Steve Jobs e Eric Schmidt, “big-shots” da Apple e Google, respectivamente, andam ocupados mostrando ao mundo seus planos (ou pelo menos uma parte deles) de entrada no mercado televisivo. O primeiro está mais adiantado. Já tem um produto no mercado: a Apple TV, um “set-top box” que armazena e executa conteúdo audiovisual em um sistema fechado, além de funcionar como locadora de vídeo virtual (nos moldes do i-Tunes) e loja de aplicativos (nos moldes do i-Phone/Pad).
A Google TV, por enquanto, pode ser encontrada apenas nas páginas das revistas especializadas. Mas promete revolucionar (ainda mais) o mercado ao permitir a completa fusão entre internet e televisão. A ideia é tornar imperceptível para o usuário se o conteúdo assistido vem da rede, do cabo ou de qualquer outra fonte de conteúdo compatível com o aparelho televisor.
A avaliação geral – inclusive dos próprios “pais das crianças” – é que são duas propostas diferentes. A Apple TV, como tudo que vem da empresa de Jobs, foi concebida para ser simples e funcional, mesmo para pessoas pouco afeitas aos meandros da informática. A Google TV, como tudo que vem da empresa de Schmidt, foi pensada para dar ao usuário o maior controle possível sobre que conteúdo acessar, além de quando e como fazê-lo, o que pressupõe certa intimidade com gadgets informáticos.
Em uma recente entrevista ao Wall Street Journal, Paul Otellini, CEO da Intel (e membro do “board” do Google), foi sarcástico ao traçar sua distinção entre os dois concorrentes: “minha mãe usaria uma Apple TV, porque ela é realmente simples. Meu filho provavelmente comprará uma Google TV, simplesmente porque é mais legal. Ele quer poder entrar no chat do Facebook e conversar com os amigos, dizer ‘ei, você está vendo o jogo?’ em tempo real. Não se pode fazer isso com uma Apple TV”.
É provável que Steve Jobs não tenha se ofendido com essa distinção. Em 1º de setembro último, na já tradicional conferência de imprensa de outono da Apple, Jobs apresentou a segunda geração de sua Apple TV destacando justamente a autonomia conceitual do produto em face do binômio computador-internet. Os consumidores, segundo Jobs, “não querem um computador em suas TVs”, pois já possuem computadores e buscam uma opção de entretenimento diferente na televisão.
Mais relevantes que a batalha entre avós e netos pelo controle remoto do futuro são os modelos de negócio a serem adotados por esses novos entrantes e – indo mais fundo – a natureza e escopo de seu relacionamento institucional com outros players da cadeia produtiva da mídia, em especial criadores/produtores de conteúdo e empresas de telecomunicações.
A recente parceria entre a Apple e a News Corp, que fornecerá parte do conteúdo da Apple TV, vem levantando suspeitas de condutas anticompetitivas. Jeff Bercovici, colunista do AOL Daily Finance, lembra que o Wall Street Journal é o único veículo de imprensa autorizado a vender assinaturas para i-Pads; os demais podem vender apenas números avulsos. E há outros exemplos de tratamento privilegiado às empresas de Murdoch nas plataformas Apple.
As parcerias de conteúdo do Google são mais diversificadas e, talvez por isso, menos íntimas. O que preocupa, aqui, é o outro extremo da cadeia produtiva, o da distribuição. No final da semana passada, uma reportagem do New York Times revelou uma inusitada parceria entre o Google e a Verizon, uma empresa de Telecom, para a elaboração de um marco regulatório de interesse comum para a banda larga. Até então, pensava-se que, no candente debate em torno da “neutralidade da rede”, o Google estivesse do lado oposto ao das empresas de Telecom.
Pois é. O mercado dos “bits” vai crescendo, amadurecendo e ficando com a cara e os cacoetes das gerações passadas. Ainda bem que o remédio dos tempos do vovô – a defesa da concorrência, ou simplesmente “antitruste” – ainda pode ser encontrado nas melhores casas do ramo. Quando concorrentes reais ou potenciais, que até outro dia se atacavam ferozmente, se associam, é porque chegaram a um acordo bom para eles. Daí a ser bom para todos nós vai uma longa distância…
Fontes:
Para saber mais sobre as diferenças entre Apple TV e Google TV, cf.: s://www.nextmedia-source.com/frame.php?id=188071
Para um resumo da apresentação da Apple TV na Conferência de Outono, cf.: s://www.techreviewsource.com/blog/?p=759
Para um extenso relato das implicações concorrenciais da parceria Google-Verizon, cf.: s://www.nextmedia-source.com/frame.php?id=5992829
Para a coluna de Jeff Bercovici, cf.: s://www.dailyfinance.com/story/media/explaining-the-cozy-relationship-between-apple-and-news-corp/19619399/
* Publicado originalmente no blog Direito e Mídia.
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