A frase da ministra Ana de Hollanda em seu discurso de posse, para uma plateia repleta de artistas, ativistas, políticos e muitas autoridades, dá o tom do novo Ministério da Cultura.

A noite chuvosa de Brasília não conseguiu estragar a grande comemoração que marcou a despedida de Juca Ferreira do Ministério da Cultura e a estreia de Ana de Hollanda como a primeira mulher a ocupar o cargo de Ministra da Cultura do Brasil.

O cerimonial armado por Juca Ferreira exaltava a sua própria presença. A cena, no entanto, foi delicadamente roubada por uma figura aparentemente frágil, de fala suave, porém firme, delicada e, ao mesmo tempo, ousada – como ela própria se define. Ana de Hollanda impôs-se com seu discurso assertivo, direto, em defesa dos artistas e criadores de todo o Brasil.

Não se trata de um deslocamento de eixo de atuação do MinC, que voltaria a viver de e para  os artistas, exclusivamente. O povo brasileiro continua sendo o beneficiário de todas as ações, mas com visão e sensibilidade para os criadores, artistas, construtores do campo simbólico – que nos define como povo e nação.

Diversidade finalmente reencontra sua irmã Criatividade. O pecado de viver do ofício da arte, com autonomia, sem dependência do balcão do Estado, encontra virtude ao lado da valorização do simbólico, dos saberes e fazeres em todos os cantos do país. Um saber que pertence ao povo, a cada um, e não ao governo.

Interessante a maneira como Ana de Hollanda eleva o MinC ao lugar mais estratégico que um governo poderia ter. Em vez de brigar por atenção, distinção, reconhecimento do próprio governo e da sociedade, Ana quer colaborar com os grandes desafios e metas do governo Dilma. Erradicar a miséria, qualificar as classes emergentes, estimular não só o consumo de eletrodomésticos, mas também de bens e ativos culturais. Exalta, pede apoio ao Vale Cultura.

Descentralizar, investir nos municípios, na construção da imagem do país no exterior: metas compartilhadas. A associação com as políticas de educação também recebe um novo tratamento, de contribuição com os desafios, qualificação dos processos, interlocução e mediação com a comunidade.

Pensar, fazer e escutar. Este será o novo estilo do MinC de Ana de Hollanda. E proclama: “não existe arte sem artistas”.


editor

11Comentários

  • @skarnio, 4 de janeiro de 2011 @ 9:03 Reply

    "Não se trata de um deslocamento de eixo de atuação do MinC"?! Tem certeza disso? Sair de duas gestões voltadas para o público e produtores com discurso constante da importância das redes para uma nova gestão que quer dar prioridade ao artista como "centro" de todas as ações. Só pelo uso das palavras “centro” e “rede” já dá para notar a diferença… Talvez essa análise seja uma boa forma de tranqüilizar os milhares de eleitores que votaram na continuidade da gestão federal. Continuidade em todas as áreas… Fora que a Ministra, além de se esquivar da questão dos direitos autorais, sequer citou o tema Cultura Digital. O próprio Juca Ferreira reconheceu que muita coisa ainda precisa ser feita em matéria de gestão do Ministério. Ninguém duvida da capacidade da Ministra para este tipo de avanço. O receio geral é justamente pelo tal deslocamento de eixo, que ficou mais do que anunciado no discurso de posse.

    • Leonardo Brant, 4 de janeiro de 2011 @ 20:11 Reply

      Eu também havia entendido como um deslocamento. Apenas após conversar com Grassi e Vitor Ortiz é que entendi que foi uma ênfase ao que foi esquecido e não uma oposição. Abs, LB

      • @skarnio, 5 de janeiro de 2011 @ 10:55 Reply

        Então a sua análise não foi do discurso público e oficial da Ministra, mas de uma conversa de bastidores. A informação do Grassi é importante, mas se você mesmo assume que a sua leitura do que foi dito a nação é de um deslocamento, deve entender o enorme receio tomando conta das redes sobre o futuro das políticas públicas na área…

        • Leonardo Brant, 5 de janeiro de 2011 @ 14:29 Reply

          Sim, por isso fui atrás de mais informações. Conversei com vários integrantes do antigo e do novo MinC e, rapidamente, com a própria ministra. Nenhum discurso na área da cultura é completo, fechado. Os bons costumam dar margem para pensar, acrescentar, debater. Acho que essa questão é muito boa para um debate profundo. Por isso propus a provocação sobre Arte, mãe de todas as culturas. Valeu! Abs, L

  • Carol Medeiros, 4 de janeiro de 2011 @ 9:21 Reply

    Confio na sensibilidade da nova ministra. Espero que ela se atente carinhosamente pelas questões polêmicas como, por exemplo, a reforma, urgente, na lei de direitos autorais.

  • Michelle Ferreira, 5 de janeiro de 2011 @ 14:19 Reply

    Que esta nova gestão possa efetivamente pensar em políticas públicas voltadas ao artista, muitas vezes o próprio produtor que tira dinheiro do bolso e paga para viabilizar os seus projetos e desloque o foco, por meio do novo Plano Nacional de Cultura e de uma política mais sistemática que minimize o "monopólio cultural" que vivemos, no qual as grandes instituições e grupos culturais "sugam" recursos de todos os lados, seja por meio da lei federal de incentivo à cultura, seja por prêmios e outros editais. É um absurdo, por exemplo, que o prêmio Miriam Muniz exclua diversos artistas que não possuem nenhuma fonte de recursos e conceda verba para grupos e instituições que, sinceramente, estão "desperdiçando dinheiro". Melhor nem mencionar nomes…

  • José Teixeira S. Sobrinho, 5 de janeiro de 2011 @ 16:21 Reply

    Penso que o grande gargalo do Minc está entre focar no artista e no produtor, sem esquecer que o primeiro nem sempre tem o “aparato” do segundo. Gostaria que a expressão deslocamento tivesse como foco a burocracia do MinC que esquece ou ignora esta diferença, a qual coloca o artista distante de sua essência – a sensibilidade, num pé de guerra com burocratas preparados para lidar apenas com produtores, especialmente das grandes instituições que se beneficiam da Lei de Incentivo e movimentam elevadas somas de recursos.

    Zé Teixeira: Sou músico e acumulo a função de empreendedor como muitos deste país, coordenando o Encontro Minas na MPB, indo para a 7ª Edição.

  • Luiz Carlos Garrocho, 8 de janeiro de 2011 @ 21:37 Reply

    Dar ou não crédito? Acho que a questão não passa por aí… Concordo com Skarnio, quando diz de sua preocupação com a mudança do foco: das redes para as centralidades. Acho que este é o x da questão.
    As conversas de bastidores, o que elas dizem? Para não nos preocuparmos? E o que continua em foco não é a valorização do que poderia ter sido "esquecido" (o artista, a criação). Questionamos justamente tais categorias fechadas, quando a produção cultural e artística contemporânea nos leva na direção das redes e fora dos corporativismos (das centralidades). Mas, aqui, há uma disputa territorial. E a transição revela traços dessa guerra, que é a cultura.
    O que temos, são aspectos do discurso da Ministra. Torcermos por ela. Mas não podemos deixar de analisar o que ela diz. E o que diz é uma prática: um discurso também forma cultura política.

  • mauro sergio, 14 de janeiro de 2011 @ 16:54 Reply

    Se realmente temos um governo conectado com o desenvolvimento de uma nação portanto, está na hora de EDUCAÇÃO e CULTURA terem o lugar que merece.

  • JImmy Avila, 16 de janeiro de 2011 @ 21:06 Reply

    A ministra se mostra muito acertiva!

    Ja esta na hora do MINC e o cultura viva olhar para a CRIAÇAO artistica e a cultura em sua acepçao ESTETICA artistica.
    Nao da maos para fazer do MINC plataforma de programas sociais de carater panfletario da ideologia petista.

    Falo com conhecimento de causa, pois fui de mais de um ponto de cultura e sou CRIADOR a algum tempinho.

    Jimmy avila
    Critico e Ensaista
    Produtor executivo/roteirista ” Nucleo Expressoes”

  • Carlos Henrique Machado, 17 de janeiro de 2011 @ 21:23 Reply

    “É tempo de olhar para quem está criando”
    Trocando em miudos ela disse:Fazer o oposto o avesso de todos esses anos de gastos inteminaveis e inferteis que foram regidos pelos batutas da Lei Rouanet.

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