Em defesa da soberba e do arbítrio da arte. Procurei intencionalmente matar três urubus de fome e de sede no prédio da Bienal de São Paulo. Pus ali imensas latas cheias de tinta escura, para que se afogassem, além de espelhos, para que batessem a cabeça durante o voo. Construí túneis de areia preta, para que entrassem sem conseguir sair, morrendo ali dentro. E, para forçá-los a voar, costumo lançar rojões em sua direção.

Acusações
Como nos pesadelos ou nos linchamentos, não é possível responder a acusações desta ordem, que circularam pela internet e no boca a boca com força insaciável nas últimas três semanas, criando um caldo de cultura próximo à violência e à intimidação. Como resultado disso, em plena Bienal, entre faixas pedindo que eu fosse preso, meu trabalho foi atacado por um pichador, que driblou a segurança, rasgou a tela de proteção aos bichos e danificou uma das esculturas de areia.

Fomos cercados, eu e minha mulher, por militantes ecologistas, que nos xingavam e gritavam do outro lado do vidro do carro, a boca em câmera lenta, “a-li-men-ta-e-les!” -o que, claro, já havia sido feito naquele mesmo dia. Barbara Gancia, colunista da Folha, chegou a pedir, utilizando um imaginário de repressão militar ou de milícia fascista, que eu fosse colocado de cuecas contra um muro e submetido a uma ducha com as mangueiras para incêndio do corpo de bombeiros.

Ingrid E. Newkirk, presidente da organização não governamental Peta [pessoas pelo tratamento ético de animais, na sigla em inglês], num artigo feroz, publicado na Folha em 8/10, encontra apenas o que pressupõe desde o início: que eu quero aparecer (ela, não? alguém duvida que um dos temas da polêmica é justamente a disputa pelo espaço na mídia?); que sou (os termos são dela) cruel, “bad boy”, sem compaixão e produtor de arte de má qualidade. Como não há argumentos e o raciocínio é circular, tudo retorna à ilibada consciência da articulista.

A notícia atravessou fronteiras raras para questões envolvendo arte (horários insuspeitos em todos os canais de TV, cadernos de jornal pouco afeitos à cultura e nas mais diversas regiões do país), passando a assunto de bar e padaria. Os urubus, definitivamente, haviam conseguido escapar e, para usar os versos de Augusto dos Anjos, pousaram na minha sorte.

Tom
Frequento uma área da cultura afastada dessa luz radioativa, e não quero errar o tom. Começo este texto, portanto, fazendo a minha lição de casa: o que quer que tenha acontecido, aconteceu por meio das instituições. A licença do Ibama de Sergipe, que permitiu o transporte e a exposição dos animais, era legítima e dentro de parâmetros absolutamente legais, bem como sua cassação pelo Ibama de Brasília.

Tentamos, eu e a Fundação Bienal, que me apoiou de todos os modos possíveis em defesa do meu trabalho, uma liminar na Justiça e perdemos. Acatamos e tiramos, no mesmo dia em que a decisão liminar saiu, as três aves. Sinto-me coibido, injustiçado e chocado com tudo isso, mas não posso dizer que fui censurado. E por entender que a forma que destruiu meu trabalho ao tirar as três aves é legítima, quero divergir completamente dela.

Como quase nenhuma informação sensata circulou, tenho primeiro que dizer o óbvio:

1) As aves que utilizei em meu trabalho são aves nascidas em cativeiro, e não sequestradas ao habitat natural; é para este cativeiro que voltaram (e onde estão neste momento), quando foram “soltas” do meu trabalho;

2) Pertencem ao Parque dos Falcões (criadouro conservacionista que funciona com autorização do Ibama, realizando atividades educacionais e pedagógicas, pelo Brasil inteiro, com aves de rapina), que as mantêm em exposição para o público, como num zoológico;

3) Estas mesmas três aves participaram em 2008 de uma versão bastante similar deste trabalho, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, durante dois meses, adaptando-se perfeitamente ao espaço e sem nada sofrer, com plano de manejo aprovado pelo mesmo Ibama;

4) As aves foram adaptadas ao espaço da Bienal antes do início da mostra, com a presença do veterinário responsável por elas e de um tratador;

5) Esse tratador, o mesmo que cuida delas em Sergipe, ficou permanentemente com elas durante todo o tempo de exibição das aves ao público, literalmente abrindo e fechando a mostra:

6) Eram alimentadas por ele todas as manhãs, em quantidade e frequência estipuladas pelo plano de manejo;

7) O volume das caixas de som foi controlado, sendo mantido numa altura bastante inferior ao do murmúrio do público, para evitar estresse aos bichos;

8) O plano de manejo das aves, aceito pelo Ibama de Sergipe, foi revogado, já no meio da polêmica, pelo Ibama de São Paulo -mas sem recomendação de cassação. O que o laudo técnico, sério e sisudo do Ibama de São Paulo solicitava eram ajustes -basicamente, que desligássemos uma das caixas de som e que instituíssemos banhos de luz ultravioleta todas as manhãs, para suprir a falta de luz solar direta sobre os bichos (embora a luz do dia banhasse o espaço). Oferecia, ainda, uma licença de 15 dias, a ser prorrogada de acordo com a avaliação periódica sobre o bem-estar dos animais. O Ibama de Brasília, que, sob pressão política e midiática, determinou arbitrariamente a saída das aves, em desacordo com o laudo do Ibama de São Paulo, travou o que parecia ser um processo rico de colaboração entre técnicos sérios, com conhecimento sobre os animais, e um trabalho de arte;

9) Obtivemos laudo favorável do Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura de São Paulo;

10) Técnicos do setor de aves do Zoológico de São Paulo, em vistoria ao trabalho, não manifestaram qualquer crítica específica ao manejo das aves -fiquei sabendo nesta visita, inclusive, que a jaula dos urubus era bem maior que qualquer jaula do zoológico, inclusive a do condor.

Expiação
Por que, então, tanta confusão? Que é que está sendo expiado aqui?
Para começo de conversa, e como aproximação ao problema, quero lembrar que “Bandeira Branca” não é um trabalho de ecologia, nem eu sou especialista em aves de rapina, assim como “Guernica” de Picasso não é apenas um trabalho sobre a Guerra Civil Espanhola, nem Picasso um historiador. Por isso utilizei os serviços de uma entidade ecológica, o Parque dos Falcões, e obtive, tanto na montagem em Brasília, em 2008, quanto em São Paulo, autorização do órgão legal em meu país para esses assuntos.

Ou a lei não vale para todos? Tratar meu trabalho como crime e a mim como criminoso é fazer o que fazia a direita franquista, ao chamar “Guernica” de quadro comunista, ou a aristocracia francesa da segunda metade do século 19, quando ameaçava retalhar a “Olympia”, de Manet, em nome dos bons costumes.

O que me foi negado com a criminalização do meu trabalho foi a possibilidade de um sentido -o sequestro, digamos, de qualquer sentido que ele pudesse propor. E é contra isso, mais do que contra a boataria e a calúnia, que escrevo hoje.

Valores
Arte não cabe nos bons nem nos maus valores, por mais confiança que se tenha neles. Dela emana um signo aberto, para isso foi inventada, para que fanatismos como os que ouvi nessas últimas semanas não circunscrevam completamente o possível da vida. Claro que ninguém está acima da lei, e, repito, cumprimos, artista e instituição, rigorosamente a legislação ambiental brasileira -mas é a possibilidade de pensar diferente que está sendo criminalizada aqui.

Artistas extraordinários como Joseph Beuys (por sinal, fundador do Partido Verde na Alemanha), Jannis Kounellis, Hélio Oiticica, Nelson Felix, Tunga, Cildo Meireles, utilizaram animais em suas instalações. Provavelmente o trabalho de Beuys que inclui um coiote (“I Love America and America Loves Me”) seja, sem nenhum favor, uma das mais importantes obras de arte do século 20.

“Tropicália”, de Hélio Oiticica, que tem araras vivas em seu interior (curiosamente, exposta há poucos meses, com as aves, no prédio do Itaú Cultural de São Paulo, na avenida Paulista, sem despertar qualquer polêmica), é um trabalho fundamental para a compreensão do que somos e do que queremos ser. Negar o que estes artistas conseguiram com seus trabalhos -uma oxigenação radical de nosso imaginário- tratando-os como criminosos certamente seria regredir a épocas de triste memória.

Posso entender quem seja contra bichos em cativeiro. Seria interessante exigir um pouco de coerência dessa posição -ou seja, vegetarianismo radical, já que a quase totalidade da carne que comemos vem de animais em cativeiro, fechamento de todos os zoológicos, jóqueis-clubes, fazendas com animais para monta e, ainda, requalificação geral de nossas relações com bichos domésticos. Mas, mais do que coerentes, gostaria que fossem suficientemente democratas para aceitar que nem todos pensem como eles, nem todos se deem o lugar de xamãs, em contato íntimo com os desejos e sensações dos animais, e que dentro das regras públicas legais de cada país o acesso a esses animais possa se dar sem histeria nem calúnias.

Bandeira Branca
Como nada ou quase nada se falou sobre o trabalho, peço licença para interpretar o que eu próprio fiz, partindo de uma breve descrição. “Bandeira Branca” (este título, no meio de um bombardeio desses, é dessas coisas que só a arte explica) foi montado pela primeira vez há dois anos, no CCBB de Brasília, e agora, ampliado e modificado, recebeu uma segunda versão, especialmente para a 29ª Bienal.

O trabalho consiste em três enormes esculturas de areia preta pilada, foscas e frágeis, a partir de cujo topo, feito de mármore, três caixas de som emitem, em intervalos discrepantes, as canções “Bandeira Branca” (de Max Nunes e Laércio Alves, interpretada por Arnaldo Antunes), “Boi da Cara Preta” (do folclore, por Dona Inah) e “Carcará” (de João do Vale e José Candido, por Mariana Aydar). Três urubus vivem na instalação durante toda a duração do trabalho.

O resultado é uma cena solene, entre a litania e a canção de ninar, que me parece ter cavado, em sua montagem em São Paulo, uma espécie de buraco negro no prédio da Bienal. Acho que o vão do prédio, uma das obras mais felizes de Niemeyer, com sua velocidade e otimismo, ganhou com meu trabalho um contraponto ambivalente, noturno e encantado, triste mas também próximo do mundo dos contos de fada.
Há uma espécie de espiral ascendente no trabalho, que se desmaterializa conforme o espectador sobe a rampa do prédio e as pesadas colunas de areia se transformam na geometria de quem vê as esculturas de cima. Feito primeiro de areia, depois de mármore, depois de vidro, depois de som, depois de voo, o trabalho faz em seu percurso o mesmo que as aves, num ciclo que a chuva de fezes brancas, caindo sobre as peças e sobre o chão, inicia novamente.

Antipenetrável
Mas o ponto crucial, acho eu, é que, apesar da monumentalidade do trabalho e da textura inacabada da areia, que solicitam o corpo do espectador, o público é mantido fora da obra, numa espécie de antipenetrável. A obra de certa forma já foi ocupada, já tem dono e por isso não podemos nos aproximar. A noite, as canções e os urubus são seus donos, e ao público resta assistir de fora a alguma coisa viva, que não precisa dele.

As canções e os bichos, forças ascensionais contra a inércia e o peso das esculturas, já tomaram conta da obra e a tela de proteção, que materializa o desenho do vão do prédio, marca essa passagem entre um exterior institucional e um interior ativo, fechado em si, mistura de cultura (canções), natureza (os urubus) e arquitetura.
As aves e as canções dão ao trabalho o seu agora, uma duração voltada para algo indiferente ao mundo lá fora. Daí que muita gente tenha me dito que se sentia observado pelas aves e não observador, dentro da grade e não fora dela. E que no meio de tanto tumulto, com certeza as três aves pareciam as únicas tranquilas.

Esta atividade interna autossuficiente está no coração deste trabalho e me acompanhou ao longo da balbúrdia destes dias difíceis. Fico feliz de perceber que de certa forma o trabalho já pressupunha isso, falava disso e defendia-se exatamente disso -queria estar consigo e não conosco, longe da barulheira que no entanto causava.

Autossuficiência
Em vez da atividade do espectador, própria de tantas das melhores obras modernas, e que encontrou entre nós uma formulação extrema na ideia dos “Penetráveis” de Hélio Oiticica, a arte contemporânea parece estar se voltando para dentro, numa autossuficiência renitente.

Não é o lugar para desenvolver isto, mas, para dar dois exemplos memoráveis, acho que as “Elipses”, de Richard Serra, apoiadas em si mesmas e não mais nas paredes das instituições, ou “O Ciclo Creamaster”, de Matthew Barney, com suas infinitas dobras e relações internas, partilham esta característica. Meu trabalho acompanha de certa forma essa direção.

A institucionalização crescente da arte trouxe para junto dela uma pletora de discursos institucionais, todos perfeitamente centrados, seguros de si e disputando espaço na mídia e nas oportunidades orçamentárias. Isso vem, talvez, do estilhaçamento das grandes noções universais que acompanharam a formação do mundo moderno: política, religião, burguesia, proletariado, luta de classes, direita, esquerda etc.

Com a quebra dessas noções universais, os particulares (ecologia, minorias étnicas, minorias sexuais etc.) firmaram-se, cheios de si, pontudos, zelosos de suas verdades. A arte talvez seja a última experiência universalizante, ou ao menos não simétrica à discursividade do mundo, e acho que tende a ser cada vez mais atacada, toda vez que discrepar, como soberba e como arbítrio. Mas penso que é isso mesmo que ela deve manter: sua soberba e seu arbítrio, para que possa continuar criando.

Desfaçatez
Pois isso para mim foi o mais impressionante de tudo: a absoluta incapacidade, digamos, interpretativa de quem me atacou, a recusa de ver outra coisa, de relacionar o sentimento de adesão ou de repulsa que meu trabalho tenha causado com qualquer coisa proposta por ele, em suma, a desfaçatez com que foi usado como trampolim para um discurso já pronto, anterior a ele, que via nele apenas uma possibilidade de irradiação.

Para isso, é claro, o principal ingrediente é que fosse tomado de modo absolutamente opaco e literal, espécie de cadáver sem significação. Para que possa ser veículo estrito de discursos e de grupos, sem que utilize seus recursos, digamos, naturais (sedução, desejo, ambivalência), o trabalho de arte tem de estar, de fato, desde o início definitivamente morto. Daí, creio, a ferocidade com que fui atacado -uma espécie de operação higiênica preventiva, para impedir que qualquer germe de espanto, ambiguidade, beleza, estupor, pudesse aparecer, desqualificando o desejado consenso.
No fundo, acho que a frase famosa de Frank Stella, que jogou uma pá de cal nas ilusões subjetivas de começos dos anos 60 e inaugurou as poéticas minimalistas que duram até hoje, “What you see is what you see” (“O que você está vendo é o que você está vendo”), parece ter migrado da arte para o mundo. A literalidade das obras de um Carl Andre ou de um Donald Judd transferiu-se inteira para as instituições e para o público.

Por isso talvez caiba hoje à arte a tarefa bastante simples, mas tão difícil, de dizer exatamente o contrário: “O que você está vendo NÃO é o que você está vendo”. Ou seja, sonhar. Ou, como diz a letra da canção, “Bandeira branca, amor”.


contributor

Artista plástico, formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), e iniciou a carreira nos anos 80, com o grupo denominado Casa Sete.

18Comentários

  • Bianca Knaak, 24 de outubro de 2010 @ 11:35 Reply

    OK. Nuno
    muito bem apresentado o teu ponto de vista enquanto artista mas me resta uma pergunta ao artista: a remoção das aves destrói o trabalho "Bandeira branca", como ocorreu com o "arco inclinado" de RIchard Serra? O volume de areia e mármore e as canções nos auto-falantes continuam na Bienal? Como será (ou já foi) encaminhado isso entre o artista, os curadores e a instituição?
    abraço,
    Bianca Knaak

  • Dayse Cunha, 25 de outubro de 2010 @ 1:54 Reply

    Libertem os Urubus!
    Reproduzo nossa manifestação de apoio ao Presidente da Ong Vegana que se algemou a instalação equivocada em questão. dois dias antes do Juiz Federal ter tido a sensibilidade de decretar a retirada dos animais daquela situação de tortura explicita:

    E o absurdo é que o Ministério da Cultura injetou 46 milhões de reais nessa bisonha Bienal que abrigou as obras criminosas desse AU(R)TISTA (sem querer desmerecer, claro, as pessoas com necessidades especiais). Mas comparar sua obra a Picasso em "Guernica", só sendo mto sem noção, romântico, ingênuo ou ignorante do que se processe além de si próprio.
    Enquanto uma obra, Guernica, que é um manifesto pelos direitos humanos e fora executada praticamente com recursos próprios de Picasso (não aceitando dinheiro do regime Franquista, que facilitara tal bombardeio), O "outro", se utiliza de benefícios fiscais tutelados por órgãos governamentais que deveriam servir à promoção da atividade cultural no país – para fazer apologia ao crime (crueldade contra animais), além de violar seus direitos como seres vivos (de cativeiro ou não).
    – Bom momento, para uma reflexão nacional sobre a legitimidade e real finalidade da criação de animais em cativeiros praticada no país. Muitos urubus a serem libertos nesse Brasil…Inclusive na classe artística….
    Enfim
    Aqui do Rio estamos curiosos para saber se o técnico, veterinário que levou os bichinhos para a Bienal, era portador da necessária Inscrição Suplementar no Conselho de Medicina Veterinária. ?.
    Quanto aos processos que estão sendo movidos contra essa antipedagógica edição da Bienal
    Boa Sorte a todos e espero centenas de processos contra a Bienal e seu "Pupilo". Lembrando a sociedade civil organizada daíl que não seja tímida na cobrança por indenizações, da mesma forma que a Bienal não o foi com relação a patrocínios facilitados por nossa contribuição tributária divulgada pelo MinC: 46 milhões. Causa-me espanto que o PRONAC, sempre tão rigoroso e quase inacess[ivel com os projetos apresentados por artistas e produtores do eixo Rio São Paulo, tenha sido tão generoso com esse cronograma de ações…
    Chega ser assustador que no país da Amazonia, instituições culturais de peso tenham o contrasenso de patrocinarem artistas com a desfaçtez de banalizar a crueldade e desrespeito contra nossos animais. E o pior l ainda tenta sair como vítima…
    Atenciosamente
    Dayse Cunha
    RJ

  • MaRegina, 25 de outubro de 2010 @ 9:21 Reply

    acho que o trabalho de artista se explica por si mesmo! se é preciso fazer um discurso desse tamanho…

  • Ludmila, 25 de outubro de 2010 @ 10:38 Reply

    Olá, Nuno! Ótima argumentação, mas é triste saber que ela se destina não às pessoas que te atacaram ao limite da remoção dos animais de sua obra. Digo isso porque se trata de uma argumentação bem escrita, clara, e que exige do leitor tempo e reflexão. Ou seja: nada de que disponham os ativistas nervosos e imediatistas.
    Mas acho que seja assim mesmo que se constitua a formulação de discursos pluralistas: de colherinha, e com muita paciência.
    Um abraço.

  • Graziela, 25 de outubro de 2010 @ 11:11 Reply

    Olá MaRegina,

    o Nuno está relatando a incoerência das autoridades e tudo que aconteceu desde a abertura da Bienal. Achei uma ótima oportunidade para termos os fatos, vindo direto de quem sofreu as ações, justas ou injustas, segundo o julgamento de cada um.

    Devemos celebrar a oportunidade de ter acesso aos fatos e estarmos livres para perceber algo maior do que a quantidade de palavras. Olhar todos os ângulos antes de colocar nosso voto num lugar onde nem compreendemos de fato o que está acontecendo.

    Palavras, alguns usam muitas outros usam poucas, mas felizes daqueles que conseguem usá-las.

    Espero que nós artistas de nossas vidas consigamos nos manter íntegros e nos expressarmos da forma que julgamos coerente. Isso não significa que aqueles que recebem aquilo que produzimos terá essa integridade ou melhor a generosidade de enxergá-la.

  • martim manteur, 25 de outubro de 2010 @ 11:56 Reply

    nuno, obrigado por seu texto.
    assim como a bianca tb me instiga a permanencia da 'bandeira branca' na bienal, sua reconstituiçao apos a infiltraçao do sujeito que alterou as estruturas de areia e com a retirada dos urubus. tudo isso interpela a obra enquanto um processso, e seu texto demarca muitos indicios de sua resistencia.
    a fala de dayse cunha, reproduzida aqui por maregina, me constrange e soa falivel apos lermos o texto do nuno, que em nenhum momento me pareceu um ato de vitimaçao, como o comentario sugere. pelo contrario, a impessoalidade da questao é desafiadora, e – mesmo enquanto um individuo vegetariano- gostaria de sugerir que é preciso mais generosidade na expressao de nossa visao de mundo.

  • si belle, 25 de outubro de 2010 @ 15:39 Reply

    COITADINHO!!!!!!
    ENTRA LA' VESTIDO DE PRETINHO BASICO E GRITA: OS URUBUS SOU EU!!!!!
    MIS DIVERTIDO DO QUE ESSE ROLANDO LERO
    CIBELE HORIZONTE

  • melissa almeida, 25 de outubro de 2010 @ 17:39 Reply

    Ah! na boa, perdeu a causa, e ninguem precisa de aves, ou qualquer tipo de animais para compor uma obra, quem e criativo mesmo, az com as proprias maos. Agora largar urubus sem ver a luz do dia tracafiado pra um carinha se fazer as custas dos coitados, ai ja e demais. nada contra sua pessoas Nuno ramos, mais contra esse seu trabalho q foi bem infeliz, tanto q ausou tal repercussao

  • Jacqueline, 25 de outubro de 2010 @ 18:56 Reply

    Faz-me rir Nuno!

    Mas tu é mesmo mto cara de pau!

    Para a cura dessa sua falsa depressão tem um remedinho simples: O mergulho em livros, mostras, ensinamentos e reconhecimento à ARTE de verdade. E nem precisa ir mto longe não… Aqui no Brasil tem muito artista DE VERDADE! Mta gente boa que não se beneficia de criaturas inocentes para se vangloriar. Aliás, vangloriar de que? Certamente do “talento” que vc não tem.

    Jacqueline

  • rodo stroeter, 26 de outubro de 2010 @ 12:37 Reply

    meu mui querido companheiro alvinegro:
    embora talvez não seja do seu conhecimento, acompanho com vivo interesse o seu trabalho pela inteligência, bom senso, coerência – e – sobretudo – pela discussão que ele traz em si. já tive oportunidade de comentar ao vivo e a cores sobre o meu interesse no seu trabalho, quando de um fortuito encontro nosso há algum tempo já.
    sem me alongar, nem querer ser pedante ou chato, só me resta se unir a voce e a sua linha de pensamento, e lançar mão de um alerta geral : a discussão sobre a arte é que propicia o desenvolvimento da mesma. o ato de apresentar o original tem que ser sempre louvado e protegido. dignificar qualquer que seja a forma artística é antes de tudo buscar o horizonte novo. vivam muito os irriquietos.
    do ato da originalidade depende o desenvolvimento de outros. esse a meu ver é o papel do arte e da manifestação que dele brota.
    por último, só me resta lamentar que eu mesmo não tenha tido tempo hábil de ter visto a instalação e os urubús, posto que mais uma vez nas geleiras me encontrava.
    um abraço afetuoso do seu sempre amigo de meio campo, e o desejo de mais poder saber de voce.
    r.s.

  • Roberta, 26 de outubro de 2010 @ 13:42 Reply

    Olá, Nuno, gostei do texto e principalmente do tom de boa educação que você conseguiu manter… Para os que não gostaram da obra (eu, pessoalmente, também não gosto – aliás, poucos gostam de "instalações"), acho que o texto suscita questões interessantes, como a questão da ideia de autossuficiência da arte nos dias de hoje… e sim, devemos ter cuidado com os discursos prontos, da moda… mas concordo com alguns comentaristas daqui segundo os quais o texto diz muito mais do que a obra em si…
    Roberta

  • thaty, 26 de outubro de 2010 @ 13:54 Reply

    Esses ataques foram fruto da angústia irracional de ver animais presos, da qual eu também compartilho, embora coma carne todos os dias. Lamento se a sua obra, por estar bem no meio do pavilhão da Bienal, tenha sido o alvo escolhido, ao invés de uma granja no interior, com milhares de frangos confinados para o abate.

  • thaty, 26 de outubro de 2010 @ 14:12 Reply

    Essas manifestações foram um reflexo irracional da piedade pelos animais. Sinceramente, acho que exibir animais presos é uma coisa de mau gosto, não quero ver isso nem em uma obra de arte, nem em um zoológico, nem num pet shop, nem em lugar nenhum. É algo que me angustia, embora eu coma carne também. Sinto muito se pessoas tanto mais angustiadas do que eu resolveram te atacar ao invés de atacar uma granja, por exemplo.

  • Carlos Henrique Machado, 26 de outubro de 2010 @ 15:07 Reply

    Eu nasci dentro de uma câmera!!!

    Isso é o que está escrito na certidão de nascimento de Jabor, segundo o próprio, hoje no estadão.

    Um filme de si em âmbito passivo com a autenticidade de firma reconhecida. É desta receita condicionada à superficialidade que o bolostrô (cagada de urubu) vem sendo o ativo da burguesia-imperial-moderna.

    Gil Vicente deu uma de Zé Padilha e, ontem, no Programa do Jô, meteu a beca de zangado moderno, de produto do acalanto vasto, num aboio tão primitivo quanto os derradeiros tempos do infantilismo.

    Pelo jeito que a rapaziada aqui está jogando bolinha de papel no vitimizado anti-flamenguista, Nuno Ramos, com sua prática de sarcasmo moderno, a bienal foi mesmo diaraque, como disse Gil Lopes. E agora, Nuno exige bandeira branca. Deveríamos ouvir mais o tilintar desses artistas que coincidem com a realidade tragicômica. Seria um pós-serrismo que faz de tudo por um aplauso de sua clientela? Parece que o aborto do urubu saiu pela culatra. E essa exploração cheia de lições macotas vem rigorosamente com uma etiqueta de aviso: “vai dar merda!”, pior, merda de urubu, que sabemos, quando bate no cabelo, acimenta mais do que o metrô sem licitação de Serra e tem mais sobrevivência que as vigas de Paulo Preto que cairam na cabeça do santo do pau oco paulistano.

    Arte é isso, meio moderna, meio mentira, mas todas elas trazem as fusões líricas de um rodapé de variadíssimas encenações que podem ou não trazer resultados. Aqui, pelo visto, o fole da sanfona de Nuno, assim como a de Serra, recebem a fúria dos titãs. Nem sempre a pedagogia do sofisma dá certo. Mas com certeza quem está cagado de urubu, está condenado ao fatal.

    • gil lopes, 27 de outubro de 2010 @ 0:49 Reply

      Carlos, me referi a visita de Dilma a Bienal como ação de campanha, achei caída. No âmbito cultural salvou mesmo foi Chico Buarque e Niemeyer juntos no Rio, ali o vento soprou. Na Bienal não, como podemos ver.
      Mas eu não alinho nessa onda furiosa contra Nuno Ramos, artista brasileiro que merece respeito. Tem muita inveja e frustração nos diversos ataques que ele tem recebido, a meu ver injustos. Como sou da urubuzada rubro negra achei até um elogio ter urubu na Bienal, lembro dos jogos no Maracanã com a torcida soltando urubu no campo, vai ficar na memória porque parece que não há mais espaço pra isso. Agora, nunca vi tanta gente interessada no urubu, devem ouvir muito o disco do Tom. Nuno trouxe o urubu pra primeira página, é um artista. Deixa o artista em paz. Deixa o artista em paz, e é muito bom que ele tenha incentivo, ruim é Cats.

  • christiano scheiner, 27 de outubro de 2010 @ 15:28 Reply

    a sua obra só provou o quanto estamos mais próximo da violência social do que imaginamos. mas foste obrigado a ser corajoso e despertar a fúria de ecologistas irracionais que até agora não explicam direito que é essa violência, que ele deveriam sim lutar nas ruas contras outras instituições, fazendeiros (contra esses só o MSTU tem coragem?), granjeiros, e firmas então que se beneficiam dos "cativeiros", etc. Como disse em cima a Thaty: "Lamento se a sua obra, por estar bem no meio do pavilhão da Bienal, tenha sido o alvo escolhido, ao invés de uma granja no interior, com milhares de frangos confinados para o abate."
    É uma pena que o "povo" não saiba fazer reflexão ainda… servindo-se da arte, mas uma ótima que tenha causado isso tudo, tudo isso! Nuno Você foi Demais! Certamente a tua obra se repercutirá em nós por muitos anos e o que dela vir: já nos é lucro. UM abração!

  • Manoela Afonso, 28 de outubro de 2010 @ 0:25 Reply

    Olá Nuno. Ótimo texto, com muito conteúdo para desdobrarmos inúmeras reflexões sobre esse episódio. E, de tudo isso, penso ser realmente assustador perceber os tons ferozes, agressivos, ameaçadores, intolerantes ao discutir o assunto… é triste perceber que as pessoas não são capazes de ouvir… não são todos que poderão "ouvir" o seu texto, "ouvir" o seu trabalho e refletir sobre as questões que suscita. Você é um dos nossos grandes artistas contemporâneos e esse episódio foi importante para trazer à tona uma questão muito séria que não é tratada com a devida importância: a ditadura (quase um fundamentalismo) sob a qual vivemos… a mesma ditadura que proibiu a Marcia X em Brasília, Nelson Leiner com acusações de pedofilia, e por aí vai. É a insanidade e cegueira do politicamente correto. Obrigada por dedicar um pouco do seu tempo e paciência ao trazer esse texto aqui neste veículo público… um ato corajoso e de compromisso com o seu trabalho e, por tabela, para pesquisadores em artes visuais. Vi Bandeira Branca em Brasília, vi na Bienal também, realmente fiquei me perguntando o porquê desse tumúltuo… acho que é uma questão de disputas por mídia, poder, holofotes, etc. Cá para nós, acho que em Brasília seu trabalho teve o silêncio necessário (como naquele trabalho do cachorro na estrada, nossa, lindo…). A Bienal é um espetáculo barulhento em certo horários, acho que seu trabalho sofreu com essa falta de silêncio e com o ruído presente no espaço o tempo todo. Uma pena que as pessoas não puderam (ou não quiseram) se demorar, em silêncio, observar os animais em seu tempo, voando de uma torre a outra, deixando os rastros brancos, abrindo asas de diferentes formas, ao som de Arnaldo, etc. Um abraço solidário,

  • Ramilla Souza, 28 de outubro de 2010 @ 21:17 Reply

    Pra mim, a arte contemporânea (aquela que promove uma reflexão sobre o seu tempo) mostra, cada vez mais, o quanto as pessoas gastam energia á toa. Tanto animal sendo, realmente, maltratado por aí, mas como a obra do Nuno chamou atenção, nada como se enfurecer por cinco minutos pra depois esquecer a questão.

    Se, por exemplo, a retirada da obra e a polêmica causada por ela gerassem uma discussão séria e permanente sobre os maltratos com os animais… Mas, nem isso.

    O que ocorre é só uma catarse mesmo. Uma explosão curta e que não vai dar em absolutamente nada, além de ser prejudicial ao próprio artistas e à sociedade que não tem mais o direito de ver a obra.

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