Criada como um anexo da bienal de artes, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo cresceu a ponto de se tornar independente e tomar todo o espaço do prédio do Ibirapuera.
Não cabendo mais naquele prédio de subidas e descidas, para poder mostrar toda a força da indústria editorial, foi transferido para o Center Norte, primeiro, e depois para o Centro de Exposições Imigrantes. A mudança de um espaço charmoso para um local de feiras comerciais gerou inúmeros protestos e insatisfação.
Naquele momento, começava a ficar clara a necessidade de se repensar o evento. Qual era mesmo o foco que os pioneiros visavam com a realização da Bienal do Livro? O que se aprendeu nesses anos todos? Como a feira deve acompanhar a evolução da indústria?
A Bienal do Livro sempre desenvolveu uma cultura de evento focada no desenvolvimento do mercado, no incentivo à leitura, na popularização (ou democratização) do livro e na oportunidade dos editores mostrarem toda sua produção.
Uma das ações de desenvolvimento do mercado era a proibição de descontos e distribuição do cheque-livro, este gerando trânsito nas livrarias após a Bienal. Ou seja, a Bienal não concorria com a rede de livrarias mas, sim, a apoiava.
O incentivo à leitura e a popularização eram feitos pela quebra da formalidade das antigas livrarias num clima de festa e pela proximidade do publico com autores e livros. A modernização das livrarias resolveu um pouco o péssimo marketing que as chamava de “templos do saber” ou coisa parecida.
O Salão de Idéias, que reuniu e impulsionou experiências anteriores de encontros autor/publico, abriu espaço para que todas as editoras e segmentos do livro dessem sugestões de autores e assuntos para que se montassem eventos para todos os gostos e públicos leitores.
No Salão de Idéias que está aí poucas sugestões foram aceitas e as escolhas evidenciam preferências por “gente mais chegada”.
Atualmente, o clima de festa foi parar na FLIP e em outros eventos semelhantes.
Cada vez mais, as livrarias virtuais conseguem mostrar quantidade e diversidade que nenhuma livraria no mundo consegue e chegam aos pontos mais remotos. Enquanto isso o gigantismo e a ânsia de aparecer dos conglomerados torna a participação dos pequenos na Bienal cada vez mais onerosa.
Toda a cultura da CBL e da Bienal veio se desenvolvendo de diretoria a diretoria e quando se decidiu por terceirizar o evento, essa cultura foi contratualmente preservada e ficou sob o controle da entidade.
Essa experiência de dezenas de anos, a partir de um certo momento muito bem situado foi jogada no lixo. “O que veio antes não existiu; vamos criar tudo de novo…”. A atual empresa organizadora, sem experiência com eventos de livros, assumiu como dona, corre solta, faz o que bem entende. Os verdadeiros donos do evento, os expositores, teoricamente representados pela diretoria da CBL, só podem dizer sim ou sim senhor.
Até as reuniões de avaliação, tradicionalmente feitas com os expositores após cada edição do evento, deixaram de existir. Mesmo porque a troca do organizador foi baseada num relatório da última Bienal no Imigrantes lido só na parte que apontava defeitos e rasgada a parte que mostrava avanços.
A localização dos estandes, pensada e repensada por muito tempo, havia chegado a uma distribuição de estandes-âncoras espalhados por toda a área de exposições com os menores sendo alocados por sorteio e escolha em volta desses grandes. Voltou-se ao sistema no qual o maior escolhe primeiro e a feira mostra grandes estandes na entrada e os pequenos são confinados no fundo.
Ao longo do tempo, o próprio nome Bienal foi tão utilizado que se desgastou e qualquer feirinha de livros usa esse nome enquanto a original torna-se, cada vez mais, um feirão. O charme foi para Parati e pronto. Então que se assuma de vez que é um feirão e se reorganize em torno dessa concepção.
Está na hora de a Câmara Brasileira do Livro repensar no estímulo às feiras locais, nas feiras temáticas, no redimensionamento da Bienal. Como uma entidade cujo objetivo principal é desenvolver o mercado, a CBL tem que pensar seriamente em ações como o cheque-livro e reforçar o apoio às livrarias e outros canais de vendas que batalham 365 dias por ano e não só nos 10 dias de Bienal. Tem que pensar, se é isso que o mercado quer, em feiras de saldos com as mesmas condições para livreiros e deixar a Bienal, se necessário for batizando-a com outro nome, para mostrar o que se produz nessa industria pujante, mas desunida.
De qualquer forma, a Bienal que aí está, com bons patrocínios e boa mídia, provavelmente será um sucesso para o público. Para o mercado… por que pensar em mercado? Eu quero o meu!
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