O que seria exatamente democracia audiovisual ? Democracia pressupõe uma arte de natureza abrangente. Mas em que sentido? Marcos André Carvalho Lins sugere respostas para estas e outras questões contemporâneas da cultura

O que seria exatamente democracia audiovisual ?

Democracia pressupõe uma arte de natureza abrangente. Mas em que sentido ? Implicaria levar cultura de qualidade aos mais diversos segmentos sociais. Sim. Também. Todavia, não para por aí. Em termos de alcance já existem no nosso país veículos de difusão cultural de dimensão e impacto continentais. A repercussão, entretanto, não equaciona o problema conceitual.

A questão principal a ser resolvida é: como aquilatar a real influência de determinado veículo na formação, mais ou menos, democrática, de um povo.

Quando cotejamos o veículo com os seus fins descobrimos algo de mítico. Pretendemos que a cultura alcance todos as camadas da população sim, mas desejamos também que esta população possua não apenas o acesso físico mediato de determinado veículo. Almejamos que ela possua o discernimento necessário à linguagem deste ou daquele meio de comunicação.

Em outras palavras, para ser realmente democrático o setor audiovisual tem que estar em sintonia  com todos os nossos matizes demográficos. Isto implica dizer que um expectador das serras gaúchas não só deve possuir a aparelhagem técnica que traduza determinada imagem e som, mas também encontrar naquele veículo uma forma de expressão tão sua como de qualquer outro brasileiro.

Há de se exprimir, através deste ou daquele veículo, mensagens pertencentes ao ideário comum e decodificáveis por todos os brasileiros.

Este requisito torna a veiculação de conteúdos compreensíveis a toda uma população – desprovida, aliás, de uma unidade coerente, como no caso da brasileira – algo, em si mesmo, utópico. O que, por outro lado, não desmerece  ( até mesmo enaltece ) tentativas nesse sentido, pois é a partir delas, de empreitadas ousadas na direção da construção de uma cultura que se sobreponha aos veículos, que se humaniza uma nação.
                      
Outro aspecto a ser revelado, num veículo audiovisual que se pretende democrático é a sua veia experimental. Ou seja, há de se fomentar não só uma democracia horizontal como também vertical. Há de se buscar sempre o novo, o original e o inovador sem tolher as formas de comunicação tradicionais, de raiz.

O público deve, no caso dos canais abertos, ter o direito de escolher entre uma programação dirigida a angariar sua simpatia ( preocupada com o ibope ) e uma programação menos agradável em termos de espetáculo , porém que respeite a uma concepção mais moderna de cultura. Uma modalidade de vanguarda, cuja tendência é prestigiar a reflexão do seu público para assuntos de seu interesse.

Assim um veículo audiovisual democrático passa inevitavelmente por um viés de diversidade. Todas as maneiras e práticas culturais devem ser adotadas e divulgadas por meio dele.

Chegamos então a uma correlação entre identidade cultural e democracia audiovisual. A primeira é quase um pré-requisito indispensável à  segunda e o inverso deveria ser verdadeiro. Um eixo cultural permite a consolidação democrática no campo audiovisual. Enquanto uma maior identificação, de norte a sul de um país, passe necessariamente por veículos que estimulem a difusão cultural em todos os níveis e para todos os públicos.

A base de uma democracia audiovisual não está, propriamente, no seu alcance longitudinal. Está muito mais  na sua possibilidade de, por um lado, transmitir um quadro sintético da realidade de modo acessível a qualquer demanda ,  e por outro, permitir e servir de ferramenta na transformação de gostos e posturas, interferindo positivamente no padrão de exigência do seu público.

Trocando em miúdos, podemos dizer que a democracia audiovisual tem o mesmo pressuposto e o mesmo fim: a educação , entendida como as formas, muito particulares, de cada povo organizar-se ideologicamente e preparar solidariamente  um ponto incipiente de mutação: a geração do porvir.

Marcos André Carvalho Lins é bacharel em direito formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE ), ocupando atualmente o cargo de técnico judiciário do TRT-6a região, sendo também escritor diletante. Endereço eletrônico para contato: carvalholins@aol.com.   

Marcos André Carvalho Lins


contributor

Marcos André Carvalho Lins é bacharel em Direito formado na Universidade Federal de Pernambuco e ocupa o cargo de Técnico Judiciário Federal no TRT -6a Região (Pernambuco), sendo também escritor diletante.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *