Sem perder a cadência do samba, Walnice Nogueira Galvão traça um histórico da grande festa popular do Rio de Janeiro e aborda sua importância social.
Pouco mais de um século antes de Oscar Niemeyer assinar o projeto arquitetônico e urbanístico do sambódromo, o Carnaval já era a grande festa do Rio de Janeiro. Era o grande êxtase anual, só que, imagine, ainda nem havia o samba, o que tocara era o choro, a valsa e outros ritmos.
Como atesta a professora titular da USP e colunista do Estadão, Walnice Nogueira Galvão, “de divertimento proibido pela polícia no passado, a marca de identidade nacional (…) muito chão foi palmilhado”. E toda essa trajetória do carnaval, com foco na capital carioca, Walnice reconta com maestria em Ao som do samba – Uma leitura do Carnaval carioca.
No livro não faltam curiosidades, como o fato do primeiro disco de samba ter sido gravado no mesmo ano que o primeiro disco de jazz foi lançado: em 1917. De acordo com a autora, o surgimento da indústria fonográfica foi essencial para a disseminação de músicas até então marginalizadas, como o Tango de Buenos Aires, o jazz de New Orleans e o próprio samba. Com o surgimento do disco, tais estilos caíram nas graças da cultura de massa e conquistaram as classes dominantes.
No caso do samba no Brasil, a voz, os anseios, os amores e, sobretudo, a crítica social dos pobres, negros e mulatos passaram a ser ouvidos pela classe média branca. A partir do momento que virou hino do carnaval carioca, o gênero teve papel fundamental na convivência saudável entre classes sociais distintas. Tanto que as escolas de samba passaram a aceitar, em seus quadros, brancos e pessoas de fora da comunidade.
Os principais compositores de sambas e, inclusive, de marchinhas, também ganham destaque na publicação: Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Carmem Miranda, Lamartine Babo, entre outros.
Walnice narra toda a história com detalhe, da fase mais romântica até virar uma grande indústria de mercado – com players polêmicos, como os bicheiros-, passando pela Cidade Nova, Rua do Ouvidor, rodas de samba, a oficialização dos concursos das escolas de samba em 1935, entre informações que poucos brasileiros conhecem sobre a grande festa.
O livro também inclui letras dos grandes clássicos, como “O Samba de minha Terra”, composto por Dorival Caymmi em 1940, eternizada pelo trecho: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé “…
Ao som do samba – Uma leitura do Carnaval carioca é uma boa fonte para entender uma das maiores manifestações populares do país.
Sobre a autora
Walnice Nogueira Galvão é professora titular de Teoria Literária e Literatura Comparada na Universidade de São Paulo. Paulista de nascimento, estudou Letras e Ciências Sociais na mesma universidade. Aluna de Antonio Candido, foi sua assistente por muito tempo. Tem 30 livros publicados sobre Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, e de crítica da literatura e da cultura.
Foi professora visitante em várias universidades nos Estados Unidos e na Europa, como Austin, Iowa City, Columbia, Paris VIII, Poitiers, Colônia, École Normale Supérieure, Oxford, Berlim.
Walnice Nogueira Galvão é Conselheira editorial das revistas Teoria e Debate, Linha d´água, D.O.Leitura, Imaginário, Sexta-feira, Literatura e Sociedade, Magma, Palimpsesto, Diadorim, Poesia Sempre, e da Editora do MST. Consultora dos números especiais dos Cadernos de Literatura Brasileira do Instituto Moreira Salles sobre Euclides da Cunha (2002) e Guimarães Rosa (2006), e da Revista Brasileira da Academia Brasileira de Letras sobre Euclides da Cunha (2009).
Colabora assiduamente com jornais e revistas, entre eles o jornal O Estado de São Paulo, para o qual escreve uma coluna no Caderno 2.
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