A segunda edição do Global eBook report, relatório do consultor austríaco Rüdiger Wischenbart, foi lançada nesta terça-feira (1/10), reunindo dados e tendências do livro digital em grandes mercados, como EUA e Inglaterra, e também em países como Hungria, Índia, China e Suécia. Há um capítulo dedicado ao Brasil.

Foto: Andrew Mason O relatório mostra que, após o boom inicial, o mercado digital está entrando em uma nova fase nos EUA e Europa, a China continua a crescer e os atores globais chegaram no Brasil e na Índia. No Reino Unido, por exemplo, a receita das vendas de e-books compensou o declínio geral das vendas de livros impressos, tranquilizando aqueles que acreditavam que haveria diminuição da receita das editoras por causa do livro digital – já que ao substituir parte do livro impresso pelos digitais mais baratos, a tendência do lucro seria cair.

Além disso, com o aumento na compra de e-readers, já existe um público específico de livros digitais. Wischenbart explica que hoje há novos empreendimentos, startups e plataformas lançadas por consórcios, como é o caso da Telefonica e Planeta/Circulo na Espanha, ou do Tolino na Alemanha, que mostram que essa nova fase de transformação digital agrega valor à cadeia inteira. “Não se trata apenas de novos formatos de livros”, afirma.

No entanto, o mercado ainda tem grandes conflitos entre alguns players mundiais e iniciativas locais. “Particularmente a expansão da Amazon, mas também as ambições da Apple e Google, desencadearam uma crítica cada vez mais feroz, em vários níveis, entre os seus clientes, que exigem que seus governos se certifiquem de que essas empresas estão realmente pagando os impostos locais”, diz o relatório.

Brasil – No final do ano passado, Amazon, Google e Kobo lançaram suas plataformas online no Brasil. Nove meses depois, o relatório indica que nenhuma delas, mas sim a Apple, com sua iBookStore, encabeça as vendas de e-books no país – são 18 mil títulos disponíveis, contra 15,8 mil da Amazon.

De novembro a dezembro de 2012, as vendas haviam crescido 110%. “Um enorme crescimento para um mercado tão pequeno”, afirma o relatório, ressaltando que, embora as estatísticas globais sobre o mercado do livro no Brasil (“que é de longe o maior da América Latina”) sejam consideradas confiáveis​​, o segmento digital emergente ainda carece de análise suficientes. “A boa notícia é que 2012 foi o primeiro ano em que a Câmara Brasileira do Livro fez uma pesquisa mais extensa sobre e-books“.

Em uma amostra de editores que responde por 54% do mercado, de acordo com a metodologia da pesquisa, 227.292 e-books foram vendidos em 2012, o que deu às editoras U$$ 1,7 milhão em receitas. “Se combinarmos comércio e livros científicos, técnicos e médicos (há uma enorme sobreposição desses setores no Brasil) e extrapolar para encontrar as vendas de todo o mercado, teremos 332 mil unidades vendidas”.

O catálogo de e-book brasileiro está crescendo constantemente. Em maio de 2013, depois de analisar os títulos dos principais varejistas do país, o site Revolução eBook divulgou que cerca de 25 mil e-books em português do Brasil estavam disponíveis. “Isso representa um enorme crescimento desde fevereiro de 2011, quando eram cerca de 11 mil títulos”, informa o relatório.

Poder público – Amazon, Kobo, Apple e Google reclamam do sistema tributário brasileiro e essa foi a desculpa para atrasos nos lançamentos locais. Livros são isentos de impostos no Brasil e até agora os e-books têm sido tratados da mesma forma, porém, quando se trata de e-readers, há os impostos de importação, que podem chegar a 60%, dependendo de como ele é classificado.

O Senado brasileiro está discutindo um projeto de lei para liberar de impostos os e-readers, no entanto, segundo o relatório, o maior problema são os modelos de distribuição. “Embora os livros sejam isentos de impostos, os serviços não são. O trabalho de distribuição visto como um serviço pode gerar um imposto de 14,25% sobre as receitas (ISS e PIS/Cofins). Boa parte dos e-books brasileiros disponíveis na loja local da Amazon, por exemplo, não está disponível para clientes americanos e europeus, já que a exportaçào exigirá controle fiscal adicional, de modo que os editores se recusaram a correr mais riscos”, afirma Wischenbart.

Se as questões fiscais não eram bom motivo para executivos livreiros visitarem o Brasil regularmente, o poder de compra do governo federal é. O setor público gerou mais de 26,4% da receita das editoras em 2012 e Wischenbart acredita que a “revolução do e-book” acontecerá no Brasil quando o governo for para o digital. “Isso pode acontecer mais rápido do que muitos prevêem. É preciso lembrar que o governo brasileiro está enfatizando fortemente a sua agenda digital. Eleições são controladas digitalmente a nível nacional e os vencedores são anunciados poucas horas depois de qualquer votação. A Receita Federal tem recebido as declarações de imposto de renda eletronicamente há anos. Todo o sistema financeiro desenvolveu serviços online muito antes da internet ser uma realidade, o que incluiu o governo.”

Na verdade, as compras governamentais de livros digitalizados já começaram. Em novembro de 2011, o governo federal incluiu conteúdos digitais na edição 2014 de seu Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que adquire todos os livros didáticos utilizados nas escolas públicas. Inicialmente, o plano só propôs comprar DVDs. No entanto, para a edição de 2015, o governo pediu especificamente e-books. “O PNLD sozinho comprou US$ 537 mil em livros em 2012 (mais de 22% das receitas das editoras). O potencial aqui é grande”, diz Wischenbart.

Suportes – Em 2012, o Ministério da Educação comprou 600 mil tablets para professores de escolas públicas. No início, não foi dada atenção ao conteúdo e eles não foram distribuídos. Mais recentemente, o governo federal iniciou um processo de licitação para escolher a plataforma de leitura a ser usada nesses dispositivos. Amazon e Saraiva já foram aprovadas, mas o processo ainda não acabou. Segundo o relatório de Wischenbart, espera-se que os tablets cheguem às mãos dos professores antes de se tornarem obsoletos.

Outra área de participação do governo brasileiro na edição digital é a compra de conteúdo acadêmico. Essas compras são feitas pela Capes, que oferece aos estudantes de pós-graduação brasileiros acesso gratuito a cerca de 31 mil revistas e 150 mil e-books. Só em 2011, informa o relatório, a Capes passou dos US$ 71 milhões em licenças de periódicos digitais e e-books para sua biblioteca. “Não é à toa que Wiley acaba de abrir um escritório no Brasil e Springer também está se movendo nessa direção. Brasília está, definitivamente, tornando-se uma cidade importante na geografia de publicação digital”, conclui Wischenbart.

O relatório cita a Estácio de Sá, universidade com 260 mil estudantes, que já está oferecendo livros digitais para seus alunos, como exemplo de iniciativa privada no incentivo ao livro digital no Brasil. As empresas de telecomunicações, como Vivo, Claro e Oi, também estão começando a oferecer e-books por taxas semanais para seus clientes móveis, e várias revistas estão se tornando digitais.

“O crescimento das vendas de tablets no Brasil provavelmente vai ser um elemento chave para o desenvolvimento do mercado de e-books no país. De acordo com a IDC, 5,9 milhões de tablets serão vendidos no Brasil em 2013. A Nielsen informou que as vendas no varejo cresceram 400% no primeiro semestre de 2013, em comparação com o mesmo período em 2012. Ainda mais impressionante é o fato de que 94,9% dos tablets vendidos pelo varejo no primeiro semestre de 2013 foram Androids.”

De acordo com um estudo da Morgan Stanley, lançado em maio, o Brasil tinha 70 milhões de smartphones, tornando-se o quarto país no mundo em número de tais dispositivos. A IDC espera que 28 milhões de smartphones sejam vendidos no Brasil em 2013. “O ponto de inflexão para o mercado de e-book foi dia 5 dezembro de 2012, quando a Amazon, Google e Kobo chegaram. Este foi um divisor de águas e, de acordo com as tendências do mercado, 2013 será o primeiro ano de crescimento digital no Brasil”, conclui o relatório.

Clique aqui para ler o documento na íntegra (em inglês).

*Com informações do Publishnews


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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