Foto: Capitu
“A lei Rouanet não é um fator de fomento à sonhada economia colaborativa da cultura, ela é em si um negócio. Sua prática redesenha o mercado de capital e suas lógicas, o lucro em estado bruto, tornando-se um ativo a mais das regras segregacionistas deste modelo perverso que remonta um quadro de apartheid social, aonde os critérios de divisão de classes, colonizador x colonizado, constituem a resistência reforçada das condições de trabalho e vida que os capítulos ininterruptos da oligarquia nos impuseram”.

Sem conexão com a realidade, algumas vozes roucas tentam editar uma assombração que caiba na medida de seus interesses, uma forma de pressão artificial contra as transformações que o MinC tem provocado com políticas que privilegiam a massa de combinações que não está numa ou noutra camada social, mas sim  no seio de uma sociedade.

No Brasil o “clássico” domínio dos espaços institucionais por um tipo de pensamento combinou uma “analise” sociológica que beira ao fascismo.

Podemos classificar esta singularidade das classes dominantes de “ignorância de produção preciosa”.

As bagatelas conceituais, como música, saem do posto dos privilegiados, instituem uma “opinião” dominante e, sem se darem conta da história social da arte no Brasil, não identificam nada fora de seus raios de ação ou trajetória.

Mario de Andrade classificava estes inventores da “indústria do conhecimento” de cargueiros que transportavam em suas bagagens leviandades e ignorância sistematizada.

No Brasil atual, os sabedores da investigação rasa proclamam suas “repúblicas do saber” na base da catarse, na tentativa de recuperar um território perdido e que a sociedade vem ganhando democraticamente.

Modestas, ainda no primeiro mandato de Lula, as novas vozes do Brasil ensaiaram outra cantoria, e podem ter certeza, em âmbito histórico na política deste país. Elas chegam agora inspiradas e fortalecidas com as novas relações que as políticas do MinC promoveram.

As conferências de cultura têm nos revelado produções de luta e pensamento que são verdadeiras preciosidades cada vez mais a patente de monopolizadores da mitologia cultural está perdendo força nas produções autobiográficas que publicam um texto de conhecimento estilístico sem destinação a uma concreta contribuição.

Esses senhores que se notabilizaram pela militância a certa cultura de privilegiados, lançam mão de uma cartola furada para apresentarem-se como xerifes da classe artística.

A embrionária interfecundação com a “civilização branca” dá ao justiceiro da analogia psicanalítica do mercado cultural fictício uma constituição própria, inconsciente da outra realidade que anda à solta a partir das novas válvulas que já foram abertas com programas de aportes diretos, como pontos de cultura e etc.

A Lei Rouanet, além de carregar todos os paradoxos e absurdos, instituiu no seio da cultura brasileira os neocabrais, os redescobridores da praça onze. É deles também a prerrogativa de sensores das concepções de arte, e agora chegam do alto de um desesperado vocabulário, a introduzir nos debates o pensamento de cangaço.

O pensamento casca grossa insiste na formulação curricular da malandragem de apropriação dos recursos públicos e chega com suas caravelas folcorizadas na tentativa de introduzir referências ficcionais para demarcar territórios na base do refrão retórico. Em seus bordões, fazem alusão ao pensamento e sentimento superiores das classes média e dominante. Homenageia mitos que militaram a favor da privação dos pobres no Brasil. Argumentam eles, cada um em seu lugar, melhor dizendo, “assim sim, mas assim não” contra a chegada das vozes periféricas da sociedade.

O neocabral, essa criação arbitrária de herança das formulações psicológicas fundadas no pensamento de dominação sustenta a posição de portadores da sabedoria máxima, da potencialidade única, da oposição às etnias que se chocam com o último refúgio da “civilização branca” que ainda resta num país mestiço em alma, que não dança o minueto conceitual.

Seria bom parar de colocar pra tocar o disco arranhado e ouvir os novos versos dos novos solistas, improvisadores extraordinários que estão compondo perfeita obra-prima que desmancha a diferença que os inquisidores da comunidade superior querem aplicar aos pobres deste país.

O Brasil tem um povo que conhece perfeitamente os seus personagens símbolos e também sabe que os alegados autores da burguesia modernosa chegaram até o terreiro de maneira unilateral, e agora, essa insustentável arbitrariedade chegará ao fim.

A Lei Rouanet trouxe uma nova expressão para a argumentação a favor do crepúsculo, a escravidão cultural aonde todos os brasileiros trabalham e entregam seus impostos, via Lei Rouanet, em mãos dos, agora na terra neocabrália, algozes que vão para dentro da casa grande fazer suas danças em pares com toda a permissividade que o absurdo pode lhes conferir.

Acabar com a Lei Rouanet é abolir da escravatura cultural, sob qualquer ponto de vista. Não há impecilhos pra que isso desapareça da vida cultural brasileira. A pretensão terceirizada do pensamento capitalista está aí fazendo pirraça, dançando o cateretê e insistindo no conceito de província.  Portanto, é necessário anunciar pra esses senhores que há um espetáculo de variedades infinitas que brotam das categorias da base da pirâmide social brasileira, que não mais admitem ser comandadas por uma improvisação papal que não quer outra coisa que não seja instituir o profissionalismo do mecenato restituído para garantir única e exclusivamente o lucro.


Bandolinista, compositor e pesquisador.

15Comentários

  • Leonardo Brant, 15 de janeiro de 2010 @ 7:22 Reply

    Carlos, não quero negar a existência de determinados privilégios, construídos pelo mau uso da lei, não por seu texto.

    O que não consigo ouvir é o grito dessa gente. Pelo contrário, eles ficam calados, agem calados e, de um jeito ou de outro, acabam defendendo seus interesses por representantes no Congresso ou por seus aliados no governo.

    Mas precisamos aprender a separar direitos de privilégios, senão a discussão cai numa guerra corporativista, com base ideológica. Eu já cansei de ideologia. Quero dinheiro na conta dos artistas e que esse dinheiro venha livre de obrigações e bajulações, corporativas ou estatais. Só conseguiremos isso com um leque variado de opções de financiamento, que dê ao profissional de cultura liberdade para criar e para se sustentar nesta selva capitalista.

    Ao contrário do que vc afirma (Lei Rouanet é status quo/Procultura é revolução), sei de acordos políticos com grupos organizados, que fizeram movimento pelo fim da lei em troca de determinados privilégios no texto da nova lei (é só ler o texto do Procultura para saber do que estou falando). Isso é lamentável, mas é próprio do jogo democrático, mesmo que os interesses de poucos resultem no cerceamento de muitos.

    O Nascimento, secretário do fomento, acabou de pedir as contas do MinC, que enviou o projeto sem o consentimento da Casa Civil. O Juca está pouco se lixando, ele disse que cumpriu a palavra e vai sair candidato. A cultura que se dane!

    Já o profissional da cultura, que depende de alguns mecanismos para a sua sobrevivência, não vai conseguir pagar o aluguel com as promessas do Juca por dias melhores.

    O Procultura será o que os lobbies fizerem dele. Os grandes interesses por trás da Lei Rouanet, se é que eles existem, serão garantidos na calada da noite, no dia de votação, sem ninguém perceber.

    Tenho conversado com alguns dos barões da cultura institucionalizada privada. Ninguém está nem aí para o que vai acontecer se o Procultura realmente vingar. Eles simplesmente vão tirar o time de campo e vão pastar em outras paragens, onde a grama está mais fofa.

    A história do mecenato brasileiro é cheia desses oportunistas, que mamam nas tetas do Erário. O fato é que nunca existiu mecenato privado no país, acabo de comprovar isso em minha pesquisa para o livro O Poder da Cultura. Mas compreendi porque o mecenato é importante. O poder público historicamente tem demonstrado uma pequena capacidade de empreender e gerir seus empreendimentos culturais a longo prazo. Isso é próprio da dinâmica política, sobretudo a brasileira.

    Muitos dos projetos que comemoramos hoje vão acabar em breve. No próprio governo Lula vi projetos nascerem e serem enterrados por disputas internas. Por exemplo: o PT foi expulso do MinC e com ele foi junto O Sistema Nacional de Cultura, as Câmaras Setoriais e muito mais.

    E assim caminha a humanidade…

  • gil lopes, 15 de janeiro de 2010 @ 9:40 Reply

    Para aplacar os neocabrais ( ..argh…), estão aí mesmo os neosilvícolas. os que tem horror ao lucro, a lei Rouanet, classes média e dominante, e por aí vai…o Brasil tem um povo que sabe…e outras mumunhas mais…enquanto isso, um mar de enganos e desenganos. As vozes trogloditas e jurássicas insistem em atolar o ambiente de frases de efeito e pregação genérica…mas afinal, estamos falando do que? se é do fim do capitalismo, da classe dominante, da exploração do homem pelo homem…francamente, chega, já passamos dessa fase, ou não? ainda temos que cremar mais o que?
    e a música brasileira? e a digitalização? e a nova cultura? e a guerra cultural? contamos com o que? o que de fato queremos?…discutir o lucro? ora bolas…faz o cheque aí…
    muita gente querendo falar pelo povo…fala povo! dizia o outro…e aqui? aqui quem tem computador, lê Liescovski, vai ao cinema, aqui a classe média? dominante ou dominada? francamente…e aqui? qual é o babado por aqui? como vamos ampliar o mercado da cultura no Brasil e produzir riquezas? ou vamos discutir o mercado? a questão é definir o objetivo então…

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 15 de janeiro de 2010 @ 15:26 Reply

    Em primeiro lugar, já que esse papo está descambando para, “se chover de tarde, amanhã eu passo lá”, vamos entender uma coisa: existe história e estória da música brasileira. Os movimentos são meros movimentos e terminaram dentro deles próprios. As logomarcas colocadas pelo mercado aboliram o passado e o futuro. Todos os ditos movimentos acontecem no Brasil como no mundo no momento em que os jovens entram no mercado de trabalhado, portanto as palavras, novo e revolucionário eram sugestões de um mercado jovem que ali surgia. jovem-guarda, bossa nova e tropicália. Cada qual com seu cada qual.
    E há algum pecado em se criar estímulos para o cunsumo de cultura?
    Não, lógico que não, o fato é que a indústria fonográfica não queria mercado, queria dumping, e aí no lugar da rádio nacional, a rádio mundial, no lugar da qualidade, o jabá, a corrupção e a patrulha ideológica do mercado jovem que estava 24horas ligadas às rádios, jornais e revistas para que, com os espaços comprados, dizer que o passado já era,e que era coisa de reaça etc etc. E da noite para o dia, milhares de artistas foram jogados na lata do lixo. Houve uma caça a quem não era desse círculo que o mercado da indústria fonográfica havia criado e murado.

    A história é longa e cheia de muitos detalhes, tão preciosas que devemos buscá-los para entender como as coisas verdadeiramente funcionaram nessa forma de gerenciar a música que se ouviu e se vendeu no Brasil nos últimos tempos.

    Por isso louvo e aplaudo de pé a insurreição brasileira saida do Cacique de Ramos e do próprio estado, estimulando o fortalecimento de outras formas naturais de música brasileira.

    Não há purismo nisso. As coisas, quando aconteceram e como aconteceram estavam sim no povo ou na sociedade, como queiram, mas não em classes de consumo, média, rica ou pobre. Fazer essa medida da cultura é um estrondoso absurdo. Nem a opinião de Zé Keti e nem Carcará de João de Aquino são referências discográficas que surgiram como texto das camadas médias da sociedade, foram ouvidas por elas no período militar como forma de resistência.

    Esse papo é longo, mas podemos estendê-lo e pensar em nos inspirarmos nos circuitos universitários, no seis e meia, no projeto Pixinguinha, coisas simples de um simples conceito de mercado, não o mercado de astros, mas o de cultura.

    Monteiro Lobato foi revolucionário com a sua editora vendia livros em qualquer portinha. Não será o myspace, o facebook, o youtube que criarão esse mercado. O mercado nacional terá que ser horizontalizado, descentralizado geograficamente. Mercado e isso, quanto mais gente, melhor. É o famoso conselho de turco, uma vendinha que tenha secos e molhados, mas aonde tem público passante e este está no Brasil todo,hora em teatro hora em praças e coretos.

    E quando digo que a Lei Rouanet é o mercado dela própria, digo que, de posse de um monumental capital, ela finda quando o seu dinheiro acaba, sem deixar uma semente ou um caroço que seja. Ninguém quer inventar a roda. Há uma límpida questão que o contorsionismo retórico ou deliberado festivo não quer ou não sabe ver.

  • gil lopes, 16 de janeiro de 2010 @ 23:46 Reply

    Primeiro o mercado excluiu alguns e diminuiu a cultura, depois uma aula de mercado…é complicado. No mercado da cultura os astros são fundamentais. O que mobiliza um menino a tocar ou a cantar é na maioria das vezes sua paixão pelo astro. O astro é a expressão divina do mercado. Ao contrário do querem alguns, a música brasileira é uma expressão da nossa possibilidade no mundo, da nossa possibilidade de ter voz no mundo e de nossa cultura rivalizar com a expressão hegemônica anglo americana. É comovente a luta dos franceses. Nós que temos um material melhor podemos fazer melhor. Temos um mercado maior e muitas potencialidades.
    Mas a música mudou, circula numa nova plataforma, agora vai de avião e não temos aeroportos. Nossa questão é como andar, se à cavalo ou se vamos ter aeroportos também. Como vamos nos relacionar com o Ipod e seus semelhantes, como vamos produzir riquezas e criar empregos, como vamos crescer nossa economia, que é o que os brasileiros querem e necessitam. O sonho da fazenda, da pobreza coletivizada, entre nós já deu água faz tempo, estamos voltados inexoravelmente para o futuro, é que a nossa sociedade quer…lamentável para alguns, mas para muito poucos.
    A discussao é para acordar e partir adiante rumo a digitalização da música e nossa inserção no mercado global da música, caso contrário, o pior…para alguns, quanto pior melhor…

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 18 de janeiro de 2010 @ 10:51 Reply

    Astros que astros Gil
    acorda!
    ate Nelsiho Mota sabe que “ACABOU!!!” esse papo de astro era uma invenção da grande industria e sem a grana que não tem retorno acabou o “GRANDE ASTRO QUE ENCANTA CRIANCINHA” suas criticas são de um deslumbramento impar!
    mercado global da música? o que é isso, pode me esplicar?
    Pobreza coletivizada? esse seu orlhar é uma perola!
    Essa pobresa coletivizada que vc fala sai do morro e faz só a maior e mais rentavel manifestação cultural do mundo, e ainda emprega milhares de pessoas.

    A musica mudou? é e vc acha que aqui no Brasil ela mudou agorinha depois de 1950?
    Ela nunca parou Gil e não vai parar por alguns seculos. não caia nesta esparrela modernosa!
    abs

  • gil lopes, 18 de janeiro de 2010 @ 16:55 Reply

    Eu não fico tão impressionado com Nelson Motta como meu nobre colega aí em cima não. Deixa o Nelsinho, ele fez muito pela música brasileira, foi um dos que fizeram e faz muito pelo Brasil. Independente se estamos de acordo com tudo que ele faz, o que importa é que sem dúvida ele é um astro na nossa música sim. Querer negar isso já perdeu.
    O astro, o grande artista sempre vai existir e é ele que dá o rumo, é dele que vem a grande novidade, o espetacular. Ninguém acaba com os astros, ainda bem…a história não acaba.
    Deslumbramento é motivação, sem deslumbramento é melhor nem sair de casa. Deslumbramentos para todos!
    Mercado global da música, é o que é..explicar o que? É o que faz Bioncê cantar de galo por aqui, e ali e acolá…é o mercado de comercialização da música, que participávamos, através dos CDs e DVDs mas que agora não participamos mais. Nossa música não é digitalizada, não estamos no Itunes que abastece os IPODs pelo mundo. Não temos canais de comercialização para a nossa música. A exceção residual de alguns títulos dos nossos astros, olha eles aí, não temos nossa música disponível na Apple. Mas nosso mercado está aí de mão beijada pra eles, lojas de Mac abrem-se todo dia…e lá encontramos o que? Dá uma passadinha por lá, na loja da Apple, vai no seu Itunes e dá uma olhada…perdemos o canal, estamos fora…e pior, ainda nem percebemos. As cias., aquelas infelizes…quase fecharam, mandaram todo mundo embora, não investem internamente em nada nem em ninguém. Não precisa, os shows internacionais dos astros mundiais estão aí divulgando seus produtos, aqui não se vende mais …só os shows…na nova plataforma todo mundo saqueia, não há economia. O avanço tecnológico simplesmente destruiu nossa circulação…e nem notamos. É essa a questão cultural urgente, colega.
    Esparrela modernosa? morro?emprego para milhões? …eu hein…

  • Carlos Henrique Machado freitas, 19 de janeiro de 2010 @ 18:52 Reply

    Não quero te urubuzar sua motivação Gil Lope, mas acho que ela não servirá de bóia salva-vidas do mercadão ritparade.
    E olha, o monstro ainda nem colocou a cabeça toda pra fora da lagoa. Quando isso acontecer, o bicho vai literalmente pegar! E olha esta frase poética (Deslumbramentos para todos!) Será o grito pé na cova dos moribundos do mercado internacional da ex-indústria fonográfica.

    Sua proposta, pelo que entendi, é engarrafar vento, com esse seu desespero com a revolução tecnológica. Isso é irreversível, motivado Gil! Sinto lhe dizer que você está sozinho na arquibancada aos 45 minutos do segundo e seu time perdendo de dez, e mai, com três jogadores expulsos. E você, a essa altura do campeonato, ainda quer uma virada?

    Olha só Gil, não são os cursinhos de motivação em riste que falam como mantra de autoajuda “quem não tem competência não se estabelece”. Ora, então! Não há o que temer. Não vamos imaginar que o Estado assuma a condição daqueles grandes selos multinacionais, agora públicos. Esse tsuname que a revolução tecnológica está provocando vai detonar a grande indústria dos equipamentos eletrônicos. E isso Gil, sem falar nos chineses que há muito largaram a pastelaria do Chang e cairam de paraquedas logo na ponta da segunda geração de computadores, no câmbio oficial, o que não é muito a deles. Esses novos concorrentes da indústria internacional de cds e dvds vão disse minar na camelozada toda os seus laptops a uns trezentos trocados, no lançamento é lógico. Depois vamos encontrá-los por cinquentinha. E, ao contrário do que você diz, tudo isso vai gerar muitos empregos. A máxima será mesmo aquela, “quem sabe faz ao vivo”.

    Já que estamos falando do seu time, assuma a condição de técnico e diga aos seus comandados, “quem desloca recebe, quem pede tem preferência do passe”. Em bom português, Gil, bola de pé em pé, acabou o chutão internacional. Quem quiser se manter vivo nessa nova e arejada realidade terá que negociar, e com qualidade, com aquela turma que você qualifica como “pobreza coletivizada”. Pois ela é que dará sustança ao alimento do novo mercado.

    Mas em uma coisa tenho que concordar com você, deixa o Nelsinho Motta pra lá, ele não vale a pena.

    E que o humor nos salve.
    Abraços cordiais.

  • gil lopes, 19 de janeiro de 2010 @ 23:56 Reply

    Carlão, se vc me permite…eu lamento te informar mas sinto que vc está por fora. Não é meu time que está perdendo, é nosso time, é o Brasil que está perdendo. Sua análise está entupida pelos seus preconceitos, sua luta é outra, e eu lamento porque preferia vc lado a lado. Mas não importa, a Bomba é tão violenta que ela nos alcançará com efeito retardado. Nossa postura retardada demandará um efeito retardado. Acabou, e vc não quer perceber, acabou…a música, a literatura e os filmes viajam pela Internet, pelo meio digital. Enquanto não percebermos isso, estamos estatelados, inebriados por discursos vazios e anacrônicos, me desculpe companheiro, como o seu. Não se trata mais de competência, quem dera, nisso somos audazes, somos da turma de Pelé e Mané, mas isso já não basta.
    A indústria fonográfica andou, depois do super lucro da década de 90 com a estratégia mundial de projetar a música nativa e amealhar os recursos necessários para o salto adiante, ele foi dado. A plataforma mudou. Com a mudança perdemos contacto, não produto senão o anglo americano. O lucro diminuiu mas o poder concentrou novamente. O que devemos fazer? Caminhar para o digital com nossa música e estabelecer novos comportamentos civilizatórios no nosso mercado de forma a monetizar a circulação da música. Trocar mercado por participação no mercado. Só isso nos salvará, é inexorável…lamento mas é. E será assim com o livro e com o cinema.
    Não produzimos mais nada na última década, de 600 lançamentos por ano baixamos para 60, imagina o impacto disso no mercado disso. Imagina o desemprego em massa, a desilusão, a falta. Artistas procurando novos afazeres e largando instrumentos, lojas, estúdios, tudo fechando… e nossa resposta? Ora , não há o que temer diz vc…e não há mesmo, é hora de tomar consciência e lutar para mudar isso, para salvar nosso mercado de música, é hora de fazer política companheiro.
    Quanto pior, melhor pra vc companheiro, sua luta é outra. Mas combateremos.
    Em tempo, vc quer falar do Nelsinho Motta com desdém, pois fale sozinho. Nelsinho é o máximo, eu não sou burro.

  • gil lopes, 20 de janeiro de 2010 @ 0:17 Reply

    NUma boa hein Carlão, numa boa…gostei do engarrafar vento, tão boa como a do Chico, comer luz…mas alto lá, eu pago pra me conectar! Pra ter acesso a Internet tenho que pagar a Virtua que estabeleci substituindo a Velox…os provedores recebem para me dar acesso a estrada, enchem de outdoors e permitem toda espécie de barbeiragens e sacanagens pelas estradas, inclusive assaltos e roubos. Eles, que tudo vêem e controlam, poderiam fazer alguma coisa, poderiam arrumar um pouquinho o ambiente, afinal ra que serve o pedágio…Internet grátis é conversa pra boi dormir.
    Quanto a indústria fonográfica, já ultrapassaram os 6 bilhões de dólares no comércio mundial. É pouco? Comparado com os 40 bilhões do final do período CDDVD ainda é…mas a bola está rolando e o jogo começando…só há 2 times novamente em campo! Quem são eles?!
    A França já começou a se mexer, está vendo ir tudo para o brejo e querem arrumar, estão em perdas. Os EUA silenciosamente vão se acertando, a Inglaterra também…
    Nos livros a Amazon acaba de divulgar que as vendas digitais bateram as vendas físicas de livros e a Apple anuncia seu novo modelo que lê, toca, conecta, tudo…
    mas não há o que temer por que o morro vai descer e resolver tudo…então tá hein…

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 20 de janeiro de 2010 @ 14:32 Reply

    Gil
    Não fui eu que inventei a realidade, ela está aí. E mesmo que todos o sistema de download fosse barrado na tentativa de se estabelecer um pedágio, ainda assim Gil, a indústria faliria. Não há na democratização da informação um polo único, um centrão. Você não está acompanhando as questões da Confecom que também estarão na Conferência Nacional da Cultura? Os barões da mídia estão que é só desespero, e aí mandam um chavão dizendo que o governo quer tê-los sob controle para censurá-los. Imagina isso! A coisa, ao contrário, quer abrir o leque. A Confecom pretende dissiminar as múltiplas formas de pensamento que ainda hoje estão concentradas e manipuladas pelo poder paralelo que é a grande mídia, que já está numa profunda crise. Jornalões, rádios, TVs, as novas tecnologias de comunicação passaram geral o rodo. E, ao contrário do que você diz, humanizou, ampliou o leque de oferta e procura, tanto é verdade que os conglomerados estão derretendo nesse sol quente.

    Desculpe-me usar um tanto de personalismo para citar meu próprio caso. Músico instrumental no Brasil sempre foi rejeitado pelas grandes corporações da indústria fonográfica. A dificuldade de distribuição de CDs independentes você conhece bem, no entanto, estou na quinta edição do meu último trabalho, o CD Vale dos Tambores. De certa forma, com 10mil cópias vendidas, vai na contramão da queda do mercado. Mas também vai ao encontro das novas possibilidades de vendas. Não há nenhum mistério nisso. Hoje a facilidade de divulgação de trabalhos independentes ampliou-se enormemente, sem falar no youtube, myspace e os próprios sites dos artistas. Será assim, se não for por CD, será pelo espetáculo.

    Entenda uma coisa, a perda de musculatura da grande mídia ainda vai gerar crise em outros produtos, como sabonete, creme dental e etc, porque não teremos a imagem do produto concentrada em um só veículo. Essa também será uma nova realidade para os con glomerados, porque sem a capacidade de dar um único tiro e acertar milhões de expectadores, mesmo na pulverização, ele cairá no palheiro como agulha e se transformará, como nós, em um mortal. Além do quê Gil, a indústria fonográfica é mais nova que o Niemeyer. E, se o nosso gênio da arquitetura diz que a vida é um sopro, que fará a vida da indústria fonográfica!
    A música e a humanidade são parceiras antigas, não será a quebra inevitável das grandes corporações que calará o som.

    Sim, em tempo: a cultura, esta palavra perigosa, carregada de mistérios e códigos facilmente manipulados, nos setores de comando ou de um tipo de pensamento criminaliza a pobreza e quer associar o homem pobre à pobreza de suas manifestações. Que nada! Ali é que mora o segredo. Não foi isso que disse Cartola? “Pois então saiba que não desejamos mais nada, a noite e a lua prateada, silenciosa ouve as nossas canções”.
    É isso, Gil, vai lá, põe aquele discão da Elis cantando, do grande Zé Keti, “QUANDO DEREM VEZ AO MORRO, TODA A CIDADE VAI CANTAR”, como diz Matinho, “Canta alto, canta forte que a vida vai melhorar”. Essa pérola está em nossas mentes e corações. Mas não ~deixa o Nelsinho ouvir, pois ele não gosta de samba, ele é da tiurma que bate palmas só para o que vai do Leme ao Pontal.

    Abraços.

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 20 de janeiro de 2010 @ 16:27 Reply

    Não se queixe da tecnologia por levarmos uma vida de aluguel, Gil.
    IPVA, ÁGUA, LUZ, IPTU, PIS, PASEP, condominio, etc.etc, e põe etc nisso!

    Quem inventou o imposto ou aluguel de sobrevivência nem foram os Romanos, as civilizações sempre trabalharam com estes, vamos chamar de dotes compulsorios, ou seja, não foi favela que criou as milícias.
    O pagamento do serviço cobrado pela internet é só uma cópia do sistema de cobrança.

    Gil, imposto é igual a SOGRA, uma vez tendo uma, nunca mais você se livra dela, pode mudar de mulher 10 vezes, mas não pode mudar de sogra. Sabe por que nossa toga resolveu parir essa loucura?
    Eles têm medo que você se case com a digníssima!!!!

    Você vê que um Gilmar Mendes não é só invenção de FHC, Daniel Dantas e nem do Nelsinho Motta.

    Longe de parecer Zuenir Ventura, pois não sofro de antologismo- saudosista-crônico, mas não posso achar que a vida é um eterno marco zero, como gosta de dizer, repetidas vezes, o nosso descobridor de revolucionários do “peixoto”, o grande mercado da música colocou todos os ovos de ouro no mesmo cesto, porém As Sonys e cia tratam a grana delas em vários Spas pelo avesso. A engorda especulativa trabalha assim Gil, a indústria da música nunca foi amiga da música, ela é amiga do lucro, esteja ele aonde estiver, isso é coisa de Inglê. Tenho um grande amigo, violonista português que gosta de dizer que “se tem dinheiro tem inglês” e é isso Gil, pirata é coisa de somálios, pirata inglês é corsário, é um lord que mata com requinte de crueldade.

    Está lá Gil, a coca-cola nos mostrando que sua planílha de custos está sendo ocupada em 90% de distribuição e 10% em produção. E não escolhe dinheiro não. Está no frigo bar do Copacabana Pallace, aquele hotel muito frequentado pelo Midane, o homem que inventou a juventude consumista brasileira e também na birosca do Mané, lá no buraco quente, dividindo espaço com os mosquitos do valão que passa ao lado. E o que fizemos nós com a nossa visão de cultura chique, de sociedade zona sul bem alimentada, privilegiada? A única que pode ouvir os acordes dissonantes? Invertemos a lógica do mercado, investimos pesadamente em cinema sem darmos conta de distribuição, de logística. E aí, como eu já disse o IBGE mostrando que 98% das cidades brasileiras não têm salas de cinema, o nosso altruísmo cultural fez esse buracão n’água.

    Voltando aos movimentos, você sabe mais que eu que a bossa nova e a tropicália são muito mais faladas hoje do que na época, porque essa turma escrevendo tanto de bossa nova, quanto de fluminens ou aqueles outros que inventaram a sua própria tropicália pra ganhar um qualquer nesse circo de contação de histórias, resolveu ampliar a renda para pagar o aluguel desse monte de parafernália eletrônica.

    Gil, árvore artificial não cai folha, mas não dá frutos. Tudo tem que ter uma semente. Temos que sair desse tempo, passado, presente, futuro. Lembre-se que aquela antiga boemia acabou. Os bons papos, as serenatas só existem nos vilarejos e que vida inteligente na madrugada, hoje, é o Serginho Groismann, eca! E programa de auditório não é mais apresentado por Ary Barroso, agora é Eliana, Luciano Ruck e Silvio Santos. E Nelsinho Motta acha tudo isso revolucionário. Ele que jura de pés juntos que o disco de Bill Ewans e Milon Davis revolucionou o jazz.

    O nosso Tche Guevara capitalista não está sozinho nisso. Veríssimo, que é um craque em muitas questões, mas no jazz… Acha também em prefácio que é injusto dizer que o branco, sobretudo o europeu, roubou o mercado dos negros, esse jazz que é hoje chamado de jazz contemporâneo e tem gosto de comida a quilo. Mas Herbie Hancok e Marsalles acham que não e, por isso, estão indo buscar nas raizes africanas dos tambores do jazz para não entregá-los à grande indústria, mas para sustentar aquela rica identidade. Neste caso, entre Veríssimo e os dois papas do jazz, Veríssimo fica mesmo com o título de grande escritor.

    Mas vamos continuando essa nossa peleja entre o trágico e o cômico, o profano e o sagrado. Terrorista Gil é sempre o inimigo, os ingleses nos ensianram isso. E boma atômica é igual a piniscilina, mata os nossos inimigos, mas também os nossos amigos. Mas um dia teremos a nossa bomba atômica portátil, assim como o laptop, que é a evolução da peixeira.

  • gil lopes, 21 de janeiro de 2010 @ 11:30 Reply

    Pois é Carlão, eu vejo a baba do veneno escorrendo lendo seus comentários, seu alvo é o lucro, as grandes corporações, agora os ingleses também, amanhã sabe-se lá quem. Se vc espera da Dilma esse pé duro que vc se refere, eu espero que ela continue jogando como Lula.
    Mas o que nos interessa aqui. Considerando que o avanço tecnológico não é uma dádiva divina, que ele é produzido pelos investimentos necessários e tem objetivos estratégicos, fica mais fácil entender o que se passa.
    É típico dessas análises apressadas e preconceituosas, festejar o que aparentemente se fragiliza, mas as aparências enganam…a indústria da música , ao contrário do fracasso, e ainda bem, foi a pioneira na passagem para o digital. Esse fato vem agora ocorrendo na difusão de todo setor cultural: na TV, cinema, livros e jogos. A tal indústria, que para uns é madrasta mas que para o Brasil foi responsável por um desenvolvimento expressivo revelando interna e externamente artistas e músicos , projetando uma economia relevante que nos enquadrou entre os maiores mercados do mundo, produziu riquezas e cresceu nosso mercado. Criou empregos e uma malha de produção sofisticada e moderna.
    A indústria da música não está condenada exatamente porque “ A música e a humanidade são parceiras antigas”. E a humanidade tem seus métodos para se organizar e produzir riquezas.
    Mas aí…o avanço tecnológico. Caberia perguntar quem o engendrou? Ou será que foi um ato de um menino que de repente descobriu que poderia circular arquivos e…a indústria caiu?….francamente, seria ingênuo se não fosse trágico. A quem interessa divulgar esse papai noel? O buraco é mais embaixo, e custa muito.
    A indústria da música comemora em 2009 mais de 4 bilhões de dólares em vendas digitais. Legislações pelo mundo inteiro para defender a monetização da circulação de arquivos privados. A expansão da difusão da música por todo globo com acesso instantâneo. Objetivos conquistados exclusivamente com a circulação de produtos: anglo americanos. Dá pra entender quem financiou o avanço?
    Mas a luta cultural continua. A França de mobiliza para reverter seu quadro de perdas por exemplo. Em alguns países as primeiras respostas já parecem e mecanismos de proteção são desenvolvidos contra a pirataria. A boa luta continua.
    E nós? Qual será nosso papel diante disso? Nossa música no beleléu, nada de artistas novos, investimentos, comércio, mercado. Um vazio completo, falta e desemprego. Um mar de produtos importados e a balança já geme.
    Primeiro: digitalizar toda música nacional, criar meios de disponibilizá-la na internet através dos meios comerciais vigentes como o Itunes da Apple ( o México já tem) e desenvolver outros meios seguros e modernos.
    Segundo: estimular procedimentos que inibam a livre circulação de arquivos privados sem autorização, ou seja, defender a propriedade na Internet. ( !!!…propriedade privada?…olha ela aí!!!). Direito é propriedade, e propriedade é capital. O sistema é capitalista.
    A bomba atômica que caiu sobre a nossa música, vanguarda cultural brasileira, aniquilando nosso mercado, até recentemente um dos maiores do mundo, e com isso nossa capacidade de produção e economia, precisa ser entendida e respondida. Não podemos continuar observando os acontecimentos.

  • gil lopes, 21 de janeiro de 2010 @ 11:52 Reply

    …”humanizou, ampliou o leque de oferta e procura, tanto é verdade que os conglomerados estão derretendo nesse sol quente..”
    é essa a análise Carlão? Risível…
    a destruição provocada pela Bomba, aniquilou tudo, inclusive a capacidade de produção do super lucro das grandes corporações. Mas concentrou o Poder. Tem momentos e tem momentos durante uma partida, não seja precipitado, essa precipitação é um dos males nacionais, medite.
    No contexto internacional, a indústria da música avançou para os shows. Se perdeu capacidade lucrativa na periferia com o mercado físico, compensou com a nova presença nos shows. Perceba. O banco não perde nunca companheiro, e quando perde, manda fazer dinheiro. Morda-se.
    Ampliou coisa nenhuma. Desempregou, destruiu, aniquilou. Todo mundo agora pode cantar no seu banheiro e depois colocar no You Tube…e daí? Sempre se cantou no banheiro, agora é com a porta aberta ( argh,..). Não muda nada.
    queremos a nossa música disponível, agora instantaneamente no mundo inteiro, queremos vender nosso mercado em troca de inserção. Isso sim. Vamos garantir internamente procedimentos civilizatórios que nos garantam acesso, economia, riqueza e empregos.
    oi skindô, oi skindô…oi skindô, oi skindô…

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 23 de janeiro de 2010 @ 9:32 Reply

    Querido Gil

    Pelo que observo, estivemos em lados opostos em todos esses anos. Pelo que parece, você é o dono do resaurante enquanto estou dentro da geladeira. Você com o relógio na mão olhando a torneira dos investimentos, e eu no silêncio não serviçal, mas com a voz recolhida. É natural que os reflexos do espelho da sua sala e da minha se confrontem. Digamos que você andou de braços dados com a gravata e eu com o pescoço, e sei quanto lhe custou o sufoco de expor o brilho de uma gravata amarela. Para mim, essa sua discrição cúmplice vem de um chão literalmente de estrelas. Para mim, sobrevivente desse inviesado sistema ao qual você derrama elogios, numa cortina de observação unilateral, fala que eu defendo uma pátria sem lucros. Errou Gil. Não é porque não vivo de baforadas de charuto ou de cachimbo ou de um 12 anos no piano blues, que eu não compreendo na essência, todo o significado do desenvolvimento industrial, item por item, e não utilizar o lucro para um futuro brilhante.

    Eu praticamente nasci dentro de uma indústria. Não sou um estrangeiro, por isso não tenho esse olhar tão derramado de verdades incompletas que você traz como um solene fator de independência da música brasileira. Poderia, um a um, episódio por episódio, passagem por passagem, discutir quanto custou a solidão assobrada por décadas do que estavam do lado de cá, sem ponte, pois essa foi explodida no escritório.

    Sei que por mais que eu esboce uma dedicada observação, sua estranheza será sempre voltada a um sentimento coletivo. Você é do partido do capital que crê que, se jogar papel-moeda o prédio se levantará, bem aos moldes dos milagres do deus mercado. E anestesiado desse jeito. seu ceticismo com o próprio ser humano acaba por fortalecer a negação a uma verdadeira tragédia que o conglomerado trouxe. Você está do lado sapato. Eu do calo. Não há ódio nem veneno contra o lucro, o valor agregado e, sobretudo os manufaturados, há sim um confronto com esse atravessado pensamento de lucro concentrado, de verdade absoluta do deus mercado.

    Se o mercado hoje está escorregando no sabão, Gil, este veio da estrutura da sua própria bolha de sabão, “sentado na calçada de canudo e canequinha”, e isso não é invenção da minha memória, não está no almoxarifado de achados e perdidos. E não é extraido das nuvens da conspiração. Se o baile verde acabou, se a ciranda de pedra que inventou a memória reduzindo o mar de criatividade brasileira num aquário de meia-dúzia, e agora o aquário quebrou, é fruto dos tropeços de um pensamento bêbado que anda em noite escura. E não será a missa do galo que salvará os santos do deus mercado. Esta é a herança.

    A sociedade, como disse com muita propriedade, Milton Santos, começa a ter acesso aos aparelhos da tecnologia e aos poucos vai produzindo um grande impacto e, acredite, extremamente produtivo a ela, mesmo com toda a sua impaciência.

    A igreja do sacramento morreu. A garra vingadora do mercado ruiu, não é mais a coroa divina, não tem mais o orador triunfal. A sociedade está polindo novas ideias, levantando novas declarações. A nós cabe a pesquisa sem o embranquecido preconceito, sacudindo a cabeça e abrindo os olhos para uma verdade abandonada pela ideia de que a concentração é capaz de ser democrática, como pronunciava o grande mercado fonográfico. Este já faliu e, assim como, de uma maneira muito mais pesada, o fechamento dos cassinos, desempregou muitos músicos.

    Vou lhe dar uma notícia e já disse isso aqui: o maior empregador de músicos neste páis são as bandas de músicas, civís e militares. Isso merece uma investigação, um estudo para entendermos como a sociedade se organiza para salvar sua memória afetica. É um desses temas que não são observados pelos princípios dos grandes negociantes, mesmo que isso gere uma fabulosa renda no mercado de instrumentos e etc. Mas isso é um longo assunto.

    A Fender está vendendo menos guitarras e contrabaixos no Brasil, isso é um fato. Em compensação, os luthiers de violão, cavaquinho, bandolim, estão numa absurda ascendência, exportando cada vez mais. O que mostra que existe mercado e mercado e, consequentemente, lucro e lucro.

    Garanto-lhe que sou muito mais a favor do lucro do que você, a nossa diferença está na distribuição da riqueza que você defende pra poucos, e eu para muitos ou para todos. Esse é o desafio que verdadeiramente temos pela frente, ou seja, democratizar a riqueza.

    Grande abraço.

  • gil lopes, 23 de janeiro de 2010 @ 16:18 Reply

    Prezado Carlão, vc insiste em personalizar e sugerir uma disputa entre nós, pura vaidade. Daqui a 150 anos a gente pode sentar na beira da calçada e bater ideologias jogando purrinha, os dois. Mas e daí? Isso não importa a ninguém. Vc só podia ser mesmo artista com esse ego todo, com esse rococó no texto, vc quer impressionar. É vaidade Carlão, veja que procuro nem chamá-lo pelo nome, já que pedi vênia para o apelido, prefiro. Não temos questões particulares que importem aqui companheiro, me refiro ao fato objetivo que historicamente estamos passando, recente, as conseqüências da Bomba Atômica que ocorreu no mercado da música no Brasil e suas repercussões, nossa incapacidade de analisar o que está ocorrendo e engendrar maneiras de recuperar a economia e geração de riquezas em nosso ambiente cultural. No mais Carlão, a gente vai estar de acordo daqui a 150 anos, me aguarde.

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