O Fórum Nacional de Dança, uma instância de representação e ação política da área, luta para encontrar novos passos Por Deborah Rocha
Em janeiro de 2001, aproveitando o Condança de Curitiba, um grupo de pessoas de um mesmo universo se reuniu com um objetivo em comum: discutir questões ligadas aos profissionais da dança. No dia 10 de março, este primeiro grupo de profissionais realizou, na Universidade Anhembi-Morumbi de São Paulo, uma reunião nacional com representantes de diferentes estados brasileiros e com variadas estéticas de dança que constituiu, por meio de uma eleição democrática, uma Comissão Executiva Nacional. Assim, foram eleitos de dois a três representantes de cada estado envolvido. No último fórum do dia 27 de abril de 2002, a Comissão Executiva passou a ser formada por cinco representantes – Ana Terra, Dulce Aquino, Rosa Coimbra, Rosane Gonçalves e Márcia Strazzacappa – e cinco comissões de trabalho. Deste modo, o Fórum Nacional de Dança foi tomando a forma e o alcance que hoje sustenta, esforçando-se sempre no sentido de envolver cada vez mais pessoas e idéias em prol da autonomia da dança.
Contra-tempo
Entre as questões mais importantes para os integrantes do Fórum e que, de certa forma, alavancou o surgimento da organização permanente, foi a necessidade de união entre os profissionais da área da dança com o objetivo de fazer frente às ações ilegais do CONFEF – Conselho Federal de Educação Física. Segundo Márcia Strazzacappa, uma das representantes da Comissão Executiva do Fórum, o CONFEF, criado pela lei 9696/98, se diz responsável pelas “atividades físicas” nas quais estão incluídas a dança e, por meio de uma interpretação equivocada da lei, colocam-se no direito de fiscalizar as escolas de dança. Assim sendo, o Fórum procura organizar-se juridicamente para poder fazer frente a um conselho que tem uma grande organização e muito dinheiro. ?Precisamos impedir que o CONFEF e os respectivos CREFs continuem autuando escolas de dança no interior dos estados, interferindo nos editais de concurso, de secretarias de educação e de cultura, impedindo dançarinos de subir nos palcos?, afirma Márcia.
Diálogo permanente
Reconhecido como instância de representação e ação política da dança pela plenária do Encontro Internacional de Dança do SESC, ocorrido em outubro do ano passado, o Fórum Nacional de Dança tem o apoio oficial da FUNARTE e da Secretaria do Estado da Cultura, que destinou espaços para abrigar a secretaria do Fórum e para arquivar toda a sua memória, como cartas, fotos, vídeo e documentação produzida. Sob influência deste apoio, o Fórum deste ano ocorreu no dia 27 de abril em São Paulo, local onde já se encontram muitas pessoas envolvidas com o movimento da Comissão Executiva Nacional e onde estão concentradas quatro das doze faculdades de dança do Brasil. O Fórum Nacional discutiu, principalmente, os aspectos legislativos (regionais e nacionais) relacionados à atuação do professor e do profissional da dança, as políticas de formação do professor de dança e a organização jurídica do Fórum. Compareceram participantes dos estados da Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás e Brasília. Os deputados Luiz Antonio Fleury e Flávio Arns não estiveram presentes mas se dispuseram a falar em outro encontro.
?A participação tem sido muito positiva. Houve momentos de grande tensão e momentos de grande euforia. Não separamos convidados e público. Funcionamos como uma assembléia na qual todos têm direito à fala?, explica Márcia Strazzacappa. Segundo ela, a sensação após cada reunião do Fórum é de estar conseguindo, cada vez mais, informar os profissionais sobre a ilegalidade das ações do CONFEF, além de instruí-los a como devem agir e, sobretudo, mostrar a importância da organização permanente. ?Sabemos que ao continuarmos a agir desta maneira, no mímimo estaremos conservando nosso mercado de trabalho que estava sendo invadido por profissionais de educação física?, diz Márcia. Em relação às políticas culturais e ao estímulo para a dança vindo de patrocínios, Márcia sente que eles existem mas que diferem muito de um estado para outro. O tema será assunto pautado para os próximos encontros do Fórum.
Além da dança
Segundo Márcia, desta última reunião do Fórum, a principal ação concreta tirada foi a de enviar cartas às secretarias de cultura e de educação falando sobre a autonomia da área da dança e de sua não-subordinação ao CONFEF. Foi organizada também uma comissão de divulgação que criará uma ?home page? para informar a população. ?Percebemos o quanto o dançarino é desinformado!?, admira-se Márcia. Foi estipulada também a data do próximo Fórum Nacional: dias 5 e 6 de julho, em Salvador-BA, para que o movimento possa agregar mais participantes das regiões norte e nordeste. O exercício de dançar e de definir seus territórios políticos revela-se um ensaio constante e inevitável para a construção de uma dança cada vez mais livre e criativa. Em meio à linguagem corporal percebe-se também a importância do diálogo. ?O universo da dança é muito mais que dançar!?, sintetiza Márcia.
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