Foto: Skinnyde
Embalado pela excelente discussão da semana passada, com ricas contribuições sobre a convergência entre cultura e educação, venho provocá-los com um assunto ainda mais sensível: a confusão entre política de cultura e assistência social, ainda predominante no modo em que as discussões sobre cultura são pautadas em nossa sociedade, a exemplo do que convencionamos “contrapartida social”.

Quero marcar, como sempre faço em temas sensíveis, algumas posições a respeito da situação atual do país. Depois de muito tempo a sociedade brasileira assumiu a questão da assistência social como prioridade. Tanto no âmbito federal quanto em muitos estados, passamos a encarar a nossa condição contraditória de ser um dos países mais ricos do mundo e, ao mesmo tempo, um dos mais mesquinhos, em termos de distribuição de renda e combate à pobreza.

A bolsa família consegue traduzir bem essa nova atitude em relação à parcela mais pobre da população. Por outro lado, não conseguimos avançar, dar um segundo passo em relação às populações que vivem à margem dos benefícios de um país rico, líder mundial e uma das grandes promessas de futuro para o planeta.

É aí que entram as políticas de cultura, que têm se mostrado extremamente eficazes no impulso ao empreendedorismo, ao desenvolvimento comunitário e à economia solidária. Mas não podemos deixar de observar as distorções e os efeitos nocivos quando utilizadas de maneira oportunista, em substituição ou reforço da assistência social.

No caso do atual governo, podemos citar alguns exemplos disso. Os editais da Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural e, mais recentemente, algumas atividades do programa Mais Cultura, talvez traduzam bem a questão que desejo discutir.

Não quero com esses apontamentos negar importância de políticas efetivas para os mestres da cultura popular ou das comunidades indígenas, por exemplo. Pelo contrário, a pauta é oportuna e necessária. Apenas considero a maneira de intervenção encontrada pelo governo, apesar de válida, inadequada.

Deveríamos pensar no fortalecimento contínuo ao mapeamento, reconhecimento e difusão do legado dos nossos mestres, mas preferimos lavar as mãos com prêmios e ações pontuais, sem qualquer efeito público. Apenas um paliativo ao sofrimento individual de cada um. As ações constituem mais em um ato simbólico do que em uma ação afirmativa, positiva e efetiva.

Precisamos avançar, para além desse novo balcão assistencialista criado no Brasil, em contraposição ao balcão do mercado cultural altamente concentrado nos grandes centros do país, sobretudo no sudeste maravilha. Até mesmo os pontos de cultura, a mais revolucionária ideia do atual governo, abandonou a lógica da emancipação, autonomia, empoderamento local, articulação em rede, para sucumbir à lógica do balcão Mais Cultura, para não dizer a lógica da eleição que se aproxima.

A pergunta que vale colocar não só para a Dilma, mas para todos os outros candidatos, e até mesmo para nós que vivenciamos o processo de mutação e elevação das políticas culturais a um patamar estratégico: o que queremos dessas políticas? Para onde vamos com elas?

Parece-me que a vocação de uma política cultural contemporânea, para um país como o Brasil, é a de reduzir os déficits educacionais e impulsionar as oportunidades econômicas para uma gama agentes recém-ingressos às classes consumidoras. Transformar consumidores em cidadãos, capazes de decidir sobre o futuro político do país.

Minha análise não aponta para um retrocesso nas políticas de cultura. Muito pelo contrário. Fomos capazes de revelar o que estava nas entranhas do Brasil profundo e revelá-los ao Brasil. Mas precisamos avançar nas ferramentas de valorização e impulso a essa grande demanda reprimida, atuante muito antes de ser apropriada pelo governo provedor e paternalista.

Embora seja perceptível o avanço e reconhecimento das ações culturais atrelada ao desenvolvimento, ainda não conseguimos gerar novas formas de enfrentar a inclusão econômica por meio da cultura, a relação entre cultura e educação e o profundo impacto das ações culturais sobre o processo emancipatório das comunidades. Isso é responsabilidade de toda a sociedade e não somente do governo.

O momento de campanha eleitoral é propício para propor e buscar soluções para o avanço nas políticas sociais. E o papel da cultura é fundamental para, enfim, transpormos o assistencialismo e construirmos políticas efetivas de participação e cidadania cultural.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

21Comentários

  • Beni Borja, 27 de fevereiro de 2010 @ 11:50 Reply

    Leonardo,

    Excelente observação. Me parece que ela se encaixa perfeitamente com um ponto de vista que eu tenho há tempos.

    É urgente a separação entre a necessidade de financiamento das atividades culturais que visam o lucro, daquelas que tem por fim o ensino e a preservação da cultura.

    A dimensão que você chama de assistencialista, na verdade é o investimento na infra-estrutura da atividade cultural e artística.
    O ensino de arte e a preservação de bens culturais são atividades que criam a consciência do público do valor da cultura e abrem o espaço necessário para o desenvolvimento das atividades dos produtores de cultura que visam o lucro.

    O estado brasileiro investe maciçamente na criação da infra-estrutura para atividades produtivas. Vejamos a agricultura por exemplo: O estado custeia , através do orçamento da união ,a construção de estradas vicinais, a eletrificação rural, o desenvolvimento de novas sementes ( através da Embrapa) e uma infinidade de outras iniciativas destinadas a criar a infra-estrutura básica para o crescimento da nossa agropecuária.

    Par e passo a esses investimentos que beneficiam a agropecuária em em geral, o governo mantém no crédito rural linhas de financiamento específicas para o setor, que contemplam as sua particularidades de produção. Nenhum agricultor perde sua terra porque teve uma safra ruim, periodicamente , em anos muito difíceis para a agricultura, se faz renegociações coletivas de débitos.

    Um sistema específico de financiamento para as atividades culturais que visam lucro é possível, mas ele tem necessariamente que contemplar os riscos particulares da atividade. É isso que falta para que o dinheiro que o BNDES oferece aos produtores culturais através de diversas linhas de crédito , se transforme em real estímulo para a produção cultural.

    Enquanto isso não acontecer, continuaremos vendo o absurdo de museus e escolas disputarem as verbas das leis de incentivo com filmes, discos e peças de teatro.

  • Helena Beatriz R. Pereira, 28 de fevereiro de 2010 @ 9:37 Reply

    Chega ! Não adianta dizer mais nada pois só fazem o que querem !Já está tudo planejado. Helena.

  • gil lopes, 28 de fevereiro de 2010 @ 21:23 Reply

    Que ações culturais poderíamos destacar como atreladas ao desenvolvimento? Na verdade, estamos diante de um acontecimento radical em nosso país no âmbito cultural, a desmobilização da produção e circulação da nossa música, que determinou exclusão econômica para um contingente considerável em todo país e tem irradiação sobre toda produção cultural brasileira.
    Nem governo nem sociedade se deram conta verdadeiramente da questão, não há manifestações ou questionamentos, muito pelo contrário, é como se nada tivesse ocorrido.

  • Marcos, 1 de março de 2010 @ 10:50 Reply

    Há que se enfrentar a questão de dois lados opostos: por um lado, a confusão que ainda se faz entre o bem cultural e uma ação social: É como se, por não acreditar totalmente na arte e na cultura em si mesma, tivéssemos que (culpadamente) exigir sempre o papel de salvadores da pátria injusta para os artistas e fazedores da cultura. “não à arte burguesa”, mas só para os artistas. o resto continua tão “burguês” como sempre foi; e, por outro lado, já que a arte tem função social, sim, nos perguntarmos como faremos para , pelo menos nesse campo, rompermos o paradigma da miséria e da exclusão (oh, palavras gastas e mal usadas) que ainda pautam a sociedade brasileira. Em relação a isso, sou cético e otimista ao mesmo tempo. Cético em quanto a ações governamentais, pois a lógica do poder, que é a permanência no poder, não irá se curvar gentilmente à urgência social. Quando chega a hora do vamos ver, pesam mais as ações politicamente orientadas pela permanência e multiplicação do poder em si. E otimista, por que vejo o discurso de empoderamento que vai tomando conta de segmentos culturais de maneira muito vigorosa, que às vezes não é vista pelos habitantes de Rio e São Paulo, tão ocupados de si mesmos…

  • Lia Silva, 1 de março de 2010 @ 12:14 Reply

    Prezado Leonardo
    Sou grande admiradora do “Cultura e Mercado” e muito também da sua capacidade de reflexão e provocação. Entretanto, gostaria de ressaltar que poucas vezes li algo seu tão pouco sólido, que engrossa as fileiras dos que apontam dificuldades numa linguagem de alto nível, mas sem a objetividade necessária que leve o leitor a um entendimento mais aprofundado, fugindo portanto, ao seu perfil costumeiro. Por isso, sugiro que se volte a esse tema Cultura/Assistencialismo, tão importante no contexto da política cultural de agora, que tem norteado a conduta de inúmeros gestores públicos por esse Brasil a fora, que insistem em somente priorizar ações que utilizam a cultura como ferramenta de inclusão social. Tal procedimento, numa estreiteza do conceito de gestão cultural do poder público vem provocando retrocessos no processo de criação e produção das linguagens artísticas em âmbito profissional ( além da falência de inúmeras instituições culturais importantes) chegando até mesmo ao dirigismo das idéias.
    Grande abraço
    Lia Silva

  • luciano, 1 de março de 2010 @ 15:20 Reply

    tava vendo o carnaval
    é interessante o carnaval para o Brasil?
    para a bahia ou rio?
    para sua cidade?
    gera emprego e renda?
    traz turistas?
    tem como fazer carnaval sem música?
    sem músico?
    sem COMPOSITOR?
    não…
    então,
    sem compositor não tem carnaval
    precisamos de todo o resto
    músicos “reprodutores”
    técnicos de som
    carros de som
    mas sem o compositor
    não dá
    então
    vale a pena “bancar” o compositor?
    deixar ele la sosessado compondo?
    ou ele deve achar um emprego no supermercado?
    e desistir da música
    como a maioria faz?
    qto música boa já perdemos?
    perde toda a sociedade?
    ou tanto faz?
    akele abc
    paz e amor

  • Marcos Caetano Ribas, 1 de março de 2010 @ 18:45 Reply

    Eu sou um diretor de teatro. Preencho editais de patrocínio (onde tenho que responder a milhões de pergunta que tem a mesma resposta) e sempre dou de cara com a tal de contrapartida social. Mas artista não é assistente social. Não tem obrigação de entender do assunto. Que a arte pode desenpenhar um papel importante neste território, não tenho dúvidas. Mas não seria mais apropriado que projetos sociais buscassem a parceria de artistas ao invés do artista ter que incluir contrapartidas sociais nos seus projetos? Não seria mais correto e mais profissional que as pessoas com formação nesta área criassem projetos incluindo a arte ou em parceria com ela. Seria mais profissional, daria trabalho para muitos artistas e teria resultados mais sérios e eficientes. O nosso pais precisa parar de tratar assuntos sérios com amadorismo. Ajudar a formar artistas profissionais e competentes. Estimular os seus projetos. Ajudar a formar assistentes sociais profissionais e competentes. Estimular os seus projetos. Promover e investir nas parcerias. Tenho 62 anos. faço teatro desde os 15. Minha companhia, um grupo de teatro de bonecos residente em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, completa 40 anos em 2011, mas… quem sou eu para dar palpite, né?

  • Pimentel, 2 de março de 2010 @ 4:51 Reply

    Meu caro Leonardo…
    Sinceramente. Sei muito bem donde queres chegar e quais os interesses que defendes e representas.

    Aliás te confesso.
    A cada artigo por ti postado, apesar de reconhecer sua inegavél competência retórica – invariavelmente apresentada através de uma linguagem “civilizada”, “científica” e, aparentemente, “descompromi$$ada e equidistante”, concordo menos com as teses e pocisionamentos por ti defendidos, que no meu entendimento mostram-se cada vez mais confusos e equivocados.

    Pois é Leonardo, assim como reconheces o(s) mérito(s) das idéias e objetivos perseguidos pelos atuais gestores do MinC, também eu reconheço seu esforço de civilidade, equilíbrio e respeito ao publicizar suas opiniões (críticas/elogiosas) às políticas e ações que (lentamente) vêm sendo implementadas pelo MinC.

    Políticas que como vc quase sempre reconhece e elogia, como necessárias a FEDERALIZAÇÃO da atuação do MinC e de uma melhor (e mais justa) distribuição dos recursos (públicos) que de forma direta (via dotações orçamentárias) ou indireta (renúncia fiscal) devem (ou deveriam) ser gerenciados/ administrados e/ou (no mínimo ter sua aplicação fiscalizada) pelo MinC.

    Isso posto, juro que não entendo como alguém como você, nacionalmente reconhecido como um profundo conhecedor das mazelas e “solucionador” dos problemas provocados pelo “burrocratismo” estatal, venha a público criticar soluções (que aliás nem são tão novas e tão criativas como os atuais gestores pretendem fazer crer e vender) que respaldem jurídicamente ações que inegavelmente democratizam o acesso e o repasse de recursos públicos federais a pessoas e grupos culturais históricamente (e desde sempre) exluídos de tal possibilidade.

    Desculpe Leonardo, mas fundamentar tais críticas empunhando a bandeira de que (talvez) seria investir no aprimomarento do processo EDUCACIONAL – sem o qual segundo todos os neoliberais de plantão, nunca chegaremos a uma SOCIEDADE CIVIZADA, na qual os valores ditados (impostos) pela econommia e pelo mercado, serão justos e democráticos – no meu entendimento, é incorrer em pelo menos dois erros:

    * primeiro negamos toda a importância e sabedoria da ancestralidade e dos saberes populares, que apesar de comprovadamente eficazes, ainda não foram devidamente “estudados” e, portanto, compreendidos e assimilados por nossos acadêmicos, cada vez mais “especializados” e descompromissados com a humanidade;

    * isto posto, negamos aos analfabetos e miseráveis já idosos (mesmo aos que, queiramos nós ou não, são reconhecidos dentro de sua comunidade como MESTRES) qualquer possibilidade de ampliação de condições de longevidade…afinal…quem mandou eles não pagarem contribuições ao INSS ou um destes planos de saúde privados. Não é mesmo?

    Se eles queriam viver um pouco mais e gozar de qualidade de vida na velhice, eles que tivessem ao menos tirado uma porra de um diploma de segundo grau….não é mesmo?
    Ou será que eles não sabem que hoje, sem uma porra de um canudinho…dum diploma de segundo grau e conhecimentos básicos de informática…nem emprego de porteiro eles conseguem arrumar…

    Ah…E não venham com desculpas….As oportunidades estão todas aí…

    Tem…Mobral…supletivo….Telecurso…
    enfim…comprovadamente, preguiça e ociosidade….é COISA DE ÍNDIO….
    Coisa destes bárbaros…incivilizados…
    Desta gente que só atravanca o PROGRESSO…e inda diz que é dono das terras…né?

    Mas voltando ao nosso foco, me parece que vc acha que se essa gente (analfabeta e despreparada) quer ter acesso e receber recursos do Governo Federal para preservar suas identidades e suas culturas, eles que formatem e aprovem projetos na lei Rouanet e que vão a luta…e disputem o “MERCADO” e convençam nossos “esclarecidos”, “justos”, “responsáveis”, “democráticos” e “sensíveis” DIRETORES DE MARKENTING que seus projetos são melhores e portanto merecedores de receberem OS RECURSOS PÚBLICOS que por lei foi lhes dado o direito de ADMMINISTRAR…

    Bem Leonardo, desculpe, mas desta vez…diante da mistureba sem pé nem cabeça contemplada em seu artigo…resolvi me manifestar…
    Mesmo porque esta foi de longe a sua mais confusa e pior manifestação pública de todos estes anos…

    Saiba. Ao ler outras, já escrevi outras mensagens/respostas e por conta de minhas responsabilidades públicas e sociais, acabei resolvendo nem postá-las…

    Mas como vc mesmo aponta (confessa) vivemos momentos pré-eleitorais…

    E vc (infelizmente) mistura o processo cultural com o eleitoral….e como se não vivesse em São Paulo aponta e cobra um lado só…

    Tua mensagem, escrita no mais puro e refinado tucanês, apenas repete e reafirma várias de suas já conhecidas “análises/críticas/conclusões” sobre as políticas culturais que vêm sendo implantadas pelo MinC…sobre as políticas culturais de SP…nada…

    E o que é pior, tua mensagem, apresenta uma postura conservadora e covarde:
    Afinal, como diriam os mestres: dás uma no martelo e outra na ferradura…

    Tipo…o MinC está quase sempre quase certo…e também quase sempre também errado…

    Encerro concordando contigo:
    Realmente, “o momento de campanha eleitoral é propício para propor e buscar soluções para o avanço nas políticas sociais. E o papel da cultura é fundamental para, enfim, transpormos o assistencialismo e construirmos políticas efetivas de participação e cidadania cultural”.

    Ou seja, o momento é mesmo muito propício para que o estado brasileiro pare de bancar com recursos públicos o markentig das grandes corporações, que se proclamam MECENAS mas que na verdade só financiam a CULTURA com recursos PÚBLICOS e que na prática exercem o tão temido, denunciado, execrado e condenado DIRIGISMO CULTURAL.

    De minha parte, continuo achando um baita absurdo submeter índios, quilombolas, ribeirinhos…enfim, analfabetos e miseraveis ao mercado e a editais burocráticos regidos pela 8666…

    Mesmo porque, tais mecanismos só servem para ampliar a exclussão e potencializar a CORRUPÇÃO…e encher os bolsos de pseudo contabilistas, juristas e especialistas afins…

    Ah…e em nosso caso específico formatadores de projeto e captadores de recursos…

    Aliás Leonardo, pensando bem, no Brasil, o financiamento da cultura é realmente um dos setores “mais modernos” e neoliberais…Afinal, é o único setor que conta com uma lei que garante e dá amparo legal para que lobystas e atravessadores recebam pelo menos 10% dos recursos (públicos) que agenciam…

    MUDANÇA JÁ.

    Viva Sarkovas.

    Apesar de ser um velho comunista, sou hj a favor do capitalismo.

    desde que ele seja de risco. e que nào seja obrigado a ajudar a pagar a conta.

    Prá finalizar te digo:
    CULTURA É A MÃE…

    Educação um mero instrumento…

    Portanto..viva os mestres….

    Viva a verdaeira revolução cultural…

    Pimentel

  • Cícero Neves, 2 de março de 2010 @ 8:01 Reply

    Muito pertinente esta discussão. Principalmente neste momento PRÉ-ELEITORA. Sou ator e produtor e resido em Porto Alegre. O teatro como linguagem já cumpre uma função de inclusão e discussão e pode ser inserido em diversos contextos e nas comunidades e assim propiciar uma discussão da condição em que se encontra estas comunidades.
    Mas o que tenho visto, não só nos editais do Governo Federal mas em editais da Votorantin, Eletrobrás e outras grandes empresas é o “apelo social”. Além de elaboração do projeto eu tenho que seguir este formato/cartilha onde a “Maravilhosa empresa multinacional estará levando oportunidades ao menos favorecidos e mostrando como se preocupa.” Mesmo que este dinheiro investido esteja lidado a renuncia fiscal.
    O Artista no Brasil esta virando um tipo de missionário estrangeiro com aqueles que estão até hoje na Amazônia levar o conhecimento para os ignorantes sem levar em consideração o conhecido adquirido por estas comunidades.
    A arte é transformadora na medida em que há troca entre o que eu proponho e o que o outro trás do seu aprendizado.

  • Leonardo Brant, 2 de março de 2010 @ 8:53 Reply

    Pois é Marcos, há uma inversão provocada pelo lugar que o Poder Público coloca o artista, quase como um inválido, alguém que precisa de tutela. O investimento público à cultura despotencializa o artista e, com isso, a sua capacidade de ser artista. É a velha política de cabresto getulista. Mas nem tudo está perdido. Podemos e devemos lutar por aprimoramentos que tirem o artista da sinuca entre o caldeirão fervente do mercado e das garras apropriadoras do governo. Abs, LB

  • Bel Fernandes, 2 de março de 2010 @ 10:56 Reply

    Caro Léo,

    Com todo respeito que voce realmente merece, devo ponderar sobre sua frase “fomos capazes de revelar o que estava nas entranhas do Brasil profundo e revelá-las ao Brasil” .
    Um pouco pretencioso, acho. Não vou criticar apenas pela redundancia da palavra revelar.
    Nós, produtores culturais, pesquisadores, conservadores, curadores, diretores de teatro, etc estamos sempre achando que o momento cultural do Brasil começou hoje e nós somos o personagem mais importante.
    O que existe nas entranhas do Brasil e a socialização deste conhecimento já era preocupação antes da Semana de Arte Moderna, do movimento modernista e depois, do verdeamarelismo.
    Saindo do geocentrismo de Mario de Andrade com sua Paulicéia Desvairada e sua promiscuidade modernista e conservadorista, o Rio de Janeiro por exemplo é uma cidade cenário de arte continuada.
    O que fazemos agora é nada mais do que assumir a continuidade de ações iniciadas no passado e aceitar conhecimentos acumulados. “ O que estava nas entranhas do Brasil profundo…” foram revelados na Viagem de Aprendiz e, até “ gringos” como Roger Bastide se preocuparam com isto.

    Acredito que o que deva entrar em pauta num debate sério e responsável com o título “Cultura e Assistencia Social” é se o procedimento de contrapartida social é correto.
    Diferente de outras assistencias sociais, a cultura não produz efeito imediato.
    Se a bolsa família resolve assuntos diretamente e imediatamente ligados ao estomago e a dignidade, não se passa o mesmo com a cultura.
    Muitas vezes a contrapartida social exigida é, por exemplo, doar à Biblioteca Nacional 10% de exemplares de livros beneficiados pela Lei Rouanet. Como se estivéssemos doando 100 kilos de feijão.
    É ridículo. Alguém sabe onde vai parar este entulho? A Biblioteca teria estrutura para repassar estes milhares e milhares de exemplares para o interior do país? Óbvio que não.
    Então, para cumprirmos formalidades, conseguimos um recibo da Biblioteca e está cumprido a contrapartida social!!!
    Não! Melhor que distribuir livros é incentivar a leitura e isto se faz a longo prazo.
    De que adianta termos centenas de Pontos de Cultura com verbas mensais de R$ 5.000,00? Parece piada. Melhor seria termos apenas uma dezena seja no sul, sudeste ou centro-oeste ou nordeste mas com verbas compatíveis com a realidade.
    Um bom professor de artes só trabalha por salário justo.
    ASSISTENCIA SOCIAL não combina com Cultura. Cultura se faz a longo prazo e tem a ver com preservação, divulgação, exposição, concertos, publicações sérias e principalmente responsabilidade do Ministério da Cultura.
    E começarmos agora, podemos vislumbrar o início de um resultado depois de algumas décadas. Não adianta correr.

  • Lia Silva, 2 de março de 2010 @ 11:41 Reply

    Prezado Leonardo
    Sou grande admiradora do “Cultura e Mercado” e muito também da sua capacidade de reflexão e provocação. Entretanto, gostaria de ressaltar que poucas vezes li algo seu tão pouco sólido, que engrossa as fileiras dos que apontam dificuldades com uma linguagem de alto nível, mas sem a objetividade necessária que leve a um entendimento mais aprofundado. Por isso, sugiro que se volte a esse tema Cultura/Assistencialismo, tão importante no contexto da política cultural de agora, que tem norteado a conduta de inúmeros gestores públicos por esse Brasil a fora, que insistem em somente priorizar ações que utilizam a cultura como ferramenta de inclusão social. Tal procedimento, numa estreiteza do conceito de gestão cultural do poder público vem provocando retrocessos no processo de criação e produção das linguagens artísticas em âmbito profissional, chegando até mesmo ao dirigismo das idéias.
    Grande abraço
    Lia Silva

  • Leonardo Brant, 2 de março de 2010 @ 14:09 Reply

    A discussão está pegando fogo no Facebook. Participe aqui ou lá:
    sss://www.facebook.com/leonardobrant?v=feed&story_fbid=351489397648

  • Vera, 2 de março de 2010 @ 21:47 Reply

    Olá,

    só gostaria de dizer que vejo o cenário de outra forma. Vejo que estamos vivendo uma grande resignificação do que é arte, artista, produção artística e, se quiserem, cultural. Um projeto desenhado para criar as bases culturais futuras de nosso país, novos saberes e paradigmas deve ser apoiado e devem proliferar cada vez mais estas iniciativas.
    O país está precisando fomentar o novo. E só assim daremos espaço para a criatividade aflorar.
    Ligamos o rádio e praticamente ouve-se música em inglês. Todos os CDs e DVDs magníficos que tenho ouvido nos últimos tempos não circulam. Em nosso país estamos produzindo peças da melhor qualidade, mas para poucos. E o que é o “vigente”, o teatro, o cinema etc. também se restringe a uma elite que pode pagar.
    Penso que estamos vivendo uma nova era em que fazer arte – seja de que ramo for – não vai significar mais realizar um trabalho para ser remunerado por aquilo que foi criado.
    A transformação está em curso.
    Acredito que estejamos no momento de ver o patrocínio ocorrer e chegar às mãos daqueles que estejam nesta órbita de construção de um novo país.
    No mais, a economia de mercado se encarrega de destinar recursos para os mesmos de sempre. Quem quiser viver este jogo, boa sorte. Mas há muiiito espaço para crescer em outras direções.

  • Pimentel, 2 de março de 2010 @ 23:12 Reply

    Caro Leonardo. Inicialmente lhe digo que não creio ter tentado desqualificá-lo, aliás muito pelo contrário, conheço e reconheço de a muito sua militância e suas contribuições ao setor. E penso que também me conheces (talvez menos) mas o suficiente para saber que nem me daria ao trabalho de responder (criticar e polemizar) com alguém desqualificado.

    Creio que também busquei sim comtrapor e contra argumentar suas idéias e se sentistes em minha mensagem alguma dose de agressividade, peço-lhe desde já desculpas, não era esta minha intenção e saiba que talvez ela apenas reflita o fato de eu acreditar que alguém com sua capacidade, experiência e grau de compreenssão do processo deveria estar do nosso lado lutando pela implantação das mudanças que tenho certeza sabes muito bem são necessárias, justas e URGENTES.

    Discordo também de que os espaços destinados ao debate estão diminuindo. Aliás vejo mesmo estar ocorrendo o contrário e confesso que por vezes fico até mesmo irritado com o grau de “democratismo inútil” que campeia em alguns setores. Mas faz parte né?

    Assim penso que muitos que, como eu, participaram do Fórum Nacional de Direito Autoral, da I CONFECOM, do I Encontro Internacional dos Direitos do Público e da Pré Conferência Setorial do Audiovisual, (apenas para citar alguns exemplos) certamente também não concordarão contigo.

    Sobre o tema lembro-lhe ainda que semana que vem teremos a II Conferência Nacional de Cultura, cujo processo e metodologia apesar de continuar apresentando vários dos problemas e vícios registrados no processo anterior, sofreram sim correções que espero sirvam para qualificar e legitimar seus esultados.

    Confesso também que não entendi direito suas preocupações em relação ao tal “vespeiro”, mesmo porque, seja neste ou em qualquer outro governo, ele sempre existiu e vai continuar existindo. E entendo como totalmente legítimos aqueles que atuam em defesa de ideologias e de ideologismos; de posições partidarias e/ou corporativas, e, até mesmo, de interesses menores e pessoais. Mesmo porque, caso fossem excluídos do processo, creio que não restaria ninguém, né mesmo?

    Assim acredito mesmo é que inexiste a neutralidade que pareces querer representar no processo. E, aliás, é justamente esta tua postura de aparente neutralidade que move as críticas que lhe fiz na mensagem anterior. Foi tal pretenssão que critiquei ao afirmar que procuras manter uma postura/linguagem/posicionamento “tucana”…e saiba que se entendestes que tal afirmação relacionava-se a qualquer partidarismo, estás equivocado. Mesmo porque, desconheço sua preferência e/ou filiação partidária e te reafirmo, mesmo que as conhecesse seriam por mim encarada como legítimas…

    Entonces, sobre esta parte de sua mensagem resta-me apenas aguardar seus esclarecimentos sobre o tal NOVO CLIENTELISMO que afirmas existir. Confesso que estou ansioso, mesmo porque, nesta seara não consigo enxerguar nenhuma novidade e apenas lamento que reste ainda muito do VELHO CLIENTELISMO praticado no Brasil há pelo menos cinco séculos.

    Concordo contigo quando dizes que nem tudo que vêm sendo praticado e proposto pelos atuais gestores do MinC merece aplausos. Também não faço parte do bloco dos “puxa sacos”, nem dos dos “crédulos e ingênuos”, e nem mesmo daqueles que acreditam que papai noel, coelhinho da páscoa e reencarnações do divino…

    Portanto, apesar dos públicos (e portanto inegáveis) vínculos de amizade e de companheirismo que mantenho com a maioria dos atuais gestores de plantão, creio ser público e notório, que nunca busquei utilizar tal condição para pleitear cargos ou qualquer outro tipo de benefício pessoal no MinC. E estou cada vez mais convencido do acerto quanto a minha decisão de manter-me livre, independente e como apenas um dirigente de algumas entidades da sociedade civil e de um mero militante de causas sociais…

    Portanto tenho eu também minhas críticas…
    Também nem sempre concordo com encaminhamentos e decisões…
    E continuo preservando meus direitos de externá-las aos amigos e companheiros, inclusive, publicamente, quando julgo ser tal fato necessário…

    Não sou pelego…nem oportunista…e como sempre digo, apenas um João Baptista…brasileiro e cidadão…que não abre mão de exercer seus direitos e de defender suas idéias…

    Pois bem, encerrado todos estes esclarecimentos, vamos finalmente ao debate do principal…quer seja, as mudanças que estão sendo propostas na lei Rouanet…E é aí meu caro que a porca torce o rabo e onde reside nossa discordância…

    Então Leonardo, como disses é mesmo verdade que “todos sabem onde estão os abusos e discrepâncias” e que tal situação foi mesmo “ampliada” durante o atual governo. Afinal é verdade que os recursos destinados ao financiamento do setor através da utilização da denominada Lei Rouanet foram multiplicados por cinco nos últimos anos, né mesmo?

    E o que é pior. Tal milagre da multiplicação ocorreu apenas por falta de vontade e coragem políticas, já que como sabes muito bem, as mudanças hoje propostas poderiam ser consideradas como “conservadoras” diante das teses e ações previstas no programa de governo para a área cultural que foi “vendido” à população brasileira pelo PT e por seu candidato a sete anos atrás, que salvo engano previa a imediata revogação dos mecanismos de incentivo fiscal à cultura (!?!)…

    E se tais medidas não foram imeditamente adotadas, sabes muito bem…fundamentaram-se justamente na decisão/postura defendida pelo ex-ministro Gilberto Gil de não promover uma caça as bruxas e uma desordenada e desarticulada mudança no processo de financiamento do setor…

    Mesmo porque, o Estado e sua burocracia, não estavam (e continuam ainda não estando) preparados para responder e assumir as responsabilidades e demandas originárias do setor…por ele (nós) compreendido como fundamental e estratégico ao desenvolvimento e a soberania nacionais…

    Assim, meu caro se como dizes, vivemos hoje tempos de caça as bruxas…tal situação é orquestrada pelos verdadeiros caçadores….que são aqueles que a mais de uma década são beneficiários e mamam nas tetas gordas e generosas do orçamento federal…

    Caçadores cujo poder tem uma abrangência até mesmo transnacional (e o setor audiovisual que o diga)…e portanto capazes de “venderem/imporem” suas idéias e opiniões a praticamente tod@s os brasileiros, já que dirigem ou são apoiados pelas principais corporações midiatícas “brasileiras”…

    Plim.Plim…

    E daí acabamos vivendo situações surreais, como por exemplo, as que ao mesmo tempo que criticam (ah e taxam como dirigistas) as mudanças propostas…também criticam e escandalizam a destinação de recursos federais para projetos legalmente propostos por Caetanos, Soléis e Bethânias…

    Afinal, como tod@s sabemos, tais personalidades e organizações, não precisam mesmo disso…e portanto deveriam ter seus pleitos (mesmo que legais) negados…

    E que se foda a legalidade…e o estado de direito…
    Afinal nossos dirigentes deveriam ter a coragem para peitar tal situação e, lógicamente, arcar com suas consequências…

    E viva a descência e a moralidade…Né mesmo?

    Finalmente encerrando informo a vc e a tod@s que:

    * não tenho o poder e nunca tive a vocação/pretenção de manejar/controlar o fluxo de informações;

    * não me considero e, com certeza, nunca defenderie qualquer projeto ou proposta populista e/ou de caráter meramente eleitoral…

    * nunca dissimulei ou me furtei (nem mesmo nos tempos da ditadura) a tornar públicas, assumir e defender minhas posições ideológicas e partidárias…que como disse antes, sejam minhas ou de outros, são totalmente legítimas…

    * sempre defendi a liberdade de expressão e de imprensa…aliás, como jornalista sem diploma sempre defendi e defendo a não obrigatoriedade de formação “SUPERIOR” para o exercício da profissão..

    Portanto, nunca exerci o papel de censor…e estarei ao teu lado incentivando seu direito a escrever “sobre o que lhe der na telha”

    Pimente

  • Leonardo Brant, 2 de março de 2010 @ 23:54 Reply

    Grande Pimentel. Muito obrigado por sua contribuição ao debate. Não entenda nada do que escrevi como pessoal, pois te conheço e acompanho sua luta, não só no cineclubismo, no festival de Atibaia, sua atuação como gestor público. E respeito muito.
    Concordo que o momento atual é único, cheio de esperanças e efetivos avanços. Mas vejo uma agenda enfiada na goela. Participei de algumas conferências municipais, acompanhei à distância ou por transmissão ao vivo outras tantas, converso diariamente com gente envolvida, de um lado ou de outro, nas batalhas por mais espaço e por democracia cultural.
    Pensamos diferente sobre esses processos. Não somente eu e você, que discordamos de alguns pontos (não de todos, acredite). Muita gente da esquerda pensando diferente, gritando, querendo dialogar, vivenciando um processo de redução, de simplificação, de canonização maniqueísta: “ou você está comigo ou é contra mim”.
    Em relação à Lei Rouanet, concordo contigo. Ela não serve para nada disso que vc aponta. Mas serve para um monte de coisas interessantes, a grande maioria, posso afirmar com base nos dados. Mas há muita propaganda disfarçada de informação. Me diga onde estão realmente os abusos da Lei e te provo por A + B que são exceções e podem ser evitadas se a Lei fosse gerida por alguém que entenda minimamente das dinâmicas de mercado.
    O Procultura é uma vergonha, uma afronta aos profissionais de cultura, que batalham para sobreviver diante de um Estado omisso em relação à sua responsabilidade cultural. E continua omisso, a não ser por um discurso dissonante com a prática (vc mesmo acusa os Caetanismos…), oportunista e eleitoreira. Ele não tem nada que interesse ao setor cultural. O que poderia interessar está tão mal redigido que parece até pegadinha.
    Me orgulho de ter votado no Lula contra o Collor, contra o FHC e contra o Serra. E de ter participado dessa luta pela democracia cultural ao seu lado, ao lado do Gilberto Gil. E me orgulho mais ainda de combater a política de fundo de quintal do Juca Ferreira, que não é de todo ruim, muito menos de todo bom. Abs, LB

  • Marcos Caetano Ribas, 3 de março de 2010 @ 19:14 Reply

    A arte não é assistencia social…e nem deixa de ser porque a arte não tem fronteiras.
    Nem geográficas. Nem sociais. Nem culturais.

    A arte é o último bastião de liberdade no mundo. O último espaço onde não temos que respeitar critérios ou possibilidades de utilização. Onde podemos simplesmente realizar algo que não serve para nada. Onde podemos criar sem ter que saber a quem queremos servir. Onde podemos apenas existir por existir. Criar primeiro e só depois descobrir para que serve a criatura.

    A arte é o espaço de liberdade por onde a humanidade respira. O ar que oxigena o sangue da sociedade, que faz bater o seu coração. Que lhe permite redescobrir a vida, reinventar a história, a cultura, a democracia e mesmo a globalização (a simples inclusão desta palavra já banaliza este texto e o situa desagradavelmente no tempo e no espaço).

    A arte existe onde ela existe. No mais mambembe mamulengueiro do nordeste do Brasil e no mais erudito poeta concretista de São Paulo. No mais humilde santeiro mexicano e no mais sofisticado escultor francês.

    Intelectuais e outras personalidades acadêmicas podem elaborar complicadas teses e teorias sobre a arte com suas mentes acostumadas ao trabalho estrutural da cultura. Mas somente os artistas podem cometê-la e somente nos ventres e corações ela pode explodir e transcender.

    A arte não tem qualidade nem deixa de ter. A qualidade de hoje não será necessariamente a de amanhã como pode não ter sido a de ontem. A qualidade de uns não é a qualidade de outros. A qualidade de uma cultura pode não ser a de outra. A qualidade da arte é apenas nossa opinião sobre ela, que não pode e não deve ser imposta a ninguém.

    A arte não permite regras a não ser as suas próprias, específicas e auto-impostas para cada caso. Mas a arte, quase sempre, gosta de ser vista. E mostrar é a função do promotor cultural. Bem mostrar sobre todos os ângulos é a sua tarefa e sua missão. A missão de mostrar sem impor fronteiras e sem deturpar o seu sentido libertário e libertador, plural, diversificado e sem limites.

    A arte não tem pai, nem mãe, nem filhos, nem avós.
    A arte é e não é.
    Supra cultural, não utilitária e sem geografia, a arte é…a arte é…a arte é…e não é.

  • gil lopes, 4 de março de 2010 @ 12:03 Reply

    é..é…é…cadê minha mãe? Mas a arte gosta de ser vista…pronto, aí danou-se…essa arte que quer ser vista entra no mercado, e tem o dinheiro que inventaram pra trocar mercadorias, e tem o salário, a economia, e tem muita gente pra encher a barriga e tem o hospital e a água encanada…é…é…é…mas no banheiro de cada um tem a arte de cada um e não precisa mostrar pra ninguém, é cantar no chuveiro e pronto….mas se quiser mostrar, aí complicou tudo…ai começa tudo.

  • gil lopes, 4 de março de 2010 @ 12:24 Reply

    Interessante o lance das contrapartidas sociais, num mundo complexo e globalizado deve ter gente que acha que empresário ainda é aquele gordo fumando charutos que explora os pobres artistas, o provincianismo tupiniquim é teimoso. Ainda se discursa contra a intermediação, o mal dos males para alguns, como se fosse possível conviver milhões de pessoas sem intermediários…na cultura quando vêem projetados meios o ataque é imediato. E o que vemos? Uma rede internacional de projeção cultural azeitada de meios e intermediários, e o resultado? Estupendo, cirúrgico, acachapante.
    Quem deve tratar das contrapartidas e dos formulários? Dos custos e das receitas? Os artistas? Um dos maiores benefícios da Rouanet é a formação técnica da produção cultural no Brasil, isso é virtude que é tratada como desvio…é típico por cá. A formação de empreendedores, empresários, agentes não é estimulada porque é congestionada pela luta contra o Sistema. É essa luta que fortalece em resumo e também, a hegemonia cultural que nos debatemos. Tiro no pé. Como me disse um dia o inesquecível Rubens Gerchman: artista no Brasil não falta, faltam empresários.

  • Marcos Caetano Ribas, 5 de março de 2010 @ 19:41 Reply

    “é…é…é…cadê minha mãe?” O que quer dizer isto? Que espécie de comentário é este? Sei lá da sua mãe, camarada. Eu, heim!
    Vivo de arte profissionalmente há mais de 40 anos, sei das dificuldades de mostrar o que fazemos, mas acho que a arte precisa ser respeitada como o bastião libertário que ela é. Aceito que pessoas discordem das minhas opiniões, mas que o façam com respeito.
    O mesmo respeito que o inesquecível Rubens Gerchman, por exemplo, meu amigo desde os tempos em que ele morava em Nova Yorque, sempre me dedicou.

  • gil lopes, 7 de março de 2010 @ 14:37 Reply

    prezado marcos, não tome meu comentário como crítica ou resposta ao que vc disse…não comentei pra vc, comentei por conta do que vc disse, não é pessoal meu comentário…a gente não tem essa importância toda, é claro.
    é, é, é cadê minha mãe! foi uma interjeição que usei, e faço questão de explicar porque acho que vc quis saber…poderia ter dito: Minha Nossa! ou Ai Meu Deus!…ou ainda Cruz Credo!…preferi: Cadê MInha Mãe!…precedido pelo seu é, é é …que gostei.
    Carioquices companheiro, carioquices…
    É muito importante essa necessidade que temos em ser respeitados, sobretudo nas nossas idéias, na nossa biografia, história…é tudo o que temos e portanto é nossa cultura. Queremos mais respeito com a nossa cultura, e sou solidário com vc Marcos, entendo perfeitamente o que vc diz. E mais que tudo, ótimo seu comentário: a arte gosta de ser vista.
    é isso aí.

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