez mais estreitas: A cultura “instrumentalizada” participa dessas estratégias de comunicação global.
Mas, por que Turismo e Cultura como fios condutores do processo de valorização das regiões? Porque são as áreas que mais crescem, gerando divisas e empregos, na atualidade.
O que se constata é que as indústrias não se configuram como aquelas do início do século, que empregavam uma mão-de-obra farta para realização de tarefas rotineiras, repetitivas e mecânicas.
Hoje, o desenvolvimento tecnológico impôs ao homem a volta ao seu estado natural e de liberdade, que se traduz na criatividade, no pensamento e na expressão ampla. Assim, tudo é alterado. Uma vez mudadas as suas condições, muda sua vida e seu posicionamento frente a ela. Passa a ser mais exigente, a se preocupar mais com o planeta e seu posicionamento nele. Essa nova era traz, portanto, um novo despertar, o despertar do indivíduo que se encontra mais leve para refletir e explorar o que significa ser “humano”. E como já previsto por Naisbitt, a nova era traz o renascimento das artes, contrastando com o período anterior, a Era Industrial em que o militar era o modelo e os esportes, sua metáfora.
Dentro desta nova ordem, o turismo cultural e ecológico têm sido opções a cada dia mais valorizadas. As pessoas têm optado por sair de férias, para agregarem mais valores a si mesmas, buscando novas culturas, novas experiências, novas realidades. É uma valorização da estética, aliada à ética.
No Brasil, a importância das artes para a economia dos municípios pode ser exemplificada pelo caso de Ouro Preto, outra cidade de Minas Gerais, que, em julho, mês de realização do Festival de Inverno ? evento que reúne artistas de todo o mundo, promovendo debates, grupos de discussão, oficinas de arte, fotografia, teatro, música, dança, etc ? tem uma arrecadação de ISSQN ? Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza ? três vezes superior aos outros meses do ano.
Essa descoberta e valorização da vocação de cada cidade pode trazer resultados eficientes. Quem de nós não conhece alguma cidadezinha que tem atrativos ímpares, que fazem da mesma conhecida num macro universo, além do raio de ação local. O que seria de Tiradentes sem seu apelo cultural e arquitetônico? Assim, poderíamos citar inúmeras outras.
Dentro deste pensamento macro e sistêmico é que aumenta a importância da valorização da Cultura, enquanto instrumento diferenciador das regiões e do Turismo, com suas ações focadas no sentido de garantir uma infra-estrutura adequada de recepção aos visitantes.
Ressalte-se, assim, a importância da participação ativa do todo social: empresários, população, profissionais das mais diversas áreas, que, a partir da junção das diferenças, dos pontos de vista distintos, não no sentido de homogeneizar, mas de agregar, para construir uma realidade que expresse a qualidade de vida buscada por todos os indivíduos.
Simone Marília Lisboa é consultora e administradora de empresas. Mestre em Marketing e Planejamento Estratégico pela Universidade Federal de Minas Gerais, autora do livro “Razão e Paixão dos Mercados”, técnica licenciada da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte e diretora da Faculdade PROMOVE de Sete Lagoas. E-mail: smlisboa@uai.com.br – Fone: (31) 772-3770
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Simone Lisboa