GESTÃO CULTURAL - Prêmio IP destaca a diversidade regional do país - Cultura e Mercado

GESTÃO CULTURAL – Prêmio IP destaca a diversidade regional do país

Contemplando iniciativas culturais de várias regiões, Instituto Pensarte premia a diversidade e ressalta importância da descentralização para o desenvolvimento da gestão cultural no país

A idéia de criar um prêmio que valorizasse iniciativas bem sucedidas na área da cultura parece ter alcançado resultados mais interessantes do que os inicialmente esperados pelos seus criadores. Os trabalhos vencedores do Prêmio Instituto Pensarte de Gestão Cultural, além da atestada qualidade conceitual ou executiva, demonstraram um aspecto comum: a atenção para a cultura regional e para as políticas de desenvolvimento local.

Entregue no dia 15 de junho, na mesma ocasião do lançamento do Porto Pensarte, o novo espaço de funcionamento do Instituto, o Prêmio IP de Gestão Cultural contou com a presença dos vencedores em cada categoria (casos de gestão, projetos de gestão e ensaios sobre gestão e políticas culturais). Exceção feita à categoria “projetos de gestão”, que não teve ganhadores.

Nos discursos, os vencedores falaram sobre a importância do Prêmio como uma nova referência para os gestores culturais no Brasil, e sobre a especificidade de seus projetos. Primeiro lugar na categoria Casos de Gestão, a professora da Universidade Estadual do Ceará e ex-secretária da Cultura do Estado de Ceará, Claudia Sousa Leitão, falou sobre a importância da Secretaria de Cultura Itinerante (Secult Itinerante) para um dos estados mais pobres do país, mas de uma riqueza cultural imensa.

“A cultura no Ceará era tratada de maneira absolutamente inadequada. Dos 184 municípios do estado, apenas 20 possuíam secretaria de cultura”, relata Claudia. Segundo ela, a idéia era internalizar os programas e políticas culturais do governo, pensar a cultura regionalmente e transversalmente.

Para tanto, na gestão vencedora do prêmio, elaborou uma política de valorização da diversidade cultural do Estado, descentralizando a própria secretaria da cultura – daí a idéia de uma secretaria itinerante – e criando instâncias regionais de discussão da cultura, com fóruns da sociedade civil e participação de representantes de interesses opostos. “Era interessante ver no mesmo espaço de discussão jangadeiros, rendeiras, mestres da cultura popular e donos de resorts e hotéis”, relata.

Dentre os “produtos culturais” dessa gestão, que compuseram o material concorrente, estão o guia turístico e cultural do Estado, uma coletânea da memória oral, registrada em livro, bolsas permanentes para os mestres populares, guardiões das memórias locais, e um mapeamento do patrimônio material e imaterial da região.

Descentralização
“Dos quatro anos à frente da secretaria, dois terços estive no interior do estado”, diz Claudia, para quem é indispensável a descentralização e participação municipal. “A gestão se pautava pelo federalismo cultural, com uma base tripartite, em que União, estado e municípios trabalhavam em cima das mesmas políticas culturais, equalizando os recursos de maneira equânime”. E continua: “Hoje o Ceará possui em torno de 100 secretarias municipais de cultura e avançamos no reconhecimento do papel estratégico da cultura para o desenvolvimento local.”

Dividindo o primeiro lugar com a Secult Itinerante, estava o conjunto de projetos culturais da emissora gaúcha RBS, representada por Lucia Bastos. Em segundo lugar na categoria casos de gestão, o projeto “Viva o Vale!” – Programa de desenvolvimento sócio-cultural do Vale do Jequitinhonha, desenvolvido pela equipe de Júlia Parizzi Moisés, da produtora mineira Cria Cultura, em parceria com a Avon.

De acordo com Júlia, o diferencial do “Viva o Vale!” é o fato de a comunidade participar de todo o processo, desde o seu início até os resultados. “A região é uma das mais pobres do país e a maioria dos projetos feitos nela fracassa, pois são impostos à comunidade. O diferencial do “Viva o Vale!” é que o programa não é feito para a comunidade, mas com a comunidade.”

A intenção do projeto é criar condições para a emancipação dos produtores da região e a criação de uma rede autônoma, de maneira que depois de um tempo ele deixe de existir. “É um projeto meio suicida”, brinca Júlia, para quem o Prêmio IP de Gestão Cultural “está dentro de todo um contexto de mudança de olhar sobre o Vale e sobre a riqueza dessa região cultural”.

Fechando os casos de gestão, o projeto de restauração e revitalização do centro histórico de São Vendelino, cidade do interior do Rio Grande do Sul, recebeu o terceiro lugar, com o troféu entregue à sua produtora Cristina Schneider.

Ensaios sobre gestão
Para o primeiro lugar da categoria “ensaios sobre gestão e política cultural”, Mariella Pitombo Vieira, de Salvador, Bahia, “é raro encontrar um espaço que privilegia a reflexão sobre gestão e políticas culturais”, daí a importância do Prêmio. Seu artigo “Política Cultural na Bahia: uma análise do Fazcultura” demonstra mais uma vez o aspecto local dessa primeira edição do Prêmio. Ele avalia o papel do Estado na forma de intervir na cultura, passando a ser mais regulador do que incentivador, e estuda especificamente a principal lei de incentivo do estado da Bahia.

“Cultura e Tecnologia: a necessidade da internet para uma nova política cultural” foi o ensaio que conquistou o segundo lugar na categoria. Seu autor, o paulistano Marcelo Maroldi, explora as diversas interfaces da internet com a cultura. “Para mim, foi importante participar do Prêmio, pois não trabalho diretamente com cultura, e isso me fez conceber novas idéias e ter uma visão de fora, que talvez possa, de alguma forma, contribuir.”

O terceiro lugar do prêmio ficou com Marcelo Dias Carvalho, também de São Paulo, cujo tema do trabalho era “Instituições patrimonialistas – bibliotecas, museus, arquivos, centros de documentação e memória X políticas culturais contemporâneas: uma análise”.

Todos os vencedores do Prêmio Instituto Pensarte de Gestão Cultural terão seus trabalhos publicados em livro a ser lançado ainda esse ano.

Guilherme Varella

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