A atividade cultural é composta por uma diversa e abrangente cadeia produtiva, com funções e especificidades próprias. Cada um desses agentes possui um papel distinto, complementar e fundamental na composição de um setor cultural rico e produtivo, que contribua para o desenvolvimento social e econômico do país.

Na área de produção, a cadeia inclui pesquisadores, artistas, criadores, produtores, administradores e técnicos. Em sua maioria, profissionais liberais, que têm sua própria empresa e que circulam com certa liberdade pelo mercado, mas ao mesmo tempo convivem com a insegurança do trabalho eventual.

Já as organizações culturais, passaram, na última década, por um processo de profissionalização surpreendente. Era raro encontramos centros culturais, fundações, organizações culturais públicas, privadas e do terceiro setor com agentes plenamente capacitados para desenvolver suas funções. Por outro lado, era raro encontrar condições favoráveis para este funcionário. Com regimes de trabalho muito informais e remuneração incompatível para o exercício de suas funções, os bons profissionais preferiam arriscar-se no mercado.

Outro campo em pleno desenvolvimento é o departamento de cultura e patrocínio das empresas investidoras. Impulsionadas pelas oportunidades geradas pelas leis de incentivo à cultura, elas criaram estruturas e contrataram profissionais para gerir políticas de cultura e de comunicação empresarial focadas no investimento cultural.

O próprio Poder Público ampliou as oportunidades de trabalho para a área da cultura. É crescente a demanda por profissionais responsáveis pela formulação e gestão de políticas culturais.

Ainda no meio acadêmico e na imprensa encontramos oportunidade de trabalho para esses profissionais, que podem atuar como críticos, curadores e pesquisadores.

Promover a transformação da sociedade por meio da cultura significa encadear esforços de todos esses agentes de forma a permitir a consolidação de um mercado qualificado, capaz de produzir e consumir cultura.

O desenvolvimento social proporcionado pela ação cultural se dá de forma espiralar, ligando todos os elementos e aumentando a base estrutural que garante a consolidação do espírito crítico da sociedade. Este processo ocorre ao mesmo tempo em que se estrutura como um mercado capaz de fornecer insumos necessários, oferecendo base sólida à sociedade e proporcionando um crescimento cíclico em progressão geométrica, com a ampliação de sua base.

* trecho do livro O Poder da Cultura.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

9Comentários

  • Alexandre Corrêa, 19 de junho de 2010 @ 17:56 Reply

    Tenho percebido excessos nos ‘profissionais’ que pretendem ser ‘gestores’ do campo simbólico. Em tese a ‘gestão’ a ordem simbólica e do universo cultural não deveria ser ‘profissionalizado’. Na Constituição Federal (CF/88), todos têm direitos culturais, portanto, todo cidadão deve ser ‘gestor’ da cultura: agente cultural. Parece que está havendo uma distorção perigosa nessa ‘pretensão’ de ‘gestor cultural’. Uma socioanálise penetrante deve ser crítica de tais volições ilusórias. No mínimo pode estar por tarás disso uma antiga paixão autoritária, um dirigismo cultural subjacente. Mas é também próprio dos que pretendem criar produz culturais comercializáveis, isto é, descartáveis. O que é isso, gestor cultural? Ação cultural não tem nada a ver com profissionalização, ou privatização, da cultura e da arte…

  • Alexandre Corrêa, 19 de junho de 2010 @ 18:00 Reply

    ‘Profissão cultura’ é algo que merece uma reflexão mais profunda, para além da retórica culturalista ou corporativista (dos funcionários da cultura). Todos nós temos direitos de promover e atuar na ‘cultura’; agora, a idéia de ‘profissionais da cultura’ parece algo contraditório e obscuro… Merece uma explicitação mais esclarecedora…

  • chico simões, 20 de junho de 2010 @ 10:41 Reply

    … imaginem essa discussão no campo das culturas tradicionais que atravessaram séculos resistindo, porque se confundem com a própria identidade de seus produtores, contra o poder do estado, da igreja e do capital e que só mais recetentemente passaram a ser considerada pelas “políticas públicas” do governo, de algumas empresas e das ONGs mas que fazem perte de um amplo setor da economia (informal) e do ponto de vista legal estão excluídas de qualquer possibilidade de relação direta com o mercado ou o estado necessitando para tanto do produtor intermediário legal (profissional da cultura?) que acaba exercendo um novo e perigoso poder sobre essas manifestações culturais que, repito, continuam resistindo pela fé, já que a festa se “profissionalizou” e o “festeiro” tá virando “produtor”. De qualquer forma sou pela diversidade e os arranjos produtivos locais acreditando que toda “monocultura” é prejudicial à saúde cultural do palneta.

  • KIKA PEEIRA, 20 de junho de 2010 @ 21:39 Reply

    Há uma semana estava na Chapada dos Veadeiros, no município de São Jorge, GO. Fui conversar com Doroty, musicista responsável pelo projeto TURMA QUE FAZ, uma escola de arte que dentre outras coisas ajuda na produção do FESTIVAL DE CULTURA POPULAR que acontece no próximo mês. Determinada hora da conversa Doroty comentou que quem sempre fez o evento foi o Juliano. Então falei: – Ah! Então o Juliano é o PRODUTOR!! , ela na sequência: -Não Juliano é o PAI do projeto. E só lá pela quarta vez que eu ia chamando o homem mais uma vez de PRODUTOR é que me auto corrigi a tempo, e falei o PAI do festival.
    Nem todo mundo tem vocação para ser PAI de um projeto, acho que quanto mais produtores competentes e profissionais, maior a chance dos artistas desenvolverem seus trabalhos. Eu como produtora, recebo muitos pedidos de ajuda para desenvolver projetos, ou mesmo produzir artistas, que não tem tempo nem vontade ou vocação para tal. A própria Doroty me falou da alegria dos artistas de culturas tradicionais, numa cidade no Vale do Jequitinhonha, MG, que puderam um dia mostrar seu trabalho na praça da cidade, lugar de mérito no local, e que só foi possível graças a uma Mãe, ou PRODUTORA.
    É claro que o profissionalismo tem que caminhar com o conhecimento.
    Outro exemplo interessante o evento BRASIL RURAL CONTEMPORÂNEO, que está se encerrando hoje em Brasília. Na verdade é uma feira, que está na sua sétima edição, Feira Nacional da Agricultura Familiar e da Reforma Agrária. Um projeto com apoio de Bancos, industrias, e instituições e reconhecidas que abre espaço para a discussão da reforma agrária. Um evento de grande porte que dentre tantas atrações teve shows de artistas nacionais e manifestações populares TRADICIONAIS. Num desses shows, um artista convidado do grupo TEATRO MÁGICO, SP, não só falou da feira, do seu propósito, da reforma agrária , como também declarou sua admiração e respeito pelo movimento do MST.
    Pode não ser tudo, pode ser um pequeno passo, apenas o começo…. mas do meu ponto de vista são bons exemplos de PROFISSÃO CULTURA.
    Assim como são bons exemplos de Produtos Culturais, todas as cachaças, vinhos, geléias, mel, sucos ORGÂNICOS que adquiri na feira. Que além da excelência biológica carregam em si história de vida, de famílias, envelhecidas em barris de inox e carvalho. Produtores que se PROFISSIONALIZAM sem perder a TRADIÇÃO, pelo contrário.

  • Banana Mole, 20 de junho de 2010 @ 22:14 Reply

    Lei de Incentivo a Publicidade Corporativa Gratuita.

    È isso que temos no Brasil.

    Um monte índices falsos que contabilizam projetos aprovados como investimento em cultura, sendo que mais de 75% não conseguem captar seus projetos porque não encontra um empresa interessada em publicidade gratuita.

    Os artistas brasileiros tornaram-se agentes tributários a troco da realzação de seus ideais artísticos.

    A melhor manifestação artística, depois de tantos anos de humilhação diante dos editais elitistas das Petrobrases da vida, seria algo no mínimo vandalo.

    Talvez queimar algumas corporações ou fuzilar alguns diretores…isso sim seria artístico…

  • Janine Fraga, 21 de junho de 2010 @ 13:36 Reply

    Caro Brant,

    sou Produtora artística/Cultural desde o início dos anos 80. Muito tenho visto e vivido por todo este período.Aqui no RS fui fundadora da Associação dos Produtores Culturais do RS, quando forças políticas queriam terminar com a LIC , uma Lei pela qual fiz parte atuante da conquista (bem como fiz também da conquista do FUNCULTURA e FUMPROARETE de pOrto Alegre). E, gostaria que você que é o titular deste site, escrevesse ou reproduzisse, para os menos conhecedores, de que cultura estamos falando….Vejo a constante profissionalização ou Teorização do fazer cultural, o que me preocupa pelo seginte motivo. Estou vendo dia a dia, meninos e meninas sem qualquer vivência cultural se formando em cursos e dizendo-se Produtor Cultural. Sinceramente, acho muito mais do que um curso a necessidade de conhecimnentos e vivências para se dizer um Produtor Cultural.
    Acredito sim na necessidade de cada Profissional especializar-se e tornar-se mais abrangente em seus conhecimentos para poder dialogar com as outras faces da sociedade, sem o apoio das quais a Arte e a Cultura sofrem muito para sobreviver.
    Um abraço!

  • gil lopes, 21 de junho de 2010 @ 15:52 Reply

    Gestor de cultura parece ser para alguns uma anomalia, gestor de economia também poderia sofrer a mesma patrulha, gestor do Direito, todos os gestores enfim seriam por este caminho verdadeiros embustes ao princípio soberano de qualquer indivíduo….caso contrário trata-se evidentemente de mais uma estupidez projetada sobre nós e adornada pela violência natural dos desqualificados e incompetentes.
    Tem que valorizar a competência, a especificidade, a ciência, a tecnologia enfim…sem isso é de volta a taba, tudo índio…difícil né?

  • Carol Butolo, 21 de junho de 2010 @ 17:43 Reply

    “somente uma política do trabalho, das novas forças produtivas vivas (e não apenas
    a administração das relações de produção) é capaz de qualificar um projeto de
    emancipação. Por esta razão, a organização e a dinâmica constitutiva dos
    movimentos (o trabalho dos movimentos) devem ser situadas como novo ponto de
    partida para pensar o desenvolvimento.” Toni Negri

  • Janaína Magalhães, 22 de junho de 2010 @ 2:07 Reply

    A cultura é indiscutivelmente importante em todas as suas dimensões, inclusive, a econômica. Sem dúvida todos são gestores da dimensão simbólica e está na constituição que todos tem direito à cultura, assim como à educação e à saúde.E é tão indispensável para a cultura ter profissionais capacitados para atuar no setor, quanto é para as outras áreas citadas.Ou podemos argumentar que por todos os cidadãos terem direito à saúde, então todos são responsáveis por serem agentes de saúde?
    Precisamos sim educar e formar profissionais para serem produtores e gestores culturais, assim como precisamos educar e formar professores e profissionais da saúde!
    É claro que como em qualquer outro campo do conhecimento irão existir os bons e os maus profissionais e que para ser realmente um produtor ou gestor, é preciso aliar teoria e prática… não basta fazer um curso para se autodeclarar um “profissional da cultura”. Para ser um profissional é preciso dedicação,experiência, competência…
    Concordo com Leonardo Brant quando diz que o desenvolvimento se dá de forma espiralar. E conhecimento é a base de tudo.
    Educação e formação para profissionalização do setor cultural é fundamental, sim!

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