Foto: Melinka
Na gestão Lula, o Ministério da Cultura só intensificou a tradicional política de balcão, que prometeu acabar. O novo ministro cede aos interesses dos grandes e investe numa nova clientela, representantes das populações mais pobres, que nunca tiveram acesso ao financiamento cultural. Enquanto isso, a classe média da cultura definha e agoniza.

A valorização dos saberes e fazeres do Brasil profundo é indispensável para qualquer projeto de desenvolvimento. Incluir essa nova clientela ao balcão do MinC é, sem dúvida, algo que devemos comemorar. O que não concordo é a maneira com que o governo faz isso. Os benefícios não são unversalizados, como no bolsa-família, que considero uma política de emergência e importantíssima para o país. Apenas uma ínfima parcela dos promotores de cultura popular tem acesso aos benefícios.

O governo privilegia aqueles grupos mais preparados para enfrentar a burocracia estatal, já que não há nenhuma novidade na relação entre Estado e sociedade civil. Ou acaba os punindo, por não se adequarem à burocracia, como é o caso dos inúmeros pontos de cultura que sofrem com os já conhecidos problemas de gestão do MinC.

Embora os editais pareçam mais democráticos, eles apenas disfarçam os critérios de escolha de projetos, pouco transparentes, com o poder decisório nas mãos da esfera governamental. Uma sofisticação do velho clientelismo do Estado brasileiro.

O governo não tem ideia de como ativar economicamente os grupos populares por ele atendidos. Por enquanto, o interesse é empurrar com a barriga, deixar a solução para a próxima gestão. Ou correr o risco de ver tudo se perder nas mãos da oposição.

Fiz uma conta de padeiro, somando todos os prêmios, pessoas e organizações beneficiadas com os editais voltados às populações menos privilegiadas, como pontos de cultura e editais da secretaria da identidade e o Mais Cultura. Nos 7 anos de gestão do governo Lula, essa clientela não chega a 5 mil benefícios. No mesmo período o mecenato (modalidade da Lei Rouanet que envolve o investimento privado) atendeu 10 vezes mais projetos.

Os dados não são precisos, eu sei. Mas aí está o problema. Não temos dados precisos. Eles são manipulados de maneira vergonhosa pelo Ministério da Cultura. Na coletiva de imprensa para anunciar o projeto do Procultura, que não está disponível para os cidadãos, apenas para o José Sarney, o ministro nos disse que 95% do dinheiro investido pelas empresas em cultura é de origem pública e apenas 5% é privado. Acredito que uma pesquisa séria apontaria outra realidade.

Se levarmos em conta o investimento de todos os artistas em suas carreiras, grupos e companhias, o financiamento de empresas de mídia e entretenimento, os patrocínios, todos esses dados não levantados extrapolariam e muito o ínfimo e vergonhoso investimento estatal na área cultural.

O Ministério também não sabe dizer quantas empresas passaram a investir em cultura de forma estratégica, ampliando investimentos e colocando dinheiro do bolso para ações culturais ou promocionais que envolvam cultura. Quero lembrar que muitos artistas mantém pesquisas e projetos artísticos com o dinheiro provindo do mercado. Posso citar inúmeros exemplos disso.

Ou seja, desconhece os reais efeitos, positivos e negativos, do mecenato para o Brasil. Temos muitos artistas descontentes com os rumos do mecenato e com as dificuldades que os vícios do mercado gerou para os artistas. Eu sou um crítico histórico dos efeitos perversos da Lei Rouanet, mas não posso deixar de avaliar os reais impactos desse instrumento para a sociedade brasileira.

Utilizar as críticas para eliminar a única forma por enquanto existente para financiar o produtor médio de cultura no Brasil é um ato insano, que atenta contra os direitos culturais adquiridos pela sociedade brasileira, que devem ser ampliados. Quero lembrar que 65% dos projetos financiados pelo mecenato são de até R$ 150 mil.

Depois da derrocada do projeto da Ancinav, o Ministéiro só tem ampliado os benefícios das majors, empresas internacionais de entretenimento, que ampliam sua presença do mercado, antes restrita apenas à distribuição e exibição, para a co-produção com dinheiro público. Enquanto pretende eliminar os direitos da classe média, o Ministério concede mais e mais benefícios para o topo da pirâmide.

Mas o que tem de errado com a classe média? Ela é menos homogênea, mais difícil de ser cooptada. Ela grita, incomoda, combate, reclama, conscientiza e garante a liberdade de expressão necessária para a consolidação do Estado Democrático de Direito. E faz a vida de gestores populistas mais difícil.

Embora aponte para os privilegiados, ou para a elite cultural do país, o MinC com seu Procultura atinge em cheio a classe média.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

39Comentários

  • Carlos Henrique Machado, 9 de janeiro de 2010 @ 12:03 Reply

    “Mas o que tem de errado com a classe média? Ela é menos homogênea, mais difícil de ser cooptada”.
    siceramente Leonardo acho que não.
    A classe media foi a principal vitima do mercado, sobretudo a juventude media, que mal tinha entrado no mercado de trabalho e já estava la o conceito homogenizador da cultura “TEEN” para socar bugingangas modernozas na gente.
    Sou um tipico cidadão medio, e sei quanto me custou ter que passar por esta cabeça de agulha imposta pelas modas do mercado direcionado a classe media.
    Ainda engolimos o mito criado pelo mercado de que “classes sociais” definem qualidade artistica,e isso mostra o grau de pertubação que esta pedagogia de dominação nos socou.

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 9 de janeiro de 2010 @ 18:58 Reply

    Leonardo, no dia em que a classe média for autora de uma revisão global, ela seguramente verá indícios de uma classe média póstuma que era romanceada como exemplar para as classes dominantes, pois sua classificação ficou ali nos gráficos de consumo, e não no cerne do pensamento crítico ou, ao menos, temperado. O melancólico texto saído do mediano global tem a mesma receita de um big-mec. Seguramente foi a classe média que mais levou ao pé da letra a TEORIA DO MEDALHÃO de Machado de Assis, principalmente na participação intelctual que alertava: não pense o que já foi pensado, empacotado… E jamais ultrapasse os limites da vulgaridade.

    somos nós, os medianos, a edição mais flagrante de “AS VÍTIMAS-ALGOZES”.

  • bernadette, 10 de janeiro de 2010 @ 8:23 Reply

    que belo artigo: limpo, claro e super bem posicionado. Alem de tudo, é corajoso, pois esse assunto, em geral, é tratado com palavraedo cheio de suterfúgios e dedos. Parabéns, Leonardo.

  • Adriana Donato, 10 de janeiro de 2010 @ 8:56 Reply

    Sou artista plástica, formada em Artes Visuais e não ganho dinheiro fazendo arte, como todos dizem por aí, fazer arte não é trabalho nem mesmo profissão.
    E agora porque sou da classe média estou perdendo o direito de receber incentivo do governo, ou seja, uma das poucas chances de ser remunerada pelo que faço. Também já pensei nisso, o que há de errado com a Classe média, não temos direito de fazer arte? Ou temos que ter outra profissão para sustentar nossa arte?
    Desta forma, torna-se sem graça ser artista. Terei que ser bancária ou outra coisa para me sustentar e paralelamente fazer arte gratuita levando para a sociedade sem receber nada em troca por isso?

  • Luiz Costa Lima, 10 de janeiro de 2010 @ 10:50 Reply

    Caro senhor

    Entendendo-se que são membros da classe média os produtores de formas de cultura que não entram no chamado “show business”, i.e., livros não de vulgarização ou de auto-ajuda, discos que não sejam ou de artistas consagrados ou de obras já mil vezes gravadas, filmes que não se destinem a priori ao grande público, etc, sem dúvida o autor do artigo está correto: a classe média é a massacrada pelo novo clientelismo. O mais incrível dessa política é que ela se desenvolve quando se declara que o país entrou, internacionalmente, em um patamar de mais alto reconhecimento. Como esse reconhecimento pode se consolidar sem que o Brasil se faça representar em simpósios dedicados a tais produtos não massificados? Minha última formulação glosa comentário recebido de uma “star” do cenário cultural norte-americano. Perguntava ele: como se explica que o Brasil não esteja integrado no grande fluxo cultural europeu-norte-americano, quando os que conhecem alguns de seus produtores (intelectuais) sabem de sua qualidade?
    Atenciosamente
    Luiz Costa Lima

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 10 de janeiro de 2010 @ 16:52 Reply

    Leonardo
    Se a cucaraccia elite branca é um cacoete cultural das elites brancas ocidentais e a classe media é a cópia pirata desse pensamento “espantalho de taier”, qual a saída que não o inevitável fortalecimento da única e infinitamente maior parcela da sociedade que dá verdadeiramente gosto no prato cultural deste país?

    A arte brasileira historicamente só foi respeitada dentro e fora do país quando, em seu valor agregado, estava o selo das classes menos favorecidas economicamente e só economicamente, porque elas não consomem e, consequentemente não produzem o modelo cover que as tais classes dominante e média consomem produzem.

    As classes deserdadas economicamente são bem mais ricamente criativas. Toda essa bobagem de dizer que a população pobre do Brasil é massa de manobra é um clichê das classes que nascem e morrem envolvidas pelo arcabouço prisional.

    Esta é a hora de largar o corrimão de pinho de riga que aqui chegou com os colonizadores para subir as escadarias globais que os méritos artísticos extraídos da nossa riqueza natural vindos das culturas da sociedade que em sua base nos conferiu uma robusta soberania.

    A classe média, Leonardo, porque não existe verdadeiramente uma classe artística média, uma invenção do mercado, e sim arte brasileira com impressionante capacidade de fundir épocas e estéticas de nuance racial fantástica contida no seio dos nossos sentimentos que pode ser ou não explorada por nós. Os brasileiros não preconceituosos sabem beber desse néctar. O cidadão médio que ainda está no woodstock de abadá já está migrando depois de uma chuveirada e um café forte para um Brasil mais perto de sua memória afetiva. A Lapa e São Luiz do Paraitinga nos dão um claro de retorno ao futuro.

  • Hilton Assunção, 11 de janeiro de 2010 @ 17:44 Reply

    Pensar em financiamento cultural que privilegia esta ou aquela classe, a meu ver, é uma postura preconceituosa. Creio que a arte (música, dança, artes dramáticas, artes plásticas, artesanato etc.) devem ser visualizadas e financiadas pela ótica da qualidade, independentemente da região, bairro, etnia ou grau de escolaridade do artista. Talvez a “classe média” não esteja produzindo nada de fato culturalmente interessante ou talvez achem que o que não for produzido em seu seio social médio tenha menos valor, o que é uma postura perigosamente arrogante e egoísta. O empresariado brasileiro está longe de abraçar a idéia da filantropia e mecenato espontâneos. Sobra para as empresas estatais, algumas de capital misto, a tarefa nada fácil de fomentar as várias vertentes culturais em um país de imensa dimensão territorial e enorme diversidade cultural.

  • Marco ULgheri, 11 de janeiro de 2010 @ 22:26 Reply

    Arte não é para o povo. O povo é ignorante demais para isto. Os governos fazem com que o povo continue ignorante, perseguindo assim seus interesse de controle e coercição. A arte nunca será para o povo neste mundo, pois o mundo sempre foi, e sempre será assim.
    Desafio qualquer um a confuttar esta leitura.

  • Marcelo Kraiser, 12 de janeiro de 2010 @ 5:59 Reply

    Um artigo muito lúcido e necessário.Apenas um comentário:bater mais na assim chamada ‘classe média’ (definam o que é isso, por favor) é acatar o populismo perverso que muito recentemente alçou o mencionado José Sarney à categoria de cidadão acima da lei,acobertando uma das maiores falcatruas da história deste país de maneira a tudo ficar como exatamente sempre foi.Em outras palavras, insistir em acoplar a produção artística e cultural brasileira a uma divisão de classes é, através de um marxismo aguado, criar uma cortina de fumaça que mascara a indulgência e incompetência do estado para gerir políticas culturais no presente momento.Não existe e nunca existiu arte ou cultura ( não confundir as duas, por favor, mas isso é outro assunto) cuja qualidade dependa de classe A,B,C,D,E.Associar qualidade artística a classe, etnia ou raça (ainda se fala nisso!) é uma postura preconceituosa (Hilton Assunção)e no mínimo desconhecedora da história.E é preciso não esquecer também que o mecenato via leis de incentivo significa ‘renúncia fiscal’, sem desembolso das empresas.

  • augusto januario, 12 de janeiro de 2010 @ 8:19 Reply

    Olá amigos, muito interessante a discursão e o discurso, quem na
    integra produz cultura nesse Páis é a classe disprivilegiada de tudo,
    Enquanto a classe média usurpa da classe baixa vendendo seu produto (funciona como atravessador) no mercado, a classe alta só usurpa desse mercado, recebe o produto cooptaddo pela classe média e não chega sequer conhecer os verdadeiros produtores.
    Esses são vitimas? Nào, esses são os verdadeiros vilões.
    Não sei em que classe posso me colocar mas, convivo com as duas inferiores e por isso posso observar o comportamento dos dois,
    veja o nosso carnaval no que se transformou, o samba de roda no que se transformou, nossa capoeira no que se transformou.
    Pode até chamar de evolução se quiser mas, tudo isso é cooptação da cultura do pobre atendendo aos interesse dos mais abastados.
    Augusto Januário – Biologo e animador cultural na classe baixa.

  • Naiara, 12 de janeiro de 2010 @ 9:06 Reply

    Concordo com Carlos Henrique Machado de Freitas. Cheguei assustar quando li o primeiro parágrafo do texto (Brant: “O novo ministro cede aos interesses dos grandes e investe numa nova clientela, representantes das populações mais pobres, que nunca tiveram acesso ao financiamento cultural. Enquanto isso, a classe média da cultura definha e agoniza”)… depois até compreendi a argumentação.
    Não tenho pena da classe média… ainda que concorde que uma política governamental deva atender a toda população.

  • silveira santos, 12 de janeiro de 2010 @ 10:57 Reply

    Como nasce um artista, plataforma inicial de qualquer teoria sobre arte?
    Nasce de uma aptidão extra, que confere uma habilidade incomum, como tocar excepcionalmente um instrumento ou possuir uma grande noção de rítmo, no caso da música, ou ainda ser capaz de construir idéias melódicas originais de grande impacto em quem escuta, quando a grande maioria é desafinada e incapaz de batucar de forma regular.
    Nasce de uma noção espacial extraordinária para desenhar ou pintar quando a grande maioria sequer é capaz de traçar uma linha reta, no caso da pintura.
    Nasce da capacidade em entender o mundo à sua volta e se expressar de forma incrível através das palavras, no caso de um grande escritor, quando muitos sequer sabem formular uma frase.
    Que o digam gênios como Pixinguinha, Machado de Assis, Portinari, só pra ficar em terras brasileiras.
    Esses e outros, das mais diversas esferas artísticas, nascem sem controle de procedência (louvado seja Deus),no morro, no asfalto, na pobreza, na classe média, entre ricos e privilegiados, e são, no caso da arte, antenas da raça, aglutinadores do que o coletivo sugere, ensaia e não tem como aprimorar, pela absoluta falta de aptidão em refinar ou prosseguir com a excelência, por qualquer ângulo que se analise.
    Por outro lado, conheço pessoas inteligentíssimas, bem sucedidas em medicina, engenharia e outras carreiras, que tentaram inutilmente aprender música, seja em teoria ou em prática.
    Por outro lado ainda, sabemos de crianças capazes de executar Mozart ao piano, sem qualquer planejamento de seus pais ou de sua condição financeira. O que faz diferença é o apoio que recebem para prosseguirem.
    Esses seres raros nascem com um impulso primordial e irresistível, abrindo mão (em sua grande maioria) de carreiras mais sólidas (porque, queiram ou não, o artista vive em ambiente volátil), arriscando-se para sempre à glória e ao fracasso.
    Nascem em qualquer lugar, mas tem de migram para onde se aglomeram grandes platéias, em busca dos meios de produção que os livrem da chatice dessa busca e lhes permitam fazer o que gostam: arte.
    O grande sonho de qualquer artista não é a burocracia. É se livrar dela para trabalhar em paz.
    Por isso, arte da melhor qualidade pode nascer em qualquer lugar, mas só pode dar frutos onde a reconheçam.
    Um grande pintor, como Portinari, por exemplo, jamais teria sido reconhecido se ficasse morando e vivendo em Brodowski.
    Poderia citar uma montanha de casos semelhantes.
    Sendo assim, não adianta jogar dinheiro em projetos para tirar “leite de pedra”, quando artistas brotam por conta própria, sem prévia consulta, sem preenchimento de formulários ou da vontade (ou da boa vontade) de qualquer tipo de iniciativa governamental.
    Quem quiser apoiar arte, tem que se colocar na posição de dar suporte ao que já existe e parar com a idéia inútil de plantar talentos. Arte coletiva é só isso: coletiva. Só pode tornar-se fantástica pela mão do indivíduo que a potencializa em alturas impossíveis para a grande maioria dos mortais. Por isso acontece a raridade, outro sinônimo de artista genial.
    Seria muito melhor aparelhar casas de shows que abrigassem músicos e fornecessem estrutura pública para suas apresentações, barateando (sem tornar totalmente gratuito) o acesso da população aos shows; criar galerias públicas de exposição para pintores e escultores; possibilitar a impressão de livros para escritores iniciantes, entre outras muitas ações de infra que facilitassem a produção dessa arte e sua chegada ao público.
    E não adianta forçar a barra para criar grandes projetos fora dos grandes centros.
    Nascem artistas e arte brilhante e original no Brasil todo, mas ela tem que correr para os grandes centros para exercer toda a sua potencialidade.
    Claro que qualquer artista pode optar em ficar em seu rincão, mas não vale depois chorar que ninguém o apoio ou consume.
    Não vale também citar exemplos de projetos miúdos apoiados para permanecerem onde nasceram.
    Não se iludam: o artista não sabe lidar com dinheiro ou coisa que o valha. Sabe ganhar, gastar e viajar na maionese. Nisso resulta sua beleza, seu dom ou sua maldição.
    Não se iludam: o acaso faz brotar o grande artista. O resto é uma questão de dinheiro.
    Façam as contas: peguem o valor total de um projeto e dividam pelo número de cópias do produto gerado ou da platéia atingida. Aí vocês tomarão um susto. Ingressos ou produtos gerados longe de grandes públicos geralmente são caríssimos e – portanto – inacessíveis à população, caso não fossem subsidiados, resultando naquilo que exorcizaram: o consumo etilizado, para poucos, sejam populações pobre ou ricas.
    Aí, fica a alternativa: ou o governo, as leis de incentivo e similares bancam eternamente essa conta ou o produto/resultado migra para grandes centros e torna-se profissional, ou seja, busca público que, em última análise, é o que realmente determina a vida ou a morte do artista e sua arte.

  • Auda Tavares, 12 de janeiro de 2010 @ 12:04 Reply

    As críticas relativas as Leis de Incentivo, são coerentes, mas não podemos desconsiderar que o tratamento dado à produção artística à 20 anos atrás, exigia uma ação do governo, por mais insignificante que fosse; assim surgiram as Leis de incentivo, que começaram a se espalhar pelo Brasil, além da Federal, várias Leis Estaduais e Municipais, inclusive aparecia nas pautas de reivindicações de políticas culturais, assim como as bolsas, entendo que era emergencial.
    Não havia orçamento no Ministério e Secretarias de Cultura para ampliar e investir em Projetos Culturais. A grande questão é a contrapartida que foi dada à empresa, além da isenção fiscal, as empresas também são beneficiadas com o Marketing Cultural. Houve uma campanha da importância de associar o nome da empresa à produção cultural, que deveria ser no sentido do Marketing cultural, ou seja, investimento real da classe empresarial na área cultural, ressaltando que ainda é a forma mais simbólica e representativa de se demonstrar qualquer produto.
    Quanto a questão colocada sobre as classes atendidas, concordo que há um repasse maior através do mecenato e consequentemente benefício a grandes empresas, mas não considero política de balcão os mecanismos de acesso, apesar da burocracia que realmente exige um “Grupo mais preparado para enfrentá-la”, que até onde entendo, não inclui-se na classe com menor poder aquisitivo e menor acesso a informação;
    Por outro lado não podemos escamotear a divisão de classes, inclusive como se chegou historicamente a nomenclatura de “Culturas Populares”. Não foi Marx que criou as classes, ele apenas identificou, ressaltando que tudo que questionamos , refletimos e propomos, inclusive como políticas públicas voltadas para área cultural, é dentro do sistema capitalista, que está dividido em classes. Não consegui entender a que classe média você se refere Leonardo.

  • Gisele Costa, 12 de janeiro de 2010 @ 13:11 Reply

    E é a velha “casa grande e senzala”… Continuamos quase na mesma. A sensação que tenho é essa também Brant, onde estamos, nós a classe média da cultura? É como a Adriana falou, temos que trabalhar fora da área para podermos nos manter financeiramente e nas horas vagas militamos pela cultura. O que fazer? Onde alocarmo-nos ??

  • Márcio Cubiak, 12 de janeiro de 2010 @ 17:24 Reply

    Oi Leonardo. Tudo bom?

    Eu gostei dessa sua provocação.

    Então, a classe média aqui de minha cidade, em Blumenau/SC, em sua maioria prefere gastar seu dinheiro com prestações de um automóvel e da TV de plasma do que ‘consumir’ cultura. E quando consomem, vão assistir a espetáculos “top 5”, a peça ‘mais isso, o mais aquilo’. Esses produtores por detrás desses trabalhos não estão interessados em cultura. Pode parecer generalização, mas a fotografia seria essa. Daria pra fazer muitas interpretações com essa imagem. Mas desconfio desses caras, assim como acho que a classe média não se interessa por nada que não seja efêmero e vazio. O que há de mais vivo e mais colorido são os rincões. A cultura do asfalto, das grandes cidades são cópias de cópias de cópias. É uma pena que essas cópias não sejam no estilo ‘copileft’. Elas são reproduções sem criatividade.

    Quanto aos números que você compara, Pontos de Cultura e Mais Cultura X Mecenato, não são possíveis de comparação, basta ver o valor total investido num e o valor de renúncia fiscal de outro. A diferença é de proporções gigantescas.

    Um abraço!
    Márcio Cubiak

  • Luciano, 12 de janeiro de 2010 @ 17:52 Reply

    Parabens pelo Artigo!

    Quando teremos o real direito a cultura do país????

    È vergonhoso LULA, porque vocês não ouvem os artistas, os verdadeiros que estão espalhados pelo Brasil todo!

    Todos artistas que fazem uma criação digna, não comercial e de dentro da sua alma, ARTE! Se é que alguem no meio do Minc e empresas lembram disso ainda!

    Todos sabem quais são os problemas, e porque o LULA e MInc não ouvem? Não analisam e realmente façam da voz dos artistas que não querem ganhar projetos de1, 2 milhôes, e sim um valor muito menor para uma ARTE muito maior.

    Nós sabemos que 1 cache do gil, faz 10 grandes shows mil vezes mais nobres e cocneituais, com maior impacto de mudanças e educaçao social, porque cantarolar aquela velha cançao ediota todos já sabem, des da epoca da ditadura! Ditadura que volta pelos menos que diziam se contra a mesma na epoca!!!

    Aqui Leonardo fez um texo maravilhoso, CADA VC LULA para ler, cade os dirigentes do MINC, pq fecham os olhos ao invés de parabenizar tbém uma visaão e texto como esse, que sem sombra de duvidas é totalmente favoravel a democracia e bem do país!!!!

  • gil lopes, 12 de janeiro de 2010 @ 19:42 Reply

    O problema é que a classe média não está entendendo nada. O ministério da cultura brasileiro é o máximo mas evidentemente que pode melhorar, desde que a sociedade também melhore. E comece entendendo o que está se passando. A guerra cultural já começou e a bomba atômica é a nova plataforma digital. O Brasil ainda nem se deu conta e a Música Brasileira mingua, acabou o mercado para a música brasileira e ninguém ainda se deu conta. Caiu uma bomba atômica e ninguém viu…o produto cultural importado avança avassaladoramente e nós…não temos resposta a isso. Estamos pelo creativo comum, estamos pelas tabelas. Bono Vox acaba de se manifestar, mas nem isso acorda o gigante. Nossa questão cultural é assimilar urgentemente a nova plataforma e discutirmos quando vamos começar a querer entrar no jogo novamente, caso contrário só a resistência se manterá e um mar importado nos sufocará.
    O ministério da cultura não é nada, pior é a política anti cultural, a que nos mantém estatelados diante do novo, da nova cultura.

  • Leonardo Brant, 13 de janeiro de 2010 @ 10:17 Reply

    Temos um debate dos mais qualificados aqui. Fico feliz por começar 2010 dessa maneira. Estamos entrando agora em ano de eleições e a qualificação do debate é fundamental para sabermos lutar por avanços nas políticas culturais.

    O debate das políticas culturais entrou, a partir da gestão de Juca Ferreira, numa disputa regional e de classes. É uma pena, pois o setor cultural já desagregado o bastante, não precisava do impulso governamental.

    Quero lembrar que a formação do Juca é esta, um sociólogo marxista. Percebo em seu discurso, sobretudo os proferidos nas regiões mais pobres do Brasil, os cacoetes de um messias pós-moderno, que luta quixotescamente pelos menos favorecidos. Faço constantemente a analogia ao Collor, pois os subterfúgios e cacoetes políticos são muito similares.

    A equação é muito parecida com a de tempos menos felizes de nossa história. Os mais ricos continuam, cada vez mais, saqueando o Erário, sustentado pelos impostos pagos pelas classes inferiores, sobretudo a classe média assalariada. Os mais pobres continuam vivendo de esperança e se ocupam de combater o inimigo imaginário do Juca.

    A tal elite que ele evoca é apenas uma classe média fodida, sem pai nem mãe. Lá de longe, o povo ludibriado cerca o moinho de vento imaginário, em roda. E abre fogo. Como o moinho não existe, provoca-se um assassinato coletivo, pois estão apenas mirando a si próprios. Abs, LB

  • gil lopes, 13 de janeiro de 2010 @ 13:11 Reply

    Atacar o governo não quer dizer mais nada, antes é preciso saber onde está o ó…do borogodó…mas afinal qual o problema? Não é o ministério que não define, ninguém define o problema.
    A vanguarda da cultura nacional tem sido a música brasileira, alguma dúvida? Desde os fins dos anos 50 até recentemente, nenhum outro setor cultural esteve mais presente e avançou tanto como a Música Popular Brasileira. E o que vemos? Um estrangulamento, o fim do mercado de música no Brasil, e o fim de sua difusão internacional. De 600 títulos lançados há dez anos atrás, fechamos 2009 com apenas 60 lançamentos…o que é isso? Pra onde tem ido a música brasileira? Entregue aos padres e aos guetos populares, a música do país de Tom Jobim, míngua. Perdemos a capacidade de reprodução, de difusão e de comercialização. Como? Mudou a plataforma. O avanço tecnológico serve pra que? A quem serve o avanço? O que pode ser maior que o super lucro senão o poder? E como nos relacionamos com tudo isso? Cravando a unha no Ministro? Francamente…o Ministro merece uma medalha isso sim. Deixa o Ministro er as politiquinhas…como vamos enfrentar a Bomba Atômica, como vamos responder a isso? Como está a digitalização da música brasileira, única via de circulação da música? Ahhh…os shows…vamos todos para as esquinas jogar moedinhas para nossos artistas? é essa a nossa saída? e no meio digital? como vamos fazer para minimamente retomar a mais prosaica feira, como vamos monetizar a economia da nossa música? nào temos propostas?
    Culpar o governo está por fora, ser oposição já era, isso foi antigamente, a questão agora é como vamos entender o que se passa e quais as respostas a isso. Enquanto isso: um mar de produtos importados..Bioncê na terra de Bethânia…é o esculhacho.

  • joao roquer, 13 de janeiro de 2010 @ 16:07 Reply

    Ora Caro Leonardo, se o governo investe numa nova clientela( e pelo que entendi essa nova clientela é o que voce chama de representante das populações mais pobres), e, ainda, que esses pobres são o que voce chama de “os que nunca tiveram acesso ao financiamento cultural”, o que tem de errado nisso?

  • Leonardo Brant, 13 de janeiro de 2010 @ 17:20 Reply

    Não há nada de errado em dar dinheiro aos pobres. É isso que todos queremos que o governo faça. O problema é dar esmola para meia dúzia e prometer para todos depois da eleição. Parece aquela história do candidato que rasga a nota de R$ 10 ao meio e entrega metade antes da eleição. A outra metade, só se for eleito. Abs, LB

  • Lucia W.O., 13 de janeiro de 2010 @ 18:02 Reply

    Adorei a provocação do artigo. E parabenizo a opinião do Silveira Santos. Há muito tempo não via tanta clareza,equilibrio, justiça e acima de tudo SANIDADE em uma opnião sobre um assunto inesgotável como esse. Silvério, se você for se candidatar ( e prometer com a mão sobre a Bíblia,Alcorão, Torá, Mémórias Póstumas de Brás Cubas) que vai continuar assim: eu voto em você !

    Um grande abraço a você também Leoonardo.
    Não fique com ciúmes, sou tua fã de carteirinha.
    Que tal ter o Silveira em uma chapa eleitoral ?

    Até o próximo artigo,
    Lucia W.:)

  • gil lopes, 13 de janeiro de 2010 @ 22:50 Reply

    Vamos falar de classe média, seja lá o que isso for…o que é a classe média? Podemos dizer que a classe média esteve a frente no que chamamos de Bossa Nova? no Tropicalismo? No Rock Brasil? Esses movimentos foram expressões lideradas pela classe média? Pela burguesia brasileira? O sonho modernista nacional tem o som da Bossa Nova? O desbunde foi tropicalista? Que país é esse e as Diretas Já soaram Rock Brasil? e depois…Collor e os sertanejos, a explosão do axé pagode sertanejo nos anos 90. A música foi para o supermercado e de lá não saiu mais. O fenômeno musical do padre…ápice da nova música brasileira de massas…e onde estava a classe média? O que fazia a classe média? Tira o pé do chão!!! Brasil!Zil!Zil! é o refrão! Tudo poeira nos olhos, poeira, poeira…e a classe média onde estava? Nos seus computadores? Baixando tudo de graça…as lojas fecharam todas…onde encontrar a música? No supermercado, ou de graça no computador…ah…tem o pirata nas esquinas…vendendo pra quem? A classe média compra aonde sua música? Não compra, rouba. Baixa de graça…os compositores não compõem mais, pra que? não ganham um centavo com isso…e claro, também tem que sustentar suas vidas…o talento? vai ser para outra coisa, não há mercado, não há talento, não há mais nada…e a classe média? Está dopada, anestesiada com seus computadores…e a cultura? A Cultura e a Civilização, elas que se danem…ou não.

  • candida botelho, 14 de janeiro de 2010 @ 10:30 Reply

    Prezados, Seria um debate importante não fossem os revanchismos politicos e ideológicos. Está mais do que provado que não é a direita ou a esquerda,que já nem existem mais, que tem a verdade capital.
    A única forma de melhorarmos é, alem de conversar e debater, nos juntarmos na busca de soluções e não criar revanchismos. Esses discursos irados de alguns que não trazem propostas concretas é inútil e desgasta. Uma energia que, se colocada na boa direção, estaria dando frutos…ao invés não promove nada.

    Creio que o Brant tem razão em levantar essas questões.
    Se não vejamos … esperamos o dia em que todas as pessoas sejam idênticas,iguais perante a lei, perante o destino…etc…..que façam tudo igual, …Isso seria no minimo sem graça , que maçante…portanto não há igualdade eterna possível, e Salvem as diferenças.
    Mas é a educação que pode equilibrar essas diferenças e trazer resultados a essa diferença. Tem que ser condição si ne qua non.

    Quando o Brant quis falar de classe média entendo que é a classe que tem formação, competência e pode gerenciar um projeto. Ela não tem dinheiro. Precisa trabalhar com dinheiro de financiamento, ( no caso se as atividades culturais pequenas ou médias dessem resultado financeiro para pagar as contas…) ou trabalhar com financiamento do governo para viabilizar tantos projetos interessantes. Mas tambem não conseguiria pagar. Vai daí a verba ter que ser a fundo perdido(editais) ou através de incentivos fiscais. Isso não exclui as classes menos aquinhoadas….nem na arte, (pois que são maravilhosos e temos inumeros exemplos) niguem está duvidando disso, e nem na execução.
    São as diferenças que atraem os turistas.
    São as raizes que reunem o povo em torno de sua gente, de sua cidade, de seus eventos.

    Mas eu creio que a tirania dos países de terceiro mundo, que não consideram o ser humano como prioridade e não se iludam, o Brasil ainda está lá, e as vezes em quarto ou quinto…. é grave. Tanto na exigência de enorme documentação, na forma como jogam fora os projetos apresentados como se nada custassem a quem os faz, os inumeros reconhecimentos de firmas, a obrigatoriedade de se abrir contas em banco do governo….tudo isso é demonstração do pouco caso que sentem com a população e do muito casos que fazem para emprestar um dinheirinho ….

    Educação quer dizer, procedimentos, organização do pensamento, pensar como um exercicio para as menores coisas,e saber agir sem ser sempre na agressão. A civilidade passa por um estágio de saber conversar….e trocar idéias sobre os mesmos fatos, de pontos de vista diferentes….Não é na força e nem no grito…

    Então vamos conversar. Dinheiro publico não é dinheiro do governo, mas dinherio de todos nós que temos que ser igualmente aquinhoados nas divisão das tarefas e de seus pagamentos.Todos esses funcionários que exigem de nós coisas quase impossíveis, e a forma como o fazem….são nossos funcionários e não deuses. Trabalham para o governo, contratados por eles, com NOSSA verba. Com NOSSOS impostos, e estão muito felizes nos cargos que ocupam …pois tem emprego e nós não temos. Nós estamos disputando a verba como crianças com fome que ao se jogar dinheiro no chão se atiram na terra e lambem o mais depressa que podem para conseguir pegar alguma moeda….
    Mas a classe media por ser organizada , e ter empregos ou trabalhos com suas pequenas empresas, é a que paga mais impostos. Pois os grandes tem várias formas de compensar,….e os pequenos não pagam. Para quem sobra o pagamento das taxas e impostos e etc?

    Por isso esta classe precisa de financiamentos, e ninguem está falando que não deva dar financiamento aos que tem menos dinheiro ….Todos precisam, e cultura é o caldo do conhecimento de uma nação e não apresentação de um show….Por isso Salvem as diferenças. Salvem a criatividade. Salvem o esforço de todos que tentam fazer de sua arte uma forma de expressão e um possivel resultado financeiro, pois afinal precisam comer para sobreviver…..

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 14 de janeiro de 2010 @ 12:24 Reply

    Exatamente, Gil Lopes, a classe média condecorou a estupidez, pois foi justamente ela quem avalizou a importação do modelo de Margareth Thatcher para que FHC entregasse o patrimônio público aos banqueiros internacional com seus testas de ferro no Brasil, os mesmos que são os maiores captadores dessa lei ordinária que é a Rouanet. E agora erguem a esfinge do terceiro setor (GIFE), a matriarca suprema das letras, das artes e da corporatocracia.

    Você perguntou aonde estava a classe média. Ela estava nos shopping ou mesmo levando seus cachorrinhos a Campos do Jordão pra se hospedarem no hotel do Dórea, aquele senhor simpático, de sorriso franco que enccarna o espírito do bufão de gravata amarela. É provável que essa mesma classe média estivesse ouvindo, pior, lendo o Demétrio Magnoli, o alpinista do capitalismo, o mago da caminhada santa rumo à roda da fortuna, via apoio incondicional ao golpe de Honduras e a nova carta de segregação racial que, com certeza leva no prefácio a assinatura de um Boris Cazoi.

    É isso a classe média nesse emanharado de saco de gargalhada. Essa classe de consumidores, a preferida de dez em cada dez empresários de conglomerados, prima pelo autismo, e agora anda por aí em seus piano blues a balangar seu doze anos pirata, com o restante do gelo social que ela ajudou a construir. O caminho de volta é mais doído do que se desvencilhar do anzol. A classe média vai ter que rasgar a sua boca e depois corresr para fazer as sonhadas plásticas.

    É essa sociedade mediana rumo ao olimpo da corporatocracia que está inventando o pesadelo de inércia que nos nos encontramos no meio cultural.

    Mas acredito que a história triunfará e todo esse xadrez armado pelos Midanes e os Nelsinhos Motta da vida, ficarão em algum depósito recuperado à espera da incineração.

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 14 de janeiro de 2010 @ 15:23 Reply

    O problema é que o capitalismo militante não tem limites em seu cinismo histórico. Talento, como pergunta o Gil Lopes, é só para quem tem para capatar recursos públicos e não produzir uma saida para crise que grita a musica, que é geral agora, mas se o MinC privilegiar a qualidade artística, e der apoio direto, aí é stalinismo.

    O negócio é que as pessoas acham que é só fazer gritaria, sequer sabem porque estão gritando contra o governo, ora Juca, ora Lula e por aí vai. Estão perdidos, sabem por quê? O grande mercado do entretenimento está perdendo espaço, musculatura, tanto é que muita gente deu uma cataneada, inclusive pegando dinheiro público e chamando o Lula de grosseiro e ignorante para agradar a elite paulistana que paga R$150,00 para assistir o show do chefe da milícia “vigilante das letras”.

    Essa turma que pega o dinheiro da Lei Rouanet para usar o rit do mercado como playback para o produtor fazer karaokê, não quis saber de construir nada. Ao invés de um circuito baseado na nova realidade, universidades, municípios, em salas de menor porte, o que preferiram? Festivais de fim de semana, de cinema, de música erudita e por aí vai. Porque isso dá mais lucro e muito menos trabalho. cria-se um clipezinho, paga-se um amigo jornalista pra publicar o texto que ele próprio escreveu e recebe um qualquer para, via cooperativismo jogar aquilo nas colunas dos seus amigos que mais a frente vai lhe exigir o troco. Está pronta a receita da cultura protocolar. Tudo junto, um bom prendedor, um envelope pardo e lá vai o pombo numa encomenda registrada ao Ministério da Cultura, esfregando uma mão na outra e mostrando o serviço acabado.

    Portanto, se a sociedade começa a despontar tentando construir seus circuitos com na Lapa, o Cesar Maia junto com os nossos eruditos diplomados e varinha de condão vão erguer na Barra, ao lado da estátua da liberdade, a cidade da música, seguindo a mesma receita de panetone que hoje é uma especialidade do Dem que, da mesma forma, está atolada de CPIs até o pescoço.

    É isso. Essa gente que se fala no escuro, nas caladas subterrâneas, acabam se confraternizando numa prática que vai do golpe pela justiça ou pelas armas para sustentar privilégios e não construir porra nenhuma.

    Há muito venho dizendo que o Ministério da Cultura dá muito ouvido a essa patota. Arranca logo as cabeças da medusa chamada Lei Rouanet e zera a conta e vamos pensar em ampliar, em democratizar projetos que de fato fomentem outras ações, com uma injeção direto na veia de quem está aí anos e anos mantendo um mínimo de coerência com a cultura brasileira.

  • Gisele Costa, 14 de janeiro de 2010 @ 15:47 Reply

    Classe média é também quem estuda de verdade desde pequeno e passa em Universidade pública, forma e vai trabalhar de recepcionista, bancária, publicitária, professora, etc e nas horas vagas vai trabalhar voluntariamente com projetos sociais e culturais, seja para a classe pobre, média ou rica; sem restrições se a questão é desenvolver projetos interessantes. Esta mesma classe média envolvida com tais questões, tenta se profissionalizar na área cultural, pois esta seria uma maneira de compatibilizar o que já muito antes ela exerce informalmente. Quando consegue, corre o grande risco de não poder se manter, pois o mercado é inconstante e as barreiras são muitas. Daí vem um simples da cultura e ameniza a situação. Os editais, ai os editais… ufa, eles existem! E fizeram uma diferença… A classe média da cultura até cresceu então, afinal, ela passou a ser uma realidade. Não era coisa mais de filhos de ricos que voluntariamente iam dispender um pouco do seu tempo com os demais mais desfavorecidos. Era uma classe. É isso? É esta a dúvida? Ai quanta dúvida e discussão, e todos farinha do mesmo saco! Não, não somos NÃO!

  • Naiara, 14 de janeiro de 2010 @ 18:12 Reply

    Realmente muito boa a discussão… mas não adianta a gente enumerar a parcela de responsabilidade da classe média no “desenvolvimento” cultural do país e aplicar um castigo (agora não merecem mais!), pois o investimento nas culturas populares continua engatinhando. Apesar de vários projetos legais para essa área, eu, que moro em bairro periférico, não vejo nenhum incentivo cultural, nem para produção e nem para consumo.
    Acredito que não vale a pena separar a cultura (para elite, para a classe média e para os “pobres”). Bem sabemos que este divisão é muito tênue.

  • Leonardo Brant, 14 de janeiro de 2010 @ 19:08 Reply

    Se engana quem define a classe média de maneira linear: vendida, neoliberal, yuppie. Ou ainda quem a localiza geograficamente: está em SP, no grande eixo. A classe média é isso tudo também, mas não é só isso, como confirma o texto da Gisele. Tem a classe média artista, intelectual, comunista, do terceiro setor, do funcionalismo público, da capital e do interior. A classe média hoje está mais achatada do que nunca.

    Conheço cada vez mais gente que não quer subir o seu padrão de vida, pertencer a outra classe. Justamente essas pessoas estão com dificuldade de sobrevivência, sobretudo os artistas, promotores, animadores culturais. Hoje em dia definir artista, principalmente os que vivem além dos muros das belas-artes, é algo mais difícil.

    Vejo muitos deles viver (felizes, mas) sob o fantasma do declínio social, justamente por suas opções ideológicas, políticas, existenciais. E a incompatibilidade disso tudo com o atrelamento aos sistemas de poder: corporativo ou estatal.

  • gil lopes, 14 de janeiro de 2010 @ 23:16 Reply

    vamos clarear. de minha parte acho que o melhor que se fez veio da classe média. os movimentos que enumerei constituem para mim, o que de relevante se fez na cultura recente no Brasil. Como não pretendo acabar com o capitalismo nem atacar o governo, estou mais interessado em perceber o que se passa e tentar definir a questão afim de adiantar o processo. A parceria ( ou conluio, para alguns) entre a música brasileira e as grandes corporações internacionais que atuam no setor foi responsável por um avanço considerável e uma posição destacada nacional no ambiente musical global. Mas o mundo mudou…e a questão é essa, como respondemos a isso. Aproveitamentos oportunistas para atacar o “Sistema” me parece coisa de antigamente. Interessa saber o que acontece com a nova plataforma em ação, como vamos nos organizar para rapidamente, e já atrasados, nos inserirmos no processo de acumulação de riqueza decorrente da utilização do meio digital na música. E a classe média precisa novamente acordar e tomar o seu papel histórico de vanguarda no processo. É isso!
    Quanto a lei Rouanet eu acho uma beleza que ela exista, um país como Brasil, que quer mais, tem que ter instrumentos para viabilizar a sua produção cultural. Com as correções de caminho necessárias…alo alo, artigo 18 para a literatura!!!lusofonia! atenção com a lusofonia!
    A bomba explodiu e não se dão conta mesmo, não se trata do assunto, a música brasileira está silenciada, sem capacidade de reprodução, divulgação e geração de riqueza…o resto é bla bla bla…oi skindô, oi skindô!
    Digitalizar a música brasileira, monetizar sua circulação. É o que cabe a classe média agora! Chega de divertimentos e embasbaquices com a nova cultura, ação!

  • gil lopes, 14 de janeiro de 2010 @ 23:17 Reply

    vamos clarear. de minha parte acho que o melhor que se fez veio da classe média. os movimentos que enumerei constituem para mim, o que de relevante se fez na cultura recente no Brasil. Como não pretendo acabar com o capitalismo nem atacar o governo, estou mais interessado em perceber o que se passa e tentar definir a questão afim de adiantar o processo. A parceria ( ou conluio, para alguns) entre a música brasileira e as grandes corporações internacionais que atuam no setor foi responsável por um avanço considerável e uma posição destacada nacional no ambiente musical global. Mas o mundo mudou…e a questão é essa, como respondemos a isso.

  • gil lopes, 14 de janeiro de 2010 @ 23:19 Reply

    Aproveitamentos oportunistas para atacar o “Sistema” me parece coisa de antigamente. Interessa saber o que acontece com a nova plataforma em ação, como vamos nos organizar para rapidamente, e já atrasados, nos inserirmos no processo de acumulação de riqueza decorrente da utilização do meio digital na música. E a classe média precisa novamente acordar e tomar o seu papel histórico de vanguarda no processo. É isso!
    Quanto a lei Rouanet, num país como Brasil, que quer mais, há de haver instrumentos para viabilizar a sua produção cultural. Com as correções de caminho necessárias…alo alo, artigo 18 para a literatura!!!lusofonia! atenção com a lusofonia!
    Digitalizar a música brasileira, monetizar sua circulação. É o que cabe a classe média agora! Chega de divertimentos e embasbaquices com a nova cultura, ação!

  • gil lopes, 14 de janeiro de 2010 @ 23:34 Reply

    Interessa saber o que acontece com a nova plataforma em ação, como vamos nos organizar para rapidamente, e já atrasados, nos inserirmos no processo de acumulação de riqueza decorrente da utilização do meio digital na música. E a classe média precisa novamente acordar e tomar o seu papel histórico de vanguarda no processo. É isso!
    Quanto a lei Rouanet eu acho uma beleza que ela exista, um país como Brasil, que quer mais, tem que ter instrumentos para viabilizar a sua produção cultural. Com as correções de caminho necessárias…alo alo, artigo 18 para a literatura!!!lusofonia! atenção com a lusofonia!
    A bomba explodiu e não se dão conta mesmo, não se trata do assunto, a música brasileira está silenciada, sem capacidade de reprodução, divulgação e geração de riqueza…o resto é bla bla bla…oi skindô, oi skindô!
    Digitalizar a música brasileira, monetizar sua circulação. É o que cabe a classe média agora! Chega de divertimentos e embasbaquices com a nova cultura, ação!

  • Fernando Braga, 15 de janeiro de 2010 @ 18:02 Reply

    Sou músico, profissão servidor federal. Não tenho cachorro e nem gostei quando fui a Campos do Jordão (estudar no festival de inverno) – Lugarzinho podre. Sou formado em Música numa instituição federal, estudei pra isso. Sou produtor musical, estudei pra isso. Gravei vários discos. Alguns bons. Ralei pra isso. Nunca foram distribuídos. Tive filha. Não pude mais ser músico. Os editais me ajudaram a continuar um pouco mais. Quer saber? Não vale a pena…Vou estudar pra concursos melhores (maiores salários). Não quero ser dono de nada, não gosto de shopping e não moro em São Paulo. Sou de outra classe média. Sei que tenho talento, confio na minha competência, mas não tenho vocação pra santo. A discussão é boa. As perspectivas não. Vou ganhar meu dinheiro e fazer arte só pra mim mesmo.

  • Carlos Henrique Machado, 16 de janeiro de 2010 @ 10:30 Reply

    Fernando
    A questão da música no Brasil é um caso muito sério. Histórias como a sua ou como a nossa se reproduzem há anos.

    Entender aonde isso nasce e como se sustenta, e tentar mudar, é um grande desafio, em primeiro, saber quais são as chagas e, depois, estimular um corpo são, o que não seria nada de absurdo.

    O Brasil tem uma oportunidade única de fazer um grande trabalho para circular os seus artistas por todo o país, num grande circuito com múltiplas combinações e variedades de espaços e sistemas. Nada que não seja possível se o Estado, melhor dizendo, se o governo implantar um sistema que privilegie a continuidade.

    Gastamos excessivos recursos em premiações com tapetes vermelhos para o cinema. Nos finais de semana, eventos feitos literalmente nas cochas, também é uma das especialidades dessa indústria do absolutamente nada.

    Dentro de um círculo pequeno existem sistemas que funcionam e que não são fisiológicos ou sasonais, são invariavelmente processos de retroalimentação. Todos sabemos como funciona, com um mínimo de logística e boa vontade, criar alguma coisa parecida com o mercado saudável, humanamente possível, com abrangência de público e de artistas e que contemplasse todo o país. Por isso me irrito tanto com a Lei Rouanet, pois ela entregou nas mãos de empresas os nossos destinos, numa irresponsável utilização dos recursos para fins que deveriam ser destinados a producentes meios de irrigação e, além de fazerem balcão comercial e político com o dinheiro público, só se preocupam com as suas logomarcaas e com algum pedal que lhes proporcionem outros benefícios. Essa irresponsabilidade é mesmo brochante.

    Para criar meus filhos, hoje formados, tive que ficar alguns anos longe da música. Quando voltei, há oito anos, deparei-me com o quadro de ilusão e, a cada dia que vamos mergulhando nesse marasmo e tentando identificar todos os problemas dessa areia movediça que suga todos os recursos que deveriam ser destinados a um sistema saudável, aí a brochada é mesmo inevitável e acaba sendo o que você disse, buscar recursos em outras atividades para a realização dos nossos sonhos, coisa que esse universo burocrático mercantil não quer fazer, além é lógico da falta de políticas do MinC para a música que tivemos nesses últimos sete anos, cinco deles comandados por um músico.

  • gil lopes, 16 de janeiro de 2010 @ 23:32 Reply

    Muita gente pode ter ficado pelo caminho. alguns talentos não foram trabalhados corretamente, há muito sempre a lamentar, mas história da Música Popular Brasileira tem sido sem dúvida um grande e espetacular sucesso. Nosso mercado ficou entre as 10 maiores do mundo e nossa música é apreciada em todos os lados do mundo, muitos dos nossos artistas ganharam muito dinheiro, ficaram ricos, agentes, produtores, músicos e muita gente também, as multinacionais do disco não tem o que reclamar, se encheram de dinheiro por aqui e com nossa música. Ou seja, o resultado foi excepcional.
    Muito bem…mas aí…mudou. Uma bomba atômica caiu entre nós e nossa música simplesmente não existe mais mercadologicamente. A música circula em uma outra e nova plataforma e participamos dela apenas como observadores.
    Ao invés das velhas lamentações é necessário um projeto rápido, e já atrasado para recolocar a música brasileira e dar nova oportunidade para muitos, para a formação de riqueza nacional.
    O resto é choro de quem perdeu e está sem esperanças, a esses nosso profundo manifesto de pêsames…mas temos que ir em frente. Vamos!

  • Gisele Costa, 25 de janeiro de 2010 @ 13:40 Reply

    Bora gil! Cadê seu projeto propondo ações e caminhos para essa transformação? Publica um texto aí no culturaemercado, elabore uma proposta para o cultura e pensamento!!! Não é assim que estamos conseguindo mudar de fato??!! Entra pra classe média!!

  • gil lopes, 26 de janeiro de 2010 @ 11:05 Reply

    salve Gisele…bora juntos…vc também acha que já chegou a hora da gente sentar e começar a enfrentar de fato o desmonte cruel e avassalador que se instalou sobre a nossa cultura e especialmente sobre a nossa música brasileira? Que a adoção da nova plataforma de circulação da música nos tirou do jogo uma vez que não estamos minimamente preparados para adotá-la?
    então chegou a hora…o pior inimigo é não sabê-lo.
    como podemos recuperar o tempo perdido, de que maneira poderemos estar inseridos no mercado internacional da música digital? como vamos atrair investimentos e empregos para disponibilizar nossa música nos meios de circulação modernos? quando teremos no ITUNES da APPLE a música brasileira oferecida em toda sua gama de gêneros e artistas tal qual já acontece ali com os anglo americanos? como vamos fazer para remunerar nossos artistas de modo a estimulá-los a viver de música, a se dedicar exclusivamente a fazer música, como vamos garantir a eles a divulgação internacional do seu trabalho? enfim…bora? bora nessa? vamos pensar nisso juntos?

  • fernando nogueira, 28 de agosto de 2010 @ 9:52 Reply

    Leonardo, sugiro como pauta investigar quanto a VALE investiu em culura nos últimos anos.

    Podemos ter o instrumento que for ….se as ditas empresas brasileiras não investirem com ou sem lei de incentivo não haverá mudança.

    Um outro ponto, quais as propostas dos candidatos a deputado federal para cultura? Esse assunto não entra na pauta deles…eles não tem conhecimento…então fica díficil cobrar do Minc alguma mudança se não há propostas dos representantes.

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