O apelo do consenso é construção ideológica de aparência histórica, quanto a isso não há duvidas. O que cabe a nós agora, é nos interarmos dos seus propósitos. A interpretação artificial favorece sempre o andar de cima. “Especialistas” são convocados de acordo com o tema, mas no internacionalismo cultural, essa negação automática às nossas realidades, é um clichê que pauta qualquer observação com um enorme “campo interpretativo”.
Nesses debates, o inequívoco, os enfoques sobre o que se passou e ainda se passa com a cultura brasileira, trazem uma versão de efeitos fantasiosos e ganhos políticos a pesados grupos econômicos. Sempre! “Questões acadêmicas” são transformadas em bruxarias perfumadas, em contorcionismos retóricos e, assim, o confronto é esvaziado, a partir daí, tudo se torna uma brutalizada análise vertical, e as distintas visões vão cedendo espaço ao irracionalismo fardado de alguma dita academia nos meios dominantes de comunicação.
A tentativa de banalizar a produção artística do povo brasileiro, a sabedoria vivida e o sentimento natural são práticas primeiras, e então as instituições privadas de cultura se transformam em gente grande e “legitimam” a conquista de espaços passando assim a exercer o monólogo do poder.
O homem brasileiro é colocado de lado e a indiferença moral lhe é aplicada pelos “condecorados”, neutralizando qualquer tentativa de se estabelecer um debate franco. Imediatamente o cinismo é convocado. O truque da argumentação é suficiente documento de evidência, as plataformas obscurantistas vão se desenhando numa distorcida trajetória de movimento, e se instala o ideólogo da “extrema-cultura”.
O fundamento “oficial” do universo privado e convicto dos fantasmas europeus do passado expõe o estereótipo clássico do “pesquisador”.
A quase extinção da boa lógica extrema as credenciais e se apresenta como admirador e discípulo de algum nome imortal estrangeiro e se defende como pode das publicações independentes focadas na realidade brasileira.
A grande questão, ou melhor, o grande perigo é que isso pode acabar num eixo de estratégia de expansão e de dominação dos espaços e debates institucionais, fazendo parecer que a representação é responsável pela publicação da carta constitucional. É esse o grande perigo da fábrica ou da indústria do consenso cultural. Instituições são erguidas e postulam um assento em momentos de catarses políticas e impõem suas opiniões.
Essa mentalidade contemporânea de executivos tem certezas indestrutíveis, mesmo que a vulgaridade lhes conceba status de patrimônios da sabedoria e dignidade. Porque agrupados em campos institucionais privados, favorecem-se da prerrogativa totalitária de vida intelectual produtiva, mesmo que tal instituição só apresente ciladas como portifólio.
Os “organismos internacionais” colocados na mesa como aliados, nestes casos, forjam uma ressonância. Conglomerados universais são convocados para avalizar os mastodontes do capitalismo nacional, impondo a ditadura consensual e inibindo as contramarchas para, assim, afortunadamente produzirem um estado de exceção no ambiente cultural brasileiro. Isso posto em avançado espaço, a palavra única ganha vigor, a informação e opinião passam a ser construídas com o extermínio dos representantes naturais e, a galope, a concentração se impõe como uma doutrina seqüestrando a liberdade de comunicação através das técnicas de supressão às manifestações espontâneas.
Não é à toa que a política e a arte andam divorciadas. O avanço da arte dos tecnocratas vem blindando esse ambiente e tirando dele a paixão, substituindo assim por módulos conceituais. A idéia de progresso transforma-se em tirania e superstição, o conhecimento crítico é induzido pela filosofia do preconceito e a marcha para o hegemonismo é atributo de conhecimento.
“A verticalidade exacerba essa ideia do pensamento calculante nacional”
Hoje, a “natureza” cada vez mais se retira este desencantamento do mundo, que a globalização acelerou, criando cada vez mais diversidades baseadas no artifício de que as cidades são exemplo e permitindo uma fluidez fundada em pontos do planeta devidamente equipados e produzindo relações verticais”. (Milton Santos).
O que exatamente nos interessa é saber qual o papel estratégico dessas instituições privadas de cultura que se destacam tanto na mídia. Inaugurar uma agenda capaz de permitir a integração num processo mais horizontalizado e, aí sim, mostrarem-se democráticas e produtivas ou continuarão onde estão enfeitando as principais avenidas com a imponência e a arrogância de quem quer se mostrar maior do que a sociedade. Sim, esta deve ser a pergunta: quais são os objetivos dessas grandes instituições? Eu ainda não sei. Vejo muita gente roncar grosso e apresentar em suas elaborações planos para subestimar a mais importante instituição de cultura do Brasil, o MinC, este tem sim seus problemas que devem ser corrigidos com debates públicos e, acima de tudo fundamentado nas normas constitucionais.
Corrigir os erros do MinC através de debates, é corrigir as nossas próprias formas de lidar com a questão cultural no Brasil. Portanto, não serão as instituições privadas absolutamente herméticas, obtusas em seus interesses, alheias à sociedade que proporcionarão a ela efetivos ganhos, porque nessas instituições as portas estão fechadas e vigiadas 24horas pela guarda patrimonial, e as chaves, como todos nós sabemos, estão nos cofres dos bancos.
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