“A lei Rouanet não é um fator de fomento à sonhada economia colaborativa da cultura, ela é em si um negócio. Sua prática redesenha o mercado de capital e suas lógicas, o lucro em estado bruto, tornando-se um ativo a mais das regras segregacionistas deste modelo perverso que remonta um quadro de apartheid social, aonde os critérios de divisão de classes, colonizador x colonizado, constituem a resistência reforçada das condições de trabalho e vida que os capítulos ininterruptos da oligarquia nos impuseram”.
Sem conexão com a realidade, algumas vozes roucas tentam editar uma assombração que caiba na medida de seus interesses, uma forma de pressão artificial contra as transformações que o MinC tem provocado com políticas que privilegiam a massa de combinações que não está numa ou noutra camada social, mas sim no seio de uma sociedade.
No Brasil o “clássico” domínio dos espaços institucionais por um tipo de pensamento combinou uma “analise” sociológica que beira ao fascismo.
Podemos classificar esta singularidade das classes dominantes de “ignorância de produção preciosa”.
As bagatelas conceituais, como música, saem do posto dos privilegiados, instituem uma “opinião” dominante e, sem se darem conta da história social da arte no Brasil, não identificam nada fora de seus raios de ação ou trajetória.
Mario de Andrade classificava estes inventores da “indústria do conhecimento” de cargueiros que transportavam em suas bagagens leviandades e ignorância sistematizada.
No Brasil atual, os sabedores da investigação rasa proclamam suas “repúblicas do saber” na base da catarse, na tentativa de recuperar um território perdido e que a sociedade vem ganhando democraticamente.
Modestas, ainda no primeiro mandato de Lula, as novas vozes do Brasil ensaiaram outra cantoria, e podem ter certeza, em âmbito histórico na política deste país. Elas chegam agora inspiradas e fortalecidas com as novas relações que as políticas do MinC promoveram.
As conferências de cultura têm nos revelado produções de luta e pensamento que são verdadeiras preciosidades cada vez mais a patente de monopolizadores da mitologia cultural está perdendo força nas produções autobiográficas que publicam um texto de conhecimento estilístico sem destinação a uma concreta contribuição.
Esses senhores que se notabilizaram pela militância a certa cultura de privilegiados, lançam mão de uma cartola furada para apresentarem-se como xerifes da classe artística.
A embrionária interfecundação com a “civilização branca” dá ao justiceiro da analogia psicanalítica do mercado cultural fictício uma constituição própria, inconsciente da outra realidade que anda à solta a partir das novas válvulas que já foram abertas com programas de aportes diretos, como pontos de cultura e etc.
A Lei Rouanet, além de carregar todos os paradoxos e absurdos, instituiu no seio da cultura brasileira os neocabrais, os redescobridores da praça onze. É deles também a prerrogativa de sensores das concepções de arte, e agora chegam do alto de um desesperado vocabulário, a introduzir nos debates o pensamento de cangaço.
O pensamento casca grossa insiste na formulação curricular da malandragem de apropriação dos recursos públicos e chega com suas caravelas folcorizadas na tentativa de introduzir referências ficcionais para demarcar territórios na base do refrão retórico. Em seus bordões, fazem alusão ao pensamento e sentimento superiores das classes média e dominante. Homenageia mitos que militaram a favor da privação dos pobres no Brasil. Argumentam eles, cada um em seu lugar, melhor dizendo, “assim sim, mas assim não” contra a chegada das vozes periféricas da sociedade.
O neocabral, essa criação arbitrária de herança das formulações psicológicas fundadas no pensamento de dominação sustenta a posição de portadores da sabedoria máxima, da potencialidade única, da oposição às etnias que se chocam com o último refúgio da “civilização branca” que ainda resta num país mestiço em alma, que não dança o minueto conceitual.
Seria bom parar de colocar pra tocar o disco arranhado e ouvir os novos versos dos novos solistas, improvisadores extraordinários que estão compondo perfeita obra-prima que desmancha a diferença que os inquisidores da comunidade superior querem aplicar aos pobres deste país.
O Brasil tem um povo que conhece perfeitamente os seus personagens símbolos e também sabe que os alegados autores da burguesia modernosa chegaram até o terreiro de maneira unilateral, e agora, essa insustentável arbitrariedade chegará ao fim.
A Lei Rouanet trouxe uma nova expressão para a argumentação a favor do crepúsculo, a escravidão cultural aonde todos os brasileiros trabalham e entregam seus impostos, via Lei Rouanet, em mãos dos, agora na terra neocabrália, algozes que vão para dentro da casa grande fazer suas danças em pares com toda a permissividade que o absurdo pode lhes conferir.
Acabar com a Lei Rouanet é abolir da escravatura cultural, sob qualquer ponto de vista. Não há impecilhos pra que isso desapareça da vida cultural brasileira. A pretensão terceirizada do pensamento capitalista está aí fazendo pirraça, dançando o cateretê e insistindo no conceito de província. Portanto, é necessário anunciar pra esses senhores que há um espetáculo de variedades infinitas que brotam das categorias da base da pirâmide social brasileira, que não mais admitem ser comandadas por uma improvisação papal que não quer outra coisa que não seja instituir o profissionalismo do mecenato restituído para garantir única e exclusivamente o lucro.
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