Demorou uns 500 anos, mas alguém conseguiu replicar o sorriso da “Mona Lisa”. Não com o efeito “sfumato” de Leonardo Da Vinci, bem longe das 40 camadas de esmalte aplicadas à mão sobre a superfície do quadro.

Estará no rosto da Barbie, em bonecas que chegam às lojas do país em agosto, o mais enigmático sorriso da história da arte. Um pintor chamado Ei Fong, responsável pelo “rostinho da Mona Lisa”, conseguiu “capturar perfeitamente” a expressão, de acordo com o material de divulgação dos fabricantes.

Mas, se a cabeça de plástico da reencarnação fica um tanto aquém do efeito descrito por Giorgio Vasari, historiador contemporâneo de Da Vinci, como de “fazer tremer e perder o fôlego qualquer artesão”, é um sinal de tempos em que a arte foi tragada pela indústria como um produto banal com lustro de luxo.

Essa, aliás, é uma via de mão dupla. Enquanto a Barbie ganha em breve a companhia de irmãs inspiradas em Van Gogh e Klimt, artistas contemporâneos antecipam a oferta criando quinquilharias para vender com seus próprios nomes, bem antes de cair em domínio público como o colega renascentista.

Anteontem, em Londres, Damien Hirst lançou sua mais nova coleção de skates. Estampados com bolinhas coloridas, um deles com o contorno do tubarão que o artista britânico conservou em formol, estão à venda por preços que vão de R$ 1.200 a R$ 7.900, dependendo se estão autografados ou não.

Na mesma cidade, Tracey Emin, outra das mais valorizadas artistas britânicas, está com as nádegas à mostra na vitrine da Selfridges. Um cartaz da artista correndo nua pelas ruas de Londres é o cartão de visitas de sua butique pessoal, onde há desde tigelas de comida de gato a bules e aventais assinados por ela.

Sem muito pudor, Emin comentou na abertura da loja em junho que decidiu também vender na butique a fragrância que usa, Boudoir, de Vivienne Westwood, e que achou tudo “superchique”.

Na mesma pegada, fãs de Lygia Clark podem comprar na Clark Art Center, loja das netas da artista, no Rio, réplicas em plástico de seus famosos “Bichos”, um deles com um adesivo que diz “I love you” e um retrato 3 x 4 dela, que parece surrupiado de seu documento de identidade.

Arte com luxo – Em tempos de arte nas lojas, museus também reforçam seu lado comercial, renovando marcas e imagem.

Nos últimos anos, mesmo com crise econômica, o movimento dobrou nas lojas do MoMA, de Nova York, e o faturamento aumentou cinco vezes. Não surpreende que a direção das butiques, com filiais até em Tóquio, esteja a cargo de uma mulher que fez toda a carreira no mercado de luxo.

“Arte é algo de significado extraordinário, além do banal”, resume Kathy Thornton-Bias, diretora de vendas do museu que antes comandava a Saks Fifth Avenue, gigante das lojas de departamentos. “Luxo tem um princípio semelhante: ser extraordinário.”

É nessa associação de arte com luxo que se baseia o sucesso de vendas de objetos ligados a artistas e designers de renome, a crença por parte do comprador de que aquilo vai dar “certo calibre” à sua personalidade. “Por isso não dizemos que é a loja do museu, mas chamamos loja de design do MoMA”, explica Thornton-Bias. “A palavra “design” tem um peso enorme e influencia as compras.”

*Com informações da Folha de S. Paulo


editor

1Comentário

  • Candida Botelho, 20 de julho de 2011 @ 9:27 Reply

    A questaão é que a quantidade que se vende é pequena e os resultados minimos para quem cria….

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *