Foto: Orianomada
Motivado pelo encontro internacional de gestão cultural, na última segunda-feira, no SESC-SP, quando o secretário de cultura do Estado de São Paulo proclamou o desvinculo da cultura com a educação, venho conversando com diversas pessoas a esse respeito. Vale recuperar aqui o diálogo com Ricardo Albuquerque, escritor, poeta, vice-presidente do Instituto Pensarte, coordenador-presidente da Coordenadoria de Organização de Espaços Sociais – CORES.

“Na secretaria de Cultura nosso foco são as artes. Não estamos preocupados com educação, que é um sistema congestionado, complicado. Estamos felizes pelo fato de estarmos separados dele”, afirmou Sayad.

“Também não queremos fazer turismo. Somos pressionados para atrair o turismo, mas nosso foco é a arte. Também não estamos preocupados nem com economia nem com emprego. Nossa preocupação é com o que não está na moda, com o que não chega às pessoas. Nos interessa tanto a Pinacoteca quanto o hip-hop.”

Matéria publicada ontem por Ana Paula Sousa, na Folha de S.Paulo, atiçou os ânimos e antecipou a disputa que se desenha no campo da cultura em tempos de eleição. Não quero cair nessa, mas aposto no gancho para continuar uma discussão que temos fomentado nos últimos meses.

Albuquerque é um intelectual ativo, daqueles que utilizam o conhecimento em campo, articulando e desenvolvendo a cultura política dos cidadãos. Devo muito dos meus questionamentos às nossas conversas, que adentram madrugada. Preocupa-nos muito a junção estratégica da cultura com a educação, sobretudo no que tange à retomada do Estado em sua responsabilidade cultural.

“Devemos encorajar as práticas culturais no processo de aprendizado e formação do indivíduo, reforçando tanto a dimensão cultural da educação quanto a função educativa da cultura. A escola é um espaço público, de natureza cultural, pertencente à comunidade. Apropriar-se desse espaço é direito e dever do cidadão e do Estado. A partir daí, devemos ressignificar o conceito de desenvolvimento, a partir dos aspectos culturais”, diz o escritor.

Bom momento para retomar a discussão e ampliar a visão do Estado em relação à cultura.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

4Comentários

  • fernando albuquerque, 25 de março de 2010 @ 20:34 Reply

    É por isso que não vimos nos últimos anos , nenhum projeto inovador na cultura. Apenas a homenagem a Luiz Gonzaga!

  • Zezito de Oliveira, 26 de março de 2010 @ 9:16 Reply

    Leonardo,

    Mas que ponto de vista mais atrasado, esta fala do Sayad vai na contramão de tudo aquilo que é recomendado pelo melhores pesquisadores e/ou ativistas culturais do Brasil e do mundo.
    Não sei é para chorar ou é pra rir.

    Abraço,

  • Kelly Tavares, 28 de março de 2010 @ 2:13 Reply

    Com certeza é pra chorar. Cultura e educação andam de mãos dadas. Estudos atuais convergem para o fortalecimento e união dessas entidades. Isso significa dar passos para trás.
    COmo faço para pegar RSS deste blog? gostaria de juntar ao meu.

  • Lucas Santana, 17 de abril de 2010 @ 22:13 Reply

    É complicado e complexo. Pensando bem, a formatação da educação brasileira ditada pela LDB “Lei de diretrizes e bases” é contraditória em vários pontos. Um deles é a Cultura. Não há uma modelagem efetiva para que a educação trabalhe em parceria direta com a cultura, enquanto isso deveria ser na verdade não uma parceria, mas sim membros de um único corpo que chamamos de formação intelectual e social. Como formar cidadãos capazes de interagir com o meio a partir do momento que restringimos a cultura das salas de aulas? Criaremos “homens máquinas” capacitados para a produção em massa que irá promover o “crescimento” do país. Aqui na Bahia o quadro é bem complicado, a cultura passou a ser oba oba há muito tempo. Tem sido apenas uma forma de mostrar e eleger indivíduos incapazes de produzir algo para a sociedade como um todo. Todos, ou quase todos movimentos culturais são explorados unicamente pelo mercado obscuro do turismo estrangeiro. A população não sabe que em Ilhéus, Sul da Bahia há grupos de Bumba Meu Boi, Terno de Reis e Pastorinhas. Isso porque a secretaria de cultura ocupa-se em colocar esses movimentos em apresentações restritas a grupos de turistas que chegam e grandes navios… e os estudantes?? e os jovens?? e a comunidade como todo? Nada é trabalhado nas escolas públicas e muito menos nas instituições privadas preocupadas em aprovações em massa no vestibular…

    mas assim segue… e como disse Kelly Tavares… é pra CHORAR MESMO.

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