Na última quinta-feira (21/6) estive no WTC Convention Center, em São Paulo (SP), para acompanhar a terceira edição do InfoTrends, evento organizado pela revista Info, da Editora Abril, e que reúne alguns dos mais influentes nomes do Brasil e do mundo em áreas como tecnologia, publicidade, ciência e comunicação.

Durante todo o dia, eles trouxeram para uma plateia que lotou o auditório destinado ao encontro – cada qual equipado com seu devido notebook, iPad, iPhone… como se espera em um evento sobre tecnlogia – muitas experiências, ideias e provocações sobre vida digital, em especial mídias sociais.

Uma das principais lições foi: para criar, não tenha medo de errar.

“Steve Jobs teve muitas falhas, como o Macintosh 1985, o Mac Office 1985, Next Cube 1.0, Power Mac G4 Cube. Fracassar faz parte da vida, mas você tem que se recompor e sair para fazer sucessos”, disse o ex-CEO da Apple, John Sculley.

Ele fez a palestra de abertura, contando como a Pepsi – ele também presidiu a PepsiCo – ultrapassou a Coca-Cola em vendas nos EUA na década 1970. A estratégia – que fez com que Sculley “ganhasse” Steve Jobs – foi vender a experiência, não o produto.

Para Sculley, é preciso ter liderança visionária, ou seja: curiosidade insaciável; paixão por mudar o mundo; coragem de cometer erros; e equipes excepcionais, “que têm interesse e paixão pelo trabalho”.

“Temos que pensar que deve haver um modo melhor de fazer o que queremos. Para criar um novo negócio, qual o problema que você deve solucionar? Para criar uma empresa de grande porte, você precisa resolver um grande problema. Empresas pequenas são mais bem sucedidas em lançar novos produtos porque estão dispostas a resolver problemas menores”, afirmou.

Para o fundador e diretor do laboratório de mobilidade do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o italiano Federico Casalegno, é importante pensar num ambiente pluridisciplinar e multicultural, numa abordagem prática e sob o ponto de vista do usuário. “Conectividade não é significado de melhor comunicação. A tecnologia já está madura, mas a questão é ver do prisma do consumidor.”

Além de madura, a tecnologia também é criativa, como lembrou o chefe de tecnologia da agência de publicidade R/GA, John Mayo-Smith. Ele defendeu que os programadores são os novos criativos, essenciais para criar conceitos digitais na nossa era. “Os programadores que têm sensibilidade técnica são como os redatores e diretores de arte. Como vamos passar as mensagens? Quem toma as decisões sobre o layout, o design, é o diretor de arte. Mas é impossível criar um layout para cada dispositivo. Aí é que o programador entra e tem que ser criativo”, explicou.

Relacionamento – Muita gente acha um equívoco a importância que se tem dado à tecnologia e às redes sociais não apenas nas relações empresariais e comerciais, mas também na construção de relacionamento entre as pessoas. Contardo Calligaris não.

“Sempre se espera que um psicanalista fale mal das redes sociais. Que ganhamos em quantidade, mas perdemos em qualidade de conexões. Presume-se que a atitude em relação às mídias sociais seja crítica, mas não é a minha posição. Não acho que o Facebook seja muito pior que a roda de padaria, no quesito relações humanas. Não tenho grande confiança que as relações presenciais seriam de qualidade superior. As pesquisas também não mostram isso”, afirmou o psicanalista.

Ele disse não acreditar que as mídias sociais criaram um novo tipo de relação ou um novo nível de subjetividade. “O Facebook instituiu o funcionamento esperado de uma sociedade narcisista. E narcisismo não é palavrão. Uma sociedade narcisista é uma maneira de se relacionar em que só consigo ser no olhar dos outros. Isso provoca uma insegurança constante, mas essa é a configuração subjetiva da modernidade. Não precisamos ser nostálgicos e querer voltar para a época onde eu tinha que fazer o que meu pai fazia. A nossa cultura hoje é muito mais interessante.”

Mas para manter uma imagem positiva para os outros, é necessário trabalho. “Atualizar o Facebook é uma espécie de construção de si. E não há nada de preocupante nisso. Se o pressuposto é o quem somos no olhar dos outros, ao trabalhar na composição da minha página no Facebook, estou trabalhando na composição do meu ser”, concluiu.

Um dos maiores exemplos atualmente dessa construção de imagem via redes sociais é o jogador de futebol Neymar, que tem mais de 5,4 milhões de fãs no Facebook e pouco mais de 4,6 milhões de seguidores no Twitter.

O publicitário Dayyán Morandi, da Life Sports Brands, contou sobre o projeto de marca e marketing digital de Neymar e explicou que, para que o perfil tenha sucesso, não se pode usar um ghost writer. “Tem que ser real. Por isso é preciso ter um acompanhamento de media training, para saber como se comportar quando está sendo criticado no Twitter, por exemplo”, disse.

Até as empresas precisam ser reais e “humanas” nas redes sociais. A fan-page da Coca-Cola, por exemplo, foi criada por dois fãs. O Facebook, ao perceber o crescimento da página, entrou em contato com a empresa, que resolveu levá-los para trabalhar lá. “A estratégia é simples: fale, ouça e reaja”, explicou Pedro Dale, gerente de mídias sociais da Coca-Cola.

Segundo ele, a fórmula para ter a maior fan-page de marca no Facebook é estreitar relacionamento com os consumidores. “Para isso, eles precisam vir em primeiro lugar”, ensinou.

Criador do sucesso mundial de TV “O mundo de Beakman”, Paul Zaloom, disse que o bom humor é a melhor maneira de passar uma mensagem. E ele provou na prática que suas palavras fazem todo o sentido, ao subir no palco caracterizado como seu famoso personagem. “Eu sempre usei o humor como uma forma de desarmar as pessoas e defender as ideias em que eu acredito. Quando você usa o humor com seu interlocutor, consegue obter engajamento dele.”

Bom humor é uma das estratégias utilizadas pelo Ponto Frio, que criou um personagem – o Pinguim – para interagir com seus seguidores no Twitter de maneira mais leve e divertida e tem obtido bons resultados com isso.

Além disso, eles selecionaram novos profissionais para fazer suas redes por meio de um concurso em sua própria página. “Dentro da área de marketing já entendemos Facebook e YouTube como canal de mídia”, disse Vicente Rezende, diretor da Nova Pontocom, responsável pela estratégia de mídias sociais da rede de lojas.

Segundo ele, as duas palavras fundamentais são: tráfego e engajamento. “Mídia social fura a fila de qualquer coisa que acontece na companhia, porque o timing é muito rápido”, contou. “Esse aspecto, somado à capacidade de viralização, faz com que seja mais fácil destruir do que construir em rede social.”

Profissionais da nova geração –  Por isso, o cuidado em contratar essa equipe é fundamental. “É trabalho de formiguinha, não de robô. Precisa de sensibilidade humana, para saber que tom usar. É preciso surpreender as pessoas. Esse profissional deve ser louco por redes sociais. E ele está nas redes sociais.”, afirmou Rezende.

Em um bate-papo, Sergio Chaia, presidente da Nextel no Brasil, Oscar Clarke, presidente da HP Brasil, e Michel Levy, presidente da Microsoft Brasil, também falaram sobre suas experiências nas redes sociais e a importância da “Geração Y” no seu desenvolvimento.

“Quando maximizamos nossa comunicação com as redes sociais é pensando na Geração Y. E cada vez mais o maior percentual de funcionários das nossas empresas é dessa geração. Ou estamos abertos a interagir com eles, ou estamos fora. Não é uma opção”, afirmou Clarke. Para isso, ele contou que sua empresa foca em: storytelling, transmídia e crowdsourcing, esse último “um grande indicativo de tendências”, segundo ele.

Sérgio Chaia concordou que storytelling é uma das competências a serem desenvolvidas pelos profissionais que trabalham com mídias sociais. Ele lembrou que o mundo está produzindo muita informação e que nossa capacidade de absorver é limitada. “Para achar novas tendências, as perguntas são muito mais importantes que as respostas. E a capacidade de fazer as perguntas certas não vem do consumo alucinante de informações. O importante é como você interpreta as informações, ao invés de tentar alucinadamente consumi-las. A criatividade, a fantasia e a capacidade de juntar peças aparentemente desconexas é fundamental.”

Para Michel Levy, estamos vivendo uma transformação profunda, com impactos ainda incomensuráveis. “Não temos só o desafio de como gerenciar as organizações, mas qual impacto isso terá daqui 20 anos no individuo que está nascendo hoje”, alertou.

*A Casa8, agência de conteúdo responsável pelo Cultura e Mercado, fez a cobertura online do InfoTrends 2012 nas suas redes sociais (Facebook e Twitter).


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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