Vanessa Ferrari é formada em jornalismo e foi editora da Companhia das Letras desde 2009 até o ano passado. Mediadora do Clube de Leitura da Penitenciária Feminina de Sant’Anna, ela estará no Cultura e Mercado no dia 5 de março, para a primeira aula do curso Mercado Editorial, que coordena e já está em sua terceira edição.

Foto: Hernán PiñeraAlém dela, três profissionais da Companhia dividem seus conhecimentos com os alunos: Alceu Nunes, diretor de arte; Marina Pastore, do departamento digital; e Rita Mattar, do departamento de vendas de direitos estrangeiros.

Em entrevista, Vanessa conta por quais razões decidiu sair da editora, quais atividades tem feito e o que o público pode esperar do curso.

Cultura e Mercado – Você saiu da Companhia das Letras depois de alguns anos de atuação lá. O que te levou a tomar essa decisão?
Vanessa Ferrari – Foi uma decisão relacionada às mudanças de mercado e ao meu desejo de expandir os trabalhos paralelos que venho fazendo há alguns anos.
Eu sou uma leitora e uma editora de livros literários, o que não quer dizer que rachaço os livros comerciais, ao contrário, não faço coro àqueles que entendem que o bom leitor só navega em altas esferas, apenas entendi que é aí que mora o meu prazer na literatura. Não vejo também essa ampliação do público leitor como algo ruim. O argumento pessimista compara a lista de mais vendidos dos anos 1980 com a de hoje, só que há 30 anos os leitores representavam uma parcela muito pequena da sociedade e facilmente alçavam a best-seller um livro do Calvino ou algum outro cânone. Hoje temos mais leitores e essa constação por si só é muito boa e, se torcemos o nariz pelo tipo de livro que está sendo vendido, não vemos que a literatura finalmente está saindo do panteão sagrado dos grandes nomes para ganhar as ruas que era, afinal, o que vínhamos desejando há tempos. Mas para sermos um país de leitores precisamos, antes de mais nada, ter paciência, porque é impossível uma legião de não leitores serem catapultados direto para a alta literatura. Tudo isso para dizer que eu tinha que tomar uma decisão que refletisse o meu papel nesse cenário a médio e longo prazo, e entendi que a minha contribuição pode ser mais efetiva promovendo a literatura através de curadorias de festivais, clubes de leitura, trabalhando com políticas públicas e dando aulas de percepção de linguagem, que é algo que me dá muito prazer. Há muito trabalho pela frente, temos o país inteiro para desejando ser inserido nesse novo cenário.

CeM – O que tem feito e o que pretende fazer daqui pra frente?
VF – Eu continuo como editora-colaboradora na Companhia das Letras. Os autores que levei para lá continuam comigo. Também vou coordenar os clubes de leitura nas penitenciárias, um projeto subsidiado pela editora, que eu criei e que está ajudando a repensar a lógica ineficiente e onerosa do aprisionamento para resolver os problemas de segurança nacional. Para o segundo semestre vou ampliar o curso de percepção de linguagem para escritores no Espaço Cult e devo fechar uma curadoria para um festival literário em breve.

CeM – Como você avalia o mercado editorial hoje, tendo em vista os recentes acontecimentos de empresas maiores (fechamento da Cosac, encerramento da loja da Companhia no Conjunto Nacional) e iniciativas independentes cada vez com mais destaque?
VF – Uma parte dessa pergunta já foi respondida acima. No mundo ideal, as editoras só publicariam livros de qualidade, com projeto gráfico impecável. A questão é como equilibrar as contas, uma vez que bons livros vendem menos que os de consumo rápido. Embora o produto seja muito mais charmoso e atraente, é uma empresa como outra qualquer, precisa de saúde financeira para ter vida longa. O fechamento da Cosac é uma notícia triste especialmente para leitores porque a editora unia beleza gráfica e autores excelentes mas, para isso, eles dependiam do aporte de um mecenas. Não dá para imaginar que a situação se sustentasse por muito mais tempo. As editoras independentes são uma saída possível e muito bem-vinda nesse novo cenário. Baixo custo, editores buscando autores fora da cena literária e, mais importante, elas entenderam que juntas têm uma força enorme.

CeM – O que os alunos do curso Mercado Editorial no Cultura e Mercado podem esperar das aulas?
VF – As aulas foram pensadas para que o aluno tenha um panorama de como funciona o mercado editorial e ser mais assertivo na hora de tentar publicar o seu livro. Primeiro o olhar do editor sobre os originais, qual a lógico e os critérios envolvidos na seleção. Depois uma aula sobre o livro como objeto, o projeto gráfico, a importância de uma boa capa e discussão de casos em que as escolhas foram bem-sucedidas e outras nem tanto. É importante que o autor saiba como funciona a questão dos direitos autorais, qual a função do agente literário e como opera o mercado estrangeiro. Por último, o livro eletrônico, uma plataforma que não deve ser demonizada mas pensada como mais uma forma de adquirir conteúdo e uma possibilidade real de ter o seu livro publicado.

*Clique aqui para ver o programa do curso Mercado Editorial e se inscrever


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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