Coordenador do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT) da UFBA, Albino Rubim está à frente do Enecult, Encontro de Estudos Multidisciplinares da Cultura, referência na discussão acadêmica sobre políticas culturais que teve sua quarta edição em maio deste ano em Salvador. Ele faz um balanço do encontro e aponta para a responsabilidade do diálogo.

Acompanhe a integra da entrevista concedida por e-mail:

Leonardo BrantComo o Enecult foi construído, quais seus objetivos e sua importância para os cenários político e acadêmico do Brasil?

Albino Rubim – O Encontro de Estudos Multidisciplinares da Cultura (ENECULT) foi imaginado como um lugar acadêmico e político no qual todas as tribos de estudiosos da cultura, independente de seu campo disciplinar, pudessem se encontrar e intercambiar seus conhecimentos multidisciplinares. A premissa que comandou o ENECULT é que já existia no país uma boa produção acadêmica sobre cultura dispersa em muitas áreas, mas sem um lugar acadêmico específico de encontro e discussão. Então o ENECULT pretende ser e tem sido este lugar de reunião de todas estas tribos. Os balanços dos encontros têm sido muito positivos. De 52 trabalhos apresentados em 2005 (I ENECULT), passamos a 120 em 2006, 170 em 2007 e 240 trabalhos em 2008, sempre após rigorosa seleção de trabalhos. Além disto, a presença em todos os encontros de grandes nomes dos estudos da cultura do mundo e do Brasil é outro dado muito relevante. Esta inovadora conformação multidisciplinar possibilita que os estudos da cultura tradicionalmente dispersos em inúmeras áreas disciplinares (Administração; Antropologia; Arquitetura e Urbanismo; Artes Visuais; Ciência Política; Comunicação; Dança; Direito; Economia; Educação; Geografia; História; Letras; Museologia; Música; Psicologia; Sociologia; Teatro etc.) possam ser apresentados e acolhidos neste encontro, tornando-o na atualidade um congresso científico de referência dos pesquisadores em cultura no Brasil. Estamos construindo uma “moderna tradição” no país, em uma apropriação livre da expressão elaborada por Renato Ortiz. Já estiveram presentes nos encontros, nomes como: Alicia Entel (Argentina), Armand Matellart (França), Armando Silva (Colômbia), Daniel Gonzaléz (Argentina), Daniel Mato (Venezuela), Manuel Garretón (Chile), Maria da Conceição Pereira Ramos (Portugal), Maria de Lourdes Lima dos Santos (Portugal), Natália Ramos (Portugal), Octavio Getino (Argentina), Pedro Querejazu (Colômbia), Rubens Bayardo (Argentina), Silvia Vetrale (Uruguai) e Xan Bouzada Fernández (Espanha).

LBFaça um balanço do IV Enecult. Quais as discussões mais relevantes e as principais preocupações em relação às políticas de cultura?

AR – O balanço do IV ENECULT também é muito positivo. Creio que esta avaliação é compartilhada pela imensa maioria de seus participantes. Tivemos um grande e qualificado número de trabalhos apresentados, oriundos das mais diversas áreas disciplinares e multidisciplinares e das mais diferentes regiões do país e do exterior. Pela primeira vez tivemos trabalhos inscritos e apresentados por pesquisadores da Argentina, Colombia e Portugal. Isto além de convidados internacionais como: George Yudice (EUA), Mássimo Canevacci (Itália), Carlos Altamirando (Argentina), Eduardo Nivón (México), Javier Protzel (Peru), Rubens Bayardo (Argentina) e Carlos Fortuna (Portugal). Entre os brasileiros podemos citar: Renato Ortiz (UNICAMP), Sérgio Ferreti (UFMA), Alfredo Manevy (MINC), Fred Góes (UFRJ), Gilmar de Carvalho (UFC), Micael Herschmann (UFRJ), Claudio Santana (Instituto Hominus de Porto Alegre), João Roberto Peixe (Secretario Municipal de Cultura de Recife). Debatemos temas importantes com as políticas culturais na ibero-américa – aliás foi lançado um livro sobre o tema com artigos analisando as políticas de 10 países da região, organizado por Albino Rubim e Rubens Bayardo -; os estudos da festa; cultura, cidade e periferias, além do plano nacional de cultura.

LBComo podemos aprimorar o diálogo entre academia, Poder Público, mercado e organizações sociais?

AR – Creio que a melhor forma de aprimorar este debate é avançar na construção de políticas públicas de cultura. Para existirem políticas públicas em qualquer área e mais especificamente na cultura é preciso que exista este diálogo. Ele tem crescido no campo da cultura, mas pode avançar muito mais. Espero que o processo de discussão do Plano Nacional de Cultura e também do Sistema Nacional de Cultura sirvam para articular melhor estes segmentos, essenciais para a democracia na contemporaneidade. Cabe a todos nós fazer o diálogo avançar e se consolidar.

LBQual a sua opinião sobre a gestão de Gilberto Gil frente ao MinC? Quais os avanços e fragilidades?

AR – Minha opinião é que foi uma gestão positiva e inovadora para a cultura brasileira. Isto não significa que eu não tenha críticas. Como já escrevi sobre isto, prefiro que minha opinião seja lida no capítulo que escrevi para o livro Políticas Culturais na Ibero-América, publicado em 2008. Isto é, pouco antes de Gil sair do ministério.

Albino Rubim é graduado em Comunicação (UFBA – 1975) e Medicina (Escola Baiana de Medicina – 1977), com mestrado em Ciências Humanas (UFBA – 1979) e doutorado em Sociologia (USP – 1987). Em 2006 completou seu pós-Doutorado em Políticas Culturais na Universidade de Buenos Aires e Universidade San Martin. É Professor Titular da Universidade Federal da Bahia onde atualmente é professor do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, ambos da UFBA.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

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