O enigma cultural continua devorando artistas das mais diversas áreas. Em pleno Século XXI, a antiga e onipresente charada da esfinge denominada Cultura ainda não foi decifrada.

Isso acontece porque nossos artistas (a maioria!) estão omissos, enquanto os pseudo-artistas tomam conta da ribalta e a pirataria grassa lado a lado com a elitização da arte.

Não nos esqueçamos que Cultura é o conjunto dos costumes e manifestações de um povo, ou seja, todos os valores mantidos ou que, criados, passam a ser vividos como bem comum. É o que o danado do sabido do Câmara Cascudo chamava de sabedoria oral da memória coletiva.

Como o programa da nossa era parece ser a destruição do passado e os que ignoram este – não se enganem! – estão condenados a repeti-lo, seguimos repetidos repetidores alienados dessa memória. Primeiramente, porque fomos colônia portuguesa (todo o ouro para a Coroa!). Depois, européia (laissez-faire, laissez-passer!). E agora, americana (the american way of life!).

Hoje, o sistema vigente pega uma manifestação popular, dá-lhe um banho de loja e a coloca nas vitrines das butiques da moda. Mas com um valor tão alto que apenas uma minoria privilegiada pode ter acesso a esse bem cultural.

Se o ato criativo é individual, acima de poderes e impérios, necessita ficar longe da interferência do Estado. A Cultura, não. Por ser esta um fator de identidade, de riqueza e de patrimônio de uma nação é, então, questão política, ou seja, de Estado. Porque um povo sem identidade não tem auto-estima e, sem esta, é alvo fácil de culturas fortes, política, econômica e socialmente.

Assim, com a arte na butique e as manifestações populares minimizadas, pirateadas ou em guetos, entende-se porque o genial Plínio Marcos dizia que Cultura nas mãos dos poderosos constrange mais do que armas. E dá pra entender também porque o emblema cultural da nossa elite é a Disneylândia.


1Comentário

  • Antonio Roveroni, 17 de março de 2011 @ 19:09 Reply

    Prezado Ronaldo,
    entendo suas preocupações. Contudo, não vejo as manifestações culturais “blindadas” da forma como coloca. Recentemente, na praça de São Luis do Paraitinga/SP, houve um evento para comemorar os 100 anos de Nascimento de Elpídio dos Santos (o convite está feito para saborearmos o DVD em casa, com bebidinhas a tira-colo) com a presença de vários ícones da MPB, como Fafá de Belém, Zé Geraldo, Zeca Baleiro e Renato Teixeira.
    O problema é a disposição das autoridades locais em valorizarem a sua cultura.
    Sei também que, em curretelas no norte brasileiro – cheias de fúteis “novos-ricos” (no mais da vezes, com patrimônio edificado à custa de assaltos frente a verbas públicas), o que grassa mesmo é o culto da “Disney”… rs
    Mas… deixar estar. Tdo passa. Fica mesmo a cultura autêntica.
    Abração.

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