Em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada nesta sexta-feira (8/4), o presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Antonio Grassi, anuncia mudanças e promete mais personalidade à nova gestão do Ministério da Cultura. “É importante que a Funarte esteja inserida nas discussões do MinC”, afirma.
Ele começa a entrevista avisando que prefere falar apenas dos assuntos da Funarte, mas logo discorre sobre os principais temas em voga da cultura brasileira. Após ocupar o cargo entre 2003 e 2007, de onde saiu por supostamente pleitear a cadeira do então ministro da Cultura Gilberto Gil, Grassi retoma o posto anunciando o retorno de ações existentes na sua última passagem pela casa, como os Projetos Pixinguinha e Mambembão, e promete mudanças, como uma maior aproximação entre Funarte e MinC.
O homem forte da ministra Ana de Hollanda, rótulo que elegantemente prefere rejeitar, apresenta a nova filosofia de trabalho: “Houve um momento em que se fomentou a importância de fazer inclusão social por meio da arte, e a excelência artística ficou em segundo plano. Foi necessário estabelecer que cultura não é apenas balcão para atender artistas. Hoje, no entanto, preciso dizer: artista também é cultura”, afirma o ator, produtor e diretor mineiro, de 56 anos. “No nosso governo, a criação vai estar no centro de atuação do ministério.”
Com esse posicionamento, fatos recentes como o fortalecimento da Secretaria do Audiovisual, a inflada defesa dos direitos do autor e a reunião promovida entre cineastas e governo oferecem sinais de que existe, sim, uma orientação traçada e organizada em curso. Até o momento, o visível desconforto com os restos a pagar de R$ 450 milhões deixados pela gestão do ex-ministro Juca Ferreira e a ausência de opiniões claras sobre ações da administração anterior propiciaram um clima de incerteza, críticas e aparente falta de personalidade que Grassi está empenhado em desfazer. “Essa impressão de que ainda estamos pisando em ovos tem a ver com dificuldade de colocar a máquina para funcionar a pleno vapor. Leva meses para termos toda a equipe nomeada.”
Entre as acaloradas discussões em que se viram envolvidos esteve a polêmica autorização concedida pelo MinC à captação de R$ 1,3 milhão para produção de um blog com vídeos de Maria Bethânia. Nas redes sociais, choveram críticas ao alto valor que contemplaria um nome já estabelecido. “Nessa discussão a gente vê o preconceito e a condenação do artista. É como se uma cantora famosa não tivesse direito a captar recursos”, defende.
Diante de outros temas espinhosos, como as reformas da Rouanet e da lei dos direitos autorais, Grassi explica que se optou por tomar pé da situação, devolvendo as discussões novamente à sociedade. A polêmica modificação na Rouanet que obriga maiores investimentos dos empresários, por exemplo, é item ainda aberto ao diálogo. “Passado esse momento de azeitamento da equipe e serenados os ânimos, a linha de atuação do ministério aparecerá com mais clareza. É preciso ter cabeça fria e estar acima dessas polarizações.”
Quando o assunto é Funarte, o semblante de Grassi torna-se mais vibrante. Apesar dos cortes e contingenciamento deste ano, o orçamento autorizado do órgão é de R$ 54 milhões. “São R$ 7 milhões a mais do que meu último ano aqui, em 2006.”
Nesta semana, entre os assuntos que tratou em Brasília, esteve a liberação de R$ 14 milhões, até maio, para cobrir o Programa Microprojetos Mais Cultura – Amazônia Legal. Em pauta também o pagamento dos R$ 48 milhões dos editais do Procultura, que não sairão dos cofres da Funarte, responsável apenas pela curadoria.
Quitados os compromissos, virão as novidades: “Vamos investir R$ 10 milhões em editais de ocupação dos 20 espaços da Funarte, voltados para a programação do segundo semestre”, anuncia. Projetos como Mambembão e Pixinguinha, destinados à circulação de artistas musicais e peças de teatro, devem ser reativados. Também está prevista a realização de projetos da Rede Nacional das Artes Visuais e compromissos internacionais, como a Bienal de Veneza e a Quadrienal de Praga.
No centro do planejamento está o crescente papel estratégico do órgão: “Nossa relação com o MinC mudará. É importante que a Funarte esteja inserida nas discussões da pasta, junto com as secretarias. Com esse time formado, poderemos começar a mostrar a cara de cada instituição.”
*Com informações do Valor Econômico