4.000 pessoas reunidas no nordeste brasileiro, praia de Iracema em Fortaleza – Ceará. Agentes de cultura. Gente de cultura. Um dos maiores eventos do Brasil envolvendo e articulando as artes diversas, a pluralidade, o processo democrático. Trabalho? Uma grande festa? Para uns, ambos, para outros, não.

Assim foi a TEIA 2010, encerrando o processo de construção democrática através de eventos do tipo fórum e conferências, reafirmando as demandas prioritárias, alegrando os agentes culturais. O MinC (Ministério da Cultura) vai marcando o maior número de gols possíveis na época de eleições onde é tão importante permanecer por cima.

Realizou-se de 25 a 31 de março o Encontro Nacional de Pontos de Cultura, a TEIA 2010.  Os Pontos de Cultura (PCs) representam a política carro-chefe do MinC – o programa Cultura Viva – e fecham a gestão Lula com méritos para o governo. Realizada em sequência à II Conferência Nacional de Cultura (II CNC), estes dois eventos arrematam o processo democrático na e para a cultura nacional, empoderando os agentes, colocando a responsabilidade de articulação nas mãos dos mesmos.

Muitos representantes de Pontos de Cultura estiveram presentes na II CNC e puderam acompanhar a semelhança de propostas e demandas. E então os representantes de todos os estados brasileiros são hospedados de frente para o mar, com três dias de mostra artística seguidos do fórum dos PCs.

Eu esperava uma grande festa, e ela foi belamente encenada. Com maracatu, Jorge Mautner, Chico César, Cacuriá, Carimbó, Beth de Oxum, Capoeira, Matrizes Africanas, Indígenas, Ciganas, Circo. Muito sol, muita praia. Um evento com 4.000 pessoas da cultura não podia ser menos festivo. O caráter das mesas de debate e fóruns foi comprometido, mas em termos. Os aficionados pelas fatias do bolo da articulação política foram ferrenhos. Em salas com quórum reduzido, ficaram praticamente eles a se engalfinharem. Afinal, num evento como este é comum selecionar representantes para comitês nacionais e regionais, mais empoderamento.

Mas, sendo realista, as disputas e articulações seriam feitas de forma ou outra, com menos gente presente o jogo fica mais explícito, é melhor para o entendimento de quem está entrando na roda agora e ainda não entendem exatamente o que são os Pontos de Cultura.

Os PCs são “pinçadas” em grupos culturais que já exercem função artística, sócio-cultural ou mobilizadora nas comunidades onde já estão inseridos que, depois de selecionados em edital público, recebem verba do MinC durante três anos mais um kit multimídia com ilha de edição, filmadoras e câmeras digitais para registrar e difundir todo o processo. O movimento ganhou força, alastrou-se pelo Brasil e revelou vários brasis, isso é verdade. Mas deu poder para esses grupos também, que ganharam a alcunha de representantes da cultura nacional, como se apenas os PCs o fossem, segregando os não contemplados em edital. Na TEIA de Minas Gerais uma das demandas que despontou e mais causou adesão foi a de solicitar que os Pontos de Cultura tenham incentivo vitalício do MinC, querendo fazer o processo democrático andar para trás, buscando o paternalismo do poder público.

Que fique claro, a política dos PCs é inédita, fundamental para termos conseguido a atenção e profissionalização de levar 4.000 pessoas envolvidas com cultura a Fortaleza em um evento de 7 dias. Que fique mais claro ainda que temos um tanto a mais que caminhar e esclarecer, debater, refletir e trazer a tona para a cadeia produtiva da cultura brasileira, que carrega consigo um lastro de desprezo e descontinuidade pelo setor público.

A briga que então vale a pena é transformar os PCs em política de estado, contínua, bonita, por editais que descentralizam os contemplados, embrenham-se nos interiores mais remotos. E para não continuar com a memória curta que é tradicional no país, lembremos ainda que o Ministro da Cultura Juca Ferreira continua levando bem uma política que foi implementada pelo ex-Ministro Gilberto Gil, que falava que os PCs são o do-in cultural, a massagem nos pontos diversos que fortalecem todo o corpo. Já que onde há gente há cultura, que haja o reconhecimento da cultura de toda gente.


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Gestor de Empreendimentos Criativos. Atual Gerente de Projetos na Cria! Cultura, diretor do Coletivo77 e autor do livro "A Vida em Jazz, Contos Para Jazzeificar a Vida".

6Comentários

  • Madonna :: Falcão e os Loucomotivos :: Circo Voador :: 10/02/2010 | AVRDirect.com, 6 de abril de 2010 @ 10:15 Reply

    […] CULTURA E MERCADO :: revista eletrônica :: blog :: rede :: podcast … […]

  • Caio Santos, 6 de abril de 2010 @ 13:25 Reply

    Caro,

    Primeiro: Não sou e nem pertenço a Ponto de Cultura nenhum, mas sou um pesquisador em Cultura, em um país que até a pouco se quer haviam os tais espaços democraticos e populares de debate cultural, como a tal da TEIA de Fortaleza. Segundo, o inédito nos PC’s, não é fato de ter levado 4.000 pessoas para fortaleza, isso evidencia a falta de reflexão e conhecimento do programa, pelo autor do texto. Segundo, desde que acompanho os autores e diretores do programa, como o disse o próprio Gil, Célio Turino, as Comissões de Pontos, etc, sempre foi deixado bem claro que Ponto de Cultura são TODOS aqueles possuem atividades culturais. O que o atual Ministério fez foi incentivar por meio de edital público algumas ações. Enfim, a ironia do texto ridiculariza a si mesmo, e é infeliz pelo tamanho do programa.

  • Alice, 6 de abril de 2010 @ 13:51 Reply

    É Fred, tá jogando bonito e politizando a cultura; polindo com cultura o que antes era um segredo, ou pelo menos quase secreto. Quero acompanhar mais essa
    investida que é tão sua e tão nossa… Adiante, meu caro!

  • Fred Furtado, 6 de abril de 2010 @ 18:09 Reply

    Prezado Caio, sou capaz de compreender seu comentário a partir do início do mesmo, dizendo que você não faz nem fez parte de Pontos de Cultura. Eu fiz parte desde o primeiro edital e acompanho a política desde sua formulação, além de ser também estudioso da área. Minha pontuação sobre a política dos Pontos vai exatamente em seu reflexo no setor, por ser gestor cultural há alguns anos. Os PCs segregam sim o setor, e quando falo da representação, digo da representação política institucional, não da atuação prática. Sou defensor exatamente do ponto de vista que você citou, que todos os agentes são pontos de cultura, porém apenas o selecionados recebem de fato a chancela de representação institucional, sendo levados a eventos promovidos pelos poderes públicos federal, estaduais e municipais. Ouvindo Gilberto Gil e Célio Turino, o discurso político enobrece a iniciativa, que até então é bem desordenada e não acompanha a prática dos próprios núcleos culturais. Faz parecer que todos os agentes de cultura se sentem como Pontos de Cultura, o que não é verdade. Da mesma forma, os grandes eventos são sim inéditos no setor, por serem uma política de governo que teve adesão plena do setor cultural, mobilizando aos encontros não só os PCs como representantes de canais de TV e outras empresas e entidades representativas, como o Circuito Fora do Eixo. Por fim, não compreendi sua crítica, de fato. Mesmo assim, obrigado, discutindo é que a gente se entende. A política é feita desta forma, como disse Alice. Vamo que vamo.

  • Maristela Guedes, 8 de abril de 2010 @ 0:21 Reply

    Nada como ouvir quem sabe o que diz… Dizem por aí que o meu dia tem 48 horas… Acho que o seu tem pelo menos 72, ou você tem um “avatar”, para estar cada hora em um lugar, o tempo todo ligadaço, hahaha! Vai em frente, Fred, não pára! O país precisa de gente como você.

  • Platinny Paiva, 9 de abril de 2010 @ 20:09 Reply

    Grande Fred! Belo texto. Bela análise. A gente agente da cultura de toda gente agradece.

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