Foto: Divulgação
O último encontro do segundo módulo do curso “O Poder da Cultura” discutiu o mercado e sua relação com as políticas de cultura. Nenhum dos ilustres convidados do curso, dentre eles Ronaldo Bianchi, secretário-adjunto de cultura do Estado de SP, Marco Acoo, ex-secretário de Fomento do MinC, o filósofo Marcelo Consentino e os advogados José Maurício Fittipaldi e Fabio Maciel, presidente do Instituto Pensarte, provocaram tanto alvoroço quanto a exibição seguida de debate do Roda Viva com o compositor e vocalista dos Racionais MCs, Mano Brown.

Resolvi escrever aqui sobre o programa depois de fazer uma pequena busca sobre a repercussão do programa na mídia e perceber o quanto a sua fala ainda é (propositadamente) incompreendida ou, até mesmo, menosprezadas pela grande mídia.

Em um debate memorável, Mano Brown abordou a relação centro-periferia, política, música, pirataria, família e criminalidade. Ficamos todos admirados com a coerência e a verdade por trás de cada fala do artista, mas sobretudo com o despreparo dos jornalistas para lidar com realidades diversas daquelas vividas e apresentadas pelas classes mais abastadas. Exceção que fazemos à participação da psicanalista Maria Rita Kehl, que ajudou a traduzir a complexidade da fala de Mano Brown para aquela parcela da elite plugada na TV Pública.

Alguns assuntos discutidos no programa merecem destaque. A certa altura Brown disparou: “eu não tenho discurso”. Realmente ele não constrói suas falas para controlar seus efeitos. Não está preocupado em sustentá-las em conceitos, ideologias, movimentos, instituições. Elas são frutos de sua vivência e guardam espantosa e coerência e verdade com seu mode de viver e encarar seus desafios de artista e líder social.

O rapper também nega, aliás, o rótulo de político, líder de movimento ou qualquer coisa que o institucionalize. Raramente participa de programas na grande mídia (exceção feita ao Roda Viva), não se integra aos sistemas tradicionais de mercado e convence a todos de sua real conexão com a sua comunidade e a realidade onde está inserido.

Práxis é a palavra que utilizei para definir a relação entre o pensamento do rapper e sua vida cotidiana. Algo incomum nos dias de hoje, Mano Brown age como pensa ou pensa como age.

Vale a pena assistir os vários trechos da entrevista pelo Youtube:

Para ler a íntegra da entrevista clique aqui.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

5Comentários

  • Carlos Henrique Machado, 12 de julho de 2009 @ 16:25 Reply

    Oi Leonardo

    Lembro-me desta entrevista, da dificuldade do diálogo entre os representantes das lógicas constituidas comuns nas argumentações dos entrevistadores e as lógicas do capão muito bem obervadas por Mano Brown.

    É mesmo difícil que toda uma estrutura interligada a partir de um diapasão, ouvir meio tom acima deste “harmonioso” clichê organizacional adotado pelas múltiplas ações de uma sociedade homogeneizada. Isso mostra claramente o abismo de sentimentos que produzem práticas díspares de organização social, praticamente no mesmo espaço físico.

  • Badah, 13 de julho de 2009 @ 16:18 Reply

    Acrescentaria que mais que jornalistas despreparados, a entrevista revela a fragilidade do jornalismo brasileiro em si, que teima em utilizar até hoje as mesmas técnicas lineares de pesquisa, com construção de personagem, pseudo-apuração, pseudo-imparcialidade e todos os outros vícios do ofício. O jornalismo é mesmo a vulgarização da literatura, para citar algo que li por aí da boca de alguém, que não vou citar o nome, pois estou deliberadamente pervertendo seu discurso, criando meu personagem.

    Depois vão falar de diploma para exercer a profissão. Precisou de uma psicanalista para ter o mínimo de contato com a realidade não-fictícia do entrevistado.

    Prefiro assumir que sou um escritor frustrado, que tentar criar um personagem para um sujeito tão “selvagem” quanto o Brown. Pena – para os jornalistas – que ele não é aquele outro mano do Afroreggae.

  • Julio, 14 de julho de 2009 @ 11:28 Reply

    não vi qualquer complexidade na fala de Mano Brown durante o programa, pelo contrário, senti que ele estava tão coagido que mudei logo de canal. prefiro o Mano Brown das letras do Racionais do que coagido pela ‘inteligentsia’ brasileira.

  • luiz, 15 de julho de 2009 @ 11:02 Reply

    este mano do rep gosto muito dele!
    mais ele tem que estudar mais para devender o REP
    QUERP VER ELE CHAMAR O GOG !!!!
    FOCA NA PAZ TODA COMUNIDADE DO REP !

  • Leonardo Brant, 16 de julho de 2009 @ 9:12 Reply

    Um artigo interessantíssimo do Israel do Vale, escrito logo após a transmissão do programa ao vivo, em 2007:
    sss://futurodamusica.zip.net/arch2007-09-23_2007-09-29.html

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